Niellandara escrita por Pedro Alberto


Capítulo 1
NAVIOS À VISTA




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Nunca em sua história a cidade de Zazel esteve tão agitada quanto naquele verão. As tavernas enchiam-se da melhor cerveja feita por anões e as estalagens começavam a se lotar, obrigando vários visitantes a pagar para ficar na casa de alguns dos moradores. A razão para tamanha agitação se resumia a um nome: Capitão Niel Mão-de-Dragão.

 Havia exatamente 8 anos que o famoso corsário élfico deixara as terras do Reino para aventurar-se além das ilhas perdidas do Leste. Entretanto, todos pareciam lembrar as palavras exatas ditas pelo capitão:

-Povo de Zazel! Deixo-vos agora em segurança para me aventurar além do desconhecido por 8 anos. Em troca da minha ausência, porém, vos trarei metade de todo o ouro que encontrar. Assim que eu chegar pelo verão, teremos a maior festa de todos os tempos! 8 anos, meus amigos! 8 anos!

 Pois bem, já estava na hora. Não tiveram nenhuma notícia dele em todos esses anos a não ser alguns rumores de que havia derrotado toda a tripulação fantasma do Rei Lich e se encontrado com as belas ninfas do Velho Continente. Entretanto, tinham certeza de que ele apareceria. Nunca antes o Capitão prometeu e não cumpriu, e não seria agora que deixaria de fazê-lo.

 E assim todos aguardavam ansiosamente por sua chegada, prontos para comemorar. Enquanto alguns sentiam sinceras saudades do elfo – era bastante amigável, ao contrário dos outros corsários do rei-, outros, mais gananciosos, só pensavam no ouro e nas maravilhas que ele traria.  Os dias passavam lentamente enquanto as pessoas se enchiam de esperança.

 Mas ele não chegava. Passou-se metade do Verão e não havia nem sinal das embarcações reais. Mesmo o Rei Allan e a Rainha Vale, que há pouco haviam se instalado na cidade para recebê-lo, não faziam ideia do que poderia ter acontecido.  Comerciantes e viajantes estavam arrasados, cheios de decepção e lamento. Pouco a pouco as pessoas começaram a deixar a cidade novamente, e começou-se a espalhar notícias de que, na verdade, o capitão élfico teria morrido.

 Os dias avançavam rapidamente agora, e a tristeza começava a se tornar fúria. Quanto dinheiro não fora gasto para que o desejo do capitão fosse realizado e a grande festa preparada?

 Entretanto, foi numa manhã clara e ensolarada que os patrulheiros do porto avistaram, ainda longe, um grande navio que parecia dançar sobre o mar, com proa em formato de dragão e majestosas velas vermelhas. Era o Dragão Perolado, sem dúvida. A maior e mais poderosa embarcação élfica jamais construída.  Muitas outras embarcações vinham a seu lado. Chegaria aos portos em algumas horas.

 Obviamente, todos aqueles que permaneceram na cidade dirigiram-se ao porto com pressa. Estalagens e tavernas e lojas foram abandonadas abertas, pois ninguém se preocupava com dinheiro – certamente ganhariam muitas moedas e jóias. E, de qualquer forma, mesmo os ladrões e assaltantes estavam ocupados roubando carteiras no meio da multidão que se fazia presente na espera do navio.

 Horas se passaram e os navios se aproximavam, mas ninguém via a face de sua tripulação. Era como se os navios fossem gigantescos corpos de madeira navegando por conta própria em direção à cidade. Seus movimentos eram leves e mágicos, e todos que olhavam para o Dragão Perolado sentiam uma poderosa magia emanar dele, trazendo uma sensação confortável.

 O vento parecia cantar melodias completas e épicas, e quando o gigantesco navio chegou aos portos, todos prenderam sua respiração. Lá de cima, alguém jogou a âncora, e no mesmo momento os marinheiros do porto trataram de prender a embarcação. A ponte do navio começou a se abaixar, criando um caminho que ligava o mundo de cá com aquele universo interior que era dentro do Dragão. Dessa vez a canção não era imaginária. Sons de violinos, flautas e tambores rasgaram a barreira entre os universos, anunciando a chegada de uma figura mística.

 Era ele. Niel Mão-de-Dragão não vestia chapéu, pois seus cabelos ruivos flamejantes eram mais belos que qualquer chapéu que não fosse fabricado pelas mãos dos deuses. Em sua comprida orelha esquerda utilizava um brinco, e suas roupas eram vermelhas e douradas, exceto por sua calça, que era preta como a noite. Estava mais majestoso do que nunca em seus dois metros de altura, e embora os anos lhe conferissem um ar de experiência, mantinha sua face jovial e alegre.

 Usava luva em sua mão esquerda, tinha uma bainha feita de ouro puro presa a um lado da cintura e um pequeno cajado preso ao outro. Era um mestre da espada e também dominava a magia perfeitamente. Ele riu, e a música cessou. Ainda na porta do navio, prestou uma reverência ao rei e à rainha que se encontravam logo à frente da ponte que ligava o navio ao porto, e então ele falou com uma voz forte e musical que ecoou pelo ar:

- Quanto tempo, meus amigos!  Oito anos se passaram, e já vejo muitas faces novas por aqui. Peço sinceras desculpas pelo meu atraso. Mas creio que me desculparão quando tiverem o ouro que conquistei em suas mãos – e à simples menção da palavra “ouro” houve muita agitação, fazendo o elfo rir novamente – Acalmem-se, há o suficiente para todo mundo. Mas há algo muito mais importante que ouro nesses navios.  Vamos, apareçam, criaturas do mundo!

 Nesse instante, criaturas mágicas dos mais variados tipos começaram a descer do navio ou a levantar vôo para o infinito. Grifos dançaram pelo céu ao lado de lindos cavalos alados e de pássaros das mais variadas cores. Pelo chão, foram os unicórnios os primeiros a saírem, juntamente com os centauros, que levavam em suas mãos bandeiras brancas, e cantavam canções antigas, conhecidas apenas por aqueles que viram o primeiro nascer do Sol quando os deuses ainda caminhavam pela terra.

 Ainda vieram dragonetes (pequenas fadas com formato de dragão), dríades, entes, gafanhotos gigantes, leões com o tamanho de ursos, sprites, ninfas e muitos as outras criaturas que pareciam ter sido tiradas de sonhos. Era a primeira vez desde a Criação que tantos seres se reuniam em um só lugar, levando muitas pessoas às lágrimas, cheias de alegria em seus corações, embora não soubessem o motivo – a maioria nunca havia sequer visto alguma daquelas criaturas mágicas que existiam no Mundo.

 E quando todos achavam que tinha acabado, mais uma vez houve música. E todos os seres que haviam saído abriram caminho, e um longo tapete dourado foi esticado sobre a ponte. Mais uma vez Niel disse:

-Senhores, senhoras. Meu rei e minha rainha, com emoção eu quero que conheçam a senhora das ilhas do Além-Leste, e também senhora das criaturas benevolentes que lá habitam. Adanentel, a rainha entre as rainhas do Oriente.

 Diante de todos apareceu uma dama alta, com 1 metro e 80, mas que parecia muito maior. Era impossível dizer o que era: parecia uma grande humana, mas possui traços animalescos que a tornavam a ainda mais bela. Vestia um longo vestido branco e possuía ornamentos na cabeça. Seu cabelo era castanho e encaracolado, e sua pele era um pouco escura em relação à do elfo. Sua beleza era encantadora, apaixonante à primeira vista.

 Ela se enganchou em Niel e eles andaram entre as criaturas, dirigindo-se ao encontro do povo de Zazel. Atrás deles alguns gigantes carregavam caixas cheias de ouro que seria distribuído ao povo, como prometido. A outra metade ficaria para o rei. Assim que eles chegaram à frente do rei, o elfo fez uma reverência, e também Adanentel.

 -Acredito que sejam desnecessárias reverências por tua parte, senhora do Leste – disse o rei, e ele e sua mulher também reverenciaram – Mas estou surpreso que, depois de tanto tempo, tenha decidido aparecer novamente por essas terras de mortais.

 -Também nós somos mortais – ela disse – E eu agradeço tamanha hospitalidade. Mas não venho a passeio. Venho por causa de problemas. Problemas com... – ela parou – Creio que não seja o melhor lugar nem o melhor momento para falarmos sobre isso.

 -Que assim seja. Falaremos sobre isso quando estivermos no castelo. Agora, Niel – virou-se para o capitão – Nós temos muito a conversar, e também muitos fãs esperando por você. Vamos aproveitar o dia!

 -Certamente, meu festeiro senhor! É bom estar de volta à minha cidade! Hahah! Ei, você aí do lado! Dê-me aqui uma cerveja!

 -Esse safado realmente não muda nada! – reclamou o rei, dando uma pequena risada. Estava realmente feliz que seu principal capitão tivesse voltado, mas preocupado com o que seria dito mais tarde. Tentou esvaziar a cabeça, e dirigiu-se com sua esposa e Adanentel para dentro da carroça real. O povo o reverenciou, e eles partiram, deixando o elfo e suas histórias para trás. Ouviram uma risada muito alta, que logo depois se apagou no barulho da multidão.


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