Never Let You Go - Bring me to Life escrita por lovemhatem_


Capítulo 20
Recomeço - Never Let You Go


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenham gostado...



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Depois daquilo, eu não consegui pensar em mais nada além dela. Eu passei o resto do dia dentro do quarto. De manhã, me vi forçado a levantar e ir para escola. Seria o meu último dia de aula, pelo ao menos para mim, eu só iria para resolver o resto da minha vida, depois iria por obrigação.

Eu parecia não escutar os gritos de Honor quando eu não lhe dei atenção. Ela disse que terminaria comigo, bem alto e para todos ouvirem, mas também não dei a mínima, eu já havia feito isso em casa. Na saída da escola, Kevin e seus amigos me pararam, eu não relutei, era esse o assunto a tratar quando resolvi vir para a escola.

Não tenho a mínima ideia de como estava minha cara quando eu cheguei a casa, eu vim de pés. E mamãe deu o maior escândalo ao me ver, mas eu a empurrei e subi as escadas, voltando para meu quarto e o trancando. Passaram o dia inteiro tentando me fazer abrir a porta, mas eu não abri.  Não sei de que horas saí do quarto para comer alguma coisa, mas sei que não havia mais ninguém na casa, estava tudo escuro. Eu tomei um copo de Ovomaltine e abri a porta do quintal, sentei lá e fiquei olhando para a sombra do Jacarandá-mimoso em que eu havia visto Loui pela primeira vez. E quando eu senti meus olhos começarem a marejar, me levantei e saí dali.

O resto dos dias foram assim, eu faltava muito às aulas, no começo mamãe fazia questão que eu fosse, mas quando ela percebeu que todos os dias eu voltava com marcas pelo rosto, resolveu me deixar ficar em casa. Ouvi-a discutir com meu pai sobre ele ir à escola ver quem era o autor das agressões. Ele deve ter ido, mas quando voltei pra escola no outro dia, tudo aconteceu do mesmo jeito. Mamãe tentou mudar de escola, mas, quando eu gritei do meu quarto mesmo que não sairia pra droga de escola nova nenhuma, ela desistiu imediatamente da ideia. Depois de cerca de um mês eu comecei a sair do quarto e ir comer com a família, porém não falava com ninguém. Ryan e Haden ainda viriam morar por aqui, seus pais haviam voltado e isso era bom em todos os sentidos. Mas era como se não ouvisse mais a voz de ninguém, e se ouvia, não conseguia colocar as palavras em ordem, era incapaz de perceber qualquer sentido nelas. Mamãe tentava uma aproximação, porém ela ia desistindo com o tempo.

Eu não sei bem o que eu estava fazendo. Só sei que estava no meu quarto, sentado na cama e de frente para a janela, tentando ordenar meus pensamentos e entender o que estavam conversando lá embaixo. Havia certo tumulto. Então alguém bateu na porta. Eu não respondi. Bateram de novo.

- Jesse? - ouvi a voz de Kendra.

Eu joguei uma bola de papel ao meu lado no chão. Meu caderno estava quase sem folhas, eu passava a maior parte do meu tempo rabiscando nele. Eu havia jogado a folha para que Kendra soubesse que eu estava vivo e a ouvindo. Ouvi a porta do quarto se abrir devagar.

- Jesse - agora era mamãe. - Quero que conheça uma pessoa.

Não respondi.

- Jesse?... - mamãe tentou de novo.

- Não quero conhecer ninguém - falei entre dentes.

Ouvi mamãe suspirar.

- Deixa que eu faça isso. Vá falar com a mãe dela - Kendra murmurou.

Então devia ser a vizinha. Ela andava indo na minha casa frequentemente. Sua filha quase havia morrido, ficara de coma durante todo esse tempo, e ela vivia conversando com minha mãe. Eu me lembro de que ela havia começado a ir fazia uma semana quando sua filha havia dito meu nome enquanto estava dormindo. Assim, sem motivo nenhum. Então ela começou a ficar amiga da minha mãe. E eu havia descoberto por Kendra, que era a única com quem eu falava de vez em quando, que a garota havia saído do coma havia uns doze dias. Então ela devia estar ali.

- Jesse. Você precisa se virar e falar com ela. - Kendra falou com urgência na voz.

Eu me virei lentamente e olhei para a garota atrás de mim. Ela não parecia nem um pouco a vizinha. Estava usando um vestido azul celeste com detalhes brilhantes na cor azul turquesa, esse vestido parecia me lembrar de alguma coisa. Olhei para Kendra. Ela sorria. Então eu me lembrei: aquele vestido era um dos vestidos que eu havia visto na caixa da casinha do quintal. Um dos vestidos da família de Loui.

- Você mexeu nos vestidos de Louissean Gianetti? - perguntei, levantando minha cabeça para olhar diretamente nos olhos da garota.

Mas então meu coração parou e meu ar faltou por cerca de meio segundo. A garota era ela, a vizinha, a menina que eu sempre achei nojenta por seu jeito de ser e sua cara de líder de torcida enjoada. Porém dessa vez ela estava diferente, seu cabelo estava solto e para trás, ela usava uma tiara que combinava com o vestido e sorria. Ela nunca havia sorrido daquele jeito pra mim. Então eu reparei algo em seus olhos. Estavam com uma expressão diferente da que eu me lembrava de ver neles. Estavam com uma expressão travessa, estranhamente desafiadora, como se ela fosse partir para uma briga a qualquer momento.  Eu conhecia bem esses olhos.

De repente me lembrei do dia do acidente. A mãe da garota havia gritado alto naquele dia: - Ela está morta! - ela havia dito. A minha mente voltou mais atrás ainda.

"- Você.. você.. poderia voltar a viver?”

“- Talvez - ela respondeu tão baixo que eu quase nem cheguei a ouvir.”

“- Talvez...?”

“- Se... Se eu arrumasse um corpo. Um corpo humano morto. Eu voltaria a viver nele. Mas, nem eu nem você podemos sair para o cemitério e pegar um corpo em decomposição. Tem que ser um corpo recente, ainda novo, ainda... Perfeito, que ainda consiga sustentar uma vida, entende?”

Um corpo... Recém-morto?

- Eu sinto muito pelo que Kevin fez - ela deu um meio sorriso.

- Lou... Loui... – sussurrei ainda atônito.

A garota sorriu mais ainda, como se estivesse orgulhosa de mim.

- Quase. Chamo-me Louise... Agora.  - ela se aproximou da cama.

Então eu não vi mais Kendra ali.

- Agora? - murmurei.

Ela riu.

- Eu estava aqui pensando... E eu queria experimentar... Uma coisa. Só pra ver se eu ainda me lembro, sabe?

Minha respiração falhou de novo.

- Louissean? - falei sem querer.

- Deixa de ser bobo, se eles ouvirem você falar isso em voz alta vão acabar pensando que você está realmente louco. Eu vim aqui pra te ajudar. Você vai ou não querer minha ajuda? Você não devia ter deixado Kevin fazer isso com você, e por falar nisso, acredita que Louise conhecia a Honor? Eram praticamente melhores amigas tanto quando ela e a falsa da Shella. Eu devia me sentir mal por estar aqui, roubando o lugar da garota, mas veja por um lado bom: ela morreu, e sua mãe iria ficar inconsolável se ela tivesse realmente morrido. Eu estou ajudando não só a mim mesma e a você como também a todo mundo. Mas... - ela iria continuar tagarelando. Mas eu a interrompi.

Eu simplesmente não sei o que aconteceu em mim. Mas sabia o que havia acontecido com ela. Eu fiquei de joelhos na cama e me aproximei dela. Ela parou de falar no mesmo instante. E dessa vez, quando sua boca tocou a minha eu pude sentir perfeitamente. Era quente no quente. Não me importei se Louise era uma garota nojenta com cara de líder de torcida enjoada. Ali não era ela, era a Loui. A minha Loui. E era um recomeço.


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Notas finais do capítulo

Adíos! Se eu fizer a segunda temporada, posto o link aqui ;*