Abelhas escrita por james pajamas


Capítulo 3
Montanha-Russa


Notas iniciais do capítulo

Noah volta ao trabalho e tem uma surpresa: reencontra Anna. Após um momento não tão bom à dois, ele volta ao trabalho para receber uma notícia que mudaria o foco de sua vida.



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Acordei me sentindo bem melhor, embora minha garganta não estivesse muito boa, talvez pela consequência de sol seguido de chuva no anterior. Pus uma camisa e desci as escadas enquanto o céu ainda estava clareando. Fiz panquecas para meus irmãos enquanto ainda estavam dormindo; comi não muito animado enquanto olhava para a janela, pensando no que minha mãe havia falado ontem. Tomei banho, pus novas roupas, sapatos e saí para trabalhar. Enquanto saia vi que minha mãe já estava acordada, ela me cumprimentou com um beijo, depois foi acordar os meus irmãos.

Estar desmotivado ontem me deixou animado pra concertar nosso carro, e é a primeira vez em semanas em que uso ele para trabalhar. Na verdade, não costumo ir trabalhar de carro sozinho, sempre vou de carona com a minha mãe, mas como concertei o carro e minha mãe está de folga da escola durante alguns dias desse verão eu resolvi testar a minha habilidade como mecânico. Além de que, o apiário do Sr. Carl ficava somente há alguns quilômetros da minha casa. Tudo parecia muito bem com o carro, tudo estava indo muito bem, o céu claro e com um clima muito agradável. As árvores pareciam ter ainda mais vida no verão, não como aquelas folhas secas e sem vida que vejo durante outono.  

   O apiário do Sr. Carl recebia o seu próprio nome, ele trabalhava ali desde a época dos meus avós. O lugar começara em um cubículo, hoje em dia se tornara uma boa fonte de renda para ele. Lá nós recebíamos desde estagiários de biologia até grandes empresários dono de grandes distribuidoras de mel, mas apesar do progresso, o Sr. Carl nunca quis levar o negócio tão longe assim. O foco era a nossa cidade, sua vida estava ali, e odiava lhe dar com negócios, falava que estava ficando muito velho para isso. Por isso me deixara no caixa do apiário depois do nosso recesso de inverno. Era um homem idoso, gordo, com poucos cabelos, usando uma roupa com suspensório – o que deixara ele de certa forma engraçado – mas muito legal. Depois que perdi o meu pai ele teve muita compaixão de nossa família, sempre me aconselhou a tentar ir para a faculdade e sempre procurava saber como estávamos e nos ofereceu ajuda várias vezes, embora eu nunca aceitasse as suas ajudas. Indiretamente ele me deixou nesse emprego fixo como forma de renda pra mim, ele sabia que eu nunca aceitaria sua ajuda financeira, então nada melhor do que eu mesmo trabalhar para isso.

Quando cheguei ao apiário o Sr. Carl estava sentado perto do caixa, me cumprimentou e perguntou como eu estava.

“Eu estou bem Sr. Carl. Obrigado” – disse eu, enquanto ia para o outro lado do caixa começar a trabalhar.

“Não quero que você fique no caixa hoje” – disse ele, ainda sentado, “Quero que você faça uma entrega para mim se for possível, vamos fechar mais cedo hoje” – continuou, agora sentia um tom de frieza em sua voz.

Eu nunca fiz entregas em toda a minha vida, e nunca saí mais cedo do apiário, o que poderia estar acontecendo? Perguntei, “Por que vamos sair mais cedo? Está tudo bem...”

“Está tudo ótimo” – disse ele, me interrompendo, “apenas tenho que resolver umas coisas hoje”.

O encarei por 1 minuto enquanto tentava entender o que estava acontecendo, o porquê da frieza em sua voz, eu não sei. Olhei para ele, “Onde tenho que fazer essa entrega?” – perguntei.

Ele me entregou o endereço, era perto da estrada que levava à saída da cidade, era o lar de um casal idoso que vendiam coisas naturais. Notei que de certa forma o apiário estava de certa forma vazio, ou eu tinha chegado cedo demais? Enfim, havia algumas caixas de madeira com muito mel em frascos, faria essa entrega e voltaria para conversar com ele. O Sr. Carl sempre foi amigo da minha família, sempre me tratou bem apesar de não falar muito, sempre me aconselhou, me apoiou, talvez esteja apenas de mau-humor.  

Dirigi por aproximadamente 20 minutos até chegar a uma fazenda enorme. Deparei-me com uma caixa um tanto quanto pequena, talvez do mesmo tamanho que a minha, e ainda conservada; ao lado havia grandes campos de trigo, era uma plantação muito grande, poderia me perder facilmente ali. Bati na porta da casa mas ninguém respondeu, apenas ouvia barulho de animais; verifiquei as janelas e não vi mais nada, não poderia acreditar que tinha dado viagem perdida. Resolvi caminhar em meio à plantação, o que era estranho demais, me senti em um daqueles filmes de terror.

Estava no meio da plantação, totalmente perdido, procurando por alguém. Tive a sensação de estar sendo observado, comecei a olhar para os lados procurando por alguém, e também procurando sair daquele labirinto em que me metera. Já sei, o segredo seria seguir em frente, tentar lembrar por onde eu entrara. Notei alguém se mexendo por perto, e notei que estava se aproximando de mim. Andei cautelosamente, pondo minha mão na frente para poder ver entre a plantação, quando acidentalmente toco em alguém.

“Ai, meu Deus!” – gritou uma menina enquanto caia no chão.

Era Anna. Meu coração imediatamente começou a acelerar.

“Acha que é engraçado andar por aí assustando os outros?” – falava ela enquanto se recompunha – “você é o rapaz da igreja não é? Que surpresa.”

“Sim, desculpe, eu realmente não tinha a intenção de assustar ninguém, é que não encontrei ninguém na casa e resolvi procurar pela plantação” – senti que estava fazendo cada vez mais esforço para falar cada palavra.

“Bem, eles saíram e me deixaram aqui tomando conta da fazenda sozinha”

“Você trabalha aqui?” – perguntei

“Sim. Emprego de verão.” – respondeu ela, melhorando a cara de raiva que fizera durante o susto.

“Emprego de verão? Mas eu nunca te vi por aqui antes.” – falava enquanto estávamos caminhando para fora da plantação, parecia que ela sabia o caminho como a palma da mão, porque de longe eu já avistava a casa.

“Na verdade, eu nasci aqui, mas me mudei com dois anos de idade pra Pittsburgh. É lá que meus pais moram até hoje. Eu precisava de dinheiro nessas férias, falei com uma amiga e ela me recomendou essa fazenda.”

“Então, você sai de uma cidade grande como Pittsburgh pra trabalhar aqui?” – perguntei com um tom sarcástico.

“Eu gosto das coisas simples, acredite.” – respondeu ela com um tom de reprovação.

“Pra quem não falou nada ontem você me parece até estranho” – continuou falando enquanto olhava para mim.

“É. Eu não estava me sentindo muito bem, ainda não estou. Mas aqui está a entrega” – acabávamos de sair da plantação e caminhávamos em direção ao carro – “toda sua. Onde posso colocar as caixas?”

“Você pode deixar ao lado da porta, eu ajudo a entregar quando eles chegarem.” – enquanto ela falava eu pude notar que alguns trabalhadores iam caminhando entre nós – “Eles também trabalham aqui?” – perguntei.

“Não esperava que eu desse conta de uma plantação sozinha não é?” – respondeu ela com certo sarcasmo.

“Tenho que assumir que você também não é tão bem-humorada quanto eu achei que era ontem.” – provoquei.

Ela parou de levar as caixas e olhou pra mim com cara de ofendida, “Olha garoto, você ainda nem me conhece, e não é nenhum coitado. Praticamente não falou comigo ontem e hoje já me recebe com um tremendo susto. O que você esperava?” – disse ela.

“Ah, claro!” – respondi – “Porque agora eu sou o mau-humorado aqui, não?”

“É. Você é! O mesmo cabelo bagunçado de ontem, as mesmas roupas de caipira, o mesmo garoto chato de ontem...olha, não sei porque perde seu tempo tentando me irritar.” – respondeu ela sem me olhar nos olhos.

“A entrega está feita! Eu não preciso ouvir reclamações de nenhuma patricinha de Pittsburgh.” – estava irritado e resolvi provocar mais ainda com o meu tom de voz.

“Você não sabe o que diz.” – dessa vez ela parecia bastante calma e segura com o que estava dizendo.

Encarei Anna por alguns segundos antes de voltar ao carro. Estava queimando de raiva, ao mesmo tempo senti que estava me divertindo. Ela fazia a cara mais linda do mundo quanto estava chateada, seu rosto corado com o cabelo solto me faziam querer rir. Saí rindo durante todo o caminho até voltar o apiário, com a esperança de ver Anna mais uma vez. Ela era a criatura mais doce que já vira em minha vida. Eu não conseguia mais sentir raiva dela.

Cheguei no apiário e vi o Sr. Carl fechando tudo. Saí rapidamente do carro e perguntei para onde ele ia.

“Vou para casa, Noah. Pode me dar uma carona? Não vim de carro.” – disse ele

“Claro, posso esperar o senhor terminar o que tem de fazer e voltarmos juntos pra cá.” – respondi.

“Não voltaremos pra cá, Noah.” – disse ele.

“Como assim?” – perguntei confuso.

“Você não vai mais trabalhar comigo.” – respondeu ele.

Aquelas palavras soaram como um soco no meu estômago.

“O que?” – perguntei indignado.

“Eu vou morrer, Noah!” – gritou ele.


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Notas finais do capítulo

Estou vendo que tenho alguns leitores, mas por favor, comentem. Já disse que estou aberto a elogios e críticas.
A partir de agora a estória vai entrar no ponto em que eu mais esperava escrever. Noah vai perceber que a vida é muito mais ampla do que ele imagina, ele vai experimentar diferentes situações, novos sentimentos, e estou bastante animado.



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