O Sumiço de Denise escrita por magulosa_tmj


Capítulo 43
Conversa no cativeiro


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!!



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    Assim que saíram do clubinho, todos se dirigiam para suas casas, cabisbaixos. Simplesmente estavam sem coragem para trocar palavras. O mais disposto era Cebola que foi atrás de seu melhor amigo. Se dentro do velho galpão de madeira ele lhe dirigia a palavra por que não tentar falar de uma vez com Cascão?

 

- Hey, preciso falar com você!!!

 

Cascão (Duro) – Tô sem cabeça pra isso véio... – Atravessa a rua e entra na sua casa sem olhar pra trás, deixando o Troca Letras frustrado.

 

Era um palerma mesmo, agora que precisavam estar unidos e que tinha coisas importantes pra dividir com Cascão o besta lhe faltava com a palavra. Não queria falar de sua conversa com Irene pra Franja nem pra Mônica. Não iria cometer o erro duas vezes. E Magali? Mas é claro, por que não tinha pensado na comilona antes? Ela era parte interessadíssima na história e ainda podia limpar sua barra com Cascão. Estava decidido a procurar a garota mais tarde, naquele momento tinha outra coisa importante a fazer.

 

Chegou em casa e correu para o telefone, discou para o Rio de Janeiro.

 

- Oi, recebi a resposta de seu email hoje, preciso que amanhã à noite vocês estejam aqui!!! Pode ser?

 

 

 

                                                                                         X

 

 

 

Carmem sentada em um dos cantos de seu cativeiro se distraia com uma lagartixa que estava no alto de uma das paredes. O pavor dos primeiros instantes naquele quarto que só recebia luz elétrica já era passado. Sua preocupação era ocupar o tempo. Já ia dar 24 horas que estava presa. Esqueceram de tirar seu relógio de pulso, por isso sabia quanto tempo tinha passado. Se ficasse contando os minutos tinha certeza de que ia entrar em parafuso.

 

Lembrou-se de alguns dias atrás que estavam em seu quarto, acabava de receber um telefonema de Marina que lhe contava sobre o plano. Tinha topado. Depois que encerrou a conversa com a desenhista ficou caminhando pelo jardim da mansão. Sozinha, como sempre. Era até melhor sempre que os pais estavam em casa acabava em briga.

 

Seu pai, Cornélio, apelidado pela turma de Cornélio Frufru, pois satisfazia os caprichos da filha, era um homem muito protetor. O trabalho como delegado de polícia lhe tornou uma pessoa cheia de paranóias, tutorial demasiadamente. Ela sabia que no fundo ele apenas queria seu bem, mas não é fácil para uma garota de 17 anos, ser obrigada a andar com um segurança particular em suas costas.  

 

Tinha muito mais medo que respeito pelo pai. Diversas vezes presenciava discussões agressivas dele com sua mãe. Quando ia se meter para tentar amenizar os dois se refugiavam no quarto continuando com a briga. Certa vez quando era pequena testemunhou uma cena lamentável. Cornélio desceu a mão ferindo o rosto da esposa, Regina. E tinha certeza que aquela era apenas uma das agressões físicas que a mãe devia receber calada em suas costas. Aquela casa que para o resto do mundo parecia ser um paraíso na verdade era um inferno.

 

Estava cansada daquela vida de mentira com alguns brutamontes andando em sua cola e lhe afastando do mundo normal, onde as pessoas riem, choram, brigam, tem amigos, amam, odeiam. Por isso resolveu indicar Titi como jardineiro em sua casa. Pelo menos com um colega do lado não se sentia tão fora do comum. E Cornélio adorava o garoto. Titi era a personificação dos sonhos do delegado. Pegador, que esta sempre a volta das meninas e nunca se comprometendo com nenhuma. Era o filho que Dr. Cornélio não teve.

 

Depois que mais um dos milhares de seguranças que passaram por sua casa foi demitido, Titi sugeriu o nome de Jeremias. O garoto negro queria sair de casa, precisava sustentar a si e seu cursinho pré-vestibular e guardar um dinheiro para os primeiros meses da faculdade de Educação Física que pretendia cursar. Alto e forte, do tipo que intimida engraçadinhos e com mais de dez anos de capoeira, judô e boxe em seu currículo foi fácil para o menino conseguir a vaga de motorista e segurança particular de Carminha.

 

Deitou-se no colchão com a lembrança da noite passada ao lado dele.

 

 Já tinha transado com outros garotos. Ela que se sentia tão segura em sua vida amorosa agora estava com calafrios no estômago, as pernas tremendo e uns solavancos no peito quando chegava perto dele. O corpo parecia estar brasa. Passou a entender o que algumas pessoas lhe falavam que fazer sexo é bom, mas com amor, melhor ainda. Não tinha certeza se aquilo era amor, mas se não fosse, era bem melhor.

 

Era isso que lhe dava mais medo. Quando sentia o gosto do que realmente é ser feliz se mete naquela confusão. Morria de medo de não sentir aquilo outra vez. Não estava em pânico, mas morria de medo por ela e principalmente por ele.

 

Ouviu um barulho na porta que se abriu. Reconheceu a garota cabeluda que jogaram no canto do quarto-cela antes de trancarem a porta.

 

-Marina?

 

Marina (Lastimando) – Você também Carmem?

 

Carmem – O que fizeram com vocês cadê o resto da galera?

 

Marina – Pelo que entendi, eles vão ter que fazer uma tarefa pra liberar a gente...

 

Carmem – Eles?

 

Marina – O Cê, a Mô, a Maga, O Cascão e o Franja...

 

Carmem (Preocupada) – E o Jê?

 

Marina – Parece que a francesa prendeu ele no seu apê... Eles sabiam de tudo Carmem... Tudo...

 

Carmem (Com ódio) – Aquela vaca européia, se ela encostar um dedinho no Jê eu mato ela!!!

 

Marina fita Carmem surpresa. Dá uma olhada em volta do quarto.

 

-Aqui não tem janela? Uma passagem, alguma coisa desse tipo?- Perguntou impressionada.

 

Carmem – A única saída é aquela porta que entramos... – Percebeu que logo a outra vai se desesperar. Era inevitável. – Calma Marina...

 

A desenhista cai em um compulsivo choro enquanto soca a porta dando gritos de “Eu não quero morrer, eu não quero morrer!!!”

 

Sabia que tentar acalmá-la seria tempo perdido sentou-se controlando para não ter a mesma atitude da outra. Respirava fundo, usava todos os subterfúgios que sabia para não se inervar. Depois de alguns minutos o choro de Marina era mais controlado, a ex de Franja se sentava no chão, desolada, vazia. Pegou água mineral que Moacir tinha lhe trazido pela manhã e encheu um copo de plástico branco.

 

- Toma um pouco... – Entre soluços Marina sorvia o líquido, deslocou a cabeça e afundou-+se no ombro de Carmem que acomodava a garota chorosa. A menina loira não pode deixar de pensar.

 

“Só trancando a gente em um quarto escuro, sob ameaça de morte pra gente ser amigas” – E solto um esboço de um sorriso triste.  

 

                                                                          

 

                                                                                     X

 

 

 

-Oi Cebola, você aqui? – Perguntou Magali saindo de seu quarto, usando um pijama.

 

Cebola - Precisava falar com você... Sobre o Cascão...

 

Magali ( Enfurecida) – Não quero saber daquele garoto!!! Foi ele que te mandou aqui? Pois se foi diga a ele pra esquecer que eu existo!!!

 

Cebola – Não Magali não é isso é que...

 

Magali (Irritada) – Eu não quero escutar!!! Quer saber Cebola, me deixa sozinha!!!

 

Cebola (Apatetado) – Que?

 

 Magali – Não leve a mal, mas eu preciso ficar sozinha!!! – Vai até a porta da casa. – Por favor...

 

Cebola – Mas Maga...

 

Magali – Tchau Cebola... – Diz colocando o Troca Letras pra fora de casa. Fecha a porta.

 

Cebola – Mais uma babaca, não acledito!!!

 

                                                                                     X

 

 

 

Em sua casa, Mônica não conseguia tirar os olhos do relógio de parede da sala de sua casa. Contava o tempo para o dia seguinte. Desesperava-se só em pensar no que as meninas e Jeremias deviam estar passando. E temia também pela segurança dos que estavam parcialmente livres. Não confiava nem um pouco na palavra do Homem Sombra de libertarem após a entrega da mercadoria. E sentia-se mal fazendo uma coisa ilícita. Estava decidida. Assim que seus colegas estivessem em segurança.

 

Precisava de privacidade, foi para o quarto e deitou-se na cama. Agarrada ao seu inseparável coelho Sansão. Aqueles momentos terríveis dentro do clubinho não saiam de sua memória. Lembrava-se de como todos tinham sido fortemente abalados quando souberam da descoberta.

 

 Todos menos Cebola, que para sua surpresa parecia inatingível; olhando sempre Diego de frente, sem medo de encará-lo. Parecia até que o garoto tinha um triunfo contra o Homem Sombra. Cebola tinha chego animado, pronto para contar alguma coisa. O Troca Letras teria uma carta na manga? – Pergunta-se agarrada ao coelhinho azul. Nunca pensou em passar por isso, mas sentiu uma saudade enorme da época em que sua maior preocupação era em desfazer os nós que os garotos davam na orelha de Sansão.

 

 

 

                                                                                  X

 

 

 

- Cansou de ficar sozinho?

 

Jeremias – Não agüento mais de tanta agonia!!!

 

Amelie abre um sorriso para o garoto.

 

- Amanhã isso acaba... A tal Mônica como você mesmo disse é uma líder nata... Ninguém rebateu sua decisão em participar da entrega da mercadoria.

 

Jeremias – A Carmem? Ela esta bem?

 

Amelie – A patricinha não morreu por ficar um dia sem comer caviar... Não se preocupe garoto!!!  Amanhã depois da entrega você vai ver como ela ficou bem... Não esquenta Jê!!! – Lhe entrega uma quentinha. – É camarão, espero que você goste...

 

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- Esta sem apetite, filha? – Dona Luísa perguntou, observando a garota enrolar literalmente a macarronada que estava em sua frente. Podia perceber o pensamento longe. – Preocupada com o que?

 

Mônica – Nada não mãe, é dieta mesmo... – mentiu. – Com licença...

 

Saiu e foi dar uma volta na rua, ficaria doida se estivesse dentro de casa. Encontrou com Titi.

 

Titi – E aí Mônicat?!!! Que cara é essa?

 

Mônica – Umas coisas aí... E você tá de folga?

 

Titi – O seu Cornélio viajou e a Carmem graças a Deus deu uma sumida, os empregados se deram folga...

 

O nome do pai da garota iluminou a mente da dentuça. Seu Cornélio é claro. Ele era delegado de polícia. Ninguém melhor que ele pra lidar com a situação que estava passando. E ia tomar o maior cuidado ao saber que a filha corria perigo.

 

Mônica –Titi, me passa o celular do seu Cornélio?

 

Titi (Estranhando) – Pra que?

 

Mônica – Assunto particular, por favor...

 

Titi – Olha lá hein?! – Pega seu celular e salva o número no aparelho da garota que logo correu pra casa e ligou pro pai da menina loirinha. O homem apesar de ficar nervoso no começo com o ousado plano dos garotos se prontificou em ajudar a salvar a vida dos que corriam perigo, principalmente de sua filha.

 

Só depois de arrancar um sim de Cornélio Frufru que a garota dentuça conseguiu fechar os olhos e dormir. Estava exausta.

 

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O dia seguinte ignorou todos os problemas que passavam pelo bairro do Limoeiro e amanheceu ensolarado. Nas casa dos quatro e Franjinha um ritual parecido. Levantar da cama, tomar café se trocar e ficar esperando até a cinco da tarde. Jeremias, trancado no apartamento também fazia seu desjejum. No quarto cela, Marina e Carmem dividiam o colchão de casal. Estavam abatidas. A desenhista não conseguia pregar os olhos e Carmem tirava apenas pequenos cochilos e já sentia falta da luz do sol.

 

Marina – Não sei como você consegue manter a calma...

 

Carmem – Você que sempre foi a mais corajosa de nós duas, está com medo, alguém precisa manter a cabeça no lugar, não acha?

 

Marina – E você não tem medo?

 

Carmem – Claro que tenho... Eu não sou a Mulher Maravilha apesar de chegar perto baby...

 

Marina (Rindo) – Só você pra me fazer rir numa hora dessas...

 

Carmem (Também rindo) – Sabe, não é propriamente medo de morrer, mas medo de outras coisas...

 

Marina – Como nunca mais ver o Jê, por exemplo?

 

Carmem – Ele te contou alguma coisa?

 

Marina – Não... Mas eu sei que alguma coisa mudou os dois...

 

Carmem (Divertida) – E como você sabe disso?

 

Marina – Que eu também tenho esse mesmo medo de nunca mais ver o Franja...

 

Carmem (Confessando) – Depois que a gente se falou no telefone aquela noite o Jê me procurou... A gente acabou ficando...

 

Marina – E como foi?

 

Carmem (Sorrindo) – Delicioso...

 

Marina (Maliciosa) Hummmm... Então...

 

Carmem – Rolou ué... Você não é a menina mente aberta? E ele não foi o primeiro...

 

Marina – E aposto que nem o segundo... – As duas começam, a rir. – Continua vai!!!

 

Carmem – Eu nunca senti nada parecido com o que eu sinto quando to do lado dele. Tenho medo de perder isso, agora que a gente se entendeu...

 

Marina (Triste) – Que bom que vocês se entenderam né? Pelo menos no ultimo instante...

 

Carmem (Surpresa) – Não vai dizer que você ainda tá brigada com o Franja...

 

 Marina – Não é brigada... Mas agora que a gente tá separado, as coisas com meus pais melhoraram... Não sei se vale á pena voltar... Apesar da armação que teve, ele não podia desconfiar de mim...

 

Carmem – Eu nunca te pedi desculpa por isso...

 

Marina – Mas eu sei que você se arrependeu...

 

Carmem (Debochada) – Quem disse?

 

Marina (Divertida) – Não precisa disfarçar senhorita Frufru, eu sei que dentro desse corpinho nojento de tão lindo tem um coração bem lá no fundo...

 

As duas voltam a rir.

 

Carmem – E o lance das pinturas com seu pai, resolveu?

 

Marina – Ele tem aquela idéia que arte não dar dinheiro, me proibiu de frequentar o centro de Artes daqui do bairro... Não anda fácil não...

 

Carmem percebe a tristeza da garota, pega em sua mão.

 

Carmem – Hey, não tá na hora de cortar esse cordão umbilical não?

 

Marina – Mas Carmem...

 

Carmem – Eu sei que a minha vida com meus pais não é um mar de rosas... Mas eu fico com quem eu quero, eu que vou tomar a decisão do que fazer da minha vida... Você fala que não vale á pena ficar com o Franja porque você mente pro seus pais e mesmo assim ele desconfia de você... Mas vale a pena largar o cara que você ama, a vida que você escolheu por eles?

 

Marina – Mas são meus pais Carminha...   

 

Carmem – Pai e mãe criam os filhos pro mundo... Pra passar perrengue de dinheiro, pra se decepcionar com namorado, pra quebrar a cara, mas pra evoluir também... Olha tem uma hora que a lagarta tem que arrebentar o casulo pra virar borboleta e isso acontece mais cedo ou mais tarde e a gente não pode impedir que é lei da natureza... – Carmem nunca tinha sido tão limpa, em toda sua vida. – Mesmo que só tenha um dia de vida, a borboleta nasceu com asas pra voar... – Dá uma piscada pra outra. – Conselho de amiga!!!

 

Marina pensa um pouco depois repete.

 

- Amiga?

 

Carmem encara a outra sem graça e por fim acaba sorrindo.

 

-Eu sei que vou me arrepender disso depois, mas se você quiser...

 

As duas riem e findam a conversa em um abraço selando a nova cumplicidade. Separam quando ouvem um barulho na porta. Amelie entra com a bandeja de café da manhã nas mãos.

 

Amelie – É bom encontrarr as duas acorrdadas, preciso falarr com vocês...- Diz puxando os “erres” como de costume.

 

Carmem ( Com raiva) – O que?

 

Era a primeira vez que estavam frente a frente. Pareciam reflexos, nem uma das duas negaria. Marina assistia o encontro de escanteio. Até que Amelie, sem sotaque algum exclamou.

 

- Incrível mesmo, se me contassem eu não acreditaria.

 

Carmem e Marina se entreolham. Cadê o sotaque da francesa?   


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Notas finais do capítulo

Comentem!!! Bjos!!!

Um pedido especial pa vcs, passem na fic
Como posso amar meu mehlor amigo? do Pedro eu recomendo é uma ótima leitura, bjão!!!