Estava tudo bem em sermos apenas amigos, companheiros de banda e nada mais, eu não ligava pra isso. Mesmo que meus sentimentos por você não fossem apenas amizade, eu deixei que convivêssemos juntos por vários anos... Sem pista alguma do meu amor.

Eu pude aguentar tudo, todos os meus relacionamentos que não deram certo por sua causa, todo o ciúme que eu tinha de seus relacionamentos, mas isso já era demais... Demais pra mim.

Não que você tenha culpa de tudo isso, mas isso não importa... Quero que pelo menos uma vez, possamos sentir a mesma coisa. Quando tudo isso terminar, eu estarei acabado, você estará acabado, a banda estará acabada.

Eu estarei condenado pra sempre, provavelmente cheio de arrependimentos, com a passagem só de ida pro inferno... Não que eu acredite em coisas assim, mas provavelmente depois deste meu ato eu possa comprova-lo com os meus próprios olhos.

O sol se vai, como que com medo de presenciar meus próximos erros. Eu adentro a sua casa, eu era o único que possuía a chave dali além de você não é? Porque você me vê como seu melhor amigo, isso dói tanto, mas vai acabar.

No seu quarto você ainda dorme, e eu me permito ver pela última vez a sua face tranquila, porque quando acordar tudo que você direcionar a mim vai ser puro ódio eu sei.

Eu simplesmente não posso voltar atrás agora, eu sei que se eu não fizer isso você simplesmente se casara e será feliz... Mas parece tão injusto depois de todo o sofrimento que eu aguentei calado... Injusto? Sou completamente doente... Eu sei. Isso soa tão egoísta que eu não consigo imaginar vindo de ninguém mais além de mim.

Provavelmente quando tudo isso for colocado no jornal eles dirão que é bem a minha cara... Nossas fotos serão postas uma ao lado da outra e está será... A única vez em que ficaremos “juntos” não é?

Eu lhe vejo acordar e meu coração se aperta, sentindo que tudo oque vai acontecer doera mais em mim do que em você.

­­–Oque faz aqui?

–Eu, só vim dizer que não vai se casar...

–Como assim?

–Não posso deixa-lo fazer algo assim.

–Como assim? Por quê?

–Porque eu te amo...

Rio de mim mesmo nesse momento, aonde esse sentimento ainda pode ser comparado a amor? Aonde as minhas ações podem ser lidas como amorosas? E nem mesmo eu sei distinguir oque estou fazendo nesse momento, oque você está fazendo neste momento? Não foi assim que eu previ que seria? Não, eu acho...

As coisas não estão certas... Minha mente não consegue acompanhar as imagens na minha frente. Eu estou louco? Você está louco?

Eu sou um fracassado, mas no fim eu sou também a maior vitima, eu ainda não posso acreditar no que está acontecendo. Porque ser ferido dói tanto? Eu não consigo entender.

Isso é igual, isso é igual aos meus pesadelos... Eu só não quero ficar sem você, porque tem que ser tão difícil?

Todas as vezes que você grita o meu nome, e os seus olhos que transmitem puro ódio... Eles me machucam tanto, tanto.

Por favor, me desculpe, não era pra ser assim... Eu queria poder dizer, mas você não tem intenção de escutar. E a culpa é minha, não é?

E eu corro, pra longe, o mais longe de você... Um lugar aonde você não possa me alcançar, a folha de papel e a caneta ainda em meu bolso, a carta que queria escrever pra você e que tinha sido esquecida, pego a folha deixando-a ser molhada por minhas lagrimas. Tão triste, triste o modo como os pontos molhados vão rasgando-se tornando impossível escrever. O quão igual eu era, comparado aos humanos que eu tanto desprezava? Eu não sei dizer.

Eu olho para esse céu bonito, e vejo que vai chover, nunca havia reparado na cor que o céu fica quando vai chover, um cinza tão bonito... Uma cor tão menosprezada.

A chuva é algo tão lindo, algo lindo do qual as pessoas fogem... Como se fosse errado.

Igual, igual ao meu lindo pecado?

A chuva cai, molhando minhas feridas, elas ardem e eu vejo... Limpando o sangue que nelas ainda havia aquela água transparente tomando um tom avermelhado, você me machucou... Eu ainda sinto o gosto da dor. Eu não posso esquecer o gosto da dor.

Sento em um banco, não ligando pelo “banho” que estou tomando, tomo aquela folha em mãos escrevendo debaixo da chuva o meu erro perfeito, que jamais será esquecido... E mesmo agora, não me sinto arrependido.

Tudo isso soa, como um poema triste, que agora é escrito, em uma folha rasgada. A nossa historia não será contada de uma forma bonita não é?

Vejo meus pés se arrastarem a algum lugar, só então reparando que estou em uma ponte, a agua movendo-se lá em baixo, tão tentador... A chuva lavando os céus, as ruas, meu corpo, mas não minha alma.

Até você chuva está contra mim? Eu sei você é as lagrimas dele...

E então a nossa briga em minha mente novamente, você me machucou... Doloroso, doloroso não ter você aqui.

Vai se tornando tão difícil respirar, mas não importa mais o ar não é mesmo? Eu não tenho mais motivos eu sei...

Perdão, perdão, a todos os sonhos que a partir desse dia serão quebrados... Essa é uma culpa totalmente minha não há espero apagar. Já mantenho conformada, a imagem desonrada que faram de mim, eu sou... Um ser tão desprezível.

As marcas das facadas por todo meu corpo, e na verdade não há sangue, não há marcas por que...  Essa minha imagem é na verdade a sua... de como eu o deixei.

Vejo uma folha de jornal passear pelas águas e imagino... Meu nome estampado.

“Vocalista da banda the GazettE, Ruki como é conhecido mata o baixista da própria banda, não se tem pistas dos motivos concretos, mas tudo leva a crer que a causa seria o casamento de Reita que aconteceria no próximo sábado, a noiva do baixista ainda desesperada se nega-se a dar qualquer entrevista”.

Aquela mulherzinha desprezível deve ter sentimentos considerados mais honrados que o meu.

Akira... Sinto muito por esse ser o nosso fim!

Lagrimas? Essa é a primeira vez que as vejo! É uma pena, não sou digno de um ato tão puro quanto chorar.

 As palavras nesta carta, inutilmente postas nesta folha rasgada, junto com o meu último suspiro... As marcas do meu pecado silencioso, que nunca será perdoado.