New York; 15th Avenue

Faltavam pouco menos vinte minutos para à meia-noite. O tempo parecia não passar, como se aquela noite fosse durar décadas. Talvez fosse o homem que assistia a lua através de sua janela que estivesse aflito o bastante para ter a falsa sensação de que o tempo havia parado só para que aquela bola de luz branca redonda continuasse a ser observada. Um rouco "boa noite" veio do corredor logo atrás daquele homem, o que foi suficiente para que aquele frenesi fosse interrompido. O homem virou, e num sorriso, assentiu para uma garota que aparentava ter em média 16 anos - os cabelos lisos, escorrendo pelos ombros que se juntavam perfeitamente à um corpo magro e delicado, que ali estava protegido por uma camisola que arrastava pelo chão. Conforme avançava, o olhar do homem que acabara de assentir ia perdendo o foco, procurando por algo em todos aqueles pensamentos que percorriam sua cabeça. Novamente interrompido, desta vez nem por um "boa noite" nem por um sorriso e sim pelo fato mais estranho que poderia se encaixar ali: a lua não iluminava mais o céu estrelado, muito menos a várias nuvens, que passavam a cobrir-lhe todo seu brilho. Como numa reação de reflexo, o homem largou a caneca que segurava, provocando um enorme barulho da porcelona trincando e o café escorrendo pelos cacos que se espalhavam pelo chão. Sem ao menos tremer pelo barulho, caminhou até a cabiceira de sua cama, puxando uma caixinha de fósforos um tanto quanto estranha (adornada por desenhos, esculpidos em madeira que parecia freixo). O corpo ao menos se recuperou do ato repentino e saiu em embalo pelo corredor, os dedos abrindo a caixinha e puxando vários fósforos de uma vez só, que foram riscados ainda no caminho. Era tarde demais, quando abriu a porta uma cena deplorável: várias cobras se amarravam aos braços e pernas da menina que a pouco lhe dava boa noite, sorridente. O fogo que emanava dos vários palitos de fósforos que se uniam num "buquê" foram misteriosamente fortes para fazer com que o corpo dos répteis fossem consumidos por faíscas. Era realmente tarde demais - ela estava morta.