Sentada num barzinho estava pensando em Tyler, juro que queria pensar em outra coisa, mas tudo que eu pensava redirecionava a Tyler.

- Um copo de Uísque Jeni – disse a mulher do outro lado do balcão – por favor.

- Preciso ver sua identidade.

Olhei para baixo e logo peguei uma das tantas identidades falsas que eu tinha. Nesse meu nome era Emily J. Harper.

- Aqui está querida – disse ela com uma ponta de desconfiança, talvez porque na identidade dizia que eu tinha 23 anos.

Bebi um gole do uísque e olhei pra um cara que acabara de sentar ao meu lado. Ele tinha cara de tira.

- Posso pagar uma bebida? – perguntou olhando pro balcão, ele estava falando comigo.

- Não... Posso – respondi, mesmo que ele quisesse um programa não iria ficar bêbada pra dormir com ele, ele poderia me roubar!

- Tem certeza?

- Sim.

- Quantos anos você tem? – perguntou rapidamente

- Não te importa – respondi.

- Ok, ok. Já vi que você não quer conversar comigo. Que tal um programa?

Como ele sabia? Eu tinha a absoluta certeza de que ele era policial.

- Eu não faço esse tipo de coisa.

- Ok, entendi tudo.

Ele se levantou e eu pude ver um pedaço de seu distintivo. Ele foi embora com uma pressa que eu desconfiara.

Terminei de beber meu uísque e fui num hotel.

- Quanto é uma noite?

- R$ 357 – respondeu um homem grandalhão que parecia metido

- Isso é um roubo. Por uma noite? – exclamei, mas parecia que ele não ouviu porque ele só olhava pro computador.

- Preferia que fosse mil?

- Esquece – disse – quero um quarto.

- É Mesmo? – respondeu ele sarcástico.

- Vai dar ou não?

- Claro preciso de sua identidade e seu telefone.

- Telefone eu não tenho, mas a identidade está aqui.

Tirei outra identidade de meu bolso. Melanie Rockens, 18 anos.

Ele olhou pra identidade e olhou direto em meus olhos.

- Acho bom você ir dando à verdadeira.

- Como sabe? – perguntei surpresa.

- Alô – disse ele num tom de brincadeira – eu trabalho um hotel. Você não é a primeira pessoa a tentar passar com uma identidade falsa.

- Ok – respirei fundo - por favor, só quero descansar.

Fiquei 15 minutos tentando convencê-lo, podia jurar que havia uma fila atrás de mim.

-Ok – gritou ele – toma aqui sua chave seu quarto é o 24.

- Obrigado.

- Vai, vai logo garota e espero não vê-la aqui amanhã a tarde.

Subi pro meu quarto e deitei na cama. Tentava ficar sem pensar, mas não adiantava. Tyler sempre estava lá me salvando.

Fiquei a noite toda pensando nisso, não agüentava mais pensar no Tyler, não agora.

Fui ao banheiro e abri a gavetinha que tinha na pia. Peguei um barbeador que havia lá e chequei se estava bem afiada. Desmontei-o e peguei a lamina.

Liguei a banheira e deixei-a encher até a metade.

Sentei nela com vestida, com a lamina em uma das mãos.

 Eu me concentrei bem e cortei uma parte de mim. Gostaria de esquecer tudo.

Depois que terminei de fazer o corte na outra mão, não tão bom quanto o primeiro, larguei a lamina e me deitei na banheira. Eu só me lembro disso daquela noite. No dia seguinte acordei no hospital com o cara fortão do hotel do meu lado.

Eu havia sobrevivido. Que droga, mais uma vez começara a pensar em Tyler.