Os dias passam e com eles as férias chegam ao fim. Ao contrário do que Fabiana planejava, Cecília retornou virgem das férias, porém certa do amor que tinha por Murilo e do mesmo por ela.

Apesar de não terem conseguido concretizar sua primeira noite, aprenderam muitas formas de “brincar” com o corpo um do outro e assim se conhecerem melhor intimamente.

A volta as aulas foi tranqüila, nada de novo com relação a professores e alunos, porém algo chamou a atenção de Cecília.

– Vocês notaram que já tem uns dias que a Patrícia não vem pra aula?

– Pra falar a verdade nem tinha reparado, mas agora que você falou, é verdade. Será que está doente? – pergunta Fabiana.

– Acho que não, tem a ver com o paspalho do Mateus. – diz Murilo.

– Como você sabe? – pergunta Cecília.

– Não tenho certeza, mas olha pra ele. Esses dias está calado, não mexe com ninguém.

– Isso é, nem futebol ele tem jogado. – diz Luis.

– Na saída vou perguntar da Patrícia pra ele. – diz Cecília.

– Acho melhor você não ir. – diz Murilo. – Ainda não confio muito nesse cara não.

– Ta tudo bem bêbê, mas porque não vem comigo então?

– Vou mesmo! – diz com uma cara fechada, fazendo Cecília lhe dar um selinho.

– Fica tão lindo ciumento!

Murilo faz uma careta e eles continuam assistindo a aula. Na saída, Cecília vai falar com Mateus como havia dito que faria. Além de Murilo, Fabiana também vai com ela.

Ele estava quase fora da escola quando Cecília o chamou.

Ele olhou para trás e estranhou, afinal desde o trabalho da festa das nações não se falavam.

– Me chamou? – pergunta desconfiado olhando para Murilo e Fabiana que estavam com ela.

– Sim, queria saber da Patrícia. Ela não tem vindo esses dias, está doente?

– Não sei. – diz com a cabeça baixa.

– Como não sabe? Que namorado é você? – diz Fabiana com a voz alterada.

– Não somos mais namorados, terminamos um dia antes das férias. – diz sério e com um ar de tristeza.

– Ah é? Não sabia, foi mal. – diz Fabiana sem graça.

– Só isso que queria saber Cecília? – pergunta sem emoção alguma na voz.

– Era só isso sim. – responde ela sem entender o que estava havendo com Mateus.

– Certo, vou nessa então. – diz se virando e indo embora.

Os três se olham sem entender nada.

– Não disse que a Patrícia estar faltando tinha a ver com ele? – diz Murilo.

– Estou besta! Não acredito que eu falei com ele daquele jeito e ele não bateu boca comigo. Não é o Mateus. – diz Fabiana.

– Pelo visto o término dele com a Patrícia não foi algo fácil. Fiquei com pena dele.

– Pena Cissa? O Mateus é uma peste, a Patrícia fez muito bem em terminar com ele! – diz Fabiana.

– Você não sabe se foi ela Fabi, pode ter sido ele.

– Que seja Cissa, a ordem dos fatores não altera o produto! – diz Fabiana debochada.

No dia seguinte mais uma vez Patrícia não foi a aula, o que incomodou Cecília.

– Sério gente, acho que está acontecendo algo mais sério com a Patrícia. Já tem mais de uma semana que voltaram as aulas e ela não vem.

– O que você quer fazer? – pergunta Murilo.

– Acho que vou a casa dela ver o que houve.

– Você tem o endereço?

– Não, mas isso arrumo. Enquanto Cecília falava, Mateus prestava atenção de longe. Pouco depois ele vai até ela e resolve fazer uma pergunta.

– Você vai ver a Patrícia?

– Queria, mas não tenho o endereço dela.

Mateus pega uma caneta na mesa de Cecília e anota o endereço na capa do caderno dela. Murilo o olha desconfiado.

– É esse aqui, mas não fala que fui eu que te dei não ta? Ela pode não gostar.

– Ah... Ta bom... Obrigada. – agradece Cecília confusa.

Mateus então sai da sala, já que o sinal já havia tocado. Cecília pede para Fabiana ir com ela após a aula visitar Patrícia e ela aceita.

No caminho Cecília comenta de Mateus.

– Ele está estranho não acha Fabi? Parece triste.

– Tomar um pé na bunda dói, pensa que não?

– Não sei em outros tempos ele já estaria com outra garota e nem se importaria com a Patrícia. Parece que ele está sentindo muito esse término.

– É tenho que concordar que ele está estranho, mas ainda acho que é porque não esperava levar um pé na bunda.

– Você insiste nisso! A Patrícia sempre deixou bem claro que gostava muito dele, acha mesmo que ela que terminou?

– Cissa, você já viu alguém terminar um namoro e ficar com a cara que ele está? Não tem lógica!

– Olhando por esse lado você tem razão.

Logo chegam ao endereço dado por Mateus e tocam a campainha. Uma mulher que aparentava cerca de quarenta anos aparece, era a mãe de Patrícia.

As jovens dizem ser colegas de escola de Patrícia e perguntam se está tudo bem com ela. Inicialmente a mãe da jovem as olha desconfiada, mas acaba permitindo que elas entrem em sua casa. Pede que elas esperem na sala enquanto ela vai avisar a filha.

Cecília e Fabiana conversam um pouco enquanto esperam e pouco depois a mãe de Patrícia as leva até o quarto da filha.

– Fiquem a vontade, filha, qualquer coisa estou na cozinha. – diz a mãe de Patrícia ao sair e fechar a porta do quarto.

– Nossa, juro que não esperava vocês aqui. – diz Patrícia.

Ela estava deitada na cama, com as costas apoiadas na cabeceira e com seu notebook no colo. Tinha um lençol que lhe cobria e a aparência não era das melhores.

– Percebemos que desde que começaram as aulas você não apareceu na escola, então resolvemos ver o que você tinha. – diz Cecília.

– Digamos que minhas férias não foram as melhores. – diz abatida.

– O que aconteceu? Ficou doente?

– Passei praticamente o mês todo vomitando, quase nada parava no meu estômago.

– Putz, isso é horrível! Deve ter sido alguma virose. - diz Fabiana.

Patrícia dá uma risadinha sem emoção. Cecília então puxa assunto.

– Quando vai voltar pra escola?

– Não sei, talvez nem volte.

– Não? Por quê?

– Não quero que me vejam lá.

– Diz isso pelo idiota do Mateus? – pergunta Fabiana espontaneamente, recebendo um cutucão de Cecília em seguida.

– Tudo bem Cecília, ela não deixa de ter razão. Vocês já devem saber que não estamos mais juntos não é?

– Já. Perguntei de você pra ele e ele disse que tinham terminado. – diz Cecília.

– Desculpa me meter Patrícia, mas você não vai voltar pra escola por causa dele? Nada a ver isso, manda ele se foder!

– Fabi! – diz Cecília em tom de reprovação.

– Mas é verdade Cissa. Vai sair da escola no meio do ano, perder matéria e tudo mais por causa dessa anta de menino? Não vale a pena.

– Não é tão simples assim Fabiana. Na verdade o Mateus é apenas um dos muitos que não quero ver na escola. – diz Patrícia.

– O que aconteceu afinal Paty? Você estava tão bem antes das férias começarem, o que houve afinal? – pergunta Cecília.

– O que aconteceu Cecília, quer mesmo saber o que aconteceu? – diz nervosa – Ok então, vou te dizer o que aconteceu!

Ela tira o notebook do colo, puxa o lençol que a cobria para o lado e se levanta, mostrando uma barriga um pouco saliente. Fabiana e Cecília se olham de boca aberta.

– Não queria que ninguém soubesse, por isso não voltei pra escola, mas já que vocês vieram aqui e eu precisava mesmo desabafar com alguém, aqui está o motivo. Entendem o porquê não quero ver o Mateus agora? – diz chorando e se sentando na cama.

Cecília e Fabiana não sabem o que dizer. Ao ver Patrícia chorando, Cecília vai até ela e senta-se ao seu lado na cama.

– De quanto tempo você está? – pergunta.

– Três meses.

– Garoto desgraçado, mais um motivo pra eu odiá-lo! Como ele termina com você e te deixa assim? – diz Fabiana.

Cecília olha a amiga espantada, afinal desde o começo Fabi achava que Patrícia havia terminado. Porém agora elas entendiam que não foi assim e tinham quase certeza do motivo.

– Ele não sabe.

– Não? - Perguntam Cecília e Fabiana ao mesmo tempo.

– Não. Quando ele terminou comigo eu estava com um pouco mais de um mês, mas ainda não sabia, só precisei o tempo quando minha mãe me levou ao médico e fiz um ultra-som. Minha menstruação estava uns dias atrasada, mas era normal e também pensei que ele havia usado camisinha. Ele disse que usou, mas pelo visto mentiu pra mim, assim como mentiu que me amava e tudo mais que falou.

– E você não vai contar pra ele Paty? Ele tem que saber. – diz Cecília.

– Não, ele não vai saber nunca.

– Mas ele é o pai...

– Não Cecília, já disse que não. Ele deixou de ser pai dessa criança o dia que terminou comigo sem ao menos se importar em como eu me sentia. Ele me usou, se aproveitou do que eu sentia por ele.

– Sentia ou sente? – pergunta Fabiana.

Patrícia fica calada, mas ela sabia que apesar de tudo o que havia passado ainda amava Mateus.

– Vai sumir com o tempo, não vai fazer diferença. – diz com amargura na voz.

– Paty, imagino que você esteja passando por algo bem complicado agora, mas em partes a Fabi tem razão. Não sai da escola não. Estamos no ultimo ano, é o último semestre, não larga tudo.

– Mas como vou aparecer na escola Cecília? Se com três meses minha barriga já está assim, como não vai estar até o fim do ano? Fora que todos vão ficar me apontando por onde eu passar, “olha lá a mãe solteira”. Não quero isso, não vou conseguir passar por isso entende?

– Calma, pra tudo se tem um jeito, vamos ajudar você não é Fabi?

– Ah? Sim, vamos sim, claro. Aí de quem te olhar torto, vai se ver comigo!

Patrícia seca o rosto das lágrimas que deixou cair e sorri.

– Porque estão sendo assim, tão legais comigo? Pensei que não gostavam de mim.

– Você era chatinha mesmo, mas no trabalho vimos que você é legal. – diz Fabiana.

– Enfim, promete que não vai largar os estudos, por favor. Falta tão pouco. – diz Cissa.

– Você está certa, mas não quero voltar pra escola, não quero ver o Mateus e nem que ele saiba que estou grávida.

– Vamos dar um jeito. Olha todos os dias depois da aula eu posso vir aqui e te trazer a matéria, aí você copia e eu te explico também.

– Isso, e quando a Cissa não puder eu venho. Só não explico física e matemática. – diz Fabiana.

– Mas o que vão dizer na escola? Vão querer saber por que estou faltando tanto.

– Já cuidei disso. Disse que você teve que passar por uma cirurgia e tem que ficar em repouso por tempo indeterminado em casa. – diz a mãe de Patrícia entrando no quarto.

– Você ouviu tudo mãe?

– Ouvi sim. Muito obrigada por estarem ajudando a minha filha. Já que ela não pode contar com o próprio pai que é um filho da puta e não quer que o pai da criança saiba, toda ajuda é bem vinda. Só vim dizer isso, agora vou dar uma saída, vou ao mercado comprar umas frutas pra você, tem que comer. Boa tarde meninas e até breve. – diz a mãe dela ao sair.

– Desculpem a minha mãe, ela disse isso do meu pai porque ele não quer saber de nada, disse que a questão dele comigo é minha pensão e só, o resto é por conta da minha mãe.

– Certo, entendemos.

Mas então vamos fazer assim Paty, amanhã mesmo já trago as matérias pra você e te explico também.

– Obrigada meninas, vocês estão me ajudando muito mesmo viu. Nem sei como agradecer.

– Não precisa agradecer, amigas são pra essas coisas.

Patrícia dá um sorriso sincero, mas em seguida lhe pede uma coisa.

– Por favor, não digam nada da minha gravidez pro Mateus. Se ele perguntar de mim pra vocês, o que duvido, sustentem o que minha mãe disse para os professores ta?

– Se depender de nós ele nunca vai saber de nada, pode confiar. Agora temos que ir. Tchau. – dizem Cecília e Fabiana indo embora.

Já na rua, enquanto voltavam pras suas casas, Cissa e Fabi conversavam sobre Patrícia.

– Acho que o Mateus tem o direito de saber. – diz Cecília.

– Ela não quer que ele saiba e mesmo se souber um dia, não vai ser nem por mim nem por você. Prometemos pra ela.

– Eu sei, mas ter um filho sozinha não deve ser fácil.

– Não mesmo, mas ela quer assim, só podemos respeitar a vontade dela.

– É você tem razão. – diz Cecília pensativa.