Trampled escrita por Rafaella Livio
Notas iniciais do capítulo
Oi galeraaa. Como eu to boazinha, é meu primeiro dia na escola, tenho dever de casa e ainda assim to postando aqui pcês.
Boa leitura!
Em pleno outubro, com o frio que fazia em Nova York, Alice e eu decidimos ir para a praia. Sim, nós somos "do-contra", segundo minha mãe e o pai dela.
Pegamos o metrô e fomos parar em Coney Island. Quando chegamos à estação, subimos as escadas e fomos parar na rua. Alice já estava tremelicando os lábios de frio, e eu dei um tapa no ombro dela para ver se melhorava.
- AI, SUA LOUCA! – Gritou.
- EU NÃO SOU LOUCA! – Gritei de volta.
- CLARO QUE É!
- VOCÊ É MAIS!
Ficamos discutindo quem era mais louca, quando um menino de sotaque se aproximou da gente.
- Olá, garotas.
- O-oi. – Alice gaguejou, entrando na minha frente. Empurrei-a para o lado e fitei o menino. Eram os olhos azuis mais bonitos que eu já tinha visto na vida.
- Hey. – Pronunciei baixo.
- Vocês poderiam me dizer como eu faço para chegar à praia?
- Nós estamos indo para lá, quer ir junto? – Alice convidou, com sua sobrancelha direita erguida. Dei uma cotovelada nela. – AH, QUAL É?
- Alice!
- Qual é o problema? O menino está perdido!
Respirei fundo.
- Dá licença só um minutinho? – Pedi ao garoto, que me olhou desentendido.
- Uh... claro.
Puxei Alice para trás e sussurrei.
- Você tá doida, convidando estranhos para ir com a gente para a praia?
- Ele só vai seguir a gente. E olha lá, ele tem cara de anjinho, não é um estuprador, Loretta! – Ela fez biquinho. – Por favor!
- Tá! – Me convenci e cheguei perto do menino. – Você pode vir com a gente.
- Rótimo!
Eu e Alice rimos.
- Rótimo? – Ela repetiu. Ele olhou desentendido, eu rolei os olhos e Alice colocou seu braço esquerdo entre o dele e o direito entre o meu. Começamos a andar em direção a praia. – E aí, bonitão, você é da onde?
- Como assim?
- De que país? Porque dos Estados Unidos você não é.
- Alemanha. – Chutei em um sussurro, para mim mesma, mas ele ouviu, me olhou confuso e franziu a testa.
- Como sabe?
- Não sei... Talvez seus olhos.
- Ah, claro! – Alice ironizou. – Porque quando eu olho nos olhos das pessoas, eu sei de onde elas vêm!
- Cale a boca, Alice. Você tá assustando o turista.
- E qual o seu nome, garotão?
- Conrad.
- E qual é o significado?
- Aconselhador honesto. – Adivinhei. Ele me olhou mais espantado ainda.
- Já nos conhecemos? – Nós rimos.
- Não, alemão. Mas se quiser vocês podem se conhecer mais. – Alice "me" ofereceu, eu arregalei os olhos e ele levantou a sobrancelha.
- Rótima ideia.
- Como é que é?! – Indaguei.
- Por que você não passa o dia na praia com a gente? – Ofereceu Alice, me ignorando totalmente.
- Maravilha. Posso saber os nomes das senhoritas?
- Eu sou Alice e ela é Loretta.
- Será que eu posso me apresentar?! – Gritei.
- Nossa, estressadinha! – Gritou de volta minha melhor amiga, que já estava me irritando. Mostrei-lhe a língua.
- Muito prazer, eu sou Loretta e ela é minha amiga com frio. – Apresentei-nos olhando para o casaco dele.
- Ah, mas é claro, como eu sou restúpido! – Comentou, tirando o casaco e colocando-o sobre os ombros de Alice.
- Eu ainda te mato, Loretta. – Sussurrou, rangendo os dentes.
Se éramos amigas? Mas é claro! Quer mais prova de amizade do que uma ficar jogando um alemão gato para a outra?!
Chegamos à praia e eu tirei meu conjunto de moletom, ficando só de biquíni (já que eu sabia que ia à praia, pus biquíni, né?). Alice tirou o casaco dele, o dela, as calças e também ficou de biquíni. Ele tirou a camiseta e as calças e ficou apenas de cueca samba-canção xadrez. Eu e Alice rimos tanto que as ondas bateram na nossa cara e engolimos água.
- Que mau gosto! – Comentei, baixinho.
- Cale a boca que ele está vindo. – Olhou para o alemão e acenou, vendo que ele tinha perdido-nos de vista. – Iuhú! Alemão gatásso cujo nome não me lembro! Aqui!
- Garotas, vocês não estão com frio?
- Claro que não! – Gritou Alice, se tremendo inteira. Empurrei-a para dentro da água para esquentá-la e o alemão ficou me olhando sadicamente, e fez a mesma coisa comigo. Quem ele pensa que é?
Levantei e dei-lhe um tapa na cara automaticamente. Alice me olhou surpresa e eu vi que tinha ido longe demais, ele só estava brincando. Senti uma vontade profunda de ir bem para longe da praia, mas cheguei perto dele e fingi me preocupar. Pelo menos eu acho que fingi.
- Tá tudo bem? Me desculpe, não sei o que deu em mim, foi automático!
- Tudo bem, mas só perdôo se você deixar mim pagar-te um sorvete.
- Maravilha! – Gritou Alice, e eu olhei-a com um olhar de "Um dia eu ainda te mato".
- Então vamos? – Pedi.
- Na-na-ni-na-não. – Negou Alice. – Vocês vão. Eu vou para casa, estou morrendo de frio, imagina com um sorvete! Eu morro de pneumonia!
De repente ela nadou até a parte mais rasa da praia e vestiu sua roupa correndo.
- ALICE!!! – Gritei. Eu não queria ficar sozinha com o alemão, mas não iria deixá-lo sozinho. E convencer Alice é impossível. Ela deu tchau e fez um gesto para eu ligar para ela.
Fiquei um tempo em silêncio, até que percebi que o alemão falava comigo.
- Loretta?
Espera aí, ele decorou meu nome? É isso mesmo, produção?
- Oi.
- Vamos?
- Ah, claro.
Saímos dali, nos vestimos e fomos à sorveteria mais próxima que, inacreditavelmente, ele sabia aonde era. Eu já estava achando que o alemãozinho esperto estava querendo sair com umas americanas, e já estava ali há muito tempo.
Pedi um sorvete de chocolate e ele repetiu o pedido. Sentamo-nos em uma mesa fora da sorveteria e conversamos. Soube que ele se chamava Conrad Werneck. Alemão mesmo! Soube também que tinha dezesseis anos, que ele tinha nascido na Alemanha e passado treze anos lá, depois tinha vindo à Nova York com treze porque seus pais se separaram e ele veio com a mãe. Apesar dos três anos aqui, o sotaque continuava o mesmo (sabia que ele já conhecia aqui...). Ele também tinha dois irmãos que moravam com o pai, porque decidiram isso e a mãe ficou arrasada e também me contou que estudava ali perto, em uma escola pública de Coney Island. Contei minha história desde pequena, e lágrimas vieram ao meu rosto involuntariamente. (Não sei o que deu em mim, é tão difícil eu me abrir com a Alice, imagina com um estranho! Acho que eu precisava desabafar.)
- Não fica assim. – Pediu, afagando meu rosto com o dorso da mão.
- Estou bem. Vamos mudar de assunto. Sabia que eu adoro sorvete no frio?
- Eu também. O de chocolate é o melhor, porque chocolate quando está quente derrete.
Arregalei os olhos.
- Eu sempre digo isso!
Rimos bastante e quando dei por mim, estava beijando o alemão que eu pouco conhecia. Não era um beijo, era um selinho longo, mas sua língua pediu passagem e – não sei porque – eu permiti. Foi um beijo rápido, mas foi o meu primeiro beijo. E eu achei que sentia algo a mais pelo alemão.
Eu e Alice nunca tínhamos beijado ninguém, e isso não era novidade, éramos duas encalhadas. Mas não grilávamos com isso, queríamos só nos apaixonar quando bem adultas, ou então nem isso, queríamos "ficar para a titia". Eu tinha certeza que Alice ia ficar brava, mas no fundo ia ficar feliz por mim, já que sou sua melhor amiga. Será?
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Reviewwwwwwwssss!
Beijões e Limões,
Rafa.