Abelhas escrita por james pajamas


Capítulo 6
O Ponto Fraco




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Eu não tenho como descrever as primeiras semanas que passei com Anna. Nós fizemos tudo que um casal pode fazer, tudo que pessoas que nunca amaram acham cafona. Demos comida aos patos, dividíamos o mesmo milkshake, fizemos nossas assinaturas nas árvores, namoramos no carro, e até levei ela para jantar com toda a minha família. Anna se dava muito bem com meus irmãos, desde aquele dia eu tive certeza de que ela seria uma excelente mãe. Eu nunca estive tão apaixonado em toda a minha vida. Nem mesmo me preocupava com o trabalho. Anna conseguiu um emprego de verão pra mim na mesma fazenda que ela, trabalhar ao lado do amor da minha vida era um sonho se tornando realidade; caminhávamos em nosso tempo livre e conversávamos muito. Eu aprendi muito com o mundo, com a vida, passei a admirar as mínimas coisas. Anna era o tipo de garota que me fazia você sorrir enquanto ela sorria, que me fazia querer olhar em seus olhos por tanto tempo. Seus olhos eram verdes, com uma transparência incrível, às vezes poderia jurar que via o reflexo das coisas em seus olhos.

Sentimentos vêm e vão a toda hora. Enquanto você está ocupando sendo feliz você não se lembra das suas tristezas, e enquanto você está triste você não tem noção dos seus medos. A questão é, devemos enfrentar nossos medos, independente das situações. Essa foi uma lição que demorei a aprender.

Enquanto voltamos de um ensolarado dia de trabalho no próprio carro da Anna, ela me disse que queria me fazer uma surpresa. A essa momento eu não poderia esperar nada além de mais momentos entre nós, o que me deixaria mais animado, claro. Eu estava disposto a fazer tudo por ela. Foi então que tive mais uma grande surpresa vinda dela.

Paramos o carro em um caminho bastante conhecido por mim, embora não quisesse admitir eu estava um tanto quanto assustado. Era a casa do Sr. Carl.

“O que estamos fazendo aqui?” – perguntei apavorado.

Anna desligou o carro e seriamente falou comigo, “Noah, acho que essa é a hora de você ter essa conversa. Esse verão não vai durar pra sempre, muito menos as nossas vidas.”

“Não acredito que esteja fazendo isso.” – falei.

“Eu faço porque amo você. Você confia em mim?” – respondeu ela.

“Muito, e você sabe que sim.” – respondi sem pensar.

“Então faça isso. Não por mim, mas por você. Tome essa decisão por amor de você mesmo.” – disse ela.

Passei um minuto olhando pela janela do carro enquanto refletia.

“O que eu vou falar?” – perguntei.

“Você saberá o que falar.” – respondeu ela.

Saí do carro lentamente enquanto encarava Anna, respirei fundo e subi as escadas que iam de encontro a porta do Sr. Carl. Olhei para trás com a esperança de que a Anna talvez fosse comigo, mas pelo visto não. Bati a porta três vezes, a Sra. Carl me recebeu sem falar muito e pediu que eu entrasse.

A casa do Sr. Carl era bastante conversava, havia bastantes animais empalhados nas paredes, ele sempre fora fã de caça. Seus filhos moravam em diferentes partes do país, todos já eram grandes, tinham suas próprias famílias. Eu nunca soube ao certo quantos filhos o Sr. Carl tinha. Mas lá estava eu, abraçando a sua esposa que parecia abatida. A Sra. Carl sempre fora companhia de caça para o Sr. Carl, uma mulher de luta e que também havia nos ajudado muito nos últimos anos, diante de todas as minhas perdas.

“Carl! Alguém está aqui querendo vê-lo!” – gritou a Sra. Carl com sua voz grossa, o que combinava com seu corpo baixo e cheio, e com vestido de bolinhas. Me lembrava muito uma joaninha. “Oh, Noah, é tão bom ver que você está aqui.” – continuou ela – “Ele tem andando muito triste. Acredite, venho tentando animá-lo para sairmos mais, aproveitarmos a vida que ainda...o resta” – disse ela bastante pensativa.

Nesse momento meu estômago estava embrulhando, sentia que estava suando frio. Eu não estava alí para aquilo, estava?

O Sr. Carl descia as escadas lentamente sem notar a minha presença. Quando ele me notou ele mostrou um olhar de reprovação para a Sra. Carl, o que a fez sair da sala pensando em não atrapalhar nada.

“Desculpe-me por aparecer sem avisar.” – disse.

“Não vou dar seu emprego de volta, Noah.” – respondeu ele rapidamente.

“Eu sei. Acho que já temos um trato em relação a isso.”

“Então, o que você está fazendo aqui?”

“Vim para pedir perdão.”

Ele parecia não acreditar no que eu estava dizendo.

“Acha que é fácil ser duro comigo e depois se desculpar? Simplesmente porque estou morrendo?” – disse ele.

“Não, mas por amor ao senhor.”

“Vocês jovens andam tão clichê ultimamente.” – respondeu ele com bastante ironia.

“Eu trabalhei pela minha família durante anos, enquanto ainda estava estudando, graças a você. Não tenho motivos para ter raiva, e se tive, foi porque eu realmente me importava com a sua saúde.” – respondi.

“E por que se importava tanto? Eu sou apenas um velho que está morrendo aos poucos, não percebe?” – perguntou ele.

“Me importava porque o senhor sempre foi como um pai pra mim.” – desabafei.

Ele olhou para mim assustado.

“Ninguém jamais vai tomar o lugar do meu pai em minha vida, mas o senhor fez o papel dele quando eu mais precisava.”

“Você não sabe nada sobre a vida”- disse ele enquanto se levantava da cadeira.

“Sei. Sei que devo cuidar do me futuro indo pra faculdade daqui há algum tempo, para dar dignidade a minha família, e para não morrer como um bêbado pelas ruas.”

O silêncio tomou conta de nossa conversa durante um tempo. As últimas palavras que eu falei foram ditas pelo Sr. Carl durante todo o tempo em que trabalhei no apiário.

Ele me abraçou com força e soltou rapidamente.

“O que mais posso fazer para provar o quanto o senhor significa para mim? Eu não quero nada além do seu perdão.” – perguntei enquanto segurava meus sentimentos.

“Nunca perca o foco dos seus sonhos, e você saberá o que fazer.” – respondeu ele.

Nesse momento a Sra. Carl apareceu, e nós três nos reunimos na sala enquanto fazíamos uma prece. Nos abraçamos e conversamos por um tempo, embora aquilo fosse de certa forma desconfortante, eu estava com a consciência limpa. Agora poderia ir embora, e voltar a ver o Sr. Carl quando quisesse.

Enquanto saía de sua casa ele me perguntou:

“Noah! Soube que está trabalhando na fazenda perto da estrada.”

“Sim, é verdade.”

“A sua namorada conseguiu fazer com que você trabalhasse lá?”

“Sim.”

Ele fez uma reverência positiva com a mão enquanto voltava pra casa. Antes de fechar a porta ele disse algumas palavras que eu nunca vou esquecer:

“Case-se com ela, ou será um homem morto!”

Rí e voltei correndo para casa, até que percebo que Anna estava o tempo todo me esperando na rua com o seu carro. Nos beijamos, e não conseguia explicar pra ela o quanto aquele momento tinha sido mágico em toda minha vida.

“Acho que você tem muito que me contar.” – disse ela

“Eu também acho.” – concordei orgulhoso.

Passamos a noite em claro perto das árvores da minha casa, fizemos um tipo de picnik noturno onde deitamos e conversamos sobre tudo o que tinha acontecido naquele dia.

“Eu não quero que esse verão termine nunca.” – disse eu

“Eu também não. Promete que vai me amar independente do que aconteça?” – perguntou ela.

“Preciso responder?” – brinquei enquanto a apertava mais forte em meus braços.

“Olhe! Mary, Peter, Joanne, Madalene...” – dizia eu enquanto apontava estrelas no céu.

“Oh, já estamos nomeando nossos filhos?” – perguntou ela surpresa – “Mas quem vai ser mãe sou eu, então eu decido quantos serão. Justo?”

“Nem um pouco.” – respondi.

Aquele era sem dúvida o melhor verão da minha vida. Por que teria de acabar? Por que o tempo é algo tão cruel? Era tudo o que eu começava a pensar enquanto estava ao lado da Anna. O que poderia nos impedir? A distancia? O tempo? As pessoas? Nós podíamos ir além de tudo isso. Ao menos eu achava isso...   


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Notas finais do capítulo

Esse romance dura ou não dura?



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