Debaixo Das Terras Sagradas escrita por Katty


Capítulo 20
Capítulo 19 - Culpa, miséria e dor.


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demoora >.
Acho que esse capítulo vcs vão gostar *o*
Ta no ponto de vista da Denachi, portanto lá vem merda UAHEUAHEUH'
Espeor que gostam :3



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Imprestável! A Katsugo é realmente imprestável! O Lucis sabe como sair do inferno, mas e o meu Lys? Ele não faz a mínima ideia!

E agora como a minha tia desapareceu, eu não sei fazer um portal pro inferno!

Ah já sei! Livro das sombraaas! Ele deve ter alguma coisa que preste.

Rumei para o quarto de Katsugo, mas não encontrei ninguém por lá, ela devia estar se divertindo por aí com Lucis. Que inveja!

Como não tenho respeito por ninguém mesmo, entrei em seu quarto e vasculhei as gavetas. Achei o livro em uma das gavetas de sua penteadeira. Assim como me lembrava era de um conto infantil, algo como a historia de uma lebre. Adoro carne de lebre...

Peguei o livro e comecei a folheá-lo, mas não havia nenhum feitiço. Que porcaria de livro era esse que não tem nenhum feitiço?

Depois de desferir alguns tapas na cara do livro, arranhei um pouco do latim tentando falar algo como abracadabra, mas nada aconteceu.

Joguei o livro para longe e o ouvi bater em alguma parede.

- Mas que chatice! Porque essa bosta não funciona?

- Talvez seja porque a inteligência não falou as palavras certas?

- Ah! Mammon não vem me importunar hoje está bem? Mas por acaso, você sabe de alguma coisa?

- Sim eu sei. A sua irmã tem toda a razão em te chamar de burra... Você é uma anta! A sua tia te ensinou, mas você simplesmente é relapsa de mais e não consegue prestar atenção em nada que não te ajude!- Disse Mammon irritado quase gritando comigo, no fundo, no fundo eu sei que ele me ama! Todos me amam!

- Está bem! Agora, me diga... O que eu tenho que falar? – Perguntei sem mais rodeios, revirando os olhos.

- Secreta Revelat.

Agora sim eu lembro! Tenho que falar isso com a mão encima do livro que aí muda o conteúdo! Ah, como sou perfeita! Minha memória é a melhor e eu sou muito poderosa e inteligente!

Finalmente consegui revelar os segredos do querido livro, em algum ponto daquele livro estúpido, que só sabia falar de ervas medicinais e feitiços de encanto, instruía como abrir o portal.

Assim como o dito, fiquei em minha forma demoníaca e com a ponta de minha pequena unha afiada rasguei o vento e assim abriu-se um portal negro. Entrei e segui em frente para tentar encontrar a alma perdida de meu servo.

O caminho era inteiramente negro, meus olhos ficaram doidos com tanta escuridão. Achei que devia estar indo para lugar nenhum, mas quando estava quase desistindo quando vi no final uma pequena porta dourada que ao me aproximar percebi ter mais de cinco metros de altura. Não precisei encostar nenhum dedo nela e esta já se abriu.

Isso realmente me assustou.

Uma luz laranja-avermelhada irradiou de dentro da sala que logo se revelou ter o chão totalmente negro. Fiquei um longo tempo olhando para ele, parecia um buraco negro e quanto mais eu olhava, mais parecia estar sendo abduzida para outra dimensão.

Quando finalmente despertei dos meus devaneios percebi um tapete vermelho fúnebre, e logo em seguida longas escadarias que por fim portavam seis pequenos tronos e no meio o maior de todos, cravejado em ônix. Por algum motivo me lembrava claramente Katsugo.

Dei de cara com a minha avó sentada justamente neste trono, a perna esquerda encima da direita cruzada e com um cálice negro em sua mão. Um vestido muito decotado e extremamente colado ao seu corpo, mostrando cada curva sua.

- Ora, ora! Sobreviveu minha querida? - Ouvi sua voz sinuosa brandiu em meus sensíveis ouvidos de ouro, era um pouco fina demais e parecia não sair de minha mente me dando dor de cabeça.

Ao seu lado vi dois servos segurando o que parecia ser um anjo. Ele estava sem uma asa, totalmente ferido e cansado. Percebi que um deles, o marmanjo moreno com olhos totalmente negros e aparência carrascal, pegou outro cálice e encheu do sangue que pingava da asa do anjo, apertou um pouco o grande machucado para que o sangue saísse rapidamente. Um urro fraco foi percebido por meus ouvidos.

- Sim, sobrevivi. Quanto a você, posso ver que faz bom proveito desses corpos que deveriam estar no outro plano. - Caminhei bravamente com a cabeça erguida. Meu vestido branco arrastando pelo chão, de fio fino e leve subia conforme o caimento do mesmo, preso a minha cintura por uma fita branca bordada com jóias douradas e apertando levemente meu pequeno busto, cobria com uma pequeníssima manga os meus ombros, deixando um pequeno vão para o meu pescoço. Um botão não abotoado e o outro provavelmente saiu enquanto estava dormindo.

- Sim, soube que sua querida irmã me mandou vários deles. Faço bom proveito dos corpos que para cá foram mandados. - Ouvia calmamente enquanto andava descalça indo de encontro ao grande lance de escadas. - Me conte, o que ela fez para que tantos fossem mandados para o inferno?

- Ela abriu um buraco no chão e jogou todos eles ali dentro, inclusive os nossos Chevaliers. - Respondi solícita, sem dar muita atenção para o que falava enquanto levantava a barra do vestido e subia os pequenos degraus.

- Ah sim! Lucis veio falar comigo e eu o deixei sair. Mas o Lys também esta aqui? - perguntou ela enquanto oferecia o trono ao seu lado para me sentar. Logo após recebi um cálice com o sangue do celestial e o mirei com certo nojo. - Pode beber, o sangue da asa de um celestial é delicioso.

Dei um pequeno gole e logo já o estava virando inteiro. Era realmente muito bom, não parecia com nada que já havia bebido. É certo que um pouco do aroma de canela estava impregnado ali, mas nada demais.

- Realmente muito bom! Mas como falava antes, sim o Lys esta aqui. Por isso vim buscá-lo... O Lucis conhece o inferno de cabo a rabo, mas e o Lys que até pouco tempo nem sabia que isso realmente existia?

Ouvi uma risada de minha avó enquanto esta acabava de dar um pequeno gole no sangue de aparência normal. Ouvi mais um urro vindo do celestial e pus meus olhos nele. Estava extremamente pálido, com seus olhos vermelhos contrastando com o azul puro de sua íris, braços e pernas acorrentados ao chão. Estava fraco e sua pele extremamente branca contrastava com a carne viva de algumas partes de seu corpo.

Estendi meu cálice para o servo e este o pegou para encher de sangue. Interessei-me ao ver que a asa já não tinha mais sangue nenhum, portanto agora iam tirando a asa direita. Dessa vez o grito de dor lambuzou meus ouvidos com sua tamanha sinfonia macabra, sorri cúmplice para o anjo que simplesmente abaixou a cabeça e deixou que seu corpo caísse no chão, não estava morto, ainda. Mas mesmo que morresse sua alma ou seria comida, ou seria tacada para o desespero infinito.

Recebi o cálice de volta e o beberiquei enquanto via outro anjo sendo trago.

O inferno parece um parque de diversões! Para cada lado que eu olhava mais dor e sofrimento para ser causado.

- Esta se divertindo? - Perguntou minha avó interessada nas emoções que eu esboçava.

- Muito. Mas você sabe onde esta o meu Lys? - Desconversei rapidamente.

- Não, mas Biloxir deve saber. - Ignorou completamente.

Eu iria perguntar outra coisa, mas fui interrompida pelo estrondo de uma das portas abrindo e batendo na parede de mármore branco que conforme a luz parecia ser vermelho. Um homem loiro de olhos azul-acinzentado, traços finos e boca bem delineada, usava uma camiseta branca amarrotada e desleixadamente aberta, deixando seu busto bem pouco definido, mas mesmo assim robusto, aparecer mesmo aparentando ser certinho com a camisa por dentro das calças. Um tipo de capa azul lhe cobria a parte esquerda do corpo enquanto este andava relativamente rápido de encontro ao trono.

Ao meu ver ele aparentava ser um celestial, mas estava andando normalmente no inferno, então como poderia ser um anjo?

- Rainha Nagai estou aqui a sua disposição. Finalmente consegui fugir do reino celestial, me perdoe pela demora. - Projetou-se firmemente naquela sala, o timbre de voz grosso me deixou mais interessada em sua conversa.

- Está perdoado. Deve ter sido realmente difícil fugir depois do que você fez Sora. - Respondeu Nagai enquanto se levantava do trono e descia as escadas, assim revelando uma enorme cauda em seu vestido que parecia mudar de cor conforme a iluminação.

Chegando ao solo, minha avó tocou-lhe a face e falou alguma coisa que não consegui distinguir de sussurros.

- Princesa Denachi? - Chamou-me um servo ao meu lado. Olhei-o instintivamente assim podendo observar suas feições serias e o nariz malfeito projetando-se do rosto acabado. Olheiras profundas e lábios ressecados denunciavam os maustratos que até mesmo um servo nosso era tratado. - Sou Biloxir, vim ajudá-la a encontrar o seu servo. Desculpe-me por minha aparência, tenho trabalhado sem descanso então não posso me projetar de forma certa.

- Sim, claro. Espero achá-lo logo e tratarei de conversar com minha avó para que você tenha o descanso necessário, está realmente horrível. - Mesmo que um descanso melhorasse sua aparência, não seria grande a melhora. Era perceptível que a feiúra dominava o homem que agora me esboçava um sorriso de dentes tortos e um pouco podres.

- Obrigado Alteza. Siga-me, por favor, precisarei de sua ajuda para identificá-lo. - Agradeceu agora se virando de costas para que o seguisse. Este vestia uma manta negra com as bordas queimadas.

Seguindo-o percebi que este abriu outro portal dentro do inferno, assim como eu fiz para vir para aqui, passei por ele e logo dei de cara com outro mundo. Não sei ao certo, mas pareciam que cinco estrelas como o sol brilhavam no céu. Algumas pareciam ser brancas, outras azuis e outras vermelhas. O calor era realmente notável, mas por eu ter sangue real pude notar nitidamente que nada me afetava. O fogo negro que brotava no chão parecia se curvar perante a mim abria espaço enquanto eu e o demônio a minha frente passávamos. Alguns demônios passavam por nós e assim que me viam, assustados se curvavam. Minha forma demoníaca realmente assustava, eu os encarava friamente com os olhos totalmente brancos e os caninos para fora, enquanto sorria solene. Os chifres em minha cabeça demonstravam o poder que eu tinha naquele local.

Ouvi alguns murmurando que eu era a princesa e logo ficavam alegres com a minha vinda ao subterrâneo. Percebiam que suas almas finalmente poderiam sair deste lugar e ir para o mundo, encarnar em corpos astrais e ter a vida terrena que todos sonham.

Bando de retardados. Não vim aqui salvar ninguém.

- Alteza, aqui estão os celestiais que foram jogados em massa há alguns séculos.

- Mas, o meio anjo que eu estou procurando chegou aqui ontem! - Respondi indignada. Como alguém poderia ser tão burro e não acatar as ordens de alguém tão superior como eu?

- Alteza, os dias mundanos são séculos no subterrâneo. - Retrucou calmamente.

- Ah, sim. Então ele deve estar aqui mesmo. – Eu já sabia disso, só estava brincando com ele. Sou suprema, tudo posso e tudo sei.

Assim que me virei pude observar varias figuras regozijando de dor, uns encima dos outros, todos feridos, alguns queimando e outros tentando tirar infinitas flechas de si, enquanto brotavam cada vez mais. Tive de passar por cima de alguns deles a procura do meu servo, não que eu me importe, só que era irritante ter de encostar-me aquelas criaturas, ainda mais usando o equilíbrio que não é o sentido mais apurado do meu corpo.

Mesmo procurando incansavelmente, não o achei em lugar nenhum. Perguntei para alguns demônios que estavam cuidando para que eles tivessem o tratamento adequado, principalmente tendo em vista que muitos daqueles demônios estavam ali porque foram mortos justamente por estes tipos de celestiais; e eles disseram que tinham o visto, mas que por ser um Serafim ele foi mandado para outro lugar.

- Se a senhora tivesse me dito que ele era um Serafim, já teríamos o localizado. - Resmungou o demônio ao meu lado.

- Quanta insolência! Olhe como me trata e, além disso, não fui criada estudando as normas do inferno e sim do céu, infelizmente. - Expliquei-me, mesmo que não tivesse que fazê-lo.

O demônio de desculpou e me explicou que os serafins eram mandados para outro lugar, pois mesmo no inferno conseguiam matar os demônios mais baixos, os que deveriam cuidar para que os anjos sofram. E então me explicou que mesmo ele sendo meio Serafim, provavelmente conseguira se recuperar rapidamente.

Este abriu outro portal e dessa vez a nova dimensão era totalmente escura, alguns pontos se projetavam e logo percebi que eram algumas lamparinas com fogo azul de outros demônios, desta vez pareciam melhor tratados.

Os demônios não têm a sua aparência definida, geralmente se usa a que foi lhe dada na sua vida terrena anterior a morte, para que haja certa semelhança e talvez melhor entendimento. Não são figuras horríveis de chifres e dentes enormes, de certo esta é a nossa forma de luta, mas não a verdadeira. Katsugo é um exemplo, ela em sua forma demoníaca fica extremamente perfeita, talvez seja pela conotação de sua alma que a transforma em um ser luxuriado.

Algumas tochas estavam pregadas as paredes para que o mínimo de luz necessária para a visão fosse usada, mesmo que alguns demônios como Biloxir tenham visão noturna; portas de ferro projetavam-se da parede e eu podia ouvir alguns poucos gritos vindo delas. Na verdade, poucas salas estavam sendo utilizadas, era raro se ver um Serafim sendo jogado de bandeja no inferno.

- Barão? Posso falar com o senhor? - Ouvi a voz esganiçada de Biloxir me despertar de meus entre tantos devaneios.

Olhei para frente e pude ver que Biloxir estava bem distante de mim, andei calmamente e quando estava chegando perto do mesmo senti seus olhos pairarem sobre mim.

- Alteza, este é o Barão Samael. - Introduziu-me o servo cordialmente.

- Muito prazer Samael. Acho que já ouvi o seu nome em algum lugar, com certeza deve ser alguém importante. - Sorri caprichadamente e recebi outro sorriso como resposta. Samael possuía cabelos castanho-médio cacheados e olhos verde-mar quase azuis. Era muito bonito e aparentava ter algo como uns vinte anos.

- É um enorme prazer conhecer a princesa, e ainda mais sendo reconhecido pela mesma. - Puxou minha mão e lhe deu um beijo depois me olhando promiscuo. Senti meu rosto esquentar, provavelmente agora estava extremamente rubro... Bem, não sei como meu corpo vai se portar estando no estado demoníaco. - Mas, poderia saber qual o seu nome e se não for muita coisa, qual das sete filhas você é?

- Não me perguntas nada demais... Sou Yamino Denachi, a primeira filha, avareza. - Respondi calorosamente, tirando minhas mãos do calor das suas.

- Imaginei que fosse a descendente de Mammon, consegui sentir a aura dele. - Comentou agora rindo abafado. Eu iria continuar a conversa, mas fui interrompida por Biloxir que perguntava por Lys. O quarto que nos foi indicado estava por sorte nesta mesma ala, alguns poucos metros a frente de onde estávamos.

Samael assumiu o posto de Biloxir, assim virando praticamente o meu guia turístico infernal.

Chegando a sala a porta se abriu automaticamente, revelando o meu Chevalier amarrado pelos pulsos e tornozelos, jogado ao chão com os cabelos sujos e bagunçados, as suas três únicas asas sangravam e este estava totalmente nú jogado no meio de um pentagrama cravado no chão. As linhas eram talhadas ao chão, assim deixando um vão para que um líquido preto fétido entrasse e formasse o desenho do pentagrama.

- Desculpe-me princesa, quando ele chegou aqui já estava sem as suas outras três asas. O incrível é que nem cicatriz e nem asas caídas ele tem do outro lado. - Disse o demônio intrigado.

- Ele é meio anjo, só nasceu com metade das asas de Serafim, agora tire-o daí. - Ordenei ríspida.

Samael sacou um cajado que ao fim tinha uma pena branca-azulada, muito parecida com a cor da penas das asas de meu servo, e passou pelo líquido preto, desfazendo cada linha de uma vez. A pena parecia sugar e limpar o local, o trabalho foi um pouco demorado.

- Lys? Lys? Acorde! Vamos acorde... Rápido! - Batia a palma da minha mão em seu rosto para lhe despertar. Percebi que Samael havia tirado as correntes de seu corpo e agora estava totalmente livre.

- Ele não vai acordar tão cedo, este lugar foi especialmente projetado para que os Serafins caíssem ao pesadelo profundo e interminável, tudo o que fazemos com seu corpo aqui fora, em seus sonhos é piorado centenas de milhares de vezes.

- Engenhoso, é um meio de mantê-los controlados durante toda a eternidade. Você sabe algum feitiço de cura? -

- Não senhora, poucos são os demônios que conseguem fazê-lo, além de não ser algo justamente da nossa natureza, os livros que ensinam são muito raros. - Respirou e soltou pesadamente como se algo estivesse perdido.

- Vou ter que voltar para o mundo humano... Minha irmã, a mais nova, Katsugo, sabe fazê-lo rapidamente. Parecia até fácil, mas eu fui tentar uma vez para curar a minha cutícula da unha do pé, mas acabei por aumentar o machucado. - Sorri cúmplice.

Ouvi a risada esganiçada de Samael que me fez rir junto com ele. Despedi-me do mesmo e abri um portal para o meu quarto levando o corpo pesado de Lys.

O pus em minha cama e o deixei ali mesmo, por hoje era suficiente, eu estava cansada e meu cérebro pedia descanso... Era muita informação para uma cabeça só.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews?