Trampled escrita por Rafaella Livio


Capítulo 1
05 anos - O primeiro dia de aula


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!
Reviews!!
Beijos e boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/187438/chapter/1

Desde pequena não sabia porque tinha nascido. Minha mãe sempre gritava comigo e me batia por qualquer coisa que acontecesse na casa, por mais que não fosse minha culpa. Meu pai trabalhava todos os dias até às 10 horas da noite, horário em que eu já estava no 127º sono. E de finais de semana, saía com os amigos para beber, e eu ficava em casa apanhando.

Eu chorava sozinha no meu quarto, que não era nada além de uma cama e um armário bagunçado. Ah, e tinha uma TV. Minha infância foi composta dos poucos desenhos que tinham nos canais abertos, sem muita mordomia.

No começo do ano em que eu completaria seis anos, acordei e ouvi uma discussão no corredor. Me lembro muito bem, meu pai se preparava para ir ao trabalho. Ele e mamãe conversavam bem alto, como se quisessem que eu acordasse.

Levantei e encostei a cabeça na porta, tentando ouvir alguma coisa, com o máximo de cuidado, para que não me escutassem.

- Ela precisa ir à escola, George. Já tem cinco anos!

- Helen, este ano está muito complicado, não temos dinheiro o suficiente. E nessa época do ano, todas as vagas nas escolas públicas de Nova York foram preenchidas. Quem sabe no ano que vem?

- Mas no ano que vem ela precisará estar no segundo ano! Quer que sua filha fique burra?

Eu já tinha ouvido falar da escola. Minha vizinha, a Daisy, tinha ido para a escola no ano anterior. Ela disse que é muito legal, eles pintam com os dedos, desenham e tem uma tia superfofa.

- Vamos ver como será o dia hoje - respondeu papai. - Dependendo do que acontecer, ela pode ir.

- Está bem.

Ouvi a porta batendo e corri para a minha cama. Não queria apanhar mais, já não conseguia dormir de tantas dores pelo corpo.

Mais tarde levantei, antes que minha mãe viesse outra vez com o chinelo para me acordar. Tomei meu café da manhã e voltei para o meu quarto, pintar algumas revistas que eu comprara escondido com o dinheiro que minha mãe guarda em um pote na cozinha. Sim, ela já tinha me batido pelo dinheiro ter sumido, mas não vira as revistas.

- LOOOOREEETTAAA! - gritou, me fazendo pular de susto e guardar as revistas das princesas.

Rapidamente ela entrou no quarto e eu já estava me preparando para mais uma surra, quando ela se sentou e começou a falar calmamente, para o meu espanto.

- Filha, precisamos conversar.

- Sim, mamãe.

- Eu e seu pai achamos que você deve ir para a escola.

Abri um sorriso.

- Sim, mamãe.

- E se tudo der certo no trabalho dele, poderemos fazer sua matrícula amanhã mesmo.

- OK, mamãe.

- Bom, quer me ajudar a arrumar a casa?

Já sabia que se eu respondesse não, levaria uma chinelada no bumbum, então afirmei com a cabeça e fui ajudar com a vassoura. Me sentia como a Cinderela e eu tinha certeza que um dia teria meu final feliz.

No dia seguinte, acordei cedo, logo depois de papai ter saído para o trabalho e perguntei para mamãe o que tinha acontecido. Ela pediu para eu tomar um banho enquanto ela arrumava uma roupa para eu usar. Tomei um banho quente (já tinha aprendido a regular o chuveiro) e rapidamente troquei de roupa.

Usava uma blusa branca por baixo da saia de babados azul marinho, uma meia cinta liga preta e uma bota cano alto vermelha. Minha mãe fizera uma maria-chiquinha tão puxada em mim, a ponto de parecer uma japonesa.

Fomos a pé até uma escola por perto, chamada Ungraded e minha mãe pediu para entrar. Tinha um pátio enorme na frente, aonde dava para a escola: uma casa comprida que era igual a duas, três vezes a minha. Mamãe entrou na diretoria com as mãos suando e me empurrou delicadamente para uma das cadeiras à frente da mesa da senhora que estava sentada. Tinha o queixo empinado de tal maneira que eu não via a cor de seus olhos. Helen sentou na outra cadeira e começou a falar.

- Olá, eu dou Helen Adams, e esta é minha filha Loretta. Quero matriculá-la na escola.

A mulher me analisou de cima a baixo e fez um monte de perguntas com uma voz esquisita, como se tivesse um prendedor de roupas no nariz. Minha mãe mostrou-lhe alguns papéis e a única frase que eu consegui entender daquela esquisita foi:

- Ela começa amanhã.

Fui para casa toda feliz, minha mãe (inesperadamente, eu sei) me deixou livre das tarefas, dizendo para eu me preparar para o dia seguinte e até me deu um beijo na testa de boa noite! Estranhei muito, mas dormi bem. Talvez não soubesse o que me esperava no dia seguinte.

Acordei pesada, diferente dos outros dias, talvez por não fazer nada no dia anterior. Levantei e troquei de roupa exausta. Mais uma vez minha mãe fez as maria-chiquinhas de japonesa e fomos à Escola Primária. Um frio percorria minha barriga e eu estava tímida. A professora veio perguntar meu nome e demorei a responder, talvez por quase nunca ter de dizê-lo à alguém. Sentei-me junto à algumas meninas que cochichavam em seus ouvidos sem piscar e riam, talvez de minha cara quase japonesa.

Minha mãe me deu um falso abraço para parecer uma boa mãe e saiu. Não me importava, sempre me senti sozinha. Comecei a desenhar no papel até que uma menina gorda parecendo um balão tocou meu ombro.

- Sai do meu lugar! - disse entre os dentes.

- Desculpe, a professora me colocou aqui - respondi, recatada.

- Quem é você?

- Loretta.

- Que nome estranho!

Ia me virar novamente para o meu desenho, quando ela me puxou para fora do banquinho, me fazendo cair no chão. Não chorei, já estava acostumada a apanhar e bem mais forte do que aquilo. Simplesmente levantei e ajeitei minha roupa.

- Que desenho idiota! - disse a menina, rasgando o meu desenho.

Fui até a mesa da professora para pegar outro papel, e a menina começou a gritar para todos ouvirem:

- Dedo-duro! Dedo-duro!

Rapidamente todos começaram a repetir e eu pude perceber a hierarquia da primeira série. A professora mandou todos pararem, escreveu seu nome na lousa e deu um papel para cada um escrever o seu. Dessa vez me colocou na mesa dos meninos.

- Aqui só pode menino - disse um baixinho de língua presa.

- É! - concordaram os outros.

Fingi ignorar, mas por dentro já estava odiando a escola. Logo que percebi que deveria escrever meu nome, me manifestei (devo admitir), um pouco assustada:

- Professora, eu não sei escrever o meu nome.

Todos fizeram um pouco de silêncio e logo todos caíram na gargalhada. Novamente a professora pediu para ficarem quietos, mas alguns ainda diziam "Burrinha" e "Besta quadrada". Ela veio até a minha mesa, colocou a mão sobre a minha e me ajudou a fazer L O R E T T A.

De resto, o dia não foi tão animado quanto Daisy me dissera. Comecei a achar que ela tinha inventado uma baita lorota para mim, e que escola era sinônimo de tortura


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!
Lembrem-se: MENOS um review pode fazer um autor morrer, portanto: nada de história.
Então... MAIS REVIEWS PARA ESSA HISTÓRIA CONTINUAR :3
Beijos!
Obs.: Feliz ano novo atrasado! E desculpem por não ter postado esses dias, estava na casa de uma amiga que não vejo há praticamente 4 anos ;)