Liverpool, 12 de Janeiro de 1946

Eu já estava com 21 anos e precisava terminar a escola. Marg contratou professores particulares para mim e eu consegui terminar os últimos 3 anos que faltavam em 4 meses. Fiz aulas de inglês, mas com o que eu sabia, eu conseguia me comunicar. Foi nessa época que eu conheci meu falecido marido.

Ele era um jornalista. Igual a papai. Ele era bonito, alto, forte. Tinha os olhos azuis da cor do céu e os cabelos loiros como ouro. Eu entrei pra Universidade no ano seguinte, em 1947. Entrei para o curso de literatura inglesa. Terminei 4 anos depois, sendo motivo de orgulho para Marg e Conrad. Foi nesse ano que me casei com Kevin.  Pena que eu não o amava do jeito que ele me amava. Eu ainda pensava em Stephan. Eu orava todas as noites para que Deus concedesse um lugar bom pra ele no céu. Numa noite, Kevin me disse.

- Aniela, eu te amo muito.

- Eu... Também. Mais eu tenho que me acostumar com a idéia.

- Eu sei... O soldado alemão...

- Kevin, olha, eu não quero te machucar. Você é uma excelente pessoa. Muito honesto, trabalhador e muito... Bonito também. Você não merece sofrer.

- Eu sei. Mais eu vou lutar por seu amor Aniela. Porque você é uma mulher muito dedicada. Muito boa.

Eu comecei a dar aulas de Literatura em um colégio pequeno no centro de Liverpool.  O salário dos professores naquela época era bom. Eu estava feliz com meus alunos.  Em 1950, tivemos nosso primeiro filho, Edward era um menino bonito e saudável. Parecia um boneco de tão lindo.

Liverpool, 14 de Abril de 2008

-Sabe, de vez em quando eu pegava a carta de Stephan e a relia. Quando via, já estava chorando.  Seu avô foi um homem muito bom pra mim Rose. Só que eu não o amei tanto quanto amei o seu avô Sophie. Eu e Kevin fomos felizes. Tivemos 4 filhos lindos e saudáveis, tivemos uma vida boa, com algumas brigas como todo casal, mas um respeitava o outro. Não era como é hoje, o marido trai a esposa, a esposa trai o marido. Nós tínhamos uma coisa que os casai de hoje deveriam buscar. Confiança. Ela é a base de todo o casamento. Sem ela, ele desaba.

- Nossa vovó! E pensar que você já passou por tudo isso de cabeça erguida... Você é muito sábia. A história de amor entre você e Stephan era tão linda... Não foi fácil suportar tudo isso não é mesmo?

- Não querida, não foi. Ser humilhada, estuprada, perder a família e o grande amor da minha vida não foi fácil. Agora estou eu aqui, velha demais para o amor... Ah!

- Nunca é tarde para amar Aniela. Disse Sophie. Eu volto para Berlim amanhã. Eu iria levar minha sobrinha, mas eu vou levar a senhora. Se quiser. A senhora quer ir ver meu avô?

- Minha filha, eu tenho 84 anos, eu não agüento viajar.

- É uma viajem curta. Por favor. Meu avô ficaria muito feliz em revê-la depois de tantos anos.

- Vai vovó. Vai reencontrar o verdadeiro amor de sua vida.

- Tudo bem eu vou.

- Isso! isso vovó!

- Calma Rose.

- Eu queria conhecê-lo. Ele parece ser um homem incrível.

- Ele é. Disse Sophie.

Fiquei tão ansiosa pra que o dia seguinte chegasse logo. Mal podia esperar pra abraçar Stephan, dizer o quanto eu senti saudades, o quanto eu o amo. Olha só uma velha de 84 anos falando em amor... Que ironia...

E eu que pensava que o livro de minha vida tinha terminado. Na verdade ele só estava começando.