Baú de Ossos escrita por Julia Valentine


Capítulo 2
Capítulo 1 - O Tempo Passa.


Notas iniciais do capítulo

Enjoy '-'



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5 de agosto de 2011, Seattle – Washington.

Teto, meu amigo. Será que um dia você criaria vida e despertaria para meus anseios? Depois de tanto tempo fitar a vasta cobertura sobre minha cabeça resolvi me mover um pouco. Virei de lado na cama e comecei a encarar a parede. Isso estava se tornando um hábito nada saudável.

Então era hoje...

No dia 5 de agosto de 1994 foi-se ouvido mais um choro de criança.

Fico me perguntando se eu não soubesse quantos anos tenho, qual seria a minha idade? Pode parecer maluquice, leitor. Mas a principio eu posso parecer um pouco fora das idéias. Peço que não se acostume, surpreenda-se!

Como dizia Drummond de Andrade, quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias? Dividi-lo em anos, meses e dias? Ideia estúpida! Eu poderia ter qualquer idade senão fosse isso. Mas não... Completo ímpares 17 anos.

Tentei manter as idéias menos lúcidas para poder levantar.

Busquei forças com os raios de sol que despertavam na minha janela. Pisquei freneticamente em uma estúpida tentativa de acostumar meus olhos àquela escuridão. O despertador tocou irritantemente indicando que eu precisava levantar. Novamente, tinha acordado antes dele.

Haha, enganei você!

Deus, como fico doente de manhã. Bocejei forte e fui ao banheiro cambaleando. Pisei em algumas roupas jogadas no chão do quarto, mas cheguei ilesa.

O resto do sono foi extraído quando aquela água fria foi jogada no rosto. Ah, que merda! Por que essa água tem que ser tão fria? Grunhi. Não existe aquecimento nessa casa, é claro. Por um momento havia esquecido.

Depois de realmente despertar, segui novamente para o quarto. Procurei por algo limpo e o resultado foi: all star, uma camiseta preta e um jeans. Minha originalidade me mata!

Novamente andando no corredor a passos leves – não queria acordar Marcelle – fui à cozinha e tomei duas aspirinas. Minha dor de cabeça estava me atarracando! Peguei as chaves do mustang velho, que apesar de velho, é o meu bebê.

Entrei e coloquei uma música para embalar meu aniversário. Like A Stone. Eu não sei vocês, mas essa música tem um quê tão depressivo que me anima.

Segui pelas ruas de Seattle até a casa de Suzanne, minha única amiga aqui desse lugar em anos. Apesar da minha apatia, a amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.

Ela esperava sentada em seu jardim esplêndido. Suzanne é uma pessoa que você pode considerar... rica. Você deve estar se perguntando o que uma menina desse nível faz mantendo relações comigo? Ah, meu bem, não disse que sou irresistível? Não... Não é por causa disso. Há tantas coisas na vida mais importantes que o dinheiro. Mas custam tanto...

Ela correu em minha direção e entrou no carro.

– Oi, oi, oi, oi! – disse eufórica. Jura que isso era euforia?

– O que foi? – perguntei pisando no acelerador para sair da frente daquele palácio o qual ela chamava de casa.

– Primeiro dia de aula! Não está nenhum pouco animada? – fez um olhar de reprovação para mim.

Aparentemente ela havia esquecido meu aniversário. Melhor assim! Olhei para frente e aumentei o volume do som. Ela começou a discorrer sobre suas férias animadas e badaladas e como eu fui chata em não chamá-la para nada.

Acho que Suzanne e eu combinávamos muito bem. Nós fazíamos uma troca justa na hora de falar. Na verdade, ela fala. Eu escuto e mexo a cabeça. Acho que ela se satisfaz com isso.

Para começar, nos conhecemos nas aulas de arte. A única que fazíamos juntas. Ela realmente não tinha nenhum dom pra isso. Digamos, nenhum mesmo. Tentei me aproximar somente porque ela estava pior do que eu – o que é uma grande novidade, alguém pior do que a minha situação. Mas seguinte: eu gosto disso... A arte é uma auto-expressão. E eu adoro, e preciso.

Só sinto uma necessidade absurda de colocar no papel meus sentimentos. Além do que vejo. Digamos que tenho certa “intimidade” com os lápis. Mas é só. Sou a pior no que faço de melhor e por este presente eu me sinto abençoada.

Suzanne também não gostava das panelinhas da escola. Eu diria que ela podia naturalmente fazer parte desse grupo, mas ela discorda totalmente. Ela é bonita, se é que me entendem. Tem belos olhos azuis, cabelos castanhos e está sempre bem vestida.

E eu? Bem, sou normal. Marcelle diz que tenho os olhos do meu pai. Negros como a noite. Não necessito de mais descrições.

Parei em frente à escola e descemos. Suzanne parou para cumprimentar os amigos – ela tinha uma vida social também. Fui à secretaria pegar alguns papéis chatos. Burocracia.

Observei o movimento. Muitos alunos novos, outros que eu preferia longe, outros que nunca fiz questão de saber o nome e por aí vai.

Havia uma fila enorme. Os que deixam tudo para a última hora... É, eu tinha que estar no meio. Quando me dirigi ao local um grandalhão metido a esperto atropelou-me e pegou o meu lugar.

Olhei para ele com meu olhar assassino. Olhos negros como a noite tinham lá suas vantagens - serviam para afastar pessoas. Tinha provado antes. Ele apenas sorriu. O que?!

Mas o que havia acontecido comigo? Ele permaneceu inalterado diante do meu olhar?! Esse garoto tinha algum problema? Acho que queria morrer...

– Não vê por onde anda, não? – perguntei subindo meu tom de voz me apontando a ele.

– Desculpa, tampinha, não vi você aí. Quer passar na minha frente? – perguntou me direcionando olhos verdes hipnotizantes. Os olhos verdes mais lindos que já tinha visto...

– Tampinha é a... – ele colocou o dedo a minha boca fazendo uma cara de reprovação. Encarei-o sem reação por alguns segundos. Para logo depois o morder, é claro.

– Ai, você é louca? – perguntou retirando a mão. Passei a frente na fila retomando meu lugar que fora roubado. Fiquei olhando para frente ignorando a presença do filho da mãe atrás de mim. – Ei, o gato mordeu sua língua? – cutucou minhas costas. Busquei por qualquer coisa para tirar a atenção dele sobre mim, mas nada adiantou. O fedelho continuou me cutucando.

– O que foi? – perguntei virando para ele. Ele devolveu meu olhar assassino. E não é que ele conseguia fazer um também com aqueles olhos tão angelicais. Ah, o que você está dizendo sua retardada? De angelical, aquele menino não tem nada. Acabei rindo de meu próprio pensamento.

– Daria um dólar pelos seus pensamentos! – disse o garoto.

– Mas eu nem te conheço. – ponderei - E um mísero dólar?! – zombei.

– Um beijo? – arqueou a sobrancelha.

Apenas revirei os olhos e bufei como resposta.

– Nossa, ok. – disse fingindo estar magoado – Qualquer coisa, então.

– Quem é você mesmo? - perguntei já irritada.

– Ryan Kemper, prazer! – estendeu a mão, que eu obviamente não peguei – Hum... Já saquei a sua garota.

– Hum...

– Nervosinha...

– Quem é você pra dizer algo sobre mim, criatura acéfala? Você nem me conhece então vai se... - deixei as palavras penduradas no ar e bufei.

– Já fui, buda. E a tampinha tem nome?

Voltei para a frente ignorando a ultima pergunta do idiota desse garoto. Sim, ele era bem mais alto do que eu. Mas... tampinha?! E quem ele achava que era pra falar algo sobre mim? Bufei alto mostrando a minha irritação. Finalmente a minha vez na fila chegou. Peguei meus papéis com a Senhora da secretaria que eu nunca guardava o nome.

– Obrigada Senhorita Vipolly – pronunciou meu sobrenome em voz alta. Virei-me e meus olhos acabaram encontrando com os do maldito garoto. Ele sorriu e disse – Senhorita Vipolly. – em um tom bem sarcástico.

Revirei os olhos e me distanciei rapidamente dali.



Se meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo.



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Notas finais do capítulo

Aniversário! E Suzanne esqueceu... tadinha. Ou será que não?
E esse Ryan que fica chamando as baixinhas de tampinha?
Ainda sem o nome da nossa protagonista, mas logo vocês descobrirão! =D
Reviews?