A beleza que seduz poucas vezes coincide com a beleza que faz apaixonar

José Ortega y Gasset

Capítulo 7 – Impossível! A novata está com o Uchiha!

Quarto da Haruno, Cidade Real, 25 de março de 1621

Sakura caiu exausta sobre a cama. Queria fazer pirraça! Em que encrenca havia se metido!

– Chikushô! Não adianta! O que é que eu vou arrumar agora?

– Dame da (Corta essa)! Você não pode pensar assim Sakura! – Ino pulou sobre a cama e tentou erguer a Haruno – Não desista agora! Nós duas vamos dar um jeito nisso.

– Para de me sacudir!

– Gomen. Acho que me empolguei.

O problema que ocorria era aquele que acontece com toda mulher antes de sair de casa: que roupa usar. O problema ia além, porque Sakura realmente não tinha as roupas finas, nem as jóias que eram comumente usadas na Corte. E ela ia sair com um Uchiha. Não podia ir de qualquer jeito. Ela tinha encontrado com Ino e a Yamanaka tinha se oferecido para ajudar. A loira até tinha levado algumas roupas, mas nenhuma parecia servir em Sakura. Já eram cinco da tarde e elas não haviam encontrado solução.

– O que eu vou arrumar, Kami sama? – Sakura se lamentou – Talvez eu devesse cancelar.

– Jamais! – Ino protestou pulando sobre a cama (de novo) – Ele é um Uchiha! Entrou para a elite do exercito Real com apenas 13 anos! Ele não é qualquer um. Você não pode simplesmente chegar e dizer que desistiu de ir com ele.

Sakura pareceu refletir sobre isso e Ino se sentiu um pouco culpada. Os motivos que a fizeram ajudar Sakura não eram tão nobres. Depois daquele dia em que a Haruno a deixara quase falando sozinha, a loira pesquisou e acabou descobrindo o que mais temia. Sai tinha feito o favor de jogar na cara dela que Sakura também estava interessada em Sasuke. Ele também contou que tinha sido o Uchiha a salvar a Haruno.

Por mais que simpatizasse com Sakura, Ino não podia correr o risco de perder para a rival. Por isso, quando ela descobriu que Itachi havia convidado Sakura procurou ajudar a moça de todo jeito. Se Sakura realmente ficasse com Itachi, além de ter o caminho livre para com Sasuke, ela poderia se aproximar da família por intermédio da Haruno. Era o plano perfeito, exceto pelo fato de Sakura não ter roupas adequadas. De repente Ino teve uma idéia.

– Já sei! – gritou a loira – Espere aqui, Sakura! Eu vou buscar ajuda!

– Aonde você vai, Ino?

– Depois eu conto! Volto em meia hora! Aproveite e tome um banho relaxante.

Ino saiu em disparada e Sakura resolveu seguir o conselho dela. Tomou banho e esperou a amiga voltar. Apesar de saber do amor de Ino por Sasuke, Sakura considerava a loira como uma amiga. Depois de uns trinta minutos, ela escutou uma batida na porta. Quando abriu, um pano vermelho foi jogado em cima dela.

– Brocado? – Sakura perguntou.

– Hai, hai! E trouxemos tafetá e georgette também. Tem vários para você poder escolher. – a voz não era da Yamanaka e Sakura estranhou.

– Deixe que eu apresente as meninas a você, Sakura! Essa é Tenten e essa é Hyuuga Hinata. Eu pedi e elas vieram ajudar.

– Yokata! Hajimemashite! Meu nome é Haruno Sakura e ficarei eternamente grata se puderem me ajudar.

Tenten poderia ser chamado de magricela, mas ainda assim era muito bonita. Possuía olhos e cabelos bem negros, prendendo os em dois coques elaborados. Já Hinata, apesar de ser bastante tímida, era muito bonita. Tinha olhos de um azul prateado e eram tão, mas tão claros que pareciam brancos. Seus cabelos também eram bem negros e possuíam reflexos azulados. Sakura ficou olhando boquiaberta para a beleza das duas. Assim como Ino, elas se vestiam muito bem e usavam jóias muito caras.

– Se tem alguém que pode costurar um vestido novo, são essas duas. – Ino disse – As duas são muito habilidosas com as mãos.

– Deixe disso, Ino, eu vou ficar sem graça. – Tenten reclamou.

– Isso mesmo, Tenten san. – falou Hinata – Anou, Sakura san, que tipo de tecido gosta mais?

– Bem, para ser sincera, alguns tecidos que vocês trouxeram eu nunca tinha visto antes. – Sakura comentou envergonhada.

– Nesse caso, será que eu posso escolher? – Ino perguntou.

– Isso mesmo, Ino tem um ótimo gosto para roupas. Ela é uma das que se vestem melhor aqui na Corte. – Tenten falou.

– Eu sugiro um vestido vermelho com bordados prateados e com os ombros de fora. – Ino falou.

– Vermelho? – Sakura ficou um pouco apreensiva. Ino era ousada demais para o gosto da Haruno.

– Com os ombros de fora, Ino san? Tem certeza? – Hinata comentou lançando um olhar de preocupação para Tenten. Ambas sabiam como Ino era, mas Sakura parecia ser tímida.

– Sakura! – Ino se virou para a Haruno – Você confia no meu bom gosto para roupas, não?

– H...Ha...Hai. – Sakura respondeu hesitante.

– Posso colocar a mão na massa então? – a loira insistiu.

– Pode. Demo...

– Muito bem meninas, vamos começar.

– Hai. – Tenten e Hinata responderam juntas.

Quando o vestido ficou pronto e Sakura o vestiu, as outras três moças ficaram admiradas.

– Você tem bom gosto mesmo, Ino. – Tente falou.

– Sakura san está muito bonita! Yatta! Conseguimos.

Sakura foi se olhar no espelho e não acreditou no que viu. O vestido era magnífico. Ela nunca tinha usado algo assim tão chique. E o vermelho...era lindo. Sentiu os olhos encherem de lágrimas.

– Nanda? Não gostou? – Ino perguntou espantada e ficou ainda mais quando Sakura pulou sobre ela e a abraçou.

– Arigatou, Ino. Arigatou Tenten e Hinata. Esse é o vestido mais lindo que eu já usei.

– Que bom que gostou, Sakura, mas ainda temos que arrumar o seu cabelo e umas outras coisinhas. – Tenten falou.

– Yoshi (certo)! Vamos deixar a Sakura como uma princesa. – Ino animou as outras.

Quando elas terminaram, Sakura se sentiu uma verdadeira princesa. Rodopiou algumas vezes para sentir o vestido rodar ao seu redor. Era tão bonito. O cabelo estava preso em um coque enfeitado com jóias e com cachinhos. Ela usava um batom rosa escuro que lembrava também o vermelho. Estava se sentindo ousada. As outras meninas haviam dito que Sakura não deveria colocar nenhum colar e nenhum brinco. Elas disseram que era responsabilidade de Itachi dar uma jóia para ela usar. Sakura não entendeu o motivo, mas elas disseram que era assim que as coisas funcionavam na Corte.

Sakura saiu do quarto para encontrar com Itachi. Sobre os ombros nus, ela levava uma echarpe vinho com bordados prateados. Pertencia a Ino, que trouxera para emprestar à Haruno. Sakura caminhava animada pelos corredores e podia sentir os olhares de aprovação de todos por quem passava. Ela estava muito feliz, até que ela o viu.

Ele estava apoiado na parede com os braços cruzados sobre o peito. Não olhava para ela, olhava para frente. E ela teria que passar na frente dele para seguir o caminho. Não podia voltar. Apesar de não esboçar reação, sabia que ele a havia visto. Suspirou fundo e ergueu a cabeça. Sabia que tinha falhado com ele, mas não estava a fim de contar o que ele queria saber. Caminhou normalmente. Quando se aproximou dele, percebeu que seria pior não falar nada. Ele parecia chateado e zangado. Ela queria falar primeiro, mas ele foi mais rápido:

– Você está bonita, Sakura.

– Doumo Arigatou Gozaimasu.

– Por que está sendo tão formal comigo? Achei que já tivéssemos superado isso.

– Não quero ser desrespeitosa, Naruto san.

– Você me desrespeita ao parar de me chamar de Naruto. Não precisa usar o san. Sabe disso.

– Não foi a minha intenção, de qualquer maneira. Demo, se me permite, eu preciso ir agora. – Sakura tentou continuar a andar. Naruto ainda estava encostado na parede, mas num movimento ágil, ele a puxou pelo braço.

– Por que está fazendo isso, Sakura chan. Por que vai sair com ele? Daisuki desu (gosto de você, no sentido de amar)! Você quer que eu me ajoelhe para dizer isso? Eu faço. – Naruto começou a se abaixar, mas Sakura o impediu.

– Yamero (pare)! Onegai, Naruto! Yamero! – Sakura entrou em desespero! Aquilo a pegou de surpresa. Ele estava mesmo se declarando?

– Diga que não vai sair com ele. Diga não ao Uchiha.

– Lie. Não posso fazer isso. Sumimasen (sinto muito).

– Naze? (Por que?) Por que não pode preferir a mim?

– Esse é o pedido de desculpas dele! – Sakura desviou os olhos. Não queria falar sobre o que realmente tinha acontecido naquela noite, mas também não queria aceitar Naruto. Afinal, ela gostava de Sasuke – Tenho que dar a chance a ele para se desculpar.

– Ele pode muito bem te pedir desculpas de joelho e virar as costas! Ele não precisa sair com você, dattebayo!

– Demo, ele se ofereceu para me mostrar o Teatro também e eu já aceitei o convite! – Sakura estava aflita. Não sabia como lidar com Naruto.

– Eu te mostro esse maldito Teatro! Você não precisa sair com Sasuke por causa disso. Ele vai se recuperar da recusa!

– Sasuke? Eu não vou sair com Sasuke.

– Nani? – Naruto pareceu aliviado e quase sorriu – Eu escutei que você ia sair com o Uchiha. Dakara (por isso) eu achei...

– Vou sair com Itachi, Naruto. – Sakura falou e um silêncio estranho se manifestou. Ele agarrou os dois braços dela com força e não disse nada, apenas a encarou com raiva. Aquilo era tremendamente assustador. E então ele explodiu, falando tudo de uma vez só.

– NANI? ITACHI. UCHIHA ITACHI, COMO PODE SER O ITACHI. VOCÊ NEM CONHECE O ITACHI. O ITACHI NEM DEVE TER TE VISTO AINDA OU MESMO OUVIDO FALAR DE VOCÊ. COMO PODE SAIR COM ITACHI E NÃO COMIGO? VOCÊ NÃO PODE SAIR COM ELE! ELE NEM GOSTA DE LAMÉN! NÃO É UMA PESSOA CONFIÁVEL, DATTEBAYO! SERÁ QUE EU VOU TER QUE BATER NELE QUE NEM EU FIZ NO SASUKE? CHIKUSHO! EU QUERIA LEVAR VOCÊ PARA SAIR! POR QUE O ITACHI SURGIU DO NADA PARA ESTRAGAR MEUS PLANOS?

– Como assim você brigou com Sasuke?! – Sakura se assustou e só então percebeu o corte na sobrancelha de Naruto – Sua sobrancelha! – Ela se soltou e pôs a mão sobre o ferimento – Naruto... Por que você brigou com Sasuke?

– Porque ele te fez chorar. Não foi isso, Sakura chan? Você não quis falar comigo, evitou me ver. Demo, não quero te ver triste. Não quero que Sasuke te faça sofrer. Se Itachi vai te levar ao Teatro como forma de pedir desculpas, é porque ele também te fez mal. Sakura, fique longe dessas pessoas. Onegai. Não saberia dizer o que faria se alguém te fizesse mal.

– Não acho que Itachi ou Sasuke queiram o meu mal, Naruto.

– Eu cresci com Sasuke. Também acho que ele não te machucaria de propósito, Sakura. Demo, eu não confio em Itachi. Ele é estranho. Onegai. Não saia com ele.

– Eu dei minha palavra, Naruto.

– VOCÊ NÃO VAI SAIR COM ELE, SAKURA! – Naruto voltou a segurá-la com força pelos braços. Ele começou a se descontrolar e já sacudia a Haruno quando uma voz autoritária se fez escutar!

– IMA YAMERO (pare imediatamente), NARUTO!

Sakura e Naruto congelaram e olharam para quem havia falado. Naruto ficou branco como cera, mas Sakura não sabia de quem se tratava. Era uma mulher muito bonita, parecia não ter nem 40 anos, era loira e tinha os olhos castanhos. Seu vestido era repleto de jóias e era feito dos tecidos mais belos que a Haruno já vira.

– Dare (quem)? – Sakura perguntou em voz baixa.

– Tsu...Ts...Tsunade bachan!

– Yo, Naruto! Solte a moça agora mesmo. Onde já se viu um cavalheiro tratar uma dama dessa maneira! Sol-te-a! – A mulher falou a palavra pausadamente.

– Tsunade... – Sakura sabia que já tinha escutado esse nome antes. Havia dois soldados muito bem armados atrás da mulher também.

– Tsunade bachan! Eu... – Naruto começou mas logo foi interrompido pela mulher.

– Eu nada! Cale-se agora! – Ela se virou para Sakura – Você deve ser Haruno Sakura. Vá falar comigo amanhã a tarde. Gostaria de lanchar com você.

– Tsun... – Naruto recomeçou.

– Cale-se, Naruto! É a sua rainha que ordena! – A mulher disse e Sakura arregalou os olhos. Aquela era a Rainha Tsunade! Sabia que já havia escutado aquele nome antes.

– Majestade... – Sakura, agora solta por Naruto, fez uma reverência.

– Acho que tem um rapaz esperando você lá embaixo, mocinha. Vá agora. Não o deixe esperando. – A Rainha falou e silenciou Naruto com o olhar. Quando Sakura passou por ela ainda disse – Não se esqueça de vir falar comigo amanhã à tarde. Quatro horas em meu quarto.

– Hai, Majestade! Estou indo. – Sakura respondeu e partiu.

– Tsunade bachan! Por que deixou ela ir? – Naruto perguntou chateado.

– Porque você e eu teremos uma conversinha!

***

Entrada Principal do Castelo Real, Cidade Real, 25 de março de 1621

Itachi olhou mais uma vez para o relógio de bolso. Detestava esperar, principalmente se era por uma mulher. Estava levemente irritado. Já passava das nove horas. Quem aquela Sakura achava que era? Ouviu um barulho no alto da escada e também os suspiros de alguns presentes. Olhou para cima e quase pensou ter valido a pena esperar. Quase. Sakura descia as escadas com pressa. Ela estava linda, realmente linda. Suas faces estavam coradas. Ela parecia nervosa. A Haruno parou na escada a alguns degraus de Itachi.

– Perdoe me pelo atraso, Itachi san. Eu tive uns... contratempos.

Ela estava mesmo nervosa. Ofegava. Itachi não gostava de esperar ninguém, mas viu que os braços da Haruno estavam vermelhos. Achou melhor não falar nada até estarem sozinhos.

– Sakura hime quer ofuscar todas as atrizes e as damas do Teatro. Nenhuma outra mulher se comparará a sua beleza.

– Não seja tão galanteador, Itachi san, fico sem graça.

– Sou ka. Nesse caso, vamos andando então. Me daria a honra? – Ele pediu o braço dela e ambos saíram juntos. Isso vai dar muita fofoca para o pessoal da Corte, pensou Itachi.

Eles entraram em uma carruagem muito elegante com o símbolo Uchiha. Sakura estava nervosa por estar sozinha com ele, mas Ino disse que isso não era mal visto na Cidade Real. A Haruno não concordava com isso, mas não disse nada. Eram os costumes do lugar afinal.

– Anou, Sakura hime, quem te atrasou? – Itachi perguntou distraído. Ele olhava pela janela.

– Me...atrasou?

– Seus braços ainda estão vermelhos, Sakura. Posso te chamar assim, não? Foi o Uzumaki não foi?

Sakura segurou os braços. Eles ainda estavam quentes no local onde Naruto segurara. Ela não queria responder a Itachi, mas ele falou com ela de novo.

– Quando eu vi, quis ir buscar o Uzumaki e fazê-lo pedir desculpas a você. Entretanto, eu não queria estragar ainda mais a sua noite. Você já deve saber que ele brigou com meu irmão, não?

– Ouvi algo a respeito. – Sakura evitava encarar o Uchiha.

– Eu não quero mesmo ter que tomar providências, mas se ele te machucar de novo, eu vou ser obrigado a intervir. E quando eu fizer isso, não serei bonzinho.

– Naruto só quis me proteger, Itachi sama.

– Por isso que ele deixou seus braços vermelhos? – Itachi falou e Sakura ficou sem resposta. Ele suspirou e continuou – Eu sei que vocês se conheceram há muito tempo, mas isso não é desculpa para Naruto interferir na sua vida. Enfim, não vamos passar a noite toda falando do Uzumaki. Eu ainda não lhe dei as joias dessa noite.

– Joias? – Sakura tinha esquecido completamente do tópico “joia”. Itachi sorriu perante a confusão dela.

– É responsabilidade do companheiro oferecer as joias que você usará essa noite. Eu tinha pensado em esmeraldas, mas com esse vestido...tenho uma ideia melhor. – Itachi mostrou a Sakura uma caixa de madeira ricamente trabalhada – Vamos, abra.

Sakura pegou a caixa e a pôs no colo. Quando ela abriu, ficou sem fôlego. Itachi riu de novo e falou:

– Então você gostou?

– São maravilhosas! – Sakura olhava boquiaberta os diamantes que levava no colo. Eram enormes e muito brilhantes.

– São algumas das joias mais bonitas dos Uchihas. Minha mãe adorava esse conjunto. – Itachi comentou tentando mostrar indiferença, mas Sakura percebeu que ele se orgulhava daquilo. Ele se orgulhava de ser quem era. A ideia de não poder aceitar um presente tão valioso passou pela sua cabeça. Ele percebeu – Nem tente negar. Se você fizesse isso, seria eu a merecer as desculpas aqui.

– Arigatou, Itachi sama. – Foi tudo que Sakura conseguiu falar.

– Deixe me colocar as joias em você.

Ele colocou as peças com gentileza. Ele era um cavalheiro sem dúvida. As mãos dele se demoraram no pescoço dela. O golpe de sedução até poderia ter dado certo se Aidan já não tivesse tentado. Realmente, aquilo havia funcionado muito bem quando o jovem cavaleiro havia tentado. Naquela época, Aidan ainda estava sendo treinado e era bem mais ousado do que a maioria dos outros rapazes. Ela só não havia caído nas garras de Aidan porque a avó chegara e brigara com os dois. Ela sorriu saudosa.

Eles chegaram ao Teatro em pouco tempo. Itachi havia dito que os Uchihas tinham uma marca registrada para chegar aos eventos. Eles nunca se atrasavam, mas sempre chegavam em cima da hora. Itachi parecia divertido com aquilo, mas Sakura não entendia a graça. Por que não podiam chegar mais cedo?

Dez minutos lá dentro foi o suficiente para a Haruno entender porque eles faziam isso. Ser popular não era tão legal quanto ela imaginava. Assim que entraram no lugar, pelo menos umas oito pessoas os pararam para cumprimentos. Fora as outras interrupções, Sakura sentia todos os olhos do salão sobre ela. Não acredito que o Itachi a trouxe! Será que ele está interessado nela? Como ela é bonita! Mas isso só quando se arruma, né! Esses foram alguns comentários que ela conseguiu ouvir. Se bem que a última alfinetada não a agradou muito. Itachi percebeu e resolveu levar Sakura para o camarote o mais rápido possível. A Haruno podia apostar que 90% dos presentes estavam falando dela e do Uchiha.

– Posso fazer uma pergunta, Itachi sama?

– Não.

Sakura ficou surpresa com a resposta e com vergonha. Então ele riu e disse:

– Só quando você for mais boazinha comigo. Você tem sido muito má! Fica me chamando de Itachi sama pra cá, Itachi sama pra lá. Eu não gosto do sama vindo da sua boca. Quero me chame de Itachi. Apenas isso. Se não o fizer, não pode me fazer uma pergunta. – Ambos riram. Sakura sorriu divertida e disse:

– Então tá, Itachi.... – ela riu – É estranho te chamar assim.

– Sério? Pareceu tão natural quando você falou. – Eles voltaram a rir.

– Itachi, porque todos ficaram tão interessados em nós? É sempre assim?

– Você fez duas perguntas, mas tudo bem. Bom, eles sempre são muito curiosos a respeito de qualquer família famosa. Hoje, estão excepcionalmente animados porque...bem...porque eu trouxe você.

– E isso é tão excepcional?

– É, porque eu nunca trouxe ninguém antes.

Aquilo conseguiu deixar a Haruno de boca aberta. Ino lhe havia dito que Itachi era galanteador. Como assim ele nunca havia levado nenhuma mulher ao Teatro. Ele interpretava bem as expressões da Haruno.

– Vejo que os maus boatos a meu respeito já chegaram até você. – Sakura ficou sem graça, o que confirmou as suspeitas dele – Temo que algumas coisas sejam verdade. Mas eu nunca trouxe nenhuma outra mulher ao Teatro porque esse é um lugar especial para mim.

– Especial?

– Sim. A única mulher que eu já trouxe aqui além de você foi a minha mãe. Mas faz um bom tempo que ela não me acompanha. – Ele pareceu extremamente triste. Sakura se sentiu culpada por ter perguntado e colocou a mão enluvada sobre o ombro dele. Ela sabia que a mãe dele havia sido morta, acusada de traição.

– Sinto muito.

– Não importa. Mas como eu disse, não costumo trazer mulheres para cá... – Itachi pareceu ver algo desagradável em algum dos outros camarotes - ...assim como o meu irmão também deveria fazer!

Sakura olhou para onde Itachi olhava e encontrou Sasuke em um dos camarotes...com uma mulher. Eles estavam de longe, mas mesmo assim a tal mulher parecia extremamente...vulgar. Ela tinha o cabelo bem vermelho e usava um vestido vermelho vivo com um decote um tanto exagerado.

– Dare? – Sakura perguntou.

– Creio que não seria apropriado lhe apresentar aquela mulher. Se não se importar, gostaria que ignorássemos a presença dos dois. Nos divertiremos bem mais assim.

– Se você insiste. – Sakura disse hesitante.

Sakura ficou ansiosa apesar de não saber o porquê. A presença daquela mulher ao lado de Sasuke a incomodava. Sentiu-se envergonhada. Ela não estava com Itachi? Por que as coisas que Sasuke fazia a incomodava? Ele nem se importava com ela mesmo. Itachi viera se desculpar pelo que acontecera, mas Sasuke tinha se manifestado. Ela pensava nessas coisas quando a peça começou.

Foram precisos apenas uns quinze minutos para que Sakura esquecesse completamente o Uchiha. Mesmo se alguém lhe perguntasse onde tinha nascido, era capaz dela não saber responder, pois estava encantada com o espetáculo. Ver a história de um modo tão real era fascinante. E havia música e ação e romance e comédia! Ela apreciava cada momento.

Ela não era a única que estava gostando. Itachi estava apreciando as reações de Sakura mais do que o próprio espetáculo. Ela nem tentava esconder as emoções que tinha ao assistir. Bem diferente das dissimulações da maioria das damas da Corte. Quando ela estava surpresa, ele via a boca dela desenhar um pequeno “oh”. Quando ela achava algo engraçado, ria sem vergonha. Não era aquele riso fino e “educado” valorizado por eles. Mas quando ela ria, ele tinha vontade de rir junto.

Ele estava adorando vê-la ali. Devia ter tido essa ideia antes. Estava realmente feliz por tê-la levada ao Teatro. A peça não era nova. Era uma história grega na qual um homem muito apaixonado perdia a esposa para a morte. Sofrendo como nunca, ele enfrentara uma viagem até o Tártaro e pedira ao Deus do submundo para trazer a sua amada de novo a vida. Hades, havia permitido com uma condição: a alma da esposa o seguiria, mas se o marido olhasse para trás ao menos uma vez, a mulher morreria para sempre. Sakura estava gostando muito. Itachi queria saber o que ela acharia do final da história. Como se adivinhasse que ele estava pensando nela, Sakura se virou para o Uchiha. Ele ficou um pouco sem graça por ter sido pego olhando para ela em flagrante. Ela o olhava com olhos...quase aflitos:

– Anou, Itachi...ele vai conseguir salvá-la? Ele vai?

Ele tentou firmemente prender a risada. Ela era tão...interessante.

– Como você gostaria que a história terminasse? – Ele perguntou interessado.

– Eu? Hum... Deixe me pensar. – Ela batia o indicador no queixo em sinal de reflexão. Itachi sorriu – Acho que eu queria que ela voltasse para o marido. Mas se isso não fosse possível, queria que ele fosse encontrar com ela então.

– Você queria então que ele morresse?

– Foi ele que foi atrás dela em primeiro lugar. E se eles se amam, por que não podem ficar juntos depois da morte?

– É um jeito de se pensar...

– Ah, é? – Sakura se virou para ele com um olhar desafiador que ele adorou – Qual a sua ideia então?

– Minha ideia? – a peça estava entrando no intervalo. Algumas pessoas já levantavam de seus assentos para fofocarem do lado de fora. Itachi se sentia preso ao camarote – Eu penso que ela podia esquecer o marido e ficar com Hades. Ambos estão no Tártaro mesmo. E o marido podia procurar outra pessoa.

– É um jeito de se pensar. – Sakura usou a mesma frase dele. Ele olhou para ela pensando se aquela foi mesmo uma boa resposta. Então ela riu e disse – E eu penso que Itachi nunca se apaixonou.

– Você pensa assim? – Ele perguntou divertido. Cruzou os braços em posição de desafio. Podia sentir que os outros presentes os vigiavam dos outros camarotes.

– Eu penso. – Sakura também assumia uma posição de desafio.

– E por que você pensa assim?

– Porque eu acho que quando você ama alguém, você não a esquece, não importa o que aconteça ou quanto tempo passe.

Itachi ia responder quando eles ouviram um barulho do lado de fora. Eles se viraram e as cortinas do camarote foram abertas impetuosamente. Sakura ergueu uma sobrancelha para mulher ruiva parada na porta com ar de importante. Já Itachi se levantou como se quisesse matar alguém.