Hunith escrita por Bella P


Capítulo 1
Hunith




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Arthur não tinha uma mãe.

Era um fato, algo que ele não remoía desde que foi declarado velho o suficiente para não precisar de babá, o que, tecnicamente, foi por volta dos seus cinco, seis anos. E, se fosse um pouco cruel e irônico, ele também poderia dizer que não tinha pai. O que ele tinha era um lorde, um senhor nobre, um rei, mas não um pai. Ao menos não no sentido estrito da palavra. Quando era preciso, Uther se lembrava que aquele menino loiro que foi a causa da perda de parte de seu coração e alma era o seu filho. Quando necessário, a única coisa da qual Uther se lembrava era que aquele menino loiro pelo qual ele sacrificou a vida de sua amada era o herdeiro que ele almejou e que treinava a mão de ferro para ser o futuro rei de Camelot.

Arthur não tinha uma mãe.

Mas isso não o impediu de lançar olhares invejosos para os meninos da corte que corriam, com lágrimas nos olhos, para esconderem-se sob a barra dos vestidos das damas a procura de conforto e carinho. Ele não podia fazer isso. Primeiro porque a única presença feminina em sua vida era a previamente mencionada babá. Segundo que ele era o príncipe. Era completamente abaixo de sua posição tal atitude.

Arthur não tinha uma mãe.

Porém por várias e várias vezes ele desejou ter uma quando as tempestades de verão alcançavam Camelot, fazendo as janelas do castelo tremerem com os seus poderosos trovões, o assustando imensamente. Quando os seus tutores eram mais severos que o normal, o que resultava em hematomas e escoriações, ele desejou ferozmente ter alguém esperando por ele em seu quarto com os braços abertos prontos para confortá-lo e salpicar beijos carinhosos em suas feridas enquanto murmurava palavras de incentivo em seu ouvido ao mesmo tempo em que afagava os seus cabelos.

Arthur não tinha uma mãe.

E nos breves momentos em que via Uther lhe lançar olhares distantes, como se a pessoa que estivesse na sua frente não fosse o príncipe mas outra criatura que remetia o rei a memórias antigas e dolorosas, ele desejou que tivesse uma. Somente para gritar com ela todas as suas frustrações e perguntar repetidamente por que. Por que ela morreu. Por que ela o deixou para trás com um homem que a cada ano que passava permitia que pouco a pouco uma camada de pedra envolvesse mais o seu coração. Por que ela partiu e como presente cruel deixou nele aqueles olhos azuis que não eram de Uther, os lábios cheios que não eram de Uther, os cabelos loiros que não eram de Uther, a pele alva, os cílios longos, o nariz afilado, tudo que o mirava de volta quando se olhava no espelho e gritava que ele era filho de Igraine, mas não de Uther.

Arthur não tinha uma mãe.

Mas no instante que pisou naquele vilarejo depois de horas de viagem sob as reclamações constantes de Tristão, sob o olhar complacente e piedoso de Merlin, sob a avaliação curiosa de Isolda, sob o peso da culpa de ter falhado com o seu povo, somente para sentir braços magros o envolverem pelo pescoço e o apertarem contra um corpo menor e quente, o fazendo relaxar prontamente e esquecer todas as dores, no corpo e na alma, nada mais lhe importou. Quando viu olhos azuis calorosos lhe sorrirem, quando dedos calejados acariciaram a sua pele suja de barro, quando lábios úmidos beijaram a sua bochecha e uma voz suave lhe sussurrou:

Bem vindo criança.”

A ferida que foi aberta no segundo em que ele entrou neste mundo as custas da vida daquela que mais lhe fez falta finalmente cicatrizou.

Arthur não tinha uma mãe.

Mas ele tinha Hunith.


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