Mandy's POV

Acordei com uma dor de cabeça horrível. Tinha passado a noite inteira pensando se iria ou não contar para David tudo o que aconteceu. Eu tinha que contar, era o certo a fazer, mas ela é minha irmã e ele é o melhor namorado que ela já teve! Eu podia estragar tudo contando algo que provalvemente Sophie nem se lembraria depois de uns anos mas... eu ficava com esse peso na consciência toda vez que pensava em não contar. Era o lado direito (o racional) do meu cérebro torcendo para David e o lado esquerdo (o emocional) torcendo para Sophie. Era uma verdadeira luta na minha mente. Levantei e fui direto procurar uma aspirina. Ótimo. Mal acordava e já tinha que tomar aspirina. Parecia até aquelas mulheres que bebiam todas.

Sophie provalvemente ainda não tinha acordado. Era 7 horas da manhã e fazia um sol lindo lá fora. Era um dia ensolarado mas não quente, perfeito para sair. Vesti uma blusinha de alcinha e um short leve. Nem tomei banho e nem comi nada. Fui assim mesmo para a praia. Enquanto caminhava na areia, me sentia tão vazia... Nem parecia que eu estava ali. Parecia que minha alma havia sido levada para outro lugar e que ali era só um corpo andando na beira do mar.

Algo na minha mão vibrou e percebi que tinha uma mensagem nova no meu celular. Eu nem sabia que eu tinha levado celular! Estava tão viciada que levava aquilo automaticamente para todos os lugares. Hesitei um momento. Num horário daqueles só podia ser a operadora e eu nem estava a fim de mexer no meu celular mas acabei mexendo. Era do Josh:

“Leve-me de volta ao paraíso de verão. Meu coração está afundando conforme eu vou me levantando. Mas um dia, eu vou encontrar meu caminho de volta para onde o seu nome está escrito na areia.”

Onde é que Josh arranjou um celular pra escrever aquilo? Era proibido qualquer tipo de aparelho comunicativo naquela clínica. Porra, já estava confusa demais e ele ainda me manda essa mensagem. Aquilo provalvemente era letra de uma música. Ele costumava mandar coisas assim enquanto namorávamos. Ou isso podia ser uma das inpirações com o John porque agora os dois viviam filosofando sobre a vida, pelo que eu soube.

Essa mensagem me lembrou do dia do meu aniversário em que passamos na praia. Havíamos escrito nossos nomes na areia.... Deve ser por isso que ele me mandou a mensagem. O que ele queria com aquilo? Que eu voltasse rastejando para ele como se nada tivesse acontecido? PUFT. Ele me traiu e ainda se drogou, foi quase que uma traição dupla. Foi como ele tivesse me traído na minha frente. Como é que esse assunto de traição foi se tornar tão comum na minha vida?

Arg, deu vontade de jogar meu celular lá no fundo do mar ou de engolir ele até me ensgasgar e morrer mas o celular era muito caro e tinha pena de fazer isso com ele. Mas vontade mesmo que eu tinha era de esquecer tudo que eu estava pensando. Nem a música me fazia mais esquecer. Eu já estava sensível com tudo. Não podia ter um piano na música que eu chorava. Era hormônio demais.

Caminhei até chegar numa barraquinha. Sorte que tinha dinheiro no meu short e comprei uma água-de-coco. Sentei e vi um moço com dreads se aproximar. Ele me entregou um folheto dizendo que ia ter um show de uma banda que nunca ouvi falar num pub que eu já tinha visitado. Iria ser hoje a noite. Até que não seria uma má ideia. Na verdade, eu nem queria voltar para casa, queria ir para todos os shows do mundo mas não era assim que o mundo girava.

Fui caminhando de volta para casa e Sophie ainda não havia acordado. Já era umas 9 horas e eu ainda não tinha sentido fome então me joguei na cama novamente.

–

Acordei toda suada. Já era 7 horas da noite! 7 HORAS DA NOITE! Eu tinha dormido o dia inteiro! Meu deus! Eu quase não consegui levantar da cama de tanta fome. Fui na geladeira e peguei uma pizza congelada. Coloquei para esquentar e vi o recado de Sophie. Dizia que ela iria trabalhar e que esperava que tudo ficasse bem. Eu também esperava isso mas COM A MERDA QUE ELA FEZ... PORRA, IMPOSSÍVEL FICAR TUDO BEM.

Me lembrei imediatamente da “festa” a qual eu fui “convidada”. Terminei de comer minha pizza e fui logo tomando banho. Me arrumei simples mesmo, não tava a fim de se produzir muito. Saí de casa e deixei um bilhete na geladeira para Mandy avisando que eu estava na casa de uma amiga minha. Mentir é bom, às vezes.

Chegando no pub, já tinha uma galera concentrada lá dentro mas não estava a fim de dançar então sentei em uma das cadeirinhas do bar. O garçom me olhou e já foi me servindo uma bebida que aparentemente era forte. Era toda “produzida” com direito a cor diferente e chapéuzinho de guarda-chuva.

– Não moço, não quero não, obrigada - disse.

– É por conta da casa. Hoje as mulheres não pagam nada – falou.

Ele não parecia estar dando em cima de mim, então aquilo não era uma tática para eu conversar com ele. Parecia mais que ele estava fazendo isso por obrigação. Aceitei e bebi um gole. Era muito bom, tinha um gosto bem docinho e parecia o néctar dos deuses descendo pela minha garganta. Fui pedindo mais e quando reparei já não conseguia diferenciar o garçom que havia me atendido com o cara que estava na cadeira ao meu lado, sendo que as roupas eram totalmente diferentes. Levantei da cadeira e fui balançando para fora do bar. Minha mente estava tão “livre”. Não lembro como mas entrei em um táxi.

John's POV

Mais outra noite que eu não conseguia dormir. Não era porque eu estava preocupado com algo ou alguém – com o que ou com quem eu iria me preocupar? Ninguém ligava pra mim – mas era porque eu dormia o dia inteiro e não fazia nada. Tocava algumas coisas na área da criatividade ou sei lá como chamavam aquela parte da clínica. Algumas fãs souberam que eu estava aqui e até doaram alguns instrumentos para cá. Fãs paranóicas. Não preciso disso. Minha vida já é conturbada o bastante e ainda tem um monte de gente vendo. E eu só falo e faço merda. Incrível.

Tinha muito barulho na recepção. Quem estava discutindo a essa hora da noite? Me levantei e saí do quarto. A claridade daquele corredor me cegava toda vez. Fui andando com a mão no olho, a fim de empatar aquela luz cegueira. Depois de um tempo conseguir ver uma menina discutindo com a recepcionista.

– Olha aqui, eu tenho que falar com ele – disse a menina quase atropelando as palavras.

– Querida, - falou a recepcionista com ironia – o horário de visitas já acabou, é proibido visitantes nessa hora e ele deve estar dormindo. Por favor, venha amanhã a tarde.

– Não me venha falar o que é proibido – percebi que a menina estava bêbada – Você por acaso sabia que ele usou um celular? Você sabia que isso é proibido?

A recepcionista ficou vermelha. Cheguei mais perto para parar a briga e reparei que era Mandy a menina bêbada. “Ahahaha, a briga tá só começando!” pensei. Sentei no sofá disfarçadamente.

– Por que você está vermelha? Você tá escondendo coisa de mim – disse Mandy com o dedo na cara da recepcionista.

Ela ficou mais vermelha ainda e gaguejava. Estava mais engraçado do que parece.

– Eu vou entrar lá – disse Mandy entrando em um dos quartos.

Ela estava tão bêbada que nem reparou que a recepcionista estava a impedindo segurando pelas mãos por trás e ela ainda entrou no quarto errado. O quarto de Josh era o último do corredor esquerdo enquanto o meu era o último do corredor direito. Mandy estava no primeiro quarto do corredor direito, ou seja, totalmente na direção oposta. A recepcionista estava prestes a chamar alguém para pegar uma maca e colocá-la lá mas resolvi interromper.

– Mandy, Mandy.. - disse parando em sua frente – O que você está fazendo aqui?

– Aaah você. Sempre nos momentos mais inesperados – disse me cutucando no peito – Eu que te pergunto o que você está fazendo aqui?

– Ahnn Eu vivo aqui praticamente. Estou internado aqui.

– Aaah então agora você vive na casa do Josh? Desde quando você tem essa intimidade?

– Mandy, presta atenção – tinha que ficar estalando os dedos para ela olhar pra mim – O que você quer com o Josh?

Queria mesmo saber o que aquela menina ainda queria com Josh. Qualé, ele estava mais fudido que eu. Em relação a ela, lógico.

– Eu quero explicações sobre essa mensagem – ela me mostrou seu celular.

– Isso aqui é uma mensagem da sua operadora.

– Não, é dele! Eu sei que não está identificado mas tenho certeza que foi ele que mandou.

Olhei todas as mensagens e vi uma que não tinha identificação. Era letra de uma música. Aquele filha da puta ainda mandava mensagens para ela.... Com que celular?? Arg, por que eu estou reagindo assim?

– Acho que ele não seria uma boa ideia você... - avistei Josh no fim do corredor e parei de falar.

– Hey, acorda! - disse Mandy.

– Mandy.. - falou Josh.

Mandy virou para ele já com os olhos lagrimando.