Ele ia partir, essa era a ideia. Ia deixar ela livre, mas algo o impediu. Na verdade, alguém o impediu.

Assim que alcançou a saída, sentiu uma leve mão tocar seu ombro. Ele virou delicadamente, quase explodindo de felicidade, suas esperanças, que já estavam mortas, começaram a crescer dentro de si.

–E-e-eu... - Ela nãoo conseguia falar. Ela estava tão fraca, ele pode notar. Estava mais pálida do que deveria, seus olhos inchados e cabelos bagunçados. Ainda estava linda, mas frágil. O olhar de Hades se tornou mais preocupado assim que ele encontrou os machucados que ela trazia nos bra￧os, como se houvesse caído bastante.

–Você está bem? - Hades esqueceu tudo, só queria que ela estivesse bem. Ele levou suas mãos para o braço de Perséfone, cuidando para não encostar no machucado, apenas analisando-o. A deusa da Primavera assentiu, balançando fortemente a cabeça, lágrimas se lançando para todos os lados.

–Fi-fique... - Ela soluçava tão forte que era difícil de falar. Eles se olhavam nos olhos. - Eu... também nã-ão consigo viver sem você... - Os olhos de Hades brilhavam, suas lágrimas escorrendo sem freio. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios. - ...meu Rei.

Ele a beijou delicadamente, a abraçando e a puxando para perto de si.

–Eu amo você... - Ele disse, soando quase desesperado para mostrá-la que era verdade, fazê-la entender.

–Eu também amo você... - Ouvindo isso, Hades distribuiu diversos beijos no rosto de sua esposa, fazendo-a sorrir.

–Eu cheguei a conclusãoo de que você é dramática demais...

–Eu?! Que absurdo. Eu tenho meus motivos para fugir...

–Que são.... ?

–Ah... eu...

Hades sorriu e a beijou, não a faria explicar, ele não queria ouvir nada mais agora, apenas a respiração dela perto de seu corpo. Eles andavam lado a lado, em direção a parede do abismo.

–Hades...

–Sim?

–Eu tenho algo para te contar.

Perséfone engoliu em seco quando o marido parou e se virou para encará-la, sereno.

–E o que seria... ?

–Eu... eu estou grávida .

O coração de Hades parou, e se ele pudesse morrer, cairia morto naquele instante. Seu corpo gelou e seus olhos se arregalaram. Ele mal conseguia raciocinar direito.

–Grávida tipo... grávida?

–É... grávida tipo esperando-um-bebê.

–Meu? - Pergunta errada, Perséfone o deu um tapa na cara.

–Claro que é seu! - Perspefone parecia profundamente magoada.

–Não, não, querida, não foi isso que eu quis dizer, é só que eu... - Hades acariciou o rosto de Perséfone lentamente, afastando um pouco a cabeça para o caso de levar outro tapa.

–Eu sei, você não esperava por isso. Você nunca quis um filho meu...

Silêncio pairou entre eles. Hades não respondeu.

–Hades, eu não vou tirar esse filho - O rosto de Perséfone se tornou sombrio e sério, algo que não combinava com ela.

–Eu nunca a pediria tal coisa - Hades sorriu levemente, vendo a esposa fica ligeiramente confusa

–Mas...

–Eu sei o quanto você quer esse filho, eu sei o quanto você quer ser mãe e... talvez eu até seja um bom pai...

–Você vai ser um ótimo pai! - Perséfone disse, sorridente, e abraçou o marido, que retribuiu o abraço a pressionando bem forte contra si.

–Então foi por isso que você fugiu, porque estava... sensível?

Perséfone parou para pensar. Realmente fazia sentido. Ela havia agido por impulso, deixado a raiva subir à cabeça, e diz-se que as mulheres ficam vulneráveis e impulsivas quando estão grávidas... Perséfone não conseguiria imaginar sua própria mãe grávida, ela já era tão brava... iria ao extremo.

–Eu... acho que sim - Perséfone parecia tão confusa que Hades não pode conter um sorriso bobo.

–Saiba que você quase me matou, fugindo assim.

–Você é imortal.

–Nada me impede de morrer por dentro - Hades disse, melancólico, olhando para o chão. Perséfone sorriu, ainda que se sentisse um pouco culpada, e distribuiu vários beijos nos lábios do marido, fazendo-o sorrir e a abraçar.

–Me desculpe - Perséfone disse, assim que eles se afastaram um pouco. Os braços de Hades ainda a seguravam pela cintura, perto dele, mas havia espaço para que se olhassem nos olhos.

–Sou eu quem deve desculpas por aqui.

–Mas... por que? Você não fez nada, eu que fugi - Perséfone disse, com uma tristeza que doía em Hades estampada nos olhos.

–Você teve motivos.

–Motivos que não eram muito verdadeiros.

–Ninguém é culpado então.

–OK - A deusa sorriu, se aproximando do marido.

–OK - Ele respondeu com uma voz sexy, colando seus lábios nos dela, lentamente abrindo passagem por entre eles. Perséfone e Hades se beijaram lentamente, deixando que a saudade se esvaísse por completa, até que ouviram alguns passos e, logo depois, uma Deméter curiosa apareceu pela abertura da caverna.

–Minha filha! - Deméter correu até a filha, que se soltou de Hades e foi abraçar a mãe. - Você está bem, querida? Ele está bem? Você se alimentou direito?

–Sim, mãe, sim. E nós nem sabemos se é "ele" ou "ela".

–Tomara que seja um menino - Hades disse, distraído demais com os cachos que o cabelo de Perséfone formava nas pontas para notar que Poseidon havia chegado logo depois de Deméter.

–Pois eu acho que você daria um ótimo pai de menina... - Poseidon disse com um ar brincalhão, mesmo que fosse verdade.

–Assim como você, irmão - Hades revidou, o fitando.

–Hey, isso foi maldoso - De fato, havia sido. Poseidon nunca fora capaz de gerar mulheres, tinha apenas filhos homens. Hades lançou um olhar culpado, praticamente se desculpando com os olhos, e Poseidon sorriu novamente, se virando para Perséfone - Quer dizer que eu vou ganhar um novo sobrinho? Nhá. - (N/A: Awn, imaginei o lindo do Poseidon fazendo "nhááá", awn). Perséfone riu, recuando enquanto Poseidon tentava fazer cócegas nela. Ela recuou até bater em Hades, que a segurou pela cintura e, ao invés do que ela pensava, segurou seus braços para que Poseidon pudesse "torturá-la" lentamente.

Para quem olhava de longe, eles pareciam uma família feliz.