Perfeito escrita por Chibi Midori


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

É uma fluffy curtinha que eu tive que escrever porque estou viciada nesse casal.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/186438/chapter/1

Eu não era bom o suficiente, de jeito nenhum. Para ser um ídolo, você precisa ser perfeito e eu não era. Ninguém gosta de um cara sério demais. Não, ídolos tem que ser carismáticos e alegres. Tem que transmitir felicidade e coisas boas para os seus fãs. Eu gostaria de transmitir coisas boas aos meus fãs... Se eu tivesse algum. Porque não eram meus fãs, mas sim de Hayato. Hayato e eu não podíamos ser considerados a mesma pessoa. Podia ser a minha voz ali, mas não era o que eu sentia. Não eram minhas músicas. Era apenas a minha voz sendo emprestada a outra pessoa a quem eu sinceramente desprezava.

Desprezava?

Não, não era essa a palavra. O que era então?

Irritava? Sem dúvidas. Eu tinha que me esforçar para promover outra pessoa, uma que nem existia, para início de conversa. Qualquer um no meu lugar se sentiria irritado. Eu odiava as letras vazias de Hayato, as coreografias estúpidas, as frases sem nenhum sentido que me mandavam soltar entre as músicas nos shows. Porque nenhuma das palavras de amor aos fãs que eu falava eram verdadeiras. Eu não tinha porquê amar os fãs de outra pessoa. Não fazia sentido.

Entristecia? Talvez. Eu lembrava de como, no começo, eu amava a música. Como o som certo podia tocar meu coração e me deixar feliz. Aquele era eu, o Ichinose Tokiya. Um cara que amava cantar mais que qualquer coisa, que podia colocar emoções sinceras em suas músicas, que podia tocar de verdade o coração dos outros com suas melodias. Aquele era meu verdadeiro eu. Eu não entrava em contato com ele há muito tempo. Eu estava perdendo o meu verdadeiro eu? Isso era realmente triste.

– Tokiya~ Estou entediado... Vamos nos divertir. - gemeu Ittoki.

Olhei para meu companheiro de quarto. Ele estava sentado de modo a equilibrar a cadeira em suas duas pernas traseiras, apoiando os pés na mesa e segurando um lápis entre os lábios. A imagem do tédio.
Se eu tivesse que competir com Ittoki na época em que fiz minha estréia... Eu venceria? Ittoki, ao contrário de mim, não precisava de nenhuma modificação. Ele era bonito, cantava bem e tinha uma boa personalidade. Ele era parecido com o Hayato. Ele seria um bom ídolo. Não importa quantos cantores bons nós tivéssemos na classe S... Eu achava que a competição daquele ano era do Ittoki. Minha confiança estava completamente abalada.

Invejava? É, talvez fosse essa a palavra. Eu invejava Hayato por poder ser um cantor de sucesso. Invejava Ittoki por ser do jeito que era. Se eu fosse sincero comigo mesmo, era por isso que eu estava sempre implicando com Ittoki... Porque eu o invejava. Não queria exatamente ser como ele... Apenas queria que as pessoas tivesse a facilidade de lidar comigo que tinham com ele.

– Tokiyaaaa....

– O que é? - suspirei.

– O que você está fazendo?

– Lendo.

Lendo, do latim: "Não converse comigo, idiota, estou ocupado".

– Ahn.... Do que fala o livro?

Esqueci que Ittoki não fala latim.

– Você não tem nada melhor pra fazer, Ittoki? - perguntei virando tranquilamente a página do livro.

Eu não tinha a menor ideia do que estava lendo. Estava sentado na minha cama há quase uma hora segurando o primeiro livro que apanhei na estante sem prestar atenção no que ele dizia. E o tempo todo Ittoki estivera quieto. Talvez ele tivesse quebrado algum tipo de recorde por passar tanto tempo sem falar.

– Ah, bem... Eu planejava jogar futebol, sabe? - Ittoki comentou - Mas o futebol furou.

Ele olhou com tristeza para a janela. Era menos que quatro da tarde, mas parecia ser tarde da noite, tão espessas eram as nuvens negras quem encobriam todo o céu. Chovia tão forte que não era possível escutar nada de fora do quarto. Ao contrário de Ittoki, eu gostava quando chovia. Eu gostava de quando estava frio e tranquilo.

Voltei a olhar para o livro e ignorar Ittoki. Pareceu que ele finalmente ia me deixar em paz quando...

– WAA!

Quase deixei cair o livro com a pancada que ouvi. Do outro lado do quarto, a cadeira de Ittoki finalmente havia se desequilibrado e derrubado-o no chão.

– Você está bem? - perguntei, alarmado, afinal ele tinha acabado de bater a cabeça.

– Estou, eu... Waa meu celular!

Ele levantou muito rápido para alguém que acabara de levar uma pancada e cambaleou para perto da mesa, onde parecia ter derrubado seu telefone. Ao abaixar-se para pegá-lo... Mais uma pancada. Ittoki endireitou-se com a mão na testa, que havia acabado de bater na quina da mesa.

– Aaaaai... - ele gemeu.

– Francamente! Como você pode ser tão desastrado?

Ele baixou a mão, sem graça. Vi um reflexo vermelho em sua mão e achei que ele tinha arrancado um tufo de cabelo até ver a mancha vermelha descendo pelo rosto de Ittoki.

– Meu Deus! - levantei imediatamente. - Você está sangrando!

– Hã? - ele tornou a encostar na testa e então olhou para os dedos com uma expressão de surpresa ao constatar que eu estava certo.

– Droga, você precisa ir à enfermaria!

– Aaaah, não posso. - Ele me olhou, parecendo ainda mais sem graça - Mais cedo eu caí e ralei o joelho quando eu estava andando com o Syo e fui para a enfermaria. A enfermeira saiu e provavelmente só volta amanhã.

Ele indicou o próprio joelho. A bermuda deixava ver uma raladura feia. Resisti ao impulso de soltar uma imprecação, mas não pude conter um suspiro de desgosto. Quem via ele dançando durante os ensaios não seria capaz de dizer que alguém tão elegante era capaz de ser tão desastrado. Isso também me irritava.

Ultimamente, tudo no Ittoki me irritava.

– Francamente. - pus as mãos na cintura - Sente na cama. Vou fazer um curativo pra você.

Surpreendentemente, ele me obedeceu sem dizer nada e aguardou sentado na minha cama enquanto eu procurava o kit de primeiros socorros no banheiro. Quando fui sentar de frente para ele, ele estava tentando limpar o sangue da bochecha com os dedos.

– Pare com isso, suas mãos não estão limpas. Você quer pegar uma infecção? - perguntei enquanto pegava uma pelota de algodão para limpar - Francamente. Você já é idiota e ainda sai batendo a cabeça por aí... Quer ficar retardado de vez?

– Que cruel, Tokiyaa...

Algo no jeito que ele dizia o meu nome também me deixava louco: Toki-i-ya. Não importa o que ele estivesse dizendo. Se ele dizia o meu nome, sua voz se tornava automaticamente manhosa. Ou era eu que ouvia assim?

– É, eu sou cruel. - respondi, sem emoção. - Sou frio, sério e pragmático. E vou continuar sendo assim por muito tempo.

Eu não podia evitar ser quem eu era. Já era ruim o suficiente mentir para as câmeras... Eu me recusava terminantemente a mentir também para o meu colega de quarto.

– Você está chateado, Tokiya?

– Huh?

– Você falou como se fossem defeitos horríveis... - Ele juntou as sobrancelhas. - E pareceu chateado com isso.

– Ah... Você não pode contar "cruel" como uma boa qualidade, pode?

– Não. - ele concordou - Mas você não é realmente cruel, cruel... No máximo de crueldade, sabe? Na verdade, você é muito gentil e confiável.

Eu estava um pouco incomodado, como se um caroço surgisse na minha garganta. Normalmente, as pessoas não enxergavam por trás da minha seriedade. Fiquei um pouco impaciente por Ittoki não ter apenas notado, mas também estava tentando me animar. Ele devia enxergar através de mim com tanta facilidade? Apertei o algodão contra a ferida.

– Ouch! Isso arde, Tokiya.

– Quem é gentil e confiável aqui? - resmunguei.

– Quem apareceu com um kit de primeiros socorros quando eu cortei a testa na quina da mesa? - ele devolveu.

Ponto para ele. Eu fiquei sem resposta, então concentrei-me em fazer o curativo, uma vez que o rosto dele finalmente estava limpo. Eu sabia, por experiência própria, que feridas na testa tendiam a sangrar muito e parecer piores do que eram, mas também estava preocupado com a pancada que ele tinha levado na nuca ao cair com a cadeira. Ele, entretanto, no lugar de se preocupar consigo mesmo, estava ali com aquele sorriso idiota.

– Mas sabe, Tokiya... Não são defeitos, são características. - ele continuou - Como eu, que estou sempre alegre, as vezes sou um pouquinho minimamente idiota e gosto de praticar esportes... Da mesma forma, você é sério, quieto, responsável e determinado. Todas essas características fazem parte de quem você é.

– Algumas pessoas acham que eu devia esconder essas características. - falei, sem pensar, em tom amargo.

– Mas é claro que não! - ele ficou mortalmente sério. - Você não deve nunca mudar pelos outros. Você é você, certo? Eu e mais um monte de pessoas gostam de você pelo que você é e, se você mudar por outra pessoa que não seja você mesmo, não vou querer mais ser seu amigo.

– Você está dizendo que gosta de um cara frio, sério, pragmático, cruel e responsável?

– É, basicamente isso.

Ele estava sendo sincero. Ittoki era o tipo de pessoa sincera e alegre que eu nunca poderia ser. Mas eu descobri que, se podia invejar, podia gostar disso nele. No fim, eu não detestava o Ittoki tanto quanto eu demonstrava. Eu não podia detestar alguém como ele. Terminei o curativo e, antes que pudesse me refrear, plantei um beijo em sua testa. Ele mal teve tempo de me olhar surpreso antes que eu esfregasse sua cabeça bagunçando mais ainda seu cabelo.

– Quem é o gentil e bonzinho agora, Otoya? - perguntei e em seguida lhe dei as costas - Vou dormir, dê o fora da minha cama.

– Dormir? São quatro da tarde!

– Dormir significa "Vá cuidar das suas coisas e me deixe em paz" se foi muito sutil pra você.

– Você não pode dormir ag... Ei, você acabou de me chamar de "Otoya"? Você nunca me chama de Otoya! Tokiya? Eeeei, ninguém dorme tão rápido assim... Você vai me ignorar sem nem me dar a oportunidade de agradecer por cuidar de mim? Retiro tudo o que eu disse de legal pra você. Você é mesmo muito cruel.

Não me virei e continuei deitado fingindo que já tinha conseguido dormir. Eu sorri. Não um sorriso largo e alegre como o de Hayato. Era apenas um sorriso sem separar os lábios, mas era um sorriso de Ichinose Tokiya. Para o Ittoki eu era apenas eu e ele me aceitava assim. De repente, notei que isso era o suficiente pra mim. Eu gostava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!