O Nosso Elo - A Ajuda. escrita por Dan Rodrigues


Capítulo 10
A Sociedade de Redenção dos Anjos Caídos - John.


Notas iniciais do capítulo

Gente, minha inspiração finalmente voltou! Eu tô com a minha cabeça quase pra explodir de idéias maravilhosíssimas pra essa fic, então está ai, o décimo cap, recheado de surpresas, e um narração melhor do que a do cap anterior.
Espero que gostem seus lindos!
Enjoy!



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10 – A Sociedade de Redenção dos Anjos Caídos John

Música! A música mais bonita que já ouvi, uma melodia suave, quase como se tentasse me embalar em um sono profundo. Eu tentava abrir meus olhos, mas a música tentava mantê-los fechados. Uma voz doce, mas forte, ecoava por todos os lados, pintando aquele breu onde eu me encontrava. Cores lindas, mas neutras, começavam a brilhar na minha frente, ao som da música. E a música continuava, num ritmo lento e doce, que me fazia imaginar coisas boas, enquanto as cores dançavam cada vez mais magníficas na minha frente, fazendo um sorriso abrir-se em meu rosto.

Finalmente consegui abrir os olhos completamente. E então uma leve brisa trouxe o cheiro do mar até minhas narinas, e o doce encanto quebrou-se de repente.

– John? – A voz de Susan me chamava. Eu demorei alguns segundos para distinguir a paisagem, e o rosto dela naquele breu. – John? Você está bem?

– Estou – eu disse, tentando me levantar. Eu estava em cima dela, e o máximo que consegui foi me virar e deitar ao lado dela.

Logo senti a dor nas costas, e minha parte humana me forçou a fechar os olhos e implorar para que parasse, como um garotinho. O ferimento encheu-se de areia, o que fez com que ardesse ainda mais. Minhas costas estavam destroçadas. Dor... Dor.

– Susan! – Eu chamei, tateando o chão ao meu lado, procurando sua mão.

A dor humana delimitara meus sentidos, mas mesmo assim eu podia sentir o cheiro do mar, e saber, sem muito pensar, que estávamos em uma praia. Minha mente ainda estava perturbada, e eu não conseguia me lembrar, ao certo de como fomos parar naquele lugar. Só lembrava-me dos demônios, de como eu senti que Susan estava sendo perseguida e corri para ajudá-la. Mas, ao tentar fugir, quase no final do processo de teletransporte, senti uma dor terrível bem no meio das costas, o que me fez perder os sentidos por alguns segundos. As coordenadas do verdadeiro teletransporte desapareceram de minha mente, deixado apenas a frase: “Para um lugar onde estejamos a salvo!... Para um lugar onde estejamos a salvo!” Foi então que entrei em um transe, e quando abri os olhos, eu só sentia a dor do ferimento nas costas, o cheiro do mar, e a areia da praia em meus braços e pernas.

Agora meu braço procurava freneticamente tocar o de Susan. Ela ficou de joelhos, e debruçou-se sobre mim, preocupada. Olhei em seus olhos, e ela via a dor estampada nos meus. Naquela hora eu desejei não ter um corpo humano para sentir a terrível dor do ferimento em minhas costas. Atingiram-me com uma espécie de taco de beisebol, em um ponto certo da minha coluna que era o suficiente para deixar meu tronco imóvel por algumas horas. Tentei fazer com que meu pulmão se enchesse de ar para proferir mais algumas palavras, mas minha tentativa foi em vão. Minha boca estava seca, e o máximo que eu consegui foi uma tosse seca e demorada. Eu precisava de água. Com o que ainda me restava de força tentei apontar na direção do mar, para que Susan percebesse o que eu queria. Eu precisava de água, e não me importava se a única opção naquele momento era a água salgada do mar.

– Tudo bem, eu já entendi. – Disse ela, levantando-se e caminhando na direção do mar. Percebi que ela adentrou mais fundo, procurando um ponto onde não havia muita espuma, e, por isso, menos sal dissolvido.

Ela fez uma pequena concha com as mãos, pegou um pouco da água e voltou correndo, para que não se perdesse muito do que já era pouco. Ao chegar não hesitou em derramar tudo em meu rosto. Felizmente eu estava com a boca totalmente aberta, e consegui ingerir boa parte. Mas era água salgada, e eu logo senti o gosto ruim da enorme quantidade de sal, descendo pela minha garganta, transformando cada centímetro do que já estava infeccionado, em um bolo de inchaço e dor. Resultado: minha cede estava saciada, mas a água salgada deixara minha garganta muito mais inflamada.

– Onde estamos John? – Perguntou Susan, olhando para o breu ao redor.

Mas eu não conseguia dizer mais nada, e nem ao menos mexer o pescoço. Susan estava com muito medo, nosso elo me dizia isso. Ela achava que os demônios poderiam voltar, e se voltassem, nós não teríamos mais como nos defender. Realmente, o máximo que eu conseguiria era dar um gruído inumano, e olhá-los com olhos desafiadores, mas não passaria disso.

Mas eu sentia algo de estranho naquele lugar. Meus sentidos haviam desaparecido, eu não tinha como dizer ao certo onde nos encontrávamos, mas eu só precisava do meu instinto de arcanjo para saber que ali não era o pior lugar para fugir de demônios perseguidores. De fato, os medos de Susan poderiam se confirmar, mas no fundo eu sentia que seria muito difícil ele nos encontrarem ali. Aquele lugar tinha algo diferente, mas eu tinha que esperar que meus poderes voltassem, para que eu pudesse sentir e descobrir.

Susan estava descontrolada. Olhava para cada canto, cada coqueiro da praia, cada sombra, com uma expressão de medo e incredulidade estampada no rosto. Eu precisava dizer que estava tudo bem. Precisava primeiro, encontrar uma forma de me comunicar com ela. Pensei... Pensei...

“Como eu pude esquecer!” pensei. É claro! O elo, eu e Susan podemos nos comunicar sem nem ao menos mover as pregas vocais! Meus poderes podiam ter sumido, mas o elo não dependia disso.

Com todas as forças que ainda me restavam – as quais eu estava tentando o máximo possível economizar –, segurei sua mão, apertei com força na esperança de fazê-la olhar em meus olhos, o que tornaria tudo mais fácil.

“Susan!” pensei. “Você pode me ouvir?” Esperei um momento, e de repente suas sobrancelhas arquearam-se o máximo que uma garota de dezessete a dezoito anos pode arquear as sobrancelhas. “Sim!” ela respondeu, ”Mas... Quê... Como?” E suas sobrancelhas arquearam-se novamente. “O elo!” Ela pensou, com um sorriso no rosto. “Escute-me, Susan”. Estamos a salvo! De alguma forma eu sei disso. “Sinto que aqueles demônios não vão nos encontrar aqui”, eu disse. “Mas, eles não têm como nos rastrear, ou, sei lá, nos seguir?” ela perguntou. “Fique calma”, eu respondi. Eu realmente confiava em meus instintos, e se algo me dizia que aquele lugar era bom, a minha única opção no momento era esperar para ver, já que meus poderes estavam temporariamente anulados, por conta da minha parte humana. “Eu não consigo mover meu tronco, nem as pernas, eu acho, e meus poderes estão temporariamente anulados, então vamos ter que ficar aqui por um bom tempo até eu me recuperar, e não vai ajudar em nada se você ficar tão descontrolada.” Senti que ela estava começando a ficar com vergonha, então baixei o tom de voz nas últimas palavras.

Ainda não sabia ao certo por que minha parte humana acabava prejudicando muito meus poderes. Talvez eu ainda esteja muito fraco por ter me desligado do poder de Lúcifer, e quando minha parte humana precisa de reparos, meus poderes são, por completo, usados auxiliando em minha cura, e isso impede que eu os use para qualquer outro fim. Mas isso é uma mera hipótese, ainda não sei o que acontece exatamente.

Susan agora estava mais calma. Ela cansou de ficar sentada ao meu lado, e deitou-se, pondo a cabeça delicadamente em meu peito – acho que com medo de que doesse –, e logo caiu no sono. O frio aumentava mais e mais a cada segundo, e ela acabou me abraçando forte, quase que inconscientemente, e em alguns momentos eu não tive como disfarçara a dor, mas logo voltava ao normal. E assim passamos a noite, sem saber onde estávamos, nem como fomos parar ali. Só tínhamos um ao outro, nossos dois corpos juntos tentando se proteger do frio naquele breu, e nossas mentes interligadas tentando se distanciar do medo, através de um elo do qual eu não quero nunca me desfazer.

O nosso Elo!

***

Acordar de manhã com o sol queimando seu rosto, e o vento espalhando a areia da praia por cada centímetro livre de seu corpo, não é a melhor maneira de acordar. Mas, fazer o quê, estávamos perdidos em uma praia, sem abrigo e sem comida.

A boa notícia é que minhas costas estavam quase completamente curadas. Parece que minha hipótese sobre a auto cura estava correta, então eu decidi que íamos sair dali o mais rápido possível, assim que meus poderes estivessem completamente disponíveis, e eu pudesse fazer um teletransporte seguro.

Mas não antes de um belo café da manhã.

Aproveitei que Susan ainda estava dormindo. Olhei para ela, deitada no chão ainda na mesma posição em que passara a noite inteira, agarrada a mim. Tirei a camisa e fiz uma espécie de barreira defrontando seu rosto, para impedir que o vento a cobrisse de areia, e fui em direção aos coqueiros. Minha primeira tarefa era trazer água de coco.

Mas nem um daqueles que estavam mais próximos da praia tinham cocos muito bons para nosso uso, então decidi adentrar ainda mais naquela praia, talvez assim eu também pudesse ter uma noção de onde estávamos. Mas, quanto mais eu entrava naquela espécie de selva, mais eu me perdia do mundo. Eu caminhei, caminhei, e tive tempo para observar todas as paisagens ali presentes.

Em alguns lugares, as plantas eram magníficas, exuberantes, cheias de flores e de frutos fartos, as cores se misturavam dando-me uma visão belíssima. Em outros, a vegetação rasteira era rara, e todas as plantas eram de cores opacas, o que me fazia pensar em coisas ruins, além disso, existiam mais rochas do que plantas. Outros lugares tinham vários animais, o que me deu vontade de caçar, mas eu não tinha nenhuma arma além de um punhal e um canivete, e estes não me serviriam de nada na hora da caçada. Em outros, eu vi plantas diferentes, grotesca, que eu nunca tinha visto em todas as minhas centenas de anos.

Eu caminhei, corri, corri, caminhei... Eu já estava pressentindo algo sobre aquele lugar, quando meus olhos viram o que confirmou o que eu já pensava. Não estávamos no litoral abandonado de algum país do mundo. Nem uma praia que eu conheço tem tantos ecossistemas diferentes e bizarros! Eu estava na outra extremidade da ilha, seja ela qual for. Mas por que exatamente naquela ilha ficamos tão seguros? Por que, de forma alguma, eu conseguia descobrir em que ponto do globo eu me encontrava, logo eu que tenho os sentidos de localizações e coordenadas tão aguçados?

A surpresa me deixou um pouco pensativo, mas eu tinha que voltar logo, levar algo para Susan comer, para que eu pudesse investigar melhor aquela ilha. No caminho de volta, encontrei finalmente os cocos ideais para um bom café da manhã com Susan – bom, pelo menos, o melhor que aquela ilha estranha poderia nos oferecer. Colhi também algumas frutas, tomando sempre muito cuidado para não colher nem uma venenosa – o que era bem difícil, considerando que eu não conhecia muito bem aquelas espécies de plantas.

Depois de recolher tantas frutas quanto meus braços podiam carregar, eu voltei correndo para onde estava Susan, tomando cuidado para não derrubar muitas frutas. Nem sei como consegui achar o caminho de volta, naquela ilha tão assustadoramente bizarra. Mas eu encontrei o caminho, e o que eu vi ao chegar não foi muito bom.

– John! – Susan corria em direção ao mar, gritando meu nome.

Demorei pouco tempo para descobrir exatamente o que estava acontecendo. Do que Susan estava fugindo, e por que ela estava correndo para o mar?

Foi quando eu o avistei. Um homem, ou melhor, um velho de estatura baixa, talvez um metro e cinquenta e cinco de altura, trajando um sobretudo longo e maltrapilho vermelho-vinho, e descalço, estava perseguindo-a.

– Volte aqui, criança! – Ele dizia, enquanto corria atrás dela.

Mas que homem era aquele, um demônio, que finalmente descobrira nossa localização? Eu não esperei para descobrir.

No mesmo lugar em que estava, deixei as frutas que carregava caírem, e parti em dispara, na direção daquele... Seja quem fosse ele! Ele estava atrás da Susan, e eu tinha que impedi-lo.

Ele nem percebeu minha aproximação, e isso me fez duvidar se ele era mesmo um demônio. Eu nunca havia visto um demônio tão velho, já vi alguns deformados, monstruosos, mas não velhos como ele. Então talvez ele não fosse um demônio, nem mesmo um anjo. Fosse o que fosse ele, estava atrás de Susan e eu tinha que impedi-lo.

Quase que instintivamente, movido pelo espanto e pelo ódio, dei uma chave de braço em seu pescoço, o que o fez parar. Engasgando, e apertando meus braços com suas mãos, ele tentava dizer algo, mas eu não queria soltar. Não queria correr o risco que corri, me descuidar novamente como me descuidei com os demônios rabugento e sorridente (como eles são chamados). Ele lutava, esperneava, mas era duro na queda. Continuava movendo os lábios, como se quisesse dizer algo muito importante. Foi quando minha curiosidade me dominou, e decidi afrouxar o aperto e o deixar falar.

Em meio a engasgos e tosses secas, ele disse, sem fôlego:

– John! – Eu não fazia ideia de como ele sabia meu nome. – Me solte, sou eu, Aknail!

Aquele nome me fez mergulhar de repente em lembranças. Minhas pupilas se dilataram instantaneamente, era como se eu o pudesse ver novamente. Aknail, um querubim caído, um dos primeiros, depois de Lúcifer. Os querubins são anjos responsáveis por glorificar e adorar a Deus, e estão sempre associados a sua santidade. Quando Deus expulsou Adão e Eva, pôs querubins no oriente do jardim do Éden, e uma espada flamejante para proteger a árvore da vida. Aknail ajudou Lúcifer a tentar os humanos por milênios, até que, não se sabe como, talvez tendo presenciado um milagre, ou outra prova do poder de Deus, traiu Lúcifer e abandonou sua moradia. Lúcifer amaldiçoou-o, e pôs vários demônios em seu encalço, eu, fui um deles. Mas certo dia, quanto eu encontrei Aknail, ferido, não tão velho quanto agora, mas muito ferido, e ele me convenceu a ajudá-lo a livrar-se de Lúcifer. Aknail era um mestre em palavras, assim como o próprio satanás. Tempos depois, Aknail foi um dos motivos pelo qual eu deixei de seguir o Diabo.

Outra explosão de lembranças fez minha cabeça girar. Foi naquela ilha! Eu mesmo escondi Aknail naquela ilha onde estávamos! Como eu pude me esquecer? Aquela ilha tinha algo de mágico, assustador, e por isso não está no mapa. Alguns humanos chamam aquela região do globo de “triângulo das bermudas”, e por isso é tão difícil encontrá-la quanto uma agulha no palheiro. Talvez fosse uma dádiva de Deus, eu ter encontrado aquele lugar, mas na época eu estava tão cego, e tão cheio de mim, que pensei que havia encontrado com minhas próprias forças e métodos. Mas agora, ao ver a beleza daquele lugar, eu estava mais seguro do poder de Deus do que nunca.

Eu soltei Aknail, um pouco envergonhado por tê-lo enforcado daquela forma. No momento em que ele virou-se de frente para mim, eu distingui entre as linhas de idade em seu rosto, os traços do verdadeiro e grande querubim.

– Ah, Aknail! – Ele me abraçou forte. Vi a expressão de incredulidade de Susan, e com um gesto pedi que ela se aproximasse. Ela se aproximou relutante.

– Estão todos aqui, John! Estávamos a sua espera.

– Todos? Quem? – Eu respondi, intrigado.

– Jay, Lívia, Dan, e Niemes! – Eu reconheci cada um dos quatro nomes. Lívia, a “serafim espertinha”, Dan, “O engraçadinho”, Jay, ou melhor, Jaysla Ravenna, e Niemes, “O gigante”. Talvez aqueles fossem os componentes da tal Sociedade de redenção dos Anjos caídos, da qual Jay me falara.

E assim que eu acabei de associar os nomes aos seu devidos donos, uma bola de fogo ascendeu ao céu. Aknail, Susan e eu, olhamos, surpresos, enquanto a bola de fogo reluzia no céu matutino.

– Não se preocupe. – Disse Aknail, balançando a cabeça, com um sorriso no rosto. – É só o Dan tentando voar! – Explicou ele. – Vamos, vou mostrar-lhes a minha humilde residência!

Eu não sabia o que o meu futuro me reservava, e nem queria muito saber. Mas aquelas pessoas eram boas, e se estavam lutando por algo bom, eu os seguiria até a morte.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam do Aknail? Este é um personagem que pretendo trabalhar bem! Vai ser um dos meus personagem mais bonitos e magníficos, e esplendorosos, daqueles com um passado aterrador, mas com um futuro e uma alma brilhante! Esperem ansiosos pelo próximo cap! Becitos!



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