Um Amor De Infância escrita por Anah


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Desculpa, não deu pra postar ontem, então to postando agora



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Nada em seus sonhos infantis a tinha preparado para aquele encontro ao acaso. Kagome se levantou, recusando a ajuda que Inu Yasha lhe ofereceu. Seu coração estava leve, e ela sentiu uma ligeira tontura. A bebida, e não o ressurgimento de Inu Yasha Taisho causara a sensação em sua cabeça.

Deu um passo na direção do garanhão. Talvez, se fosse rápida…

A mão de Inu Yasha segurou-lhe o cotovelo, obrigando-a a parar.

— Qual é seu nome, jovem?

— É… — Sabia que não adiantava inventar, pois era uma péssima mentirosa. Parte da verdade seria suficiente. — Kagome.

— Kagome? Não é um nome escocês. Estranho, porque seu sotaque é.

Ela percebeu que a mente dele buscava respostas.

— Há mais alguma coisa em você que me soa familiar.

Kagome sentiu o coração palpitar. Tentando mostrar-se indiferente, afagou o pescoço do cavalo.

— Não o conheço. — Podia sentir o olhar daquele belo guerreiro perscrutando-a, e uma onda de excitação percorreu-lhe a espinha.

— E seu sobrenome, qual é? A que clã pertence?

"Clã? Ah, não!" Precisava de tempo para pensar. Em Reynold, em seus pais, naquele homem. Inu Yasha a encontrara por acaso no bosque. Não podia se esquecer desse fato. Não era como se a estivesse procurando há tempos. Inu Yasha Taisho podia matá-la, ou seqüestrá-la, se soubesse que era uma Grant. Não, de jeito nenhum. Tinha de bolar um plano.

— Sou Kagome. — Tentava parecer corajosa. — É o suficiente para você saber, por enquanto.

Ele ficou parado, tentando controlar a raiva. Era claro que ninguém costumava tratá-lo com tanta ousadia.

— Quando faço uma pergunta, quero saber a reposta. E quero a verdade. Diga-me seu sobrenome.

— Não o direi. — Desafiando-o, Kagome cruzou os braços e sustentou o olhar severo de Inu Yasha Taisho.

Por um instante, Kagome achou que fosse apanhar. Entretanto, para sua surpresa, ele permaneceu imóvel, com os punhos cerrados ao lado do corpo, fitando-a. Ela não se amedrontou, apenas continuou a fitá-lo.

— Como quiser. Vou deixá-la como a encontrei. — Inu Yasha passou ao lado dela e montou seu cavalo.

Onze anos se passaram, e ele não mudara nada. Continuava o mesmo garoto arrogante e irritadiço que conhecera.

Inu Yasha virou o garanhão para a estrada da floresta. Será que tinha mesmo a intenção de deixá-la ali?

Kagome olhou para cima e viu que as primeiras estrelas da noite começavam a aparecer. O frio não pouparia ninguém. Não tinha montaria, nem armas, a não ser sua adaga, e seu vestido ficara em farrapos. Parecia uma pedinte e, para ser sincera, não se comportara direito. Arrependia-se de sua impertinência. Afinal de contas, Inu Yasha tentava apenas ajudá-la.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Inu Yasha Taisho a encarou. A julgar pelos dentes cerrados e jeito austero, Kagome logo percebeu quais eram as intenções dele.

— Não, por favor, espere…

Ignorando os protestos, Inu Yasha inclinou-se na sela e puxou-a para cima. Um braço musculoso a envolveu como uma trava de aço ao redor da cintura. A respiração nervosa provocava-lhe os cabelos.

Render-se parecia sua única escolha. Por ora. Assim, resignada, Kagome aninhou-se no calor daquele peito e tentou imaginar o que faria.

Cavalgaram em silêncio por horas a fio. Kagome tentou inúmeras vezes, sem sucesso, posicionar-se direito sobre o cavalo. Inu Yasha a impediu em todas as tentativas.

A certa altura, ele diminuiu o passo do garanhão e parou em uma clareira. A lua não era mais do que uma fina incisão prateada, iluminando a superfície escura de um longo riacho.

Nunca Kagome estivera tão longe de casa.

Inu Yasha guiou o animal até a beira d'água. O aroma de madeira foi se tornando mais pronunciado à medida que se aproximavam da margem.

Seguiram pela beirada até alcançarem uma enorme pedra. Tratava-se de algum tipo de indicador. Bem ali, ele direcionou sua montaria para o bosque. Logo adiante, Kagome avistou um acampamento.

Onde estariam?

Dois guerreiros, cujas feições eram delineadas pelo brilho do fogo, se mantinham de guarda.

— O caçador volta à… — gritou um deles, assim que os viu se aproximando. — Santo Deus! Será que meus olhos estão me enganando? É um excelente prêmio, companheiro, mas ela não se parece em nada com um cervo marrom.

— Pode apostar que pesa tanto quanto um — brincou Inu Yasha, ajeitando-se na sela.

Antes que Kagome pudesse desmontar, ele a tirou do colo e entregou-a ao grande guerreiro. Assim que o homem a pôs no chão, ela sentiu os joelhos cambalearem. Horas e mais horas cavalgando de lado fizeram suas pernas adormecerem.

O outro guerreiro correu para ampará-la, e seu rosto juvenil demonstrava verdadeira preocupação. Kagome sorriu, o que o deixou bastante contente. Quando recuperou o equilíbrio, lançou um olhar dos mais ferozes para Inu Yasha.

Ele deu de ombros e desmontou, quase caindo no chão ao pisar no estribo.

— Está claro qual flecha acertou quem — brincou o grande bravo, franzindo as sobrancelhas e rindo.

Inu Yasha o silenciou, franzindo as sobrancelhas, porém a diversão não deixou seus belos olhos azuis.

— Eu a encontrei na floresta — disse ele, entregando o cavalo aos companheiros. — O garanhão dela se feriu.

— Você o matou!

— Fiz o que tinha de ser feito. Havia…

— Era um garanhão de muito valor. Eu poderia ter…

— Quieta!

Um arrepio percorreu-lhe o corpo. Inu Yasha Taisho não era mais um garoto. Tinha de se lembrar disso. Sua situação em meio àqueles homens era, no mínimo, precária.

Ignorando-a, Inu Yasha virou-se para o ruivo grandalhão.

— Soldados dos Grant. Cerca de quinze homens a seguiam.

Os dois guerreiros não esconderam o espanto. Trocaram olhares curiosos, então a estudaram com renovado interesse, reparando no vestido rasgado e sujo de sangue. O rosto de Kagome ardia. Puxando o corpete, não se deixou intimidar.

— Você está machucada? — perguntou o mais gentil.

Não. Estou com… frio.

Sem pensar duas vezes, ambos se aproximaram, tentando tirar suas mantas para oferecer à jovem. Com um olhar severo, Inu Yasha os interrompeu. Então, o mais novo a acompanhou até o fogo.

Kagome estendeu as mãos e ficou escutando o crepitar das chamas. Sua mente não parava um só instante, mas algo estava bem claro. Inu Yasha era um Taisho, e ela, uma Grant.

— Inimigos — Kagome murmurou.

— Como? — O rapazinho a fitava.

— Nada. Estava apenas pensando alto.

Assavam uma perna de veado no fogo, visão que a deixou com água na boca. Kagome sentiu o estômago roncar, alto o suficiente para o guerreiro a seu lado ouvir. Ele cortou um pedaço de carne e entregou-lhe a metade. Kagome comeu com o deleite de quem não fazia uma refeição havia meses.

Os dois se alimentaram em silêncio e, quando terminaram, ela voltou sua atenção para o jovem. Era tão alto quanto Inu Yasha, porém mais magro, com olhos castanhos pensativos, e emanava tranqüilidade.

— Meu nome é Kagome — apresentou-se, com um sorriso.

— E uma honra conhecê-la, lady Kagome. Eu sou Miroku.

O nome combinava com ele. Kagome estava prestes a lhe dizer que não era uma dama, e sim a filha do dono do estábulo, mas achou melhor não fazer revelações sobre sua vida além das que fossem necessárias.

— E seu amigo? — Ela apontou para o gigante ao lado de Inu Yasha.

— Bankoutsu.

Sua característica mais marcante, além do enorme tamanho, era a massa selvagem de cabelos vermelhos. Também usava uma barba grossa e tinha as mãos enormes. Kagome se lembrou do humor em seus olhos azuis e da risada escandalosa, quando Inu Yasha quase caiu do cavalo. Gostou dele de imediato.

— E o outro?

— Está se referindo a Inu Yasha?

Então, acertara. Teria apostado a vida naquilo. Na verdade, apostara. Um sorrisinho se formou em seus lábios.

— Ele não lhe disse o nome?

— Não. Inu Yasha…

— Taisho. O Taisho. O chefe de nosso clã.

— Chefe? — O fato não a surpreendeu. — Você se dirige a ele com tanta naturalidade. Ele permite?

— Ah, sim! Nós três somos amigos de infância, desde que o antigo chefe, o pai de Inu Yasha, foi…

— Miroku!

Os dois ficaram imóveis. Compenetrados na conversa, nenhum deles percebeu a aproximação de Inu Yasha.

— Vamos passar a noite aqui — informou ele, observando o assado no fogo. — O que temos para o jantar? Veado?

— Sim. — Bankoutsu vinha logo atrás. — Alguns de nós não tiveram tanta sorte na caçada quanto outros.

O guerreiro sorriu para Kagome, que reprimiu um sorriso.

Inu Yasha resmungou algo e sentou-se para comer. Parecia muito à vontade naquele lugar, bem mais do que durante a cavalgada.

Deveriam estar à milhas de distância das terras dos Grant. Tinham seguido sem parar pela floresta, depois pelas montanhas, afastando-se cada vez mais do Castelo Glenmore.

Como voltaria? perguntava-se Kagome. Seus pais deveriam estar bastante preocupados.

"O dia do solstício de verão." As palavras de Reynold martelavam em sua cabeça como os rufos de um tambor. Não, não pensaria nele. Não ali. Não naquele momento.

Com frio, Kagome esticou os braços para o fogo. Seu vestido rasgou um pouco mais, e ela se cobriu rápido. Inu Yasha observou-a enquanto terminava de comer sua carne.

— Lady Kagome — sussurrou Miroku —, tenho uma agulha e um pouco de linha. Às vezes é útil. Posso lhe emprestar, se quiser.

— É muito gentil de sua parte. Obrigada.

Miroku tirou um pedaço de pano do bolso e desdobrou-o.

— Imagino que seja suficiente. — E entregou a ela.

Espantando a todos, Inu Yasha se levantou e tirou o broche do clã que prendia a manta em seu ombro. Cortou um pedaço do tecido com a adaga e tornou a prendê-lo no cinturão.

— Tome jovem. — Deu a lã para Kagome. — Vista isso enquanto costura seu vestido. Assim não sentirá frio.

O gesto a emocionou. Kagome se lembrava de Inu Yasha como um menino. Em um momento demonstrava toda sua preocupação, e no outro…

Os dois se entreolharam por um instante, até que Kagome se levantou e virou-se para a floresta.

— Não vá por aí — advertiu-a Inu Yasha, antes que ela pudesse dar um passo. — Desça até o lago. É mais seguro.

Kagome notou algo nos olhos dele, um tipo de honra estóica da qual se recordava bem. Inu Yasha Taisho queria protegê-la, mesmo não sabendo quem era.

A beira d'água, Kagome colocou a manta de lã no chão e olhou para seu vestido. Estava sujo de sangue e barro, e rasgado em vários lugares. Faria o possível para salvá-lo. Afinal de contas, era presente de sua mãe.

Soltando as rendas, passou o vestido pela cabeça e o colocou sobre a grande pedra. Respirou fundo, deliciando-se com a brisa fria do anoitecer.

Um suave vento penetrou no fino tecido do espartilho que usava por baixo. Kagome foi tomada por ondas de alívio e liberdade. Estava a salvo ali, com Inu Yasha Taisho. Isto é, desde que ele não descobrisse sua identidade. Precisava arquitetar um plano, porém, não naquela noite. A exaustão ameaçava consumi-la, fazendo-a cambalear por um instante. Era melhor terminar depressa.

Kagome rasgou um pedaço da fina saia de suas roupas de baixo e mergulhou-a na água. Foi o banho mais curto e mais frio que já tomara. Depois, aninhou-se na manta de Inu Yasha, que ainda continha alguns resquícios do calor e do perfume de seu corpo forte.

Kagome sentiu que não conseguiria resistir ao sono e sucumbiu à exaustão. Sentando-se no gramado, dobrou os joelhos e aproximou-os do peito, repousando a cabeça na antiga pedra que marcava o caminho para o acampamento. Ajeitou a manta de lã nos ombros e apoiou a cabeça nas dobras quentes. Fecharia os olhos apenas por alguns segundos.

Por trás das pálpebras cerradas, Kagome foi acometida por visões intensas: cabelos loiros, quase brancos, contra um campo de sangue, olhos azuis tão gélidos quanto à morte. Deixando a realidade de lado, deixou-se levar pelo imaginário.

Sua visão lhe mostrava o menino assustado, segurando contra si a adaga incrustada de pedras preciosas. A imagem logo sumiu, dando lugar a um gato prateado, parado nas patas traseiras, esbelto e musculoso. E por fim surgiu o homem, o guerreiro, com os olhos azuis perscrutando-lhe as Profundezas da alma.

Suspirou de leve quando sentiu a mão envolver-lhe o rosto. Foi libertada de todos os seus fardos e levada para casa, aquecida e a salvo nos braços dele.



Pelos olhos entreabertos, Kagome notou o amanhecer cinzento. O calor emanava de trás dela, e se aconchegou melhor. Um peso confortável, quente, pousava sobre a curva de sua cintura, descansando logo abaixo de seus seios. Sentia-se… maravilhosa.

Ergueu as pálpebras. A fogueira logo adiante se reduzira a cinzas, e as formas arredondadas de duas pessoas dormiam ali. De uma das mantas saíam cabelos vermelhos. Claro! Bankoutsu e Miroku. E Inu Yasha!

Kagome ergueu a manta e viu o braço nu de Inu Yasha em cimade seu corpo. Sentiu a quentura em suas costas, e o tecido de suas roupas de baixo era a única barreira entre a pele dos dois. O suave ronco do guerreiro agitava-lhe os cabelos. Cuidando para não acordá-lo, desvencilhou-se do braço pesado e se levantou.

Avistou seu vestido em uma pedra próxima, dobrado com cuidado e coberto por um pedaço de manta para protegê-lo do orvalho matinal. Ao tocar a seda amarela, Kagome constatou que fora remendada com pequenos pontos, perfeitos, e, limpa do sangue e da lama. Olhou para o bolo adormecido que era Miroku e sorriu.

Sem perder tempo, passou o vestido pela cabeça e o amarrou o melhor que pôde. Então, inclinou-se para frente, no intuito de tentar pentear com os dedos o emaranhado de cabelos espessos.

Instante depois, através da cortina claríssima formada pela cabeleira, viu duas botas grandes se aproximando. Voltou à cabeça para trás e deparou com Inu Yasha Taisho. Seus olhos se arregalaram.

Ele estava parado a sua frente com as mãos na cintura, estudando-a com grande curiosidade. Kagome empinou o queixo, determinada a não permitir que o guerreiro a intimidasse com sua força.

— São verdes. Não tive essa impressão, ontem.

— Do que você está falando?

— De seus olhos. — E Inu Yasha se voltou para o fogo.

Sua pele se arrepiou toda, e Kagome soube que não era de medo. Nem de frio.

Pediu licença e retornou ao lago para cuidar de sua higiene matinal. O sol aparecia sobre a copa das árvores a oeste, lançando finos raios de luz na superfície cristalina.

Kagome fitou a antiga pedra e tentou se lembrar de como e quando fora parar, seminua, enrolada em uma manta escocesa, nos braços de Inu Yasha Taisho.

Os quatro saíram da floresta, seguindo por um carpete verde de grama rodeado por grandes moitas de flores silvestres. O ar soprava fresco, trazendo o aroma das árvores comuns à região montanhosa da Escócia, que cobriam as colinas como ondas de ametista. Era uma visão adorável, proporcionando a Kagome a lembrança dos dias que haviam passado juntos, quando eram ainda duas inocentes crianças.

Tantos anos atrás…

Pararam para descansar perto de um riacho, onde comeram pão de aveia e queijo. Os cavalos pastavam nos arredores, contentes com a quantidade de grama.

Kagome caminhou um pouco, parando perto do garanhão de Inu Yasha. Era um belo animal de guerra, e muito bem cuidado. Uma mistura de raças, decerto. Os outros dois também. Talvez não fossem tão poderosos quanto o do chefe do clã, mas sem dúvida eram excelentes montarias. Quem cuidava daqueles animais sabia muito bem o que fazia.

Dando um passo atrás, ela parou com as mãos na cintura, estudando-os por mais alguns instantes. Em seguida, assentou. Não percebeu que estava sendo observada.

— Se nossos cavalos estiverem de acordo com sua aprovação, minha jovem, poderemos continuar nossa viagem — murmurou Inu Yasha, oferecendo-lhe a mão.

Acordar nos braços daquele homem a deixara um tanto quanto desconcertada. A maneira como seus corpos se encaixaram, as sensações que o calor daqueles músculos fortes Provocara… Não, não eram mais crianças. De jeito nenhum.

Kagome ignorou a mão estendida de Inu Yasha e andou até Miroku, que amarrava um saco de alimentos na sela de seu cavalo.

— Posso cavalgar com você?

— Claro milady. Será… — As palavras morreram em sua garganta quando Inu Yasha incitou seu garanhão para perto deles e pegou Kagome no colo.

Outra vez? Ela tentou se soltar, chutando para todos os lados, porém, Inu Yasha era muitíssimo mais forte.

— Precisa fazer isso?!

Sem lhe dar atenção, ele esporeou a montaria colina acima, enquanto Kagome tentava colocar uma perna de cada lado do animal. Seu vestido subira até a altura dos joelhos, revelando parte de suas pernas. Bem depressa, baixou a saia, protegendo-se do olhar de Inu Yasha.

Cada vez que tentava se inclinar para frente, para longe dele, Inu Yasha a puxava com brusquidão de volta. Santo Deus! Não queria ser tratada como um animal desobediente.

— Sou bastante capaz de montar um cavalo sem ajuda!

— Você pode cair.

— Não há cavaleiro melhor do que eu em todo meu clã — respondeu ela, insultada com o comentário.

— Ah, é? E posso saber qual é seu clã?

— Não. Não é de sua conta.

— É sim, minha jovem. E não perca seu tempo. Mais cedo ou mais tarde, descobrirei quem é você.

A voz de Inu Yasha era muito calma, o que a arrepiou toda.

— Onde está me levando?

— Para casa. E você ficará lá até que eu descubra qual é sua ligação com Grant.

Os batimentos cardíacos de Kagome começaram a retumbar em sua cabeça, e sua boca secou. O que faria? E onde, para ser mais exato, era "casa"?

Kagome ficou maravilhada com a vista. A floresta por onde cavalgaram estava bem longe. Abaixo, um pequeno vale e, à distância, como uma fina linha prateada pelo horizonte, o rio Spey, cujas águas seguiam até o Castelo Glenmore, e Reynold Grant.

Pelo menos agora sabia onde se encontrava.

Seus olhos se encheram de lágrimas ao se lembrar dos acontecimentos da véspera. Era como se uma eternidade tivesse passado. Seus pais deveriam estar desesperados de tanta preocupação. Precisava encontrar uma maneira de dizer-lhes que se achava a salvo. Parando para pensar, Kagome percebeu que seu pai jamais a casaria com o novo chefe do clã. Não, era tudo obra de Reynold. Mas qual o motivo?

Enxugando os olhos, afastou o pensamento e concentrou-se na beleza das montanhas escocesas e no homem que a segurava contra si. Conseguiria resolver tudo. Faltavam semanas para o dia do solstício.

Quando sentiu Inu Yasha se mexer, virou-se para trás, para descobrir o motivo da comoção.

— Está muito calor — explicou ele, trazendo-a de volta logo em seguida.

Kagome teve a impressão de estar sendo levada cada vez mais longe das terras dos Taisho e também dos Grant. Aonde será que iam?

Os outros dois vinham logo atrás, depois de terem parado para transferir um belo cervo, prêmio de Miroku pela caçada do dia anterior, do cavalo de Bankoutsu para o de Miroku.

Kagome ergueu o rosto para o sol. Sua pele já estava bastante bronzeada devido ao trabalho externo no treinamento dos novos cavalos. Sardas quase imperceptíveis nos meses de inverno apareciam em seu nariz todos os verões, para desagrado de sua mãe. Sorriu com a recordação.

Madeleine Todd, que fora ama da corte francesa, tinha idéias bem definidas de como uma dama deveria se vestir e se portar. Kagome a decepcionara na maioria de suas tentativas de transformar a filha em uma verdadeira lady, preferindo trajar-se com roupas largas e um penteado simples Para trabalhar no estábulo.

Levando a mão para trás, pegou os cabelos e soltou-os, Pois estava sentada em cima deles. Inu Yasha a puxou de volta, e as partes expostas do corpo dos dois se tocaram. Kagome então percebeu seu erro, esquecendo-se do decote nas costas de seu vestido.

Inu Yasha estava muito quente, e provocava em Kagome várias sensações diferentes, agradáveis, jamais experimentadas antes. Tinha plena consciência das coxas musculosas pressionadas contra suas nádegas, movimentando-se conforme o passo do cavalo. O fino tecido de seu vestido e a delicada lã da manta escocesa pouco faziam para protegê-la da excitação.

— Inu Yasha?

— Sim?

— Ontem, no lago… Eu não me lembro…

— Ah… — Pelo visto ele parecia compreender seu dissabor. — Eu a encontrei dormindo à beira d'água e a levei para perto do fogo.

A lembrança do sonho provocou-lhe um gostoso arrepio.

— Mas, quando acordei, eu… você estava…

— Sim, claro. Acha que eu correria o risco de uma fuga no meio da noite?

Não, Kagome não achava. Inu Yasha Taisho não lhe permitiria ir a lugar algum tão cedo.

Horas mais tarde, adentraram uma floresta menor, menos densa do que as terras ao norte. O garanhão acelerou o passo, parecendo conhecer o caminho. Por vontade própria, entrou em um galope. Inu Yasha não fez nada para impedi-lo.

— Meu Deus! — Kagome ficou impressionada com a velocidade do animal na subida da colina.

Uma grande casa de madeira e pedra surgiu à frente deles, e a chaminé soltava uma receptiva fumaça aos cansados viajantes. Era tão grande quanto um castelo, com pelo menos vinte quartos, posicionada no alto de uma colina e rodeada por uma espessa parede de pedras. Kagome avistou o telhado de casebres e outras construções.

— Onde estamos?

— Em Braedün Lodge. Aqui é a casa de meu tio, Alistair Davidson, e de minha tia Margareth.

Claro! Inu Yasha costumava falar da mãe quando eram crianças. Ellen. Sim, esse era o nome dela. Ellen Davidson Taisho. Ela decerto fugira para lá com os filhos quando o marido foi morto, e os Grant tomaram o Castelo Findhorn.

Inu Yasha direcionou a montaria para um grande pátio. Homens gritavam as« boas-vindas aos guerreiros que se aproximavam. Kagome reparou nos distintivos de bronze que usavam em seus gorros, e a manta dos Davidson era diferente da dos Taisho, que Inu Yasha, Miroku e Bankoutsu usavam.

Os sorrisos transformaram-se em olhares de surpresa e curiosidade, quando perceberam que havia uma mulher cavalgando com Inu Yasha, cujo braço repousava, possessivo, ao redor da cintura dela.

Assim que os cavaleiros passaram a entrada principal para a casa, Kagome avistou uma jovem parada nos degraus que terminavam em uma grande porta. Com roupas simples e segurando uma cesta de flores selvagens contra o peito, ela era pequena, com feições delicadas e cabelos escuros. Deveria ter uns quinze ou dezesseis anos, pois se notavam traços infantis no rosto rosado.

Miroku parou diante dos degraus. A garota abriu um belo sorriso, radiante como o sol de verão. Com um aceno da cabeça, ele indicou o animal preso a seu cavalo. Quando a mocinha demonstrou seu apreço, Miroku quase explodiu de alegria.

Bankoutsu e Inu Yasha ainda riam quando seus cavalos pararam dentro do pátio do estábulo. Dois meninos surgiram e pegaram as rédeas dos animais.

Um homem mais velho, com cabelos grisalhos, usando a manta dos Taisho e botas de couro, esperou que os dois desmontassem. Os olhos brilhantes fitavam Kagome. Estranho. Ela teve a nítida impressão de conhecê-los. Bobagem… Nunca o vira antes.

— Por favor, tire as mãos de mim! — exigiu, assim que Inu Yasha começou a erguê-la da sela. — Sei muito bem como desmontar.

— Está bem! Está bem! — Inu Yasha levantou as mãos. — Como quiser.

Ela abriu um belo sorriso ao olhar para o outro homem.

— Olá, Miouga — cumprimentou Inu Yasha.

— Chefe! Bem-vindo de volta.

Inu Yasha deu uma tapinha nas costas dele e foi até a tina, onde Bankoutsu lavava as mãos.

Kagome continuava em cima do garanhão. O homem mais velho, Miouga, aproximou-se e ofereceu-lhe sua mão forte. Tinha um rosto amável, bronzeado de muitos anos de trabalho sob o sol. Sorrindo, ela aceitou a gentileza, descendo do animal.

Seus olhares se encontraram. O sorriso de Miouga causou nela uma estranha premonição.

— E então, Kagome Todd, o que a traz a Braedün Lodge?



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado çç



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