Enfim chega o dia da formatura dos alunos do último ano. Durante a colação de grau tudo corre bem. Homenagens, discursos, entre eles o mais esperado, o discurso de Patrícia.

Estava tudo indo bem e aparentemente sem nenhum tipo de imprevisto.

Patrícia foi muito aplaudida pelos professores, colegas e a família. Até o pai estava lá, mas se via que não por vontade própria.

Porém as pessoas que ela mais amava estavam lá, sua mãe e Mateus. Ao fim do discurso se inicia a entrega dos diplomas.

Turma a turma tem os alunos chamados. A turma de Cecília e dos colegas seria a terceira de cinco turmas.

 - Nem acredito que consegui. – diz Murilo

 - Não acredita por quê? Você é inteligente. – diz Cecília.

 - É, mas se não fosse você em física, química e matemática, eu teria me ferrado.

 - Não é bem assim. Você só se confundia um pouco, mas aprende rápido.

 - O que seria de mim sem a minha gatinha me dando aulas particulares hein? – diz sorrindo e lhe dando um selinho.

 - Não exagera Murilo, nem sou tão boa professora assim. Já você... – diz lhe dando um leve beliscão no braço.

 - Ta falando isso pelo xadrez? – diz sarcasticamente.

 - Também, mas sabemos que tem coisitas mais. – brinca com ele que sorri.

 - Desculpa casal, mas está na hora de se separarem um pouquinho – brinca Fabiana – A professora quer que estejamos em ordem alfabética na hora de pegarmos o diploma.

 - Que injusto isso! Luis, Mateus e Murilo vão ficar perto e nós longe! – diz Cecília.

 - Também não vi graça nisso, mas pelo menos vamos receber o diploma primeiro que eles. – diz Fabi divertida.

 - Hei, to logo atrás só de olho em você viu? – diz Murilo para Cecília.

 - Digo o mesmo dona Fabiana. Olho vivo! – diz Luis fazendo as garotas darem risada.

Após algum tempo, um tanto que longo de espera, a sala de Cecília é a próxima a receber os diplomas.

Um a um os alunos são chamados e a cada nome, amigos e parentes fazem um completo escarcéu.

Após receberem os diplomas, os alunos vão se aglomerando um a um em determinado local escolhido pela professora. Começaria a sessão de fotos.

 - Não queria tirar fotos, estou muito gorda. – diz Patrícia.

 - Você reclama de barriga cheia Patrícia, literalmente – diz Fabiana fazendo com que ela esboce um sorriso – Você está só com barriga, não engordou em nada no corpo.

 - Verdade Patrícia. E depois, agora falta pouco, o que? Uns três meses pra nascer? – diz Cecília.

 - É o que o médico disse, mas sei lá! Ele disse também que não conseguia ver o sexo de jeito nenhum, pelo visto só vou saber quando nascer mesmo.

 - Nossa, mas você fez ultra-som né? – diz Cecília.

 - Um monte! Mas em todos o neném ta com as perninhas fechadas, não dá pra ver.

 - Mas e com roupinhas e tudo o mais? Como você está fazendo?

 - Na verdade não estou fazendo nada.

 - Como assim Patrícia? – pergunta Fabiana curiosa.

 - Não tenho enxoval, nada. Aliás pra não dizer que não tenho nada, tenho uns três conjuntinhos que minha mãe comprou, mas só.

 - Você é doida? E quando nascer, como vai fazer? – diz Fabiana indignada.

 - Não sei Fabiana, na verdade eu não posso fazer muita coisa. Ninguém vai me dar emprego agora e o que o Mateus ganha está todo na poupança, pra quando nascer. Não quero depender das mães da gente pra tudo sabe?

Enquanto Patrícia fala com Fabiana, Cecília vai desenvolvendo uma idéia.

 - Já sei o que podemos fazer Paty. O que acha de fazermos um chá de bêbê? – sugere Cissa.

 - Chá de bêbê? – repete Patrícia ainda meio sem entender.

 - É uma boa Patrícia. O neném ganha de tudo, desde fraldas até roupinhas. – continua Fabi.

 - Sei lá gente, e se não for ninguém?

 - Claro que vai Paty! Mulher adora essas coisas, falo por mim mesma. – diz Fabiana.

 - Se quiser podemos organizar pra você. – diz Cecília.

Patrícia fica pensativa por algum tempo, mas está tão empolgada quanto as amigas.

 - Não vou atrapalhar vocês não?

 - Claro que não! Então isso é um sim? – pergunta Cecília.

 - É. – responde Patrícia com um sorriso sem jeito.

Enquanto conversam animadas, os rapazes do outro lado apenas às observam.

 - Quando mulher se junta e começa a dar risadinhas assim, de um jeito ou de outro sobra pra gente! – diz Luis.

 - Pra vocês, porque a Cissa é de boa e nunca apronta nada. – diz Murilo.

 - Vai sonhando velho! – diz Luis rindo e fazendo Murilo rir também. – E aí Mateus, preparado pra quando a cegonha chegar?

 - Podemos dizer que sim Luis, mas parece que quanto mais perto fica, mais nervoso eu fico.

 - Nervoso? Como assim nervoso? – pergunta Luis sem entender.

 - Desde quando comecei a trabalhar não toco em um real do meu dinheiro, ta tudo no banco pra quando a Patrícia tiver o neném, mas to com medo de ainda assim faltar.

 - Não adianta ficar nervoso cara. Já te falei pra procurar outro trampo. – diz Murilo.

 - Já estou fazendo isso. Tem currículo meu em tudo que é lugar.

 - Então relaxa e espera o que mais você pode fazer? Fora que até nascer você já pode estar em outro trampo melhor e isso te ajudar.

 - Isso é Mateus, fora que agora você vai ter mais tempo, sem a escola entendeu? – completa Luis. – Só vai ter que atrasar a facul por um tempo.

 - Isso é o de menos. Bem que a minha mãe diz, depois que vêm os filhos, deixamos nossos planos pessoais pra depois. – diz Mateus.

 - E o seu Murilão? – brinca Luis.

 - Meu o que? – pergunta sem entender.

 - Seu filho ora!

 - Como assim Murilo? A Cecília ta grávida também? – pergunta Mateus com os olhos arregalados.

Luis começa a gargalhar da cara dos amigos.

 - Ta nada, esse mané que não tem o que falar e fica de graçinha! – diz Murilo dando um empurrão leve em Luis. – Vai falar isso pra ela pra você ver o que ela te faz!

 - Nada, ela com aquela carinha de boa moça...

 - Boa moça? É que você nunca a viu brava! Nas TPM dela eu sofro cara!

 - TPM é foda mesmo. A Fabiana fica com um humor do capeta. – diz Luis.

 - Bom, nunca vi a Patrícia com TPM. – diz Mateus tentando buscar na memória algo sobre isso.

 - Claro que não, você não deu tempo pra ela ter uma, já engravidou logo de cara! – diz Murilo sério, mas fazendo os amigos darem risada do comentário.

 - Mas não esquenta Mateus, ela não vai ficar grávida pra sempre. Fora que além de TPM vai ter que agüentar neném chorando também. – diz Luis!

 - Chega Luis, se não o cara vai começar a pirar desde já. – diz Murilo.

Mateus ri. Apesar de saber que de certa forma os amigos estão certos, ele não teme isso, mas sim decepcionar Patrícia de alguma forma.

 - Toda a turma do terceiro C está aqui? – pergunta a professora.

Após a confirmação geral dos alunos, enfim a foto é tirada. Todos estão com seus canudos em mãos e sorridentes. Mais uma fase de suas vidas acabara de ser concluída.

Após algum tempo, depois de fotos e mais fotos, os jovens conseguiram aproveitar mais sua festa, cada um de uma maneira diferente.

Luis e Fabiana não deixaram a pista de dança por momento algum. Cecília e Murilo ficaram namorando em um jardim iluminado do lado de fora do salão e Mateus e Patrícia estão sentados em uma das mesas reservadas, apenas conversando.

Em determinado momento, Mateus chama Patrícia para darem uma volta. Ele a leva no mesmo jardim em que Murilo está com Cecília, porém devido ao lugar ser grande, eles não chegam a se encontrar.

Mateus segura uma das mãos de Patrícia e com a outra segura seu rosto.

 - Não sei se já te disse isso hoje, mas você está linda.

 - Obrigada. Você está um gato também.

 - O gato aqui merece um beijo então? – pergunta com um sorriso.

Patrícia o beija carinhosamente enquanto entrelaça os dedos nos cabelos dele. Já havia um tempo que ela não o beijava assim, com tanta vontade.

Ele por sua vez retribui com a mesma vontade e a abraça com um pouco mais de força, porém se afasta ao perceber que pressionava a barriga dela.

 - Droga. – diz Patrícia.

 - Desculpa, machuquei você?

 - Fisicamente não Mateus.

 - O que quer dizer com fisicamente não?

Patrícia passa as mãos pelo rosto e levanta o olhar, numa tentativa quase inútil de impedir que chegasse às lágrimas.

 - Parece que você tem nojo de mim.

 - Nojo? Está louca? De onde tirou esse absurdo?

 - Você parece evitar ao máximo me beijar, me tocar. Sempre se afasta na primeira oportunidade.

 - Isso é mentira, não faço isso.

 - Faz sim, agora mesmo acabou de fazer. É como se não quisesse estar perto de mim. – diz com os olhos marejados.

 - Não é nada disso – diz segurando seu rosto com ambas as mãos. – Eu quero estar mais perto de você do que você pode imaginar, mas tenho medo de machucar você e o neném.

 - Acha mesmo que um beijo ou um abraço pode machucar o neném Mateus?

 - Não sei Patrícia, eu tenho medo. Não é tão fácil assim.

 - Onde está a dificuldade então? Fala pra mim.

Mateus a olha. Respira fundo e diz o que o aflige.

 - Ok. É o seguinte Paty, sei que um simples beijo e um abraço não vão fazer mal nenhum pra criança, mas mesmo assim quando isso acontece preciso me afastar de você.

 - Por quê? Sei que não estou tão atraente como quando você me conheceu, mas...

 - Não é nada disso Patrícia, pelo amor de Deus! Você continua me deixando doido, até mais do que antes, exatamente por isso me afasto de você.

Patrícia o olha confusa, não entende o que ele quis dizer com aquilo. Não parece ter sentido algum pra ela. Mateus então resolve ser direto e claro.

 - Quanto mais perto eu fico de você, mais vontade tenho de te ter pra mim de novo Patrícia. Só você e eu entende? A cada beijo que troco com você, meu desejo em te ter aumenta e não sei se posso resistir. Me entende agora?

Patrícia o olha nos olhos um pouco surpresa com o que acabou de ouvir.

 - Então mesmo eu estando assim – diz olhando para baixo, focando em sua barriga e pousando uma mão sobre ela – Você me deseja? Me deseja como mulher?

 - Claro que sim. Até parece que por estar grávida você deixou de ser mulher. Pelo contrario. Se quer saber, acho que te desejo ainda mais do que antes.

 - Se me deseja tanto assim quanto diz, porque se afasta?

 - Não sei Paty, tenho medo, sei lá, não sei explicar. Mas não medo de você, mas de machucar você entende?

 - Acho que entendi. Mas Mateus... Você não tem vontade de... Tentar? – diz sem o encarar.

Ele que estava de cabeça baixa até então, segurando em uma grade semelhante a um portão a encara surpreso e confuso.

 - Você diz tentar... O que estou pensando?

 - É. Tem vontade? Porque se tiver, saiba que não é o único.

Mateus se aproxima dela e a faz olhar para ele, a segurando pelo queixo.

 - Não é pra você fazer as coisas por minha causa.

 - Não é só por sua causa. Eu também quero. Quero você mais uma vez.

 - Tem certeza do que está falando Paty?

 - Tenho.

Mateus segura seu rosto mais uma vez e a beija como antes, mas sem se afastar. Sente que naquele beijo Patrícia mostra o desejo que está sentindo tão claramente quanto ele.

 - Agora? – pergunta ele a olhando nos olhos.

 - Agora? Mas onde?

 - Na minha casa. Não tem ninguém lá.

 - Mas a sua mãe...

 - Esquece ela. Dona Dora arrumou um namorado e sei que não vai dormir em casa hoje. Peço pra sua mãe deixar você dormir lá em casa. Digo que você não está se sentindo muito bem e peço pra minha mãe levar a gente.

 - É uma boa...

 - E aí? Topa?

Patrícia o olha por breve segundos, respira fundo e diz.

 - Topo!