Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 25
Cap. XXV — Cure


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Eu espero que bem, por que eu definitivamente não estou. Como eu disse no capítulo anterior, esse será o último capítulo da fic e até agora ainda não me caiu a ficha que não vou mais escrever Running Away.
Foram maravilhosos oito meses com vocês, escrevendo sobre esse apocalipse zumbi e a reação dos meus amados personagens de Glee. Vou sentir muita falta daqui e eu espero honrá-los com esse capítulo assim como vocês me honraram nos últimos meses com seus reviews e recomendações. Muito obrigada MESMO por terem lido e, bem, vou deixar vocês com o capítulo e os vejo lá embaixo.
Dedico esse capítulo a todos que estão comigo desde o começo e espero que gostem dele da mesma forma que eu gostei de escrevê-lo.



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28 de Abril de 2012

Casa Nº18, Town Creek, TN

07:45 PM

— Vamos, Santana! — Quinn exclamou com raiva no andar de baixo da casa que dividiam. — Temos de nos encontrar com os garotos em cinco minutos!

Ela revirou os olhos, se jogando no sofá onde Rachel estava vendo mais uma vez Funny Girl. Hanna nunca deveria ter dado alta a Santana, Quinn pensou irritada. A última vez em que ela vira Santana e Brittany juntas fora na tarde anterior quando jogavam Monopoly. Quinn de certa forma agradecia por elas não fazerem tanto barulho quanto imaginava, pois certamente não teria conseguido dormir à noite.

Agora, faltava pouco tempo para a festa de Sean e as únicas que não estavam prontas era Brittany e Santana.

— Elas estão fazendo de novo, não estão? — perguntou Rachel, se esquecendo de acompanhar alguns versos de I’m The Greatest Star.

— Estão. — Quinn aninhou no colo de Rachel, tentando abaixar o vestido que usava. Antigamente os usava o tempo todo, mas isso era o passado. Seu guarda-roupa consistia principalmente de jeans e camisas flanelas. Desacostumara-se a ser “fofa e adorável”. — Droga, eu deveria ter queimado esse vestido antes de vir pra cá.

— Você está linda — elogiou Rachel, tirando a atenção do filme e a observando com um sorriso.

Rachel usava um vestido mais curto que o de Quinn, deixando à mostra suas pernas, para completo deleite — e ciúmes — da namorada. Hanna o emprestara depois de um discurso ditado por Sean sobre como a primeira impressão era importante.

Quinn não entendia porque eles tinham que se dar ao trabalho de ir a uma festa. O mundo estava acabando do lado de fora dos muros e a comunidade organizando uma comemoração pela chegada deles. Quinn tinha plena certeza de que muitos não tinham enfrentado nem sequer um terço do que eles tinham enfrentado.

Na sua mente, a comida e a energia usada na festa poderiam ser aproveitadas para pelo menos mais uma semana na comunidade. Tinha muitos planos para aquele local, mas infelizmente não poderia colocá-los em prática.

A não ser que aceitasse o cargo de capitã-júnior da brigada dali.

Ela pensara muito no assunto. Ser capitã a tornaria especial, não apenas mais uma entre a multidão. Ela poderia participar das reuniões, ficar ao lado de Sean e Hanna durante boa parte do dia, e ainda saber do que estava acontecendo nas pesquisas. Por outro lado, contudo, era muita responsabilidade. Quinn já lidara com tanto, que ultimamente só queria passar o resto dos dias roubando ao jogar Monopoly e abraçar a namorada quando quisesse.

Na festa, Sean lhe perguntaria o que tinha decidido, mas ela não sabia o que fazer. Pedir conselho à Rachel estava fora de questão — ela brigaria com Quinn por querer fazer tal loucura, ou então assumiria ela própria a posição de capitã. Ela geralmente fugiria para Santana, mas a melhor amiga estava em uma maratona sexual. Quinn teria de fazer sua própria decisão, sem nenhuma ajuda.

— Você acha que teremos mais chances aqui? — Rachel indagou de supetão, acariciando os cabelos de Quinn, mas prestando atenção no filme.

— Acho — respondeu Quinn sem pestanejar. — Hanna já visitou o laboratório, Sean tem plena certeza de que ela poderá curar os...

— Não isso — interrompeu a outra, franzindo a testa. — Nós. Eu e você. O grupo. Quanto tempo você acha que teremos até um incêndio acontecer ou alguém cometer suicídio ou...?

Uma lágrima desceu lentamente pela bochecha de Rachel. Quinn se levantou rapidamente e a limpou, abraçando a namorada de lado, se contendo para não chorar também. Havia tempo que não chorava. Nem ela ou Rachel derramavam uma lágrima fazia tempo. Quinn não sabia o que dizer para acalmar a garota.

Elas ficaram abraçadas por muito tempo. Fanny tinha conseguido um grande papel no filme quando Quinn finalmente soltou a namorada.

— Vai ficar tudo bem, Rach — ela murmurou. — O grupo vai ficar bem. Essa vai ser nossa última parada, eu prometo. O mundo que vivia não vai voltar, mas vamos criar um mundo novo. Um melhor e a salvo.

Rachel sorriu timidamente, porém, tinha sido um dos mais lindos que Quinn já vira. Quinn pegou em seu queixo e lhe deu um selinho de leve nos lábios.

— Eu te amo — ela disse, com a maior certeza que tivera na vida. — E te amo pra sempre.

— Eu também te amo — Rachel respondeu, corando furiosamente por causa da declaração inesperada. Sua expressão se transformou ao tirar os olhos de Quinn e colocá-los acima de seu ombro, irritada.

Quinn se virou e observou Santana e Brittany, paradas tímidas à porta da frente, fingindo que nada tivesse acontecido. As duas tinham o rosto vermelho e ofegante que fez Rachel dar uma risada, sem se conter. Quinn a acompanhou, o que fez Santana ficar mais vermelha.

Quinn se levantou, ainda rindo, puxando Rachel com ela. Rachel desligou a televisão, forçando para manter a expressão séria, e seguiu a namorada. Elas pararam na frente de Santana e Brittany, observando-as pela primeira vez desde a tarde anterior. As duas usavam vestidos de verão curtos e sapatilhas da mesma cor.

— Quem é vivo sempre aparece, não é, Santana? — disse Quinn com um sorriso maroto.

— E quem é morto também — retrucou Santana, parecendo voltar a ter seu humor ácido. Seu rosto não corava mais. — Vamos encontrar os outros.

Quinn ainda ria ao trancar a porta da casa.


28 de Abril de 2012

Casa Principal, Town Creek, TN

08:01 PM

Era, de fato, uma festa. Com bebidas, petiscos e alguém os servindo. Claramente, todos haviam sido convidados, e a Casa Principal estava cheia. Isso, no entanto, não impediu Sean de gritá-los da varanda dos fundos assim que os viu atravessar o portal principal.

— Eu não acredito — Rachel ouviu Sam dizer em voz alta, o que traduziu bem o que ela estava pensando.

A única festa que Rachel se lembrava de ter ido era uma que dera quando seus pais tinham viajado, mais de um ano antes. Do verão, ela conseguia recordar apenas dos momentos que tivera com Quinn; daí pra frente, tudo era um borrão até o dia em que acordara no hospital.

A realidade que aquela comunidade vivia era completamente alternativa à que tanto sofrera nos últimos meses. Eles ainda pensavam no mundo como o de antigamente, que os walkers não eram nada além de humanos mortos (e eram, mas de um modo muito mais assustador). O passado de quem um dia estivera fora daqueles muros parecia estar esquecido.

— Hanna! — Sean abraçou a garota ao se aproximar. O grupo permaneceu parado timidamente atrás dela, tal como na noite em que tinham chegado. — Agradeço muito que tenham vindo.

— Não é nada — respondeu Hanna sacudindo os ombros. — Nós tínhamos de honrá-lo de alguma forma.

Sean sorriu e balançou a cabeça veementemente, embora Rachel notasse que ele mal havia prestado atenção nas palavras dela. Olhava para os lados, obviamente procurando por alguém ou algo.

— O que vocês estão esperando?! — Sean perguntou de supetão, voltando a olhá-los. Santana pulou assustada com o grito do cientista. — Espalhem-se! Façam amizades, tratem de conhecer os outros, pois eles serão seus novos companheiros.

Rachel agarrou a mão de Quinn imediatamente. Ela era Rachel Berry, não havia razão para ter medo — ainda mais namorando Quinn Fabray —, mas tudo ali lhe assustava. A única pessoa que conhecera durante o inferno de Horn Springs fora Hanna, e conversar com ela tinha sido tão natural quanto falar com os antigos membros do Glee. Sua personalidade — a Rachel mandona e que todos achavam irritante — estava de volta e ela não queria assustar seus novos companheiros.

Mordeu o lábio, confusa, vendo que os olhos de Sean se moviam entre as expressões do grupo.

— Srta. Fabray, eu espero sua resposta — ele disse fitando Quinn profundamente.

Rachel lançou um olhar indagador à namorada, porém, a garota ficou com o rosto vermelho e não comentou nada. Hanna rapidamente os juntou com um aceno de mão de sussurrou:

— Vocês não precisam fazer isso... Vai ser difícil se adaptar, mas não precisam fazer isso agora...

Antes de Hanna terminar, contudo, Puck levantou a cabeça e riu a uma garota ruiva que acenava para ele animadamente.

— Com licença, meus amados amigos. — Ele fez Beth, no seu colo, acenar para a garota em resposta, se aproximando dela.

— Hanna, acho que podemos lidar com isso — comentou Sugar sorrindo. — Vá conversar com seu grupo de velhos nerds.

— Sugar! — ralhou Harmony, corando pela menina. — Eles são cientistas e podem nos ajudar a...

Sugar revirou os olhos e se afastou para pegar um copo de suco na mesa onde estavam os comes e bebes, com Harmony, ainda gritando com ela, em seu encalço.

Hanna olhou para os restantes, desconcertada. Sam lhe ofereceu um sorriso simpático.

— Bem... — ela disse, dando de ombros — façam o que quiserem.

Rachel largou a mão de Quinn e correu para fora da casa.

Ela não sabia o que era, mas não se sentia confortável com aquilo tudo. Naquele momento, walkers estavam rondando os muros do local e eles estavam ali, numa festa. Era inacreditável. Sim, ela fora a principal organizadora do casamento de Santana e Brittany, mas ela sabia dos perigos que cercavam a casa onde viviam. Ali era o contrário.

Rachel sentou na escadinha da porta da frente e enfiou a cabeça entre os joelhos. Ela sentiu vontade de chorar, mesmo tendo derramado algumas lágrimas momentos antes no colo de Quinn. Ali, ela tinha toda a liberdade do mundo para chorar, para não ser um dos elos mais forte entre eles. Mas ela não queria isso.

Em todos os lugares daquela casa, havia gente comentando sobre o tempo, sobre um cano estourado, sobre querer arranjar um namorado. Rachel não conseguia compreender porque ignorar o mundo lá fora, por que pensar que tudo continuava a mesma coisa e...

— Ei. — A voz de Quinn acabou com seus devaneios. Ela ergueu a cabeça em tempo de ver a namorada sentar ao seu lado na escada. — O que foi com você?

— Eles não sabem de nada — ela disse soturnamente, voltando a enfiar a cabeça entre as pernas. Rachel sentiu a mão de Quinn em suas costas, mas não se moveu. — O povo daqui mal viu um errante, sequer sabem o que os cientistas pesquisam.

— Nós também não sabíamos, até conhecermos Hanna — disse Quinn gentilmente. — O que houve, Rach? — ela indagou outra vez.

— Eles são a Rachel de dois meses atrás — ela disse, erguendo a cabeça novamente. A verdade a assustava. — Quero dizer, a Rachel que pouco sabia e que não fazia nada para ajudar.

— Você fazia muito por nós... — tentou dizer Quinn, mas Rachel a interrompeu, irritada:

— Nós duas sabemos que eu era um lixo com uma arma; com um facão então, nem se fala. O incêndio foi o que me fez acordar, me fez ver o perigo que estávamos enfrentando.

E perder Quinn, uma voz disse dentro de sua cabeça. O simples pensamento de perder sua namorada era o suficiente para deixá-la sem dormir por dias. Durante o incêndio na mansão de Sam, tudo o que ela queria era salvar seus amigos e ir correndo a Nashville e conferir se sua namorada estava bem. Era o que a tinha feito tornar tão determinada e violenta. Rachel não podia ficar sem Quinn novamente, não podia.

— Você melhorou — falou Quinn. — Por que eles não haverão de melhorar?

— Quinn, eles não sabem de nada! — Rachel repetiu, agarrando a gola do vestido da namorada e a fazendo olhá-la. — Nem um décimo do que sabemos, e você sabe que cientistas escondem muito mais de nós.

— Rachel, acalme-se — Quinn falou em um tom tranquilizador, se soltando delicadamente da namorada. Ela respirou fundo e disse: — Há uma razão pra isso. Nos tempos antigos, o governo escondia sempre dos ditos “humanos normais”. Agora não é diferente.

Rachel caiu de braços cruzados na escada e bufou, irritada. Pelo canto do olhou, observou Quinn franzir os lábios para conter a risada. Ela não estava sendo nem um pouco hilária naquele surto, pensou. Por que Quinn tinha que ver graça em tudo?

— Meu amor, lembra-se do dia em que eu te tirei do hospital? — ela indagou mansamente, fazendo desenhos nas costas de Rachel com os dedos.

Rachel murmurou um sim contido, puxando a outra mão dela e a colocou entre as suas. De alguma forma, estavam abraçadas em frente à porta da casa de Sean. O calor de Quinn impedia Rachel de pensar nas pessoas leigas que haviam lá dentro.

— No dia seguinte, eu disse que faria de tudo para lhe proteger — continuou ela, afagando as costas de Rachel. — Desde aquele dia, tentei o máximo que pude e consegui.

— Aonde quer chegar com isso? — Rachel perguntou, arqueando a sobrancelha. Quinn adorava contar aquela estória, de novo e de novo.

— Talvez, hoje, seja o dia que nós poderemos finalmente parar de se preocupar com isso.

Rachel ergueu os olhos para Quinn, confusa.

— Esqueça o povo da Comunidade, esqueça Hanna e os cientistas e seus avanços nas pesquisas. Se nós mantivermos aqui seguro, eu vou ter finalmente cumprido minha promessa. Terei cuidado de você...

Quinn acariciou o rosto de Rachel com delicadeza, esperando ela completar a frase.

—... o caminho todo até a felicidade — Rachel concluiu, sentindo os olhos se encherem de lágrimas. Não eram as palavras corretas que a namorada dissera um dia, porém eram parecidas — ou pelo menos um tanto mais poéticas.

Rachel beijou a namorada ternamente, se deixando englobar num abraço apertado.

— Eu te amo — Rachel disse, pela segunda vez naquela noite; sua cabeça recostava no ombro dela, os braços enrolados em sua cintura.

— Também te amo, meu amor. — Rachel achava completamente injusto Quinn ficar lhe chamando de “meu amor” o tempo inteiro; fazia seu coração derreter completamente. — Mas levante-se. Vamos entrar e nos socializar.

Quinn deu um sorriso tão bonito que foi impossível dizer não.


28 de Abril de 2012

Casa Principal, Town Creek, TN

11:16 PM

Sugar observava de longe Harmony conversar com alguns garotos mais velhos com os olhos fixados na garota. Ela queria ir lá, impedi-los de se aproximar mais um passo da sua namorada, mas parecia-lhe bem mais sensato apenas fitá-los de longe. Além disso, não tinha sua arma.

A festa de Sean estava indo alegremente. Ela vira Rachel e Quinn a um canto, parecendo discutir aos sussurros. Sequer faziam tentativas de se comunicar com as outras pessoas do condomínio. Puck e a garota ruiva que conhecera, Dany, estavam no segundo andar em uma sala só para a garotada da comunidade. Aparentemente, Puck e ela estavam se divertindo mais que Beth e as outras crianças.

Brittany e Santana tinham sumido novamente, provavelmente de volta à casa de número 18 para mais uma sessão de sexo. Sam e Hanna também não estavam à vista. Sobrava a ela observar Harmony e os seus pretendentes. Sugar não queria se socializar com ninguém. Ela queria a sua namorada em seus braços, e não conversando com um bando de estranhos.

Ela não fazia o tipo ciumento; na verdade, jamais tivera algo para sentir ciúmes. Não encarava Harmony como uma propriedade, contudo. Ela apenas pensava que teria uma companhia naquela experiência nova e estranha que era se enturmar com duzentas pessoas ao mesmo tempo.

Seus olhos encontraram os de Harmony por um instante. Sugar a olhou apaixonadamente, abrindo um sorriso e acenando estupidamente. Harmony retribuiu com uma risada. Um dos garotos — um forte, alto e com olhos muito verdes — franziu a testa para Harmony e perguntou a quem ela acenara. A garota apontou orgulhosamente para Sugar.

Sugar sequer sabia como as coisas tinham chegado àquele ponto. Em um minuto, estava conversando com Hanna e Sam; no outro, Sugar já se encontrava sozinha e Harmony rodeada de garotos.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Harmony, ao despedir-se dos garotos e se aproximar de Sugar. Ela pegou sua mão e deu-lhe à garota um sorriso. — Hanna disse para nos enturmar.

— Eu sei... — Sugar puxou Harmony para mais perto de si. Ainda podia ver os garotos as observando de longe. — Mas eu não sou boa em me socializar.

Harmony, que tomava um gole de suco, começou a rir e espirrou o líquido todo em Sugar. A garota lançou-lhe um olhar irritado, pedindo a uma mulher, que vira toda a cena, um pano.

— Você não sabe se socializar? — Harmony indagou ironicamente enquanto Sugar se limpava. O vestido que usava era “novo”, e agora por culpa de Harmony, teria de passar um bom tempo na lavanderia. — Por favor Sugar, pare de mentir.

— Não estou mentindo! — retrucou a outra, pisando forte. Odiava quando as pessoas lhe contradiziam quando não sabiam da verdade. — Eu nem sei se deveria ter vivido esse tempo todo. Eu deveria ter morrido em Lima como os outros.

Ela nunca dissera aquilo para ninguém antes. Até ali, ninguém se dizia merecedor de seu segredo. Mas ela e Harmony tinham passado por muito juntas. Perderam os pais, o melhor amigo irlandês, e mais todo o resto que todo mundo costumava reclamar. Sugar fitou profundamente os olhos azuis e confusos de Harmony por longos minutos até dizer:

— É uma grande história. — Sugar puxou Harmony para fora da sala de estar lotada de pessoas e a fez sentar em um dos banquinhos do lado de fora da casa. As ruas estavam silenciosas. — Você não conhecia o grupo que a gente estava. Só de nome.

— Competi com vocês no ano passado, antes disso tudo acontecer, não se lembra? — Harmony comentou. Sugar tentou se recordar, mas a lembrança não lhe veio à mente. Qualquer coisa antes do apocalipse lhe era estranha, como um sonho antigo. — Depois que meus pais se, hum, se mataram, eu corri para o único lugar onde eu sabia que teria abrigo. McKinley High.

— Mas a escola estava sitiada. — Sugar se lembrava disso. Schue e Sue tinham trancando os garotos e trabalhadores, incluindo o diretor Figgins, zumbis ali. O Glee, e mais algumas Cheerios, permaneceram na casa dos Fabray. — Sam a encontrou, não foi?

— Foi. Quando vocês estavam prestes a vir para cá. — Harmony sorriu, apertando a mão de Sugar contra as suas. — Eu tinha perdido a esperança de viver. Ele foi gentil e não tentou me matar ou me estuprar. Vocês todos foram gentis, mesmo com o mundo e a comida acabando.

— Você retribuiu a gentileza — retrucou Sugar, tocando de leve o ombro da garota, recordando-se das vezes em que baratas se atreviam a entrar em seu banheiro ou no seu quarto em Horn Springs. Harmony se prontificara a matá-las todas.

Sugar mordeu o lábio e olhou para Harmony, dando-lhe um beijo demorado. As mãos de Sugar passaram pelas costas da outra garota e o beijo se tornou mais violento. Nenhum barulho havia do lado de fora, a exceção dos gemidos desesperados das duas. Harmony mordiscou-lhe o lábio com um sorrisinho maroto, puxando-lhe os cabelos, pressionando sua boca contra a da garota loucamente.

— Oh — alguém disse audivelmente, fazendo Sugar empurrar sua namorada para longe. Ela sentou-se no banquinho ereta e viu quem era à porta da casa de Sean: um dos admiradores de Harmony. Sua cara se fechou na hora.

— Jack. — Harmony abriu um sorriso tímido. Sugar abraçou a namorada pela cintura firmemente. — E-eu...

— Não diga nada — Jack disse abanando a mão displicentemente. — Dava para ver no modo como ela te olhava que vocês não eram, tipo, amigas. Tentei falar para Trent isso, mas ele não acreditou. Vim para tirar a prova.

O rosto de Harmony atingiu um tom de rosa que quase não se viu à luz da lua. Sugar apertou mais a cintura da garota ao ver que o garoto não saíra do lugar onde estava. Parecia encará-las com certo respeito e uma sombra de sorriso no rosto.

— O que foi? — indagou Sugar, achando que dois minutos fitando Harmony sem desviar o olhar, para uma pessoa qualquer que não fosse ela própria, estranho demais.

— É o m-meu pai. — Jack abaixou os olhos e encarou seus tênis. — Ele é gay, sabia? Mas o companheiro dele morreu na confusão que o mundo se tornou. Os dois jamais se casaram, pelo menos não perante a Deus. O governo nunca liberou os dois para poderem casar numa igreja. Vendo vocês me faz lembrar os dois. — Ele ergueu a cabeça e sorriu. — Boa sorte com tudo.

Jack entrou na Casa Principal novamente. Harmony olhou para a namorada, a sobrancelha arqueada e um sorriso plantado no rosto. Ela beijou-lhe os lábios novamente. Sugar estava muito impressionada com a história de Jack para poder falar algo ou negar o beijo de Harmony.

— Eu te amo — disse Harmony em um sussurro fraco, deitando a cabeça no ombro de Sugar.

— Eu também te amo — Sugar respondeu.

Era a primeira vez que as duas não se insultavam depois de uma demonstração de amor.


28 de Abril de 2012

Casa Principal, Town Creek, TN

11:30 PM

— Ei — chamou Sam mansamente. Hanna se virou e o encontrou com dois copos de suco na mão. — Tudo bem?

Hanna acenou com a cabeça que sim e aceitou o copo do garoto, o olhando desconcertada. Fazia meses que ela só tomava água e bebidas, de vez em quando. O gosto do suco de laranja era completamente novo a ela.

A Casa Principal tinha uma sacada no segundo andar, reservada a Sean e seus projetos do laboratório. Ela ficava logo à frente da sala de estar do andar, e dali dava para ver todo o condomínio. Não era tão alto, mas Hanna não precisava de muito para observar as luzes piscando na rua principal.

Ela adorava aquela atmosfera. O verão estava chegando, e Hanna sentia o ar do local se transformar lentamente. A brisa leve balançava seus cabelos loiros tranquilamente, e lhe dava uma estranha calma. Ela olhou para Sam, ao seu lado, tomando seu suco calmamente, e sorriu. O garoto sabia, mas ele nunca entenderia de verdade o quanto ela devia sua vida a ele.

— O laboratório é legal? — perguntou Sam, sem saber o que dizer.

Hanna abaixou os olhos, escondendo outro sorriso, e respondeu:

— É a coisa mais legal do mundo. Acho que posso arranjar a cura, se ainda não for tarde demais.

— Nunca é tarde demais — disse Sam rapidamente. Ela ergueu os olhos e encontrou o garoto a fitando com o melhor de seus sorrisos. — Quero dizer... Nossas oportunidades são poucas e...

Hanna deixou o copo de suco que mal tocara nas ameias e pulou nos braços de Sam, dando-lhe um beijo apaixonado. No começo, Hanna pensara que ficar com Sam era apenas conveniência. Ele não sabia sua estória, mas sabia que tinha perdido alguém importante, tal como ele. O medo a impediu de continuar, contudo; ela não queria vê-lo morrer em seus braços.

Mas aqueles garotos, e Sam, se provaram dignos. Do quê, Hanna não sabia, mas eles eram dignos. Fortes. Sem Sam, ela estaria morta há muito tempo, e sabe se lá o que teria acontecido com o grupo. Talvez os que haviam morrido ainda estariam vivos. Talvez Sam continuasse com Mercedes e Rory ainda estaria tendo ciúmes de Quinn com Rachel. Ela sinceramente não sabia.

Ela estava agradecida por não saber, de certa forma. Germantown se provou confiável (depois do desastre com Joe e Rachel) e eles, agora, caminhavam juntos para um final feliz — pelo menos era o que Hanna esperava.

Ao se soltarem, ela estava ofegante. Os olhos verdes de Sam eram ainda mais lindos à luz da lua. As mãos de Sam entrelaçaram em sua cintura e ela descansou a cabeça em seu ombro, observando Harmony e Sugar (mesmo de longe sabia que eram elas) sentadas num banquinho próximo à Casa Principal.

— Sean me disse que posso servir de ajuda — disse Sam, quando o silêncio se tornou uma constante. Mesmo muitos minutos mais tarde, com Harmony e Sugar já de volta a Casa, Sam e Hanna continuavam na sua própria bolha, abraçados um contra o outro. — Cada um de nós há de ter um papel importante na comunidade, ele disse.

Hanna sabia disso. Sam poderia ajudar Quinn na patrulha, se ela já tivesse aceitado o cargo, ou cuidar das crianças como Puck — Hanna conhecia a facilidade com o garoto com os menores. Sam poderia fazer o que quisesse; se pelo menos estivesse na grade de Sean.

— Nós vamos ser felizes aqui — ele disse, mas não passou de um murmúrio, como se estivesse tentando convencer mais a si do que ela.

— Vamos — Hanna concordou, aninhando-se mais no peito dele. — Nós vamos, sim.


28 de Abril de 2012

Casa Nº18, Town Creek, TN

11:43 PM

O irmão de Dany era louco.

Não louco no pior sentido da palavra, mas louco no sentido de um garoto extremamente bagunceiro. Aquela era a quarta vez que Puck saía da sala onde as crianças estavam na Casa Principal para buscá-lo entre os adultos. O garoto tinha dez anos, mas se comportava pior que Beth.

Ele sequer tinha certeza por que estava passando a noite da festa com um bando de crianças bagunceiras, iradas e loucas. Dany somente o perguntara se queria e ele aceitara. Sem piscar e sem perceber o quão burro fora ao não recusar a proposta. Alguma coisa na voz da menina o fazia perder a razão.

Encontrou Brittany e Santana conversando pacificamente com os cientistas do antigo CDC. Pensou em parar e perguntar onde o irmão de Dany estava, mas as garotas não o conheciam, então seria inútil. Puck também olhou de relance Sam e Hanna na varanda do segundo andar, mas sabia também que seria inútil perguntá-los, além de interromper o momento do casal.

— Quinn! — ele exclamou ao ver a garota e Rachel batendo papo com dois homens mais velhos. Quinn o vira levando irmão de Dany pelo braço alguns minutos antes. A garota o conheceria. Os quatro pareciam animados e um dos homens limpava as lágrimas de riso das bochechas.

— Puckerman! — cumprimentou Quinn de volta, acenando para ele. — Venha aqui! Estamos conversando com os doutores...

— Jett e Louis — disse o mais velho, apontando para si ao dizer o primeiro nome. Era alto e de cabelos brancos.

Puck chegou até eles, mas não se apresentou formalmente. Quinn o olhava, preocupada. Sabia que algo lhe afligia. Rachel bebeu mais um gole de seu suco, trocando olhares divertidos com Louis, de olhos muito azuis. Puck se perguntou como Quinn ainda não o tinha esmurrado.

— Estou procurando Kurt — disse Puck sem fôlego.

Quinn franziu a testa para ele. Rachel parou com os flertes com o rapaz mais novo e o olhou, aterrorizada. Pensava que estava falando do amigo do Glee, ele concluiu. Mas aquele Kurt, assim como a metade do Glee Club, estava morto. Ele ouvira a estória que Santana contara um dia, que parecia estar em outro passado, assim que chegaram à fazenda de Sam em Horn Springs.

— O irmão de Dany? — perguntou Jett. Aparentemente, o silêncio constrangedor e a troca de olhares entre Puck, Quinn e Rachel não foi notada por eles. Puck assentiu com a cabeça. — Aquele menino é uma peste. Sempre se perde por aí. Deve estar planejando pregar uma peça em você. Tome cuidado.

Puck assentiu novamente, se afastando dos quatro. Ele olhou ao redor, procurando alguém pelo menos uma cabeça abaixo dos demais, e não encontrou nada. Suspirou, cansado. Dany cuidava de Beth na sala das crianças, mas ele queria voltar logo para lá. Kurt sabia o caminho de volta, sabia o caminho para sua casa, em algum lugar conhecido ele estaria.

Ele subiu as escadas, virando à esquerda no corredor comprido e entrando na segunda porta à direita. Ali, encontrou Dany com Beth no colo e a maioria das crianças dormindo. Não havia muitas — Sean lhe dissera que os adultos preferiam se manter vivos a manter as crianças vivas. Puck achara aquilo um insulto. Tudo o que fizera até aquele dia fora cuidar e proteger Beth mais do que a si. Se Beth morresse ao longo do caminho, ele não teria muitas razões para continuar a viver.

— Hey. — Dany sorriu a ele. — Ela não dorme, não sei o que é.

— Beth não dorme tão cedo assim — ele respondeu, sentando-se ao lado de Dany.

— Mas é quase meia-noite.

— Ah, essa era a hora em que os walkers costumavam vir — Puck disse sombriamente. Ele acariciou os cabelos loiros da garotinha. — Em Lima, pelo menos. Em Horn Springs, os ruídos eram mais baixos, mas o grupo já estava acostumado com os gritos de Lima. Nós não dormimos o necessário desde, bem, desde que esse inferno começou.

Mesmo na noite anterior, Puck dormira mal. Toda hora acordava com a impressão de que o fogo estava em seu braço novamente. Puck as ouvia gritando — Rachel e Santana — tão vividamente quando as ouvira no dia do incêndio. Demoraria um pouco até se acostumar com a paz do local. Os pesadelos ainda apareceriam, ele sabia, mas não tinha ideia de quanto tempo eles durariam.

Dany parecia aterrorizada. Foi num sussurro que disse:

— Sinto pena dela.

— Não sinta — Puck respondeu quase imediatamente. — Sentiria se ela tivesse morrido. Mas, não. Beth está viva. Também estou. É isso que importa.

— Vocês passaram por tanto — ela murmurou, os olhos fixos em Beth. A garotinha tinha as pálpebras pesadas e estava quase dormindo em seu colo. — Eu e meu irmão nós viemos para cá assim que ficamos sabendo daqui. Vocês, não. Vocês moraram em vários lugares, mesmo com os perigos. Lutaram com tanta coragem.

— Depois de um tempo, o terror se torna melhor que a paz — ele comentou, erguendo os olhos para Dany. Estavam marejados. — Sinto muito. Não deveria ter comentado algo assim.

Dany segurou o queixo de Puck quando ele fez menção de abaixar os olhos novamente. Os dois se olharam por incontáveis minutos, suas respirações lentas, misturando-se de uma forma que ele jamais pensara. Era muito cedo para beijá-la? Puck nunca pensara nisso. Ele sempre as beijara e pronto. Nunca significou muita coisa. Deveria ele pensar nisso, justo agora...?

Dany foi se aproximando mais dele. À luz vinda do corredor, tudo parecia muito mais romântico do que jamais sonhara. Puck nunca fora assim. Ele nunca quis ser romântico com ninguém — a exceção, talvez, de Shelby.

Mas Dany o fazia sentir melhor que Shelby fazia sentir. A chama que nascia em seu peito toda vez que a garota sorria para ele não tinha descrição. Puck não a conhecia havia sequer dois dias, mas o rosto, sua voz, a sua risada, praticamente tudo naquela garota, estava lhe dando borboletas no estômago. Ele gostava muito da sensação que a garota lhe transmitia.

— Seria errado... — Dany começou a falar em um sussurro calmo, a boca próxima de Puck; ele mal se atreveu a respirar — seria errado se eu o beijasse? Aqui, agora?

— Não... — ele respondeu, lembrando-se de repente de que Beth estava no colo de Dany, provavelmente olhando-os e julgando-os com os olhos idênticos aos de Quinn. O quão péssimo pai ele seria se beijasse a babá de sua filha na frente dela?

Puck olhou de relance para Beth e a viu, felizmente, dormindo. A garota seguiu seu olhar e deu uma risadinha. Ele corou; mas ao voltar a olhar para Dany, sua vergonha deu lugar ao desespero e a dúvida. Eles deveriam se beijar ou não?

Para responder sua pergunta, a porta abriu-se e o irmão de Dany, Kurt, entrou, sorrindo alegremente — até reparar nas posições de Puck e Dany.

— Mas que porra é essa? — ele disse, iluminando-os ao ligar a luz da sala. Imediatamente, duas crianças começaram a chorar.

— Kurt, já disse, sem palavrões — Dany falou depois de pigarrear, envergonhada. Entregou Beth a Puck, tão vermelha quanto à tintura do Cadillac de Quinn. Levantou, alisando o vestido que usava. — Ajude-me com eles — ela ordenou ao irmão.

Kurt revirou os olhos e pegou no colo uma menina com a idade de Beth e a acudiu até a garotinha voltar a dormir. O garoto parecia ter o mesmo talento de Dany, Puck pensou, abraçando a filha com mais força. Beth ronronou em seu peito. Quando as duas crianças se aquietaram, Dany se virou para Puck, embaraçada.

— Os pais delas devem buscá-las logo — disse, encarando os pés vivamente. — Pode ir se quiser.

Kurt o olhava fixamente. Puck sempre era o valentão no colégio, mas, da mesma forma que os olhos de Dany eram belos e hipnotizantes, os do irmão eram bonitos e aterrorizantes. Kurt também tinha o cabelo cor de fogo, mas seus olhos eram de um negro profundo. A pele, branca feito leite, era coberta de sardas. Puck entendeu o que Jett quis dizer: o garoto sempre estava atrás de alguém para pregar uma peça.

Pela primeira vez em muito tempo, um garoto de dez anos deixou Noah Puckerman com medo.

— Eu já vou. — Puck levantou-se, sorrindo para Dany, mas seus estavam fixos em Kurt. — Vejo você amanhã.

Dany se aproximou e deu-lhe um beijo na bochecha, e outro na testa de Beth, acariciando seus cabelos dourados, ignorando o irmão. Kurt, por outro lado, continuava olhando Puck malignamente enquanto ele saía da sala.

Depois de todo o perigo que passara, ele agora teria de enfrentar o pior de todos: a ira de um irmão mais novo.


29 de Abril de 2012

Casa Principal, Town Creek, TN

08:13 AM

— Eu sinto muito mesmo não ter dado minha resposta ontem, Sean — Quinn disse quando o cientista abriu a porta da Casa Principal, ainda usando um roupão de seda. — Eu não tinha contado a Rachel e ela deu um ataque quando descobriu, dizendo que era uma bobagem e muito perigoso e essas coisas. Isso foi após a festa ontem; só tive coragem de comentar depois de tomar algumas doses de Martini. — Ela riu, mas o cientista a fitou de cara amarrada. — Mas enfim, ela não quis me deixar sair e nós acabamos resolvendo a briga com, hm... — o rosto da garota ficou mais vermelho — bem, o senhor não precisa ficar sabendo dessas coisas. O que importa é que eu estou aqui e que aceito o cargo.

Aquilo era informação demais para o cientista, ainda mais às oito da manhã, Quinn sabia, mas não podia esperar. Tinha tomado conta do grupo por quase três meses agora. Sua vida, mesmo antes dos errantes, fora dedicada ao comando. Seu pai a criara daquela forma. Uma Fabray não deveria negar ser líder quando tal posição lhe era oferecida. Ela iria cumprir ordens de um superior, mas ainda estava numa alta posição de comando. Quinn nascera praquilo.

— Eu fico grato, Srta. Fabray — Sean disse por fim, se afastando e deixando Quinn entrar na casa. Ainda estava suja por causa da festa da noite anterior, mas não perdera a elegância, tal como seu dono. — E, por favor, vamos conversar sobre isso, se for possível.

Quinn assentiu positivamente. Qualquer coisa para ficar distante da máquina de sexo que era sua namorada quando ficava irritada. Ela seguiu diretamente para a sala de jantar, e ali ela esperou até que Sean descesse as escadas, vestido com uma camisa branca e jeans surrados. Quinn respirou fundo enquanto o cientista se acomodava, esperando o assunto que surgiria primeiro.

— Srta. Fabray... — Sean começou, mas Quinn o interrompeu:

— Pode me chamar de Quinn. — Corou logo após falar. Não devia intrometer-se nas frases dos outros, Russell sempre lhe dizia. — Sinto muito.

— Sem problemas. — Sean abanou a mão, displicente. — Quinn... Hanna me contou o que fez para o seu grupo. Acho impressionante. Sei que nenhum dos adolescentes, ou até mesmo os adultos, fariam algo de tais proporções para defender seus amigos.

Quinn deu um meio sorriso, sentindo as bochechas esquentarem.

— Meus amigos são a coisa mais importante que tenho — Quinn respondeu, pensando em Santana, Sam, Brittany e em todos os outros, os que ela salvara e os que tentara salvar. Até Finn veio à mente. Ela os amava, e pra sempre amaria. — Eles e, bem, minha namorada.

Sean não ergueu as sobrancelhas em surpresa ou exprimiu uma careta ao ouvir Quinn, como alguns adultos na festa da noite anterior. Abriu um sorriso enorme e acenou a cabeça em concordância.

— Minha mulher era importante para mim também. Infelizmente, Judy morreu e só me sobrou minha filha. Tento cuidar dela da mesma forma que minha mulher cuidava. Entretanto, é difícil, com mais outros duzentos filhos.

Quinn assentiu acaloradamente. A responsabilidade que caía nos ombros de Sean era algo que ela não queria, mesmo sendo uma Fabray e tendo nascido para liderar.

— Mas, vamos aos negócios. — Sean abriu um sorriso. — Aceita o cargo, mesmo com Rachel...? — ele franziu a testa; Quinn afirmou que o nome da namorada estava correto com a cabeça — Sim, mesmo com a sua namorada sendo contrária a isso?

Lembrou-se do início da noite anterior, abraçada a Rachel no sofá, assistindo Funny Girl. Ali, Quinn decidira que a palavra final seria dela. Sem Rachel ou Santana para ajudar-lhe, aquela escolha seria somente dela. Infelizmente, até a madrugada, estava indecisa demais para fazer tal escolha sozinha e, após algumas doses do Martini que encontrara no bar da casa, decidiu que contaria a Rachel sobre a proposta. As coisas não saíram da forma como ela esperava, mas tinham-na ajudado a ver o que queria.

Por isso, olhou firmemente Sean e disse:

— Sim. Rachel vai superar. — Ela franziu o cenho, lembrando-se de perguntar algo. — Irá devolver minha arma se eu disser sim?

Sean riu sonoramente. Quinn olhou para os lados, tentando ver o que o cientista achara graça. Sua pergunta tinha sido séria. Se ela devia ser a capitã-júnior da polícia, não deveria ter sua Hi-Power de volta? Por que era, em sua opinião, o mais sensato a se fazer.

— Pedirei ao Harry se ele poderá fazer essa concessão a você — o cientista falou, ainda rindo. — De fato, eu deveria chamá-lo aqui, agora — e virando-se para a porta, gritou: — Cat! Desça aqui!

Cinco minutos completos se passaram até Cat, a filha do cientista, aparecer, sonolenta. Quinn conversara com ela animadamente até ser interrompida por um ataque de ciúmes de Rachel, na noite anterior. Ela bocejou ao avançar para perto deles, e sorriu à Quinn.

— O que foi? — indagou, os olhos cansados.

— Vá à casa de Harry e traga-o aqui — ordenou ele, revirando os olhos ao ver a filha bocejar outra vez. Quinn não podia culpá-la: estava ela própria cansada, e não eram sequer nove e meia da manhã. — Cat, e é rápido — Sean acrescentou quando Cat tropeçou em seus pés e saiu da sala lentamente.

— Ela é legal — comentou Quinn ao ver a garota correndo do lado de fora da casa em direção ao outro lado da rua.

Cat não parecia ter sido influenciada pelo apocalipse, ela refletiu. A conversa com a garota não durara muito, mas Quinn a via como uma pequena garota fútil protegida pelo pai. Cat nunca lutara, jamais havia sequer tocado em uma arma e um dos poucos walkers que vira fora sua mãe. Ela ficara encantada com Quinn e seus modos de sobrevivência. A garota nunca tinha visto ninguém lutar tanto por sua vida quanto ela.

Sean agradeceu o elogio com a cabeça e ficou em silêncio, virando a cabeça para observar a janela. De longe, podia ver Cat trazendo Harry, o líder da polícia da Comunidade, puxando-o pela mão apressadamente. Quinn riu do gesto. Dois minutos mais tarde, Cat estava de volta com o homem. Era um careca de barba rala e transparente, de calorosos olhos castanhos que se fixaram em Quinn assim que a viu à mesa de jantar.

— Ora, muito prazer! — Ele estendeu a mão com um sorriso. Cat piscou para Quinn e subiu discretamente para o quarto. Quinn aceitou a mão de Harry e sorriu de volta. Vira-o rapidamente na festa, mas não conversara com ele. Agora de perto, Harry parecia-lhe bem mais amável. — Sean me falou sobre você ontem! A Garota do Cabelo Rosa, ele dizia.

Sean indicou uma cadeira ao lado dele para Harry, que se sentou e passou a admirar Quinn. Ela não sabia como responder àquilo; estava bastante envergonhada por todos estarem falando sobre ela e ela sequer ser informada sobre.

— Ela aceitou, mas disse que quer sua arma de volta — resumiu Sean a Harry.

O homem também riu, talvez mais histericamente que Sean. Ela o olhou, novamente confusa. Havia algo na água dali que os deixava mais idiotas, ou com pelo menos mais facilidade para cair na risada? Por que ela e seu grupo precisavam de alguns goles.

— Sendo da guarda, Quinn, você pode ir ao armamento sempre — Harry explicou, assim que limpou as lágrimas de riso. — Poderá ver sua amada pistola sempre que quiser. Não se preocupe.

Era uma condição que teria de aceitar de um jeito ou de outro, ela pensou, fitando os dois homens seriamente. Acabou por concordar com o acordo, assentindo vigorosamente.

— Ótimo! — disse Harry, batendo na mesa de vidro com excessiva violência. Sean lançou-lhe um olhar de advertência. — E os outros, hein? Eles têm algum talento em especial?

Hanna lhe dissera que Sean já conversara com Sam, mas ela não sabia se os outros também tinham se resolvido. Presumiu que Rachel a contaria se Sean lhe perguntasse algo. Como Santana ainda estava em lua de mel, era complicado perguntar sobre algo que não envolvesse sua esposa. Não tivera notícias de Puck, Harmony ou Sugar, também.

— Harry, eles vieram de Ohio — disse Sean, ainda impressionado pelo feito, aparentemente. — Como duvida do talento desses garotos?

— Nós todos somos excelentes atiradores — Quinn apressou-se a dizer. — Sugar, Rachel e Brittany são as melhores. Puck sabe cuidar de crianças como ninguém; vocês o viram ontem com Dany. Sam pode ser o que vocês quiserem, ele é ótimo em tudo. E Santana...

Quinn parou. Santana era a melhor pessoa que conhecera na vida, sua melhor amiga. Ela era sua alma gêmea, não no sentido corporal que ela e Rachel compartilhavam, nem no sentido romântico. Santana era o oposto de Quinn, mas, de alguma forma, ainda eram iguais. As duas se pertenciam.

Ela se lembrava da única vez em que não tinha levado Santana a uma missão: resultara num incêndio na mansão, alguns fios de cabelos queimados, uma morte, um tornozelo quebrado e dois dedos perdidos. A garota não podia não ter Santana ao seu lado. Rachel até seria uma boa companhia, mas nada comparada à Santana. A polícia era um trabalho delas.

— Quem é ela? — indagou Harry, tirando Quinn de seu devaneio.

— A latina — respondeu Sean. — Sem os dedos. Ficou aqui pouco tempo, logo saiu com a loira alta.

— Ela pode se juntar à polícia — disse Quinn, olhando para Harry e Sean de modo desesperado.

— A loira? — perguntou Harry, confuso.

— Não, Santana — respondeu ela. — Eu preciso dela. Ela é minha melhor amiga.

— Estranho. Pensei que quereria Rachel para lhe acompanhar — Sean disse, franzindo o cenho.

— Rachel não faz o tipo de duplas. Coloquem-na em algum lugar, mas sozinha. — Ela sabia que se nem seu grupo aturava Rachel, e eles se conheciam fazia tempo, nenhuma pessoa da Comunidade aguentaria.

Sean olhou para Harry, esperando uma resposta. Quinn bateu os dedos na mesa de vidro nervosamente, pensando em Santana. Ela nem lhe pedira permissão... Santana aceitaria ser companheira dela?

— Por mim, tudo bem. — Harry deu de ombros, já se levantando. — Estejam lá em casa amanhã pela tarde. Temos alguns distintivos pra vocês — ele acenou para os dois e saiu.

Quinn abriu um sorriso enorme. Levantou, agradeceu o cientista com um beijo estalado em sua bochecha e saiu, trombando com Hanna, que provavelmente queria começar o trabalho das pesquisas logo. Ela a abraçou terna e rapidamente, antes de sair correndo pela rua principal para contar a Santana o que lhes aguardava.


31 de Agosto de 2012

Laboratório, Town Creek, TN

02:15 PM

Hanna observou a maca onde o paciente estava. Engoliu em seco e pôs-se a anotar as diferenças daquele para o último errante que utilizara. O antídoto não tinha dado certo (pela vigésima vez) e Hanna estava em um mar de desespero. Quatro meses tinham se passado desde sua chegada ali e nenhum resultado saíra como Jackson, Sean ou ela mesma previra.

Agosto terminava e a temperatura estava mais alta que nunca. O laboratório estava livre disso, felizmente. Hanna passava mais tempo ali do que com Sam e seus outros amigos. Convidara-o a uma das reuniões do conselho de cientistas da Comunidade, mas Sam negara. Sam ainda não tinha se encontrado em meio àquele tanto de oportunidades, então passava o dia cuidado de Beth e as outras crianças dali com Puck e sua namorada, Dany.

Nos últimos quatro meses apenas mais outro grupo, de quatorze pessoas, havia chegado. Tinham se acomodado bem, em duas casas ao lado da de Hanna. Sean ficara preocupado, pois somente tinham, agora, três casas ao fundo da Comunidade. Se quisessem abrigar mais gente, teriam de iniciar obras para aumentar o muro de contenção.

Hanna tirou o grupo novo da cabeça e voltou à atenção ao walker. Quando dissera aos cientistas que estava confiante do último antídoto que fizera, Sean insistira que usasse aquele morto-vivo em especial, que ele mantinha guardado em algum lugar da casa, onde nem sua filha ou a mulher de Jackson e seus filhos pudessem vê-lo.

Ela não ficara surpresa ao ver um ponto tão fraco em Sean. Sabia, e até pensara, durante a época em que vivera sozinha em Horn Springs, que algum ser humano poderia ser tentado a guardar um walker de um ente querido, principalmente aquele seleto grupo que sabia que poderia haver uma cura.

Atendera ao pedido de Sean. Hanna estava encarando sua mulher, morta há tanto tempo que a pele amarelada caía ao tocá-la. Conhecia-a, de muitos jantares na casa de Sean durante os tempos antigos, porém, vendo-a daquela forma, estava irreconhecível. Hanna sabia que, mesmo a Cura funcionando, seria quase impossível a mulher de Sean voltar da mesma forma que antes. Poderia morrer assim que voltasse ao normal, por conta das feridas que possuía pelo corpo todo.

A Cura era algo simples, porém tão complicado que levara quatro dias para poder explicá-la a Sam e aos amigos. À Sean e aos cientistas, levara menos tempo. Jackson lhe deixara o caminho trilhado; Hanna só precisava pegar as pistas em cada carta que ele escrevia no diário e uni-las de alguma maneira. Depois de vinte tentativas, Hanna acreditava ter encontrado a fórmula certa para poder curar os walkers.

Ela levantou a seringa que continha o antídoto e o observou-a. Os cientistas estavam na sala ao lado, a comum, olhando cada passo que a garota dava dentro da sala especial, dedicada aos experimentos com os walkers.

Hanna tinha noção de que estava sendo gravada, porém isso não a incomodou. O zumbi que um dia fora a mulher de Sean estava com os olhos muito abertos, fitando-a com certa inteligência. Ela se perguntou o que Sean teria dado de alimento a mulher nos últimos meses. Depois de tanto tempo trancafiada, teria a mulher recriado uma consciência?

— Hanna. — A voz que saía das caixinhas de som fez o walker se debater todo sob as correntes que lhe prendiam. — Está pronta?

— Estou — Hanna respondeu, mal reconhecendo a própria voz. O teste sempre lhe dava frio na barriga. Se não funcionasse, seria material jogado fora, para sempre. Não poderiam perder mais nada. A versão que estava testando precisava funcionar.

— Estamos esperando — Sean disse, tão, ou talvez mais, nervoso que ela. Hanna se recusou a olhar para a pequena televisão que a sala tinha e ver a expressão ansiosa dos cientistas. Eles sempre a deixavam mais apreensiva.

Hanna olhou novamente para a seringa, e depois para o walker. O errante se debatia ainda mais, soltando gemidos altos. Hanna não sabia como, porém sentia que o morto-vivo tinha alguma noção do que estava prestes a acontecer.

Ela engoliu em seco e limpou a área do braço onde poderia aplicar a injeção. Tentou ser o mais cuidadosa possível, porém a pele do walker estava degenerada demais, e acabou por deixá-lo a carne e osso em um ponto.

O frio na barriga apertou. Em um movimento só, Hanna aplicou a injeção do antídoto. O walker tremeu violentamente, fez sacudir a maca por completo, tentando avançar em Hanna, que se afastou. Acabou por bater as costas em um dos armários, mas estava mais assustada com a reação do errante para reparar na própria dor.

Ela nunca vira nenhum agir de tal maneira. O walker continuou tremendo por incontáveis minutos. Os cientistas tentaram lhe contatar, mas ela negou. Hanna estava fascinada e aterrorizada ao mesmo tempo. Chegou a abrir um sorriso mínimo, impressionada.

Pela primeira vez em quatro meses, ela sabia que tinha dado certo.

Da mesma forma que a tremedeira do walker começara, terminara. O walker tombou as mãos molemente na maca, dando a ela a chance de chegar mais perto. O fascínio agora fora substituído pelo medo.

— Hanna? — perguntou Sean timidamente. — Como está?

— Os batimentos cardíacos estão normais — Hanna constatou, se aproximado de um dos aparelhos ligado ao errante. Ela franziu a testa e olhou para o walker; o morto-vivo parecia estar respirando tranquilo. Se Hanna o visse de longe parecia que ele estava...

— Dormindo — ela disse, ecoando seus pensamentos para Sean. — Sua mulher está dormindo.

— Walkers não dormem. — Hanna ouviu Harry falar obviamente. — Deu certo? Podemos contar pra todo mundo?

— Ela ainda não acordou, mas suas condições parecem humanas — ela comentou, se aproximando o bastante para sentir o hálito terrível do walker.

Hanna deslizou a mão por baixo da blusa em fiapos que ele usava e arfou: o coração batia contra a caixa torácica com força. Observar no aparelho era uma coisa — eles geralmente não contavam a total verdade —; mas conferir por contra própria era outra. Os batimentos eram reais, estava acontecendo.

O walker abriu os olhos.

Não eram amarelos e cheios de terror, e sim castanhos, iguais aos da filha de Sean, Cat. O errante crocitou algo, mas Hanna não entendeu. Pelo olhar, estava desesperado. Hanna viu o fantasma da mãe de Cat no olhar do morto-vivo antes dele cair morto pela segunda vez.

Tinha dado certo, Hanna pensou com um ofego de felicidade.

Ela achara a fórmula para a Cura.



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Notas finais do capítulo

Eu ainda não acredito que não terei mais um novo capítulo para planejar ou uma nova cena Faberry para escrever nesse mundo. Ou escrever sobre Hanna, uma das minhas personagens favoritas da fic, e seus cientistas. Ou sobre Santana e seu amor por Coca-Cola, que ainda não supera o amor que ela sente pela Brittany.
Sinceramente, por mim, eu escreveria essa fic até o fim dos tempos. Ela é baseada em The Walking Dead, e todos nós sabemos que os quadrinhos estão aí até hoje, mesmo após quase dez anos da primeira publicação. Mas, tudo tem um fim, e infelizmente o da fic chega hoje.
Antes de pedir a opinião de vocês sobre os momentos Faberry, sobre Puck e sua garota, e Harmony e Sugar, e sobre Hanna e sua Cura, uma pequena curiosidade: no começo da fic, enquanto elas viajavam até a mansão de Sam, pensei em matar Brittany. A cena estava toda escrita na minha cabeça e eu só precisava achar um momento onde encaixá-la. Felizmente, eu não levei essa estória a frente, por que eu sabia que Santana não iria muito a frente também se perdesse o amor de sua vida. Dois dedos e algumas latinhas de Coca para ela, tudo bem; mas Brittany não. Santana nunca trabalharia da mesma forma, e talvez ela tivesse o mesmo fim que Mercedes teve.
Então, acho que por essa fic é isso. Queria agradecer novamente a todo mundo que me acompanha desde o começo, aqueles que pegaram a fic pela metade e aqueles que ainda lerão. Muito obrigada mesmo por estarem aqui, sempre, mandando reviews, me dando puxões de orelha quando era necessário e sempre tornando a fic cada vez melhor.
Espero reviews de todos vocês, e, bem, esse não é o meu primeiro trabalho e nem será o último. Aguardem por que talvez daqui alguns dias, eu estarei com uma nova fic no ar para vocês.
Muito obrigada a todos novamente, beijos e até a próxima :)