Pegamos um taxi, e Mike não parava de olhar para os lados. Ele parecia esperar que nos atacassem por todos os lados, pois sua cabeça não parecia parar quieta em um só lugar. Inclusive para cima, ele esperava que arrancassem o teto como no metrô.

-Porque ela estava atrás de mim?

- Você é uma semideusa. Os monstros sentem seu cheiro, e vem atrás de você para matar.

Saber que existiam vários monstros a solta querendo me matar não era nada animador, pode apostar.

Felizmente a  viagem foi tranquila. Nenhum monstro nos atacou novamente. Mike pediu para o taxista nos deixar em um lugar estranho. Não tinha nada lá, só mato. O taxista achou estranho, mas acho que como ele ficou com o troco, o dinheiro a mais o fez calar a boca para comentários sobre o que nós iriamos fazer naquele lugar.

O taxista foi embora e ficamos lá, parados no meio da estrada, no meio do nada.

- E então, o que estamos fazendo aqui ? Vamos ir andando a partir daqui ?

- Não. Nós chegamos.Venha.Subimos uma colina, e eu pude avistar uma árvore com algo dourado pendurado, não pensei muito no que era.

Mas, quando estavamos no meio da colina, o que Mike tanto esperava, aconteceu. Uma fúria aparaceu. Vinha voando, ainda tinha uma certa distância de nós, mas é claro que, com a velocidade que ela vinha, não ia dar tempo de atravesarmos a colina. Eu ia ter que lutar.

Mas, dessa vez, eu já sabia o que fazer. Avistei um árvore muito alta, a uns 10 metros abaixo. Estava perto. Era perfeita para o que eu pretendia fazer. Saí correndo em direção a ela, daria tempo.

- VOCÊ ENDOIDOU ? É PARA O OUTRO LADO, VAMOS.  É PARA O OUTRO LADO, TEMOS QUE CHEGAR LÁ. PRA ONDE VOCÊ ESTÁ INDO ? AH MEUS DEUSES, VOLTE AQUI !

Cheguei na árvore e comecei a escalar. A árvore era grande, e eu tinha que ter tempo para alcançar certa altura nela antes que a fúria chegasse até aqui, e ela já estava perto. Graças aos sítios que meu pai me levava nas férias de verão, eu tinha bastante prática com isso, então subi correndo. Parei em um dos galhos mais altos, e a fúria finalmente chegou.

 - Orra, mas que menina tola. Fugiu para uma árvore, quando eu posso voar.- Nunca vou me acostumar com a voz esganiçada desses bichos.

A espada que Mike me dera tinha se transformado em um anel depois que eu a tinha usado. Tirei ele da minha mão, e ele se transformou na espada novamente. Ela veio em minha direção.  

Não, eu não fugi, nem tentei lutar com ela em cima de uma árvore, fiz o que tinha planejado. No momento exato, enquanto ela vinha voando em minha direção, e estava a quatro metros abaixo de mim, eu saltei com a espada, caí por cima das costas dela, enfiando a espada no mesmo instante, e ela virou pó.

É claro que, como me atirei em cima dela enfiiando a espada, ela virou pó e eu fui direto para o chão. Parece que era o meu dia de se espatifar no chão, mas não posso reclamar: eu meio que fiz de propósito para conseguir derrotá-la. 

Eu já não estava no meu melhor estado antes de fazer isso, quer dizer, meus cabelos loiros estavam mais parecendo um monte de feno bagunçado. Meu arrastão rasgado, minha perna com um grande corte e muito sangue seco grudado, meu rosto também machudado,  mas agora estava pior. Aquela árvore era realmente muito grande. Eu devo ter caído uns 7 metros, estava no chão, com o corpo dolorido e os olhos fechados, pensando sériamente em ficar e tirar um cochilinho ali mesmo. Estava tão cansada depois desse dia cheio! Eu tinha ido para a escola, um louco tinha me tirado de lá falando loucuras, meu pai tinha morrido, eu tinha lutado com dois monstros e viajado pra um lugar estranho, e ainda não era nem a hora do almoço! Ai, eu estava com fome! 

- AH BIANCA, VOCÊ ME MATA DE PREOCUPAÇÃO! Mas tenho que admitir, o jeito que você matou aquela fúria fooi espetacular! Agora vamos, temos que ir pro acampamento antes que mais apareçam!

- Ah, já vou... epere eu descançar um pouco...

- Não, não posso. e se aparecerem mais monstros e você está nesse estado? Venha, eu te ajudo...

- OK, vamos. E EI, não! Me larga, eu vou levantar sozinha! - Eu estava toda dolorida, cansada, e como eu já disse, morrendo de fome, mas eu era MUITO orgulhosa. Eu me machuquei sozinha não é? Então também posso me levantar sozinha.

Com muito custo, subimos a colina.Chegando no topo, eu vi o acampamento. Era lindo!

- Te apresento sua nova casa - Disse Mike. O abracei. Finalmente eu ia ter alguma felicidade, tinha certeza que ia ser feliz ali. 

- Obrigada Mike, obrigada por em trazer até aqui.

Ele ficou surpreso e envergonhado. Acho que minhas atitudes fizeram ele pensar que eu o odiava, ou que não era capaz de ser gentil.

Fomos em direção a uma grande casa, e eu olhava encantada para tudo que havia ali. Os outros campistas também olhavam para nós, imagino que curiosos para saber quem era a novata. Ou simplesmente chocados com a minha aparência. Eu estava deplorável.

- Quíron, Senhor D., trouxe uma nova semideusa! - Mike falou. Já estavamos na casa, e ele flava com dois homens que eu não dava muita atenção. Estava mais preocupada em pensar em tudo aquilo que tinha acontecido essa manhã.

- Uma nova semideusa? Onde a encontrou ?  - Disse o cara de cadeira de rodas. O outro estava tão interessado na conversa quanto eu.

Nesse instante, chegaram três garotos a casa. Ou devo dizer 2 garotos e meio ? Um deles era como Mike, era metade bode, um sátiro.

-Mike, quanto tempo ! - disse o outro sátiro, parecendo muito animado.

- GROVER! PERCY! NICO! QUANTO TEMPO! VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR...

- Então você é escandaloso desse jeito com todo mundo? Pensei que só gritasse comigo. - Falei pela primeira vez desde que chegamos lá.

Não era a intenção, mas também não foi surpresa nenhuma que todos me encararem. As caras de surpresa, ah droga, por que eu não tinha ficado na minha mesmo ?

- Se você acha ele escandaloso, é por que você ainda não conhece o Grover. - Disse um dos garotos, um que tinha cabelos pretos e olhos incrivelmente verdes. Devia ter uns 18 anos.

- AH, Percy, qual é, eu não sou assim! - disse o sátiro, Grover, pelo que parecia - Mas Mike, você trouxe essa semideusa até aqui ? Foi um protetor pel primeira vez? Não houveram problemas ? O QUE HOUVE COM ELA  PARA ESTAR DESSE JEITO?- Grover parecia fascinado e curioso, vendo que era a primeira missão do amigo, parecia impressionado que tiivesse dado tudo certo.

Revirei os olhos para como ele se referiu a mim. eu estava bagunçada, ok, mas não era pra TANTO. Resolvi ignorar, eles iam falar sobre mim de qualquer jeito. Sentei em um murinho da varanda e me concentrei em brincar com os furinhos do meu arrastão, que estava rasgado e cheio de sangue. Arrastão arrastado.

- Bom, era o que estavamos tentando descobrir, antes dos três intrometidos chegarem e atrapalharem tudo. - Disse o outro homem, que parecia nem querer saber como eu cheguei ali, mas não perdeu a oportunidade de reclamar dos garotos. 

- Calma, Senhor D. Mas voltando, Mike, onde encontrou essa semideusa ? - Disse o homem de cadeiras de rodas. E, todos os olhares se voltaram para mim de novo. E percebi que permaneceriam até o fim da história dessa manhã.

- Na escola que frequentei esse ano.

- Na escola ? Mas Mike, você está lá vai fazer 1 ano, porque demorou tanto ?

- Bom, me desculpe, eu não percebi que ela era uma meio-sangue! Mas eu eu não tive culpa! Como eu ia adivinhar?  Todo mundo achava ela toda estranha com essas roupas, era uma excluida naquela escola! Não falava com ninguém, como eu ia detectar os sinais? Ela era totalmente isolada de tod...

- Obrigada pelos elogios, sátiro, mas acho que se soubessem do seu traseiro peludo, ia ser bem pior.  - O cortei.

Mike ficou indignado e tentava se explicar. O garoto que ainda não tinha se pronunciado deu risada. Tinha acabado de reparar nele direito. Ele devia ter uns 16 anos também. Cabelos e olhos negros.  Era muito bonito. Mas não foi isso que chamou minha atenção. Ele usava roupas pretas também, mesmo com esse calor.  Usava sinto de rebite e anel de caveira. E também parecia meio isolado dos outros, como eu. Ele parecia me analisar da mesma forma. 

Não notei que estava o encarando até Quíron, o cara de cadeiras de rodas, pigarrear chamando minha atenção.

- Erm, então, continuando, conte-nos a história de como chegaram até aqui, Mike. 

Desviei meus olhos na hora. Percy ria disfarçadamente. Voltei minha atenção para minha meia arrastão, enquanto Mike contava toda a história dessa manhã para todos.

Durante toda a história, o garoto me encarava com visível curiosidade e interesse. Mas eu não sabia direito, já que o máximo que eu arriscava eram pequenas olhadas rápidas.

Eles pareciam impressionados com a fora que matei a Fúria.- Sabe, não são muitos meio-sangues que conseguiriam pensar assim tão rápido...  Bom, tenho uma séria suspeita sobre quem seja sua mãe olimpiana, mas vamos esperar até  o jantar hoje a noite, quando você será determinada.

Não posso dizer que não estava curiosa para saber quem era minha mãe, mas na verdade eu não estava nem um pouco ansiosa. Ela nunca conviveu comigo, nunca me deu amor. Meu pai era minha família. Ele e só ele. Eu não me importava com quem fosse minha mãe.

Quíron levantou de sua cadeira de rodas, e bom, ele não era totalmente humano também. Era, como chamam mesmo? Um centauro.  Da cintura para baixo, ele era um cavalo. 

- Você é a primeira que não demonstra surpresa quando me vê assim pela primeira vez! - Disse Quíron.

- Bom, você não é a primeira bunda peluda que eu vejo hoje. 

- Porque você tem que ficar jogando isso na minha cara ? - Reclamou Mike.

- Não joguei na sua cara, estou falando com o Quíron, não com você.- Todos riram. 

- Eu devia ter te deixado lá ! Pra você morrer com as Fúrias! Ora, onde já se viu...

- Ah, sátiro, fica na paz aí, vai.

- Bom, detesto interromper a briguinha de vocês, mas esquecemos de nos apresentar formalmente. Sou Quíron.

- É, e eu sou Percy, prazer. Esse aqui é meu amigo bunda peluda também - Disse Percy, me dando a mão e apontando para o outro sátiro.

- Sou Grover, e EI, PERCY. Não fale assim de mim. Foi essa bunda peluda que te trouxe para o acampamento, ok ? - Disse, me dando a mão também e reclamando com o amigo.

- Tudo bem, me desculpe - Percy disse, rindo.

- Porque você também não pede desculpas? - Mike reclamou, de novo.

- Pare de reclamar, é uma honra ser chamado de bunda peluda por mim.-

E faltou eu, se me permite interromper a discução. - Eu estava tão concentrada em tirar o Mike do sério que tinha até me esquecido do garoto. Ou quase.- Sou Nico Di Angelo, muito prazer, senhorita. Ou devo dizer rebelde? - Estiquei minha mão para ele, para cumprimentá-lo como fiz com os outros, mas ele fez diferente. Pegou minha mão estendida e  e me puxou, me abraçou e beijou minha bochecha.

Ele me soltou, com um sorriso no rosto. Percy nos olhava com um olhar divertido, como se estivesse achando graça na situação toda. Eu estava um pouco envergonhada por causa da cena. Sabia que não tinha sido nada demais, era apenas um beijo na bochecha, mas o fato de SÓ ELE ter me cumprimentado desse jeito, e todo mundo estar prestando atenção em nós me deixava um pouco encabulada. Mas a expressão sugestiva no rosto de Percy definitivamente piorava isso.

Eu estava envergonhada para falar, mas tinha que tirar a atenção deles dessa cena, estavam todos nos encarando! Todos, claro, sem contar o Senhor D., que estava alheio a tudo que esteve acontecendo ali desde qu eu cheguei.

- Bom, erm, hm, então, onde eu vou dormir ?

- Ainda não sabemos. Há um chalé para os filhos de cada deus. Você vai ser determinada hoje no jantar e irá dividir um chalé  e praticar atividades com seus  meio-irmãos. - Explicou Quíron.

- Mas  como Quíron disse, já temos quase certeza de quem é a sua mãe. - Percy completou.

- É, ela com certeza vai com a Annabeth! - Disse Nico, que ainda sorria animado, olhando para mim.

-  E onde eu deixo minhas coisas até lá ? -Disse, apontando para minha mala, que Mike tinha feito o favor de trazer a viagem inteira para mim enquanto eu lutava contra monstros horríveis para salvar minha vida. Trabalho duro o dele de carregar a mala né? Tadinho.

- Você pode deixar na aqui na casa grande, se quiser. - Sugeriu Quíron.

- Não aconselho não. Alguém pode roubar, todo mundo tem acesso a essa casa. - Grover opinou.

-  Mas parece besteira levar todos os pertences para o chalé de Hermes, já que no jantar ela já vai ser determinada e vai mudar de chalé. - Disse Percy.

- Bom, se você quiser, pode guardar sua mala no meu chalé. - Nico ofereceu.

- Nico, você sabe muito bem que é proíbido dois campistas de sexo diferente e que não são irmãos ficarem sozinhos no mesmo chalé. - Alertou o Quíron.

Quase fiquei vermelha, o que ele achava que eu iria fazer lá dentro? 

- Não disse que ela iria, disse que a mala dela iria. - Nico disse, sem se deixar abalar.

- Bem, tudo bem então. Grover, você pode levar as coisas dela para o chalé de Nico ?  Mike deve estar cansado da viagem.

- Tudo bem. Até mais. - Grover pegou minha mala e saiu. 

- E você deve ir a enfermaria, curar esses machucados todos. Estão realmente ruins.

Nico franziu a testa. 

- É, não estão nada bons. Quer que eu te leve para a enfermaria?

- Ah, claro, obrigada.

- Sim, ela precisa de néctar. A propósito, você não nos disse seu nome. - Lembrou Quíron.

- AH, mil desculpas, tinha esquecido. É Bianca Durkey.

Nico, que parecia distraído na hora, disse:

- É o que?

- Meu nome é Bianca.

 A cara de Nico foi de surpresa a incredulidade. Vi tristeza em seus olhos, mas uma raiva incontestável em seu rosto.

- Tenho que ir - Virou-se e ia saindo quando Mike o lembrou:

- Mas você não ia levar Bianca para a enfermaria?

-Tenho outros compromissos mais importantes do que ficar passeando com uma menininha por ai. Tenho certeza de que ela pode se virar sozinha. - Disse, muito grosso, me encarando, só que dessa vez cheio de ódio.

- Sinto te avisar, mas você não me conhece e não é ninguém pra me chamar de menininha. Se quiser, vá. Eu não preciso de você. - Me defendi.  

O rosto dele estava tão sombrio que era de dar medo. Ele me encarou por mais alguns segundos e foi embora sem dizer nada.Ficamos um momento sem ninguém saber o que dizer. Tinha muita tensão no ar, e  eu não sabia o porque daquilo ter acontecido.

- Mike, você pode levar Bianca para a enfermaria ? - Disse Quíron, tentando quebrar a tensão, e ao mesmo tempo fingir que aquilo não tinha acontecido.

- Claro.

- Leve-a e vá descançar, você está precisando.

- Certo.

- Bianca, posso falar rapidinho com você ?  - Chamou Percy, indo em direção a um canto mais afastado.

- Ok. - O segui.

- Olhe, não fique com raiva do Nico, é só que... Bom, também não é culpa sua, é só que... Eu não posso te explicar, são coisas dele. Só prometa para mim que vai tentar não ficar com raiva dele. Ele é um cara legal.

- Prometo que vou pensar, diante das próximas atitudes dele. Para ter um amigo como você o defendendo, deve mesmo valer a pena. Obrigada por se preocupar.

- E obrigado por me ouvir. - Disse virando-se para todos. - E agora eu tenho que ir. Tenho que falar com Annabeth. Vejo vocês mais tarde.

Percy saiu e restaram apenas eu, Mike e Quíron.

- Mike, leve-a para a enfermaria para curar seus machucados e descançar. São 11 horas da manhã, acho que até o jantar ela já saiu de lá.

- Vamos, bumbum peludo, conclua sua missão. - Disse, e ri.

- Ora, vai mesmo ficar me chamando assim ?

- Claro! Mas não leve a mal. É um apelido carinhoso. Sou muito grata por você ter me trago até o acampamento. É o melhor sátiro de todos.

Ele abriu um sorriso imenso, e fomos andando até a enfermaria, conversando e rindo, enquanto eu fingia estar ótima.