Um Amor De Infância escrita por Anah


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Deeeeeeeeeeeesculpa pela demora, desculpa mesmo ):
é que eu tive prova, depois simulado, aias recuparações, ai é um saco AHUAH
mas eu voltei :D



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— Higurashi? — Kagome olhava para as expressões taciturnas de seus pais, ou melhor, do casal que sempre considerara pais.

Naraku Todd fixou o olhar nos sentinelas do lado de fora de seu chalé, enviados para garantir o retorno de Kagome ao Castelo Glenmore. Irritado, fechou a cortina para lhes garantir um mínimo de privacidade.

— Sim. Kagome Higurashi, filha de Beatrix. É você, minha filha.

Ela balançou a cabeça, sem conseguir acreditar.

— Mas eu sou sua filha.

— Não, ma petite. — Madeleine meneou a cabeça. — Seu pai, quer dizer, Naraku, tem razão.

Mesmo que fosse verdade, o que significava? Kagome conhecia pouco a respeito de política, aliás, de tudo que não envolvia seu clã.

Fitou a bancada ao lado da lareira. O vestido púrpura todo bordado em ouro que Reynold Grant lhe dera estava ali.

— Não faz diferença. Vocês sabem por que voltei.

— Não, você não pode se casar com ele! — Madeleine tinha os olhos cheios de lágrimas. — Reynold é um homem terrível!

— É necessário, minha mãe. Não tenho saída. E só assim vocês ficarão a salvo.

— Nós estamos a salvo aqui — afirmou Naraku. — Não, de jeito nenhum!

Kagome esticou o braço na mesa e segurou a mão enrugada dele.

— Você não entende papai. Eu preciso me casar com Reynold Grant. Se me recusar… ele expulsará vocês do clã Grant. Além disso, existem outros motivos para que me case com ele.

Naraku soltou-se e bateu no tampo.

— Expulsar-nos? Como assim? Naraku Todd, responsável pelo estábulo dos Grant há quarenta anos e amigo de infância do falecido chefe? Ele terá coragem de nos expulsar?

Kagome assentiu.

— Foi por isso que voltou filha?

— Sim. E apesar de saber que seremos muito bem recebidos em outro lugar… — Lembrou-se de Inu Yasha e da amabilidade dos Davidson e dos Taisho durante sua estada em Braedün Lodge. — Bem, há outros motivos que me obrigam a aceitar essa união.

Levantou-se, e Madeleine, quase desesperada, arregalou os olhos. Foi até o marido e pegou-lhe a mão.

Kagome teve a estranha sensação de que os dois tinham tomado uma decisão muito séria, porém em silêncio. Não era a primeira vez que isso acontecia entre ambos. Uma premonição arrepiou-lhe a espinha.

— Você não precisa se casar com ele. Sim, é filha de Higurashi, mas também de outra pessoa.

— De meu pai, você quer dizer.

Naraku assentiu.

— Quem é ele?

— Seu pai era… John Grant.

A sala pareceu girar. Kagome se segurou na beirada da mesa para não cair.

— O antigo chefe? Como assim?!

O rosto de Naraku Todd pareceu envelhecer anos naqueles últimos momentos.

— Sente-se, filha. Chegou a hora de você conhecer toda a verdade.

Madeleine ajudou-a a se acomodar, depois caminhou até a lareira. Fascinada, Kagome observou-a contar as pedras de baixo para cima, parando na sexta. Com cuidado, puxou-a.

Madeleine tirou um pergaminho enrolado do buraco e lhe passou o documento. Kagome o apanhou com mãos trêmulas.

— Leia minha filha — ordenou Naraku.

— São dois, ma petite, um enrolado dentro do outro.

Ao abrir os pergaminhos, Kagome viu que um deles estava escrito em francês, o outro em escocês. Escolheu o último, que começou estendeu sobre o tampo.

— Foi escrito pelo próprio John Grant! Sim, aqui está a assinatura dele e o selo dos Grant! E data de poucos meses atrás! —Kagome engoliu um soluço. — Diz que ele, John Grant, é meu pai. Não, não é possível!

Os olhos de Naraku Todd se encheram de lágrimas.

— Sim, filha, John Grant era seu pai, e meu grande amigo. Ele escreveu esse documento no instante em que lhe contamos a novidade. Por segurança, disse ele, no caso de… Bem, você sabe o que aconteceu depois.

— Mas… — Kagome se virou para Madeleine. —… o que significa?

— Leia o outro, ma petite.

Kagome desenrolou o outro pergaminho e leu o mais depressa que conseguiu.

— Está assinado por Beatrix Higurashi. Então é verdade…

— Sua maman — sussurrou Madeleine.

— "Kagome Higurashi, única herdeira de minha fortuna e minhas propriedades…"

— É você, filha. Sua mãe escreveu essa carta em seu leito de morte, quase uma hora depois de você ter nascido. Eu era ama e amiga dela.

— Conte-me sobre ela. Conte-me sobre minha… mãe.

— Beatrix era uma linda mulher.

— Sim, era mesmo — concordou Naraku. — E seu pai, John Grant, se apaixonou por Beatrix no instante em que a viu. Faz mais de vinte anos, quando o chefe e eu viajávamos para a corte de Felipe II. A primeira esposa de John, mãe de Souta, morreu um ano após o nascimento do filho.

 Kagome escutara a história quando criança. O chefe nunca mais se casou, e agora ela estava prestes a descobrir a resposta à questão que sempre aguçara sua curiosidade.

— John me levou com ele para a França. Fomos comprar cavalos árabes da Espanha, que estavam sendo vendidos por um conhecido de Higurashi.

— Foi quando eu vi seu pai pela primeira vez. Quero dizer, Naraku — falou Madeleine.

— Isso mesmo. E foi quando John Grant conheceu Beatrix Higurashi. Fazia anos que eu e John nos conhecíamos. Crescemos juntos, pois o pai dele era o chefe do clã e o meu cuidava do estábulo. Nunca tinha visto meu amigo tão encantado por uma jovem, nem mesmo pela esposa, a quem tanto amava. John estava prestes a completar trinta anos quando conheceu Beatrix, que tinha apenas dezenove.

— Como eu.

— Sim, Kagome, mas você é muito mais bonita. Tem os cabelos de sua mãe, uma cascata dourada que desce até a cintura. Os olhos, entretanto, são de seu pai, verdes como os de um gato.

Madeleine se aproximou da filha, ávida por lhe contar tudo, visto que o segredo fora revelado.

— Eles se amavam demais, sua mãe e seu pai. Entretanto, Beatrix fora prometida para outro, um rico conde, um homem de muito poder na França. Beatrix possuía título e fortuna próprios, mas jamais se oporia aos desejos do pai. Sendo assim, os dois se encontravam em segredo, Beatrix e John Grant. Naraku e eu levávamos as cartas de amor e organizávamos os encontros deles.

— Foi quando me apaixonei por você, Maddy.

— Beatrix mandou John embora — continuou Madeleine, sorrindo —determinada a se casar com conde, conforme a vontade de seu pai. Entretanto, ao descobrir que estava grávida, foi mandada para longe para ter o bebê em segredo, e eu fui junto. Os pais de Beatrix ficaram furiosos por ela não querer revelar o nome do pai da criança. Alguns meses depois, você nasceu.

— E… minha mãe?

— Morreu pouco depois do parto. — Madeleine respirou fundo. — Temi por sua vida, ma petite. Pelo que podia lhe acontecer. Assim, fiz uma besteira.

— Não foi besteira! — Naraku sorria com ternura para a esposa, a quem tanto amava.

— Eu fugi com você. Cruzei o canal e, quando cheguei à Inglaterra, mandei avisar Naraku.

— E contou ao chefe, que mandou me buscar.

John Grant a quisera como filha! De alguma forma, aquilo tornava aquela história um pouco mais suportável.

— Não — discordou Naraku. — O chefe nunca soube a seu respeito. E nem eu, até poucos meses atrás.

— O quê?!

— Mantive toda a história em sigilo. — Madeleine tomou-lhe os dedos, com carinho. — Fiquei com muito medo de perdê-la, Kagome. Prometi para sua mãe que cuidaria de você, que sempre a protegeria.

— E foi o que sempre fez.

— Na carta que recebi da Inglaterra, Maddy mentiu, dizendo que tinha tido um bebê. Evidente que achei que…

—… eu fosse sua filha!

 Naraku assentiu.

— Durante todos esses anos?

— Nunca revelei o segredo — disse Madeleine. — Foi…

— Foi um erro, Maddy, um grande erro. Mas não a culpo.

— Eu te amava. — Madeleine começou a chorar, e Kagome a abraçou.

— Eu te amo, mamãe. Vocês dois.

— Naraku foi até a Inglaterra e nos trouxe para a Escócia. Nós nos casamos no dia em que cheguei ao Castelo Glenmore.

— Sim, e você sempre me contou que poderia ter se casado com inúmeros nobres franceses — comentou Kagome, maravilhada com sua incrível história.

— E verdade, ma petite, mas nenhum conseguiu conquistar meu coração como Naraku Todd, responsável pelo estábulo do clã Grant. E você é como uma filha para mim, como se tivesse nascido de meu próprio ventre, de tão próximas que sua mãe e eu éramos.

— E o chefe, John Grant… Nunca soube que era meu pai?

 O antigo chefe sempre fora um bom homem, muito amável com ela e os Todd. Kagome se recordou de uma série de acontecimentos.

— Mas John soube, mesmo que tenha sido no fim da vida. Quando você completou dezenove anos, Maddy me revelou o segredo. Sem pensar duas vezes, fui até o chefe com uma cópia do pergaminho que você está vendo. Naquela mesma noite, John Grant foi assassinado.

Kagome se recordou do enorme mistério envolvendo a morte do chefe do clã Grant. Então, algo lhe ocorreu. Sim, era a única explicação que fazia sentido!

— Reynold descobriu tudo! E…

— Sim, e matou o tio — concluiu Naraku. — É o que imaginamos. Suspeito que Reynold estivesse atrás de uma união com você, mas o tio não deu permissão.

— Ele matou o próprio tio!

— Seu pai, minha filha.

Era terrível demais para compreender.

— Está vendo, ma petite? Você não precisa se casar com Reynold. — Madeleine enxugou as lágrimas. — Agora, não.

— Entendi.

— Precisamos reunir o conselho. — Naraku se ergueu. — Vamos lhes revelar todos os fatos e mostrar os documentos. Eles saberão o que fazer.

Kagome enrolou os pergaminhos e guardou-os no bolso do vestido. Era o dia do solstício, o mais longo do ano. Sendo assim, o sol demoraria mais do que o normal para se pôr. Estava exausta, precisando dormir e de tempo para pensar. Entretanto, não podia se demorar.

Não queria ser nobre, nem francesa, nem escocesa. Queria viver em paz, com os únicos pais que conhecia. Criar e treinar cavalos, ser útil a sua família e ao clã. Ah, havia algo que também desejava. Pena que seria impossível realizar esse desejo.

Inu Yasha a odiaria se conhecesse a verdade. A ironia da situação a fez rir em meio às lágrimas. E pensar no que poderia acontecer se se casassem… Claro, Inu Yasha teria se unido a um clã poderoso, que possuía quase mil guerreiros, além de suas famílias.

O clã Grant.

Inu Yasha teria se casado com ela, Kagome Grant, prima de seu maior inimigo.

Nada aconteceu conforme o planejado. Uma hora depois, Kagome seguiu em Destino na direção do Castelo Glenmore, acompanhada dos soldados Grant. Os homens não tinham permitido que Madeleine e Naraku Todd fossem juntos. E agora, o que faria?

O dia estava frio e claro, e o aroma de folhas inundava a floresta. Kagome escolhera um vestido de lã cor-de-rosa bastante simples para poder cavalgar sem dificuldades.

Madeleine fizera uma trança em seus cabelos, que descia como uma corda dourada por suas costas. Kagome verificou a posição da adaga e os pergaminhos enrolados em seu bolso.

Cavalgaram em silêncio por minutos, então um cavaleiro de mais idade alinhou seu cavalo com o garanhão preto.

— Você não está usando o vestido que o chefe lhe deu.

— Não, não estou.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios do homem.

— Ele não vai gostar.

— Não espero que ele goste, mas não tem problema, pois não haverá casamento hoje.

O soldado franziu as sobrancelhas, mas não fez nenhuma pergunta.

Fora uma declaração ousada, Kagome sabia, porém tinha de agir, de confiar em alguém. Conhecia aquele homem, o capitão do exército de Reynold, e imaginou se ele poderia ou não auxiliá-la. Tinha de descobrir, e o mais depressa possível.

— Você é Owen, não é? Um dos capitães do exército de Reynold Grant.

— Sim.

— Há quanto tempo serve o chefe?

— Reynold?

— Sim.

— Não faz muito. Desde que John Grant morreu. Todos ficaram bastante tristes com a perda. Que Deus o tenha. Ele foi um grande homem.

— Sim, eu sei.

— Eu era o soldado de confiança do antigo chefe, e agora sirvo seu sobrinho.

Incitada por aqueles comentários, Kagome decidiu arriscar:

— E o que acha da liderança de Reynold?

— Você testemunhou a liderança de Reynold com os próprios olhos. O que as pessoas que amam seu povo pensam de um chefe como esse?

Entreolharam-se por um instante, calados.

— E então, se alguém desafiar a posição dele e o conselho o afastar, você suportaria uma… mudança?

O guerreiro olhou para as expressões indiferentes de seus homens. Todos escutavam a conversa, mas nenhum parecia se importar.

— Sim, suportaria essa mudança. Na realidade, já há uma mudança acontecendo.

— Como assim? — Kagome tirou os documentos do bolso. — Owen, se soubesse que John Grant teve outro filho, além de Souta, você o serviria com a mesma lealdade que sempre demonstrou ao falecido chefe?

— Sem titubear.

Ela separou os documentos e lhe entregou o redigido em escocês.

Atordoado com as informações, Owen quase, caiu da montaria. Em seguida, a olhou, assombrado.

— Você me ajuda, se eu precisar?

 Owen cobriu-lhe a mão com a sua.

— Eu a protegerei com minha vida, filha. Mas o que pensa em fazer?

— Ainda não sei. Não posso prever como Reynold aceitará as novidades sobre minha origem.

— Suponho que ele não vai gostar nenhum pouco.

— Preciso falar com o conselho. Eles saberão o que fazer.

— Estão reunidos agora! No grande salão do Castelo Glenmore.

Ao acelerar o passo de Destino, Kagome apressou toda a multidão.

— Você conhece George Grant?

— Sim, é primo de Reynold. E imagino que também seja seu primo.

Mais uma vez, Kagome assentiu.

— É um pouco novo, mas comanda um grupo de quase quinhentas pessoas, desde a morte do pai, dois anos atrás. Para falar a verdade, é ele quem deve destronar Reynold.

— Acredita que George viria me ajudar se algo acontecesse hoje?

— Sim, filha, imagino que sim. Saiba, porém, que nada de ruim lhe acontecerá enquanto eu viver.

— Obrigada, Owen. Você é um bom homem.

A novidade sobre as intenções de George aumentaram a coragem de Kagome, que se sentiu confortada pela maneira como Owen e seus cavaleiros a rodeavam, protegendo-a.

O portão principal estava aberto, e eles entraram, seguindo direto para o castelo. Havia poucas pessoas no pátio, o que Kagome estranhou. Dois dos garotos que trabalhavam com seu pai apareceram e pegaram os cavalos.

— Mantenha os animais por perto — ordenou Owen. — Venha, Kagome, eu a acompanharei.

Ela seguiu o guerreiro pelos degraus de madeira e, assim que entraram na fortaleza, encontraram Perkins e alguns homens de confiança de Reynold.

— O chefe está em seus aposentos. — Perkins lançou um olhar suspeito para Owen. — Eu a acompanharei.

— Mas…

—: Está bem. Eu vou junto — disse ele.

Havia muitos homens ali dentro, percebeu Kagome. Mais do que o suficiente para dominar Owen e seus soldados, se fosse o caso. Como conseguiria chegar até o conselho?

Perkins a guiou para a escadaria, seguidos por Owen e seus homens.

— Acho que será melhor se eu entrar sozinha — ela firmou, com mais convicção do que sentia.

— Não, eu faço questão de acompanhá-la — Owen retrucou. — O resto de meus soldados ficará aqui fora, bastante atentos.

Os guerreiros fizeram uma mesura para o chefe. Perkins percebeu que havia algo de errado e olhou para Kagome durante alguns segundos antes de bater na porta.

— Entre — ordenou Reynold.

Kagome entrou no quarto, seguida por Perkins e Owen. Reynold se levantou da mesa e parou diante dela.

— Vejo que você trouxe minha noiva, Owen.

— Sim, chefe.

— Chegou mais cedo do que eu esperava Kagome, mas não faz mal. Assim, poderei conhecer minha esposa melhor antes de fazermos as juras.

Quando Reynold ergueu a mão para tocar-lhe o rosto, Kagome escutou o barulho das roupas e armas de Owen. Nenhum dos dois se mexeu. O gesto despertou a raiva de Kagome, e também seu medo.

— Você não está usando o vestido que lhe dei de presente, Kagome. Mas não importa. A cerimônia ainda vai demorar a começar. Portanto, posso mandar alguém ir buscá-lo.

Quando Reynold deu um passo para frente, a porta se abriu. Esbaforido, um soldado entrou, sem dúvida depois de ter cavalgado a noite inteira.

— As sentinelas da fronteira oeste foram encontradas mortas ontem. Cerca de quinze homens.

Reynold aproximou-se dele, segurando-o pela manta.

— E quem foi?

— Não sabemos chefe. Mas, a julgar pelas pegadas de cavalos, imaginamos que sejam uns duzentos.

Assim que Reynold o soltou, o soldado assustado deu um passo para trás.

— Taisho, nossos caros vizinhos — ironizou Reynold, tirando algo do bolso.

 Era uma insígnia de prata com um gato sob as patas traseiras.

Kagome arregalou os olhos.

— Não me deixe esquecer de agradecer a eles pela hospitalidade com que a trataram, querida noiva. — Reynold chamou por Perkins, que logo apareceu a seu lado. — Está tudo pronto?

— Sim. Enquanto conversamos, quatrocentos homens seguem para o Castelo Findhorn. Eles devem chegar bem antes que os Taisho.

— É… uma traição? — gaguejou ela.

— Acha que pode me repreender? Estou preparando uma calorosa acolhida para nossos amigos. — Reynold caiu na risada, e Perkins e os outros o imitaram.

Ao escutar a risada de Owen, Kagome cerrou os punhos ao lado do corpo e rezou para conseguir manter a calma.

— Escutamos algo sobre a aproximação de Taisho. Ele pensa que recuperar o Castelo Findhorn. Deixe-o tentar. Com um bando que insiste em chamar de clã… Mesmo com o apoio do tio, o exército de Inu Yasha é bem menor.

Estava evidente nos olhos de Reynold que sua intenção era aniquilar o inimigo sem a menor piedade. "Preciso fazer algo, mas o quê?!"

— Eu… tenho de ir embora. Voltarei para o chalé de meus pais. — Kagome se virou para partir. — Ainda…

— Não, eu a quero aqui, junto de mim.

Antes que Kagome pudesse se dar conta, Reynold a puxou e a beijou com violência.

Furiosa, ela se debateu até conseguir se soltar, e caiu nos braços de Owen. Seu rosto ardia de ódio. O guerreiro a amparou, mas não deu nenhum indício de que a ajudaria. Quando o encarou, Kagome não conseguiu decifrar nada da expressão fria e distante.

— Eu não gostaria que nosso último encontro se repetisse, minha querida esposa.

— Não me chame assim.

— Por que não? Será um fato dentro em breve. — Reynold se virou para um dos soldados encostado na parede. — Chame o padre.

Kagome abriu um belo sorriso, deixando sua fé falar mais alto.

— Duvido que exista um padre em toda a Escócia que aceite realizar esse casamento contra minha vontade. Nem hoje, nem em nenhum outro dia.

— E posso saber por que, meu bem? — Reynold pegou-lhe a trança.

Kagome estudou o belo rosto, enxergando agora a semelhança. As maçãs altas e o nariz aquilino. Reynold Grant puxou-a para bem perto, irritando-a cada vez mais.

— Porque eu sou filha de John Grant.

Por alguns instantes, os únicos sons eram o crepitar do fogo e a respiração dos homens.

Reynold piscou, e o sorriso malicioso sumiu de seus lábios.

Pronto, Kagome conseguira. Antes que ele se recuperasse do choque, tirou os documentos do bolso.

— É verdade, caro primo.

Ele arrancou os pergaminhos das mãos de Kagome e leu o escrito em escocês. Sua linhagem francesa já lhe era conhecida, bem como sua ligação com a corte de Felipe II. Era o único motivo pelo qual queria se casar com ela.

Todavia, Reynold nem sonhara que Kagome fosse filha de seu tio.

— Não — sussurrou incapaz de acreditar no que lia. — É mentira.

— É verdade. Olhe para mim e veja a semelhança. — Kagome tirou os documentos das mãos do primo e, sem encontrar resistência, recolocou-os no bolso de seu vestido.

Fitou Perkins, que, atrás do chefe, conseguira ler o suficiente para compreender sua posição.

— Agora irei até o conselho.

Kagome se virou para sair, mas Reynold segurou-lhe a trança, impedindo-a. Kagome gritou de dor e olhou para Owen em busca de ajuda.

— Isso não muda nada. — Reynold a empurrou para o chão em frente à lareira. — Perkins, vá buscar o maldito padre! E o resto de vocês, saia daqui! Todos menos você, Owen. Segure essa mulher. Não quero que ela fuja agora.

Kagome foi tomada por um grande pavor. Depressa, levantou-se assim que Owen tomou-lhe o braço. Será que o guerreiro não faria nada por ela?

Reynold desembainhou a espada e colocou-a em cima da mesa. Perkins e os demais se retiraram do aposento.

— Agora, prima, prepare-se para fazer seus votos. — E Reynold se aproximou dela.

Lágrimas quentes se formaram nos olhos verdes. Kagome lutou para controlar o horror. Claro que o padre a escutaria e acreditaria em toda sua história. Nenhum padre a obrigaria a se casar.

— Coragem… — murmurou Owen, assim que Reynold se virou de costas.

Ela quase desmaiou de tanto alívio. Contendo o choro, Kagome decidiu aguardar o plano de Owen.

— Você chegou tarde demais, Reynold.

— Como assim? Kagome empinou o queixo.

— Não sou mais virgem. Entreguei minha virgindade a outro. A seu inimigo. — Era arriscado desafiá-lo daquela maneira, mas Kagome não se importava. Talvez a revelação lhe desse um pouco mais de tempo.

— Sua prostituta!

Kagome percebeu a intenção de Reynold um instante antes de levar um forte tapa no rosto. O golpe a deixou tonta. Em um gesto paternal, Owen a segurou contra o peito.

Reynold tornou a erguer a mão.

— Chega! — gritou Owen, empurrando-a para o lado. Então, pegou sua espada e apontou-a para o coração de seu chefe. — Corra Kagome! Depressa! Por ali — E apontou para uma porta dentro do quarto. — O conselho está reunido no andar de baixo! Encontre-os!

— Perkins! — chamou Reynold.

A porta do corredor se abriu, e os homens de Owen entraram. Durante o caos momentâneo, Reynold aproveitou para pegar sua espada de cima da mesa.

Kagome abriu a porta e virou para trás no momento em que Reynold enfiou a espada no ombro de Owen.

— Corra minha jovem! — ordenou ele, apoiando-se contra a parede da lareira.

Querendo ajudá-lo, Kagome hesitou. Então Reynold se virou para ela, com a espada suja de sangue. Quando os homens de Owen o rodearam, ela saiu correndo.

Seguiu pelos corredores do castelo, deixando para trás os gritos dos homens e o barulho de metal contra metal.

O grande salão estava vazio! Decerto Reynold impedira a reunião daqueles homens poderosos.

Sabendo que não tinha muito tempo, Kagome saiu do castelo e correu até Destino, que a aguardava tranqüilo.

— Pare! — gritou Perkins, que tentava organizar os soldados para a batalha.

Kagome montou Destino o mais depressa que conseguiu e saiu em disparada. Perkins jogou-se em cima de um dos cavalos e foi atrás.

Apenas um pensamento ocupava sua mente, guiando-a para o sul como uma amazona enlouquecida pela floresta: quatrocentos homens se aproximavam do Castelo Findhorn para esperar Inu Yasha Taisho e seus homens.


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Notas finais do capítulo

gostaram ? çç