Dia 31 de dezembro, 22:00h. Arredores da Soul society, próximo ao portão oeste.

 Missão especial de captura, grupo especial do Onmitsukidō, sendo obrigatória a minha participação, a capitã da segunda divisão da Gotei 13 e líder da Onmitsukido, Shihōin Yoruichi.
 Mesmo sendo o ultimo dia do ano, mesmo estando todos festejando, mesmo eu não devendo estar trabalhando, fui mandada para esta missão. Recebemos informações seguras sobre o esconderijo de um fugitivo procurado, então, na tentativa de surpreendê-lo, meu grupo foi enviado.
 Foi algo rápido, não entendo porque minha presença era tão importante. Invadimos o local, encontramos o alvo, o capturamos e fim de papo, terminamos em pouco menos de meia hora. Liberei meus homens e fui para a minha sala. Ficarei mais tempo preparando os relatórios pós-missão do que executando-a em si.
 Sozinha, sabendo que teria que entregar o relatório na manhã do dia seguinte, comecei a escrever. Bebia chá e continuava com o trabalho. Notava minha mesa lotada, eu acabei acumulando trabalho durante essa semana, como não sabia que teria que entregar quase tudo tão rápido, acabei enrolando e não fiz nada.

  Fiquei trabalhando por algum tempo, até olhar para o relógio e notar que já era 23:00h. Imaginei todos bebendo e se divertindo, enquanto eu continuava enfurnada em minha sala. Ai, ai... isso devia ser proibido.
 Suspirei e, como não tinha o que fazer com relação a aquilo tudo, voltei a trabalhar. Até que aquele clima calmo e silencioso da minha sala foi quebrado por pequenas batidas, havia alguém do lado de fora. Estranhei, já que a área do segundo esquadrão estava completamente deserta.
- Yoruichi-san? – Pude escutar alguém chamar pelo meu nome, do lado de fora, enquanto batia devagar na porta de correr, querendo entrar. – Yoruichi-san, eu trouxe uma coisa para você.
- Kisuke? - Logo reconheci seu timbre, sabia quem era, achei melhor responder. – Vai, pode entrar.
- Ué, trabalhando? Quase na virada do ano? - Ele abriu a porta e veio se aproximando da mesa, trazendo consigo uma garrafa.
- Pois é, relatórios e papelada atrasada.  – Parei por um minuto e o olhei.
- Faça isso amanhã, venha, vamos beber um pouco. – Ainda sorrindo, ele levantou a garrafa, me mostrando que era sakê.
- S-Sake?. – Olhei aquela maldita garrafa que quase me chamava com os olhos. Mas sabia que se não terminasse, ia ficar muito complicado terminar depois. - Não dá, tenho que entregar para o velho amanhã.
- Vamos, Yoruichi-san! Uma pausa rápida, conversamos um pouco e bebemos. – Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ele puxou minha mão, tentando me fazer levantar.
- Ta, ta bom. Mas só um pouco, tenho muito que fazer.

 Eu não devia, mas acabei cedendo, sabia que era uma data importante para ele. Próximo a minha sala, praticamente em frente a ela, havia um pequeno jardim de pedras, ficamos sentados por ali, conversando e bebendo sakê.

- Né, Kisuke... Feliz aniversário. – Acabei deixando muito tempo passar e ele pode ter pensado que eu esqueci. Mas desde que chegou, já pensava em comentar sobre isso, só não queria mudar o rumo da nossa conversa, ou então, acabar cortando-o sem querer.
- Ah, obrigada, Yoruichi-san. – Sorriu e bebeu mais sakê.
 . Kisuke sempre foi meio bobo, ainda mais comigo. Mas também, sempre foi um grande amigo, acho que é uma das pessoas que mais confio, se não é a pessoa em que mais confio. Acabei perdendo a noção do tempo ou do que acontecia em meu redor.
 Estava sentada bem próximo a ele, seu rosto estava próximo e eu conseguia notar que ele falava, sua boca continuava a se mexer, mas não conseguia dar-lhe atenção. Não sei se já tinha bebido sake de mais, ou se o sorriso bobo dele me chamou mais atenção do que deveria, mas por alguns segundos, voei longe, como se estivesse completamente... Desligada.
 Notei que ele parou de falar. Ficou me olhando e, para minha surpresa, também me olhava de forma nula, como se também estivesse desligado ali naquele momento. Kisuke riu baixinho e abaixou a cabeça, fechando os olhos e sorrindo.
- Ei, o que foi? – Voltando a mim, ri também e não entendi muito a cena. Sorri e virei um pouco a cabeça, tentando ver o rosto dele e saber o que foi.
- Nada não. – Ele riu mais uma vez e arqueou as sobrancelhas, desviou o olhar e notou no relógio que tenho dentro da minha sala. – Deixa pra lá. Olha só, quase meia noite já.
- Não Kisuke, me fala, o que foi? – Era nítido que ele tentava mudar o assunto, mas acho que não ia precisar insistir muito, ele sabe que sou teimosa. Tanto sabe que não tentou enrolar mais, só riu mais uma vez e virou o rosto, olhando em meus olhos.
- Você é linda. – Essa eu realmente não esperava. Fiquei sem graça, sem jeito.
- Idiota. – Ouvi que ele deu uma risadinha baixa. Dessa vez, eu que desviei o olhar, virei o rosto e fiquei quieta.
 Pude sentir o leve toque da mão dele no meu rosto, fazendo com que eu volte a olhá-lo. Quando virei a face na direção dele, Kisuke começou a olhar diretamente em meus olhos. Meu rosto continuava próximo ao dele e, por alguns segundos, voltei a desligar. Ficamos trocando olhares, imóveis, não sei por quanto tempo exatamente.
 Senti os lábios dele tocarem os meus. Instintivamente, fechei os olhos e deixei que continuasse. Nos beijamos e eu não sei nem a certo o porque, mas sei que não me arrependo daquele momento.
 Ele me abraçou, e eu fui ficando cada vez mais próxima dele. Levei um susto quando ouvi o barulho de fogos de artifício, de muitos deles. É, já era meia noite e eu continuava a beija-lo ali, em frente a minha sala. Lentamente, o ritmo do beijo ia diminuindo, até que afastei um pouco os lábios e ele acariciou meu rosto.
- Feliz ano novo, Yoruichi-san. – Ele disse, ainda com o rosto próximo do meu.
- Feliz ano novo, Kisuke. – Respondi, deixando escapar uma risada baixa e sorrindo.
 Estávamos tão próximos que podia sentir os lábios dele tocarem os meus toda vez que falava e a mesma coisa acontecia quando eu falava algo. Ele me olhava com aquele sorriso no rosto, tão... Bobo. Não pude deixar de continuar sorrindo e acho que, mesmo que só por alguns segundos, fiquei com um sorriso meio bobo. Continuava sentindo o toque suave da mão dele na minha pele e depois, voltou a colar os lábios aos meus.
 O beijo dele era tão... Suave. Nunca pensei que fosse chegar a essa cena, mas eu realmente não me arrependia de estar ali, mesmo sabendo que deveria estar trabalhando. Mais uma vez, o ritmo foi diminuindo até que paramos e voltamos a nos afastar. Como já estava com o corpo mais próximo ao dele, me ajeitei melhor, ficando sentada ao seu lado. Ele tirou a mão do meu rosto e segurou suavemente na minha mão.
 Enquanto isso, os fogos de artifício continuavam. Apoiei a cabeça no ombro dele e fechei os olhos, ainda segurando em sua mão. Era bom estar ali com ele, por mais que eu nunca tenha pensado nisso, já que sempre fora meu amigo, apenas isso.
 Abri os olhos e suspirei, fiquei ali ao lado dele, que só segurava a minha mão e olhava para os fogos. Olhei um pouco para cima e pude ver, mais uma vez, o sorriso fofo dele, mesmo ainda sendo aquele mesmo sorriso bobo. Sorri e voltei a observar a queima de fogos, até sentir a mão dele apertar um pouco a minha, não a ponto de machucar, mas apertando um pouco.
- Yoruichi-san... – Ele falou em um tom baixo, como se sussurrando. – Feliz aniversário.
 Ri baixinho mais uma vez e também apertei a mão dele. Por mais estranho que possa parecer, não queria mais ficar longe dele, seria bom se aquele momento durasse para sempre.
- Arigato, Kisuke.