As Asas do Corvo escrita por Phill Namless


Capítulo 3
Atraido Pelo Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora!!! Como eu disse, nada de ação até o terceiro capítulo. Agora, sem mais delongas....



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/187891/chapter/3

Henry e Damian passaram o restante do dia aporrinhando David com conversas sobre Velkan e seu estranho interesse por ela. Sim, ele estava interessado. Mas, ao contrário do que pensavam seus amigos, não era um interesse romântico. Velkan era estranha demais... Algo nela gritava uma singularidade irreal. Aquilo era desconfortante e atraente ao mesmo tempo. David queria descobrir mais sobre aquela garota, sobre suas origens. Estranhamente, quando pensou nisso, outro pensamento estranho lhe veio à mente:  “quem sabe demais sobre o inimigo, acaba bandeando-se para o seu lado”.

 O restante das aulas foi monótono e chato. Velkan estava em outras duas classes junto com David: educação física e literatura. Durante as duas aulas David não conseguia tirar os olhos dela, que sentou-se sempre à sua frente. Ele até conseguiu arrancar um olhar que dizia “o que você perdeu aí?” enquanto ela se virou para pegar algo na mochila e percebeu seu olhar nada discreto em suas costas.

 Quando chegou em casa Sam estava o esperando no alto da escada, sentada, como sempre fazia.

 - David!! – Ela desceu a escada gritando e se agarrou à cintura do irmão que já estava no balcão da cozinha. – Jim está encrencado. A professora dele contou que ele andava colando nas provas e batendo nos garotinhos mais novos.

 - Sério? – David já estava pegando-a no colo. – O que Linda vai fazer quanto a isso?

 Como sempre Linda já estava vindo. Parecia que sempre que alguém citava seu nome era como se a estivesse a chamando, e ela logo aparecia.

 - O que houve com “mamãe”? Ou apenas “mãe”? Esses garotos criam alguns pelos no corpo e logo pensam que são adultos.

 O humor dela era sempre dos melhores, independente da situação. Ela estava com várias sacolas nas mãos e David colocou Sam no chão de volta e foi ajuda-la.

 - Obrigado querido. E então? O que estavam falando sobre mim?

 Enquanto pegava as sacolas das mãos de sua mãe David trouxe de volta o assunto anterior.

 - Estávamos falando sobre o castigo cruel que esperamos que você – ele olhou sugestivamente para Linda – vai aplicar no Jim. Sam me contou que ele anda aprontando na escola. Ele já começa o ano com broncas.

Linda suspirou. Não era de seu feitio aplicar castigos cruéis, David sabia disso.

 - É, parece que ele arrumou uma rixa com um coleguinha ano passado, e já está passando dos limites.

 David havia acabado de guardar as compras e sentou-se na escada com uma barra de chocolates. Era seu vício e sua mãe sempre lembrava-se de trazer algumas barras quando ia ao mercado. Sam sentou-se ao seu lado e ele deu um pedaço a ela.

 - Mãe – começou ele depois de dar um pedaço na boca de Sam, fingindo dor quando ela fez menção de morder seu dedo – Tem uma festa hoje, mais tarde. Será que você se importa de eu ir?

 David era rebelde, mas sempre manteve uma relação de respeito com sua mãe, então Linda não ficou surpresa com o pedido, embora soubesse que ele iria de qualquer forma.

 - Tudo bem, mas tente não chegar muito tarde. Amanhã você ainda terá aulas.

 - Sim, sim. É uma festa a fantasia, posso pegar algo no seu baú?

 Linda era apaixonada por festas a fantasia e carnavais, e tinha um baú com relíquias, segundo ela, com fantasias das mais variadas. Sempre que havia uma festa todos recorriam ao ‘baú de relíquias da mamãe’.

 - Festa a fantasia? Você deveria ter dito com certa antecedência não acha? Assim nós teríamos mais tempo pra escolher a fantasia.

 - É uma festa na casa de Stacy O’connel, ela gosta desse tipo de surpresa. Uma louca.

 - Ok, pode pegar uma fantasia lá, mas não faça bagunça e se fizer, arrume depois.

 David assentiu com a cabeça e subiu para o quarto de Linda. Escolheu a primeira fantasia masculina que viu e foi para o seu quarto. Deitou-se na cama pesadamente e ligou o seu aparelho de som, o som de um piano rompeu pelo quarto. Era a música favorita de Kate.

 - Quanta saudade...

 Seus pensamentos começaram a vagar para o passado.  A nostalgia o envolvendo e o fazendo lembrar de momentos que pareciam perceber a uma vida passada. David fechou os olhos e uma lágrima solitária correu por seu rosto molhando a cama.

 - Kate - ele sussurrou com seu peito apertado, a sensação que tinha era de que ia explodir de tanta angústia.

 Uma onda de depressão se abateu sobre sua mente e ele só queria ficar ali, pra sempre. Queria esquecer a festa, a escola e todas aquelas pessoas e pronto... queria esquecer o mundo.

 Como um contraste ao que ele vinha sentindo, um impulso o jogava para fora daquela cama. Vá a festa, era o que sua mente dizia. Porque? Pra que? Ele devia mesmo sair dali? Ir a um lugar estranho, com pessoas estranhas? Ele não sabia, mas foi.

 Depois de alguns minutos ele descia a escada já fantasiado. Estava usando um manto preto, com um capuz imenso que cobria quase todo o seu rosto. Em suas mãos estava uma foice. Devia ter uns dois metros de compimento e ela de plástico. Quando chegou à sala ouviu a campainha.

 - Pode deixar que eu atendo mãe! – Ele gritou já indo em direção a porta.

 Henry e Damian estavam parados com expressões que variavam de impaciência à ansiedade contida.

 - Olá dona morte! – Disse Henry sarcástico. – Não tinha nada melhor?

 - Foi o que deu pra arrumar com o pouco tempo que eu tinha. – David acenou para que os dois amigos entrassem. – Do que você está fantasiado? Mesa de jantar ou fantasma?

 Henri estava usando um pano branco, um lençol talvez, que o cobria inteiro. Mas agora estava com a parte da frente levantada por inteiro mostrando a roupa que usava por baixo.

 - “Foi o que deu pra arrumar com o pouco tempo que eu tinha”. – Ele repetiu as palavras de David tentando imitar a voz do amigo, algo que não deu muito certo.

 - E você Damian? Deixe-me ver, - David olhou para Damian o observando da cabeça aos pés – isso é um...

 - Conde vitoriano. – Interrompeu Damian antes que saísse alguma besteira da boca de David. E ele sabia que iria sair.

 - Claro, um conde. E então, vamos?

 David se despediu de sua mãe e se lançou à saída com pressa. Sua casa não ficava muito longe da casa dos O’connel. Logo os três amigos já conseguiam ouvir o barulho alto da música e algumas risadinhas.

 - É, você tem razão. Quando se fala em fantasia por aqui, logo pensamos em coisas assustadoras.

 David tinha razão, assim como Henry. Era muito estranho aquilo.

 Eles esqueceram seus comentários e foram até a porta que estava aberta. Um casal estava parado, encostado ao batente da porta, se beijando.

 - Com licença, estou passando. – Damian abriu caminho para os amigos com seu jeito nada educado.  Os três olharam em volta, avaliando a festa.

 - É, parece que está bombando. E ainda está escurecendo. – Henry se animou e foi até a cozinha pegar alguma bebida.

 David estava grato por sua fantasia lhe oferecer certo anonimato. Se bem que não seria difícil imaginar quem era o encapuzado junto com Damian e Henry, já que eles sempre estavam juntos. Mesmo assim David se sentiu agradecido por sua mãe ter lhe cedido a fantasia e foi sentar-se no sofá, Damian vindo logo atrás dele.

 A sala estava apinhada de gente. Parecia que a escola toda, com exceção de professores e diretores, estava ali. E ainda chegavam mais adolescentes.

 David ficou sentado por alguns minutos, ignorando tudo a sua volta. A música alta, o falatório de Damian e até as babaquices de Henry que estava vindo em direção a eles com alguns copos nas mãos.

 - Ei, tem whiskey aqui! Vocês acreditam nisso? – Ele estava empolgado quando entregou os copos a Damian e David. – O que as duas bichonas estavam conversando? Aposto que estavam falando sobre o Jared fortão ali. – Ele apontou para o capitão do time de futebol.

 David tinha um certo fraco para bebidas. Começou a beber muito novo quando ia à casa dos primos em Yorkshire.  Ele virou o copo, sentindo o leve ardor na garganta enquanto o líquido aquecia seu corpo.

 - Ei! Vai com calma aí amigão. Quer ficar louco logo no começo da festa?

 David levantou o rosto para a voz conhecida e viu o rosto de Ed Fox o encarando. Ele se levantou e abraçou o velho amigo.

 - Há quanto tempo Ed! O que o trouxe de volta à cidade?

 Ed era formado em arquiologia e havia ido trabalhar em uma expedição na África anos atrás. Ele era como um irmão mais velho para David.

 - Estou aqui a trabalho. Você cresceu cara! – Ele retirou o capuz de David e bagunçou seu cabelo. – Vou ficar por tempo indeterminado por aqui.

 David o olhou curioso. O que podia haver em Blackpool para Ed escavar?

 - Trabalho? – Ele disse surpreso. – Não está trabalhando com escavações mais?

 - Isso aqui é uma festa não é? – Ele olhou sugestivamente à sua volta. – Vamos falar disso amanhã, passa lá em casa, quer dizer, na casa dos meus pais. Agente pode colocar o papo em dia e você pode me contar como vai o namoro.  – Ele olhou em volta mais uma vez, dessa vez procurando alguém. – Cadê Kate? Ela não veio?

 A expressão de David ficou pesada e seus ombros despencaram.

 - Ela não mora mais aqui. Teve que ir embora. Os pais dela foram pra algum lugar na América do Sul.

 Ed olhou para David pesaroso. Mas como era de costume ele deu um jeito de dar a volta por cima com seu humor detestavelmente bom para David.

 - Ah! Então nosso garanhão está de volta. – Ele sacudiu David pelos ombros.

 David se desvencilhou dos braços de Ed e pegou o copo que estava na mão de Damian, que estava observando tudo aquilo alheio, assim como Henry. Em um gole só ele virou o líquido do copo.

 Hoje será só festa, ele pensava enquanto Ed se despedia e ia em direção à porta.

A festa estava sendo normal, como qualquer outra festa. Muitos dos adolescentes que estavam ali já estavam acostumados a frequentar este tipo de festa. Vez ou outra Stacy aparecia, hora paparicando David, hora apenas o encarando.

 - E então? – Pergutou Henry depois de alguns minutos. – Vocês vão ficar aqui com essas caras de defuntos?

 David ainda estava pensando em Kate quando ouviu a indagação de seu amigo.

 - Você tem razão. Vamos à festa.

 Enquanto David falava Stacy começara a vir em sua direção.

 - Oi Dave! – Ela beijou seu rosto. – O que está achando da festa?

 - Está boa, mas pode melhorar. – David piscou para Stacy que logo entendeu o recado e o levou para um lugar mais reservado.

 David estava apenas se deixando levar pela garota. Ouvia seu falatório completamente confuso, apenas respondendo com alguns “aham” e “uhum”. E então o beijo. Não era nada demais, apenas um beijo como qualquer outro. Ao menos ela parecia estar gostando.

 Depois de alguns minutos incansáveis ao lado de Stacy, David resolveu pegar mais bebida. Deixou a anfitriã conversando com uma de suas seguidoras desesperadas por popularidade. Quando chegou à cozinha, teve uma surpresa: Velkan Vasile estava lá. Ele não esperava vê-la ali com os outros alunos. Algo nela dizia que ela não pertencia à esse mundo, essa realidade. David se aproximou, tentando começar uma conversa.

 - Oi, tudo bem? O que está achando da festa?

 Ela apenas o encarou, no fundo de seus olhos. Parecia que o estava despindo, mas não da forma vulgar que a expressão era usada, não. Ela estava olhando através de sua alma.

 O que você é? Ele sussurrou em sua mente.

 Velkan sibilou algo que ele não conseguiu entender. Mas logo o respondeu.

 - Está uma bela... droga.

 Era a primeira vez que ele ouvia aquela voz. Linda e atraente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Sim? Não? ENTÃO DEIXA REVIEW PORRA!! :@



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Asas do Corvo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.