Depois da noite incrivelmente maravilhosa que tiveram, acordaram com o sol nascendo. Ambos nus (o que era bem constrangedor), Perséfone deitada no peito do marido, ele a abraçando pela cintura e a mantendo perto de si. Não estava frio, era verão, mas havia um vento chato batendo contra eles. Se levantaram e se vestiram, não estavam em casa para se sentir assim tão a vontade.

Hades colocou seus braços envolta da cintura da mulher, por trás, essa que agora observava o nascer do sol.

–Durmiu bem? - Ele quebrou o silêncio, falando não muito alto ao lado do ouvido de Perséfone.

–O chão é bem duro, mas você é um ótimo travesseiro. Vou passar o dia com dor nas costas, mas valeu a pena. - O comentário o fez sorrir, ele apertou ela contra o seu corpo. - E você?

–Primeiramente, obrigado pelo.. elogio, sei que você ama dormir encostada no meu peito sedutor. - Ela riu e virou um pouco o pescoço para beijar os lábios do marido, depois voltou a observar o horizonte. - E sim, o chão definitivamente é duro, e prometo que da próxima vez eu trago um colchão. Mas sim, eu dormi bem. Foi bom te ter nos meus braços de novo. E você sabe que eu não gosto de dormir sozinho.

–Eu sei que você me ama e não vive sem mim, Lorde. - Ele se deixou gargalhar junto com ela, era uma piada interna deles, bem interna, e havia acontecido há muito tempo, quando ela nem era totalmente dele, no final da semana do sequestro dela. Podia fazer muitos éons, mas o corpo de Hades estremecia ao lembrar da primeira vez que ela o chamou de Lorde¹.

–Que bom que você sabe, rainha. - Ele disse, puxando a pela mão e levando até a carruagem. - Eu trouxe algumas coisas para café da manhã e..

–Hades, você..

–Não, amor.. - Ele calou os lábios dela com um beijo suave, a encostando na carruagem. - Eu preciso de você comigo..

–Ela não vai entender, Hades, você sabe como.. - A voz dela foi falhando até que ela não conseguisse mais falar, ele beijava seu pescoço docemente, passando uma das mãos pela extensão do lado do seu corpo e com a mão livre ele se apoiava na carruagem.

Cedendo às carícias do marido, Perséfone passou seus braços em volta do pescoço dele e o puxou para beijar seus lábios carnudos. Ela deixara que seus dedos se perdessem em meio aos cabelos negros dele, fazendo-o suspirar ao seu toque.

–Eu.. - Ele a beijou novamente. - Amo.. - Ele mordeu o lábio inferior dela e o puxou levemente para si. - Você.. - Ele sorriu e passou seus lábios pelo pescoço dela, indo parar na sua orelha, onde deu pequenas mordidas e lambidas carinhosas, fazendo Perséfone gemer baixo. O pequeno gemido dela o deu motivação para continuar, mas infelizmente quando ele havia puxado sua mulher e a grudara no seu corpo, uma voz muito conhecida por ambos os repreendeu.

–Acho que é a minha vez de roubá-la de você, mas ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão, certo? - Deméter continha um sorriso debochado no rosto, como se a agradasse o fato de ter estragado o clima entre eles.

–Você pode nos dar licença, querida irmã, eu estou namorando com a minha linda esposa.

–E eu vim buscar a minha filha, Hades. - O modo como a sogra disse o seu nome o fez tremer e se afastar um pouco de Perséfone. - Assim está melhor, já tiveram a noite juntos, se quer passar um tempo com ela, fale com Zeus, e fique no Olimpo.

–Eu? Haha, "odiado irmão, eu gostaria de permanecer em seu território para poderficar com a sua mais bela filha, se me deres permissão, é claro". - Disse isso com um tom de deboche, e depois fez uma voz diferente, imitando Zeus. - "Ah, óbvio que você pode ficar se pegando com a minha filha pelos corredores, não é como se nós nos odiássemos mortalmente mesmo".

Pelo incrível que pareça, Deméter riu, riu imaginando a cara de Zeus se Hades o perguntasse algo assim, e sua risada contagiou Perséfone, que acabou por fazer Hades rir, e logo eles três tiveram de respirar fundo e se acalmar umas duas ou três vezes, já que sempre que alguém terminava de rir, outro começava, reiniciando o ciclo.

Deméter notou que nunca haviam feito isso, os três juntos realmente rindo, sem ser um do outro (ignorando o fato de ser de Zeus). As risadas se encerraram com diversos "aiai" e, incrivelmente, Hades deu apenas um longo e apaixonado beijo em Perséfone antes de deixá-la ir. Já fora mais difícil. Deméter observou.

Perséfone, depois do beijo, andou até a mãe e a abraçou com ternura, e sem nenhum ressentimento, como se o fato de ter de partir não a incomodasse tanto, e não fizesse com que ela odiasse a mãe, por mais que nunca entenderia ao certo porque seis meses, e não três.. ou quinze dias de dois em dois meses.. Era melhor, não?

E elas partiram, do mesmo jeito que Deméter chegou, se desintegrando e se reintegrando no Olimpo. Deixando Hades sozinho, novamente. Quando ele soltou Perséfone, minutos atrás, ele sentiu seu coração sendo arrancado e partindo com ela, pois ele não conseguia sentir nada quando ela não estava por perto. Depois de fitar o lugar onde, na noite anterior, fizera "amor" com sua mulher, ele voltou para a carruagem e foi para casa, no Submundo, cuidar dos mortos, de novo.