Minha cabeça doía um pouco, mas eu sabia que já estava acordado. Não iríamos ensaiar naquele dia, seria apenas um dia livre. Olhei em volta e não encontrei Frank. Sua cama já estava arrumada também. Fui olhar no quarto de Gerard e Mikey, que era em frente ao nosso, mas também não os encontrei. Voltei pra cama.

Resolvi tomar um banho antes de ir procurar por eles e então, encontrei um bilhete deixado por Frank em cima da minha guitarra.

“Fomos jogar boliche, espero que não esteja bravo por não termos te levado. Achamos que seria melhor sair cedo, para evitar tumulto, e também estávamos precisando fazer alguma coisa para relaxar depois daquela conversa tensa de ontem. Bem que tentamos te acordar, mas você estava tão bonitinho dormindo (como uma pedra). Voltamos antes das 4h, se comporte. Pode deixar que o Mikey compra a nova edição da “Fangoria” para você, ok?

                                                            Com amor (e não me bata com a sua guitarra),

                                                                                                                                                 Frank.”

Larguei minha guitarra após ler a penúltima frase e coloquei o bilhete no bolso. Ótimo, agora eu estava me sentindo a pessoa mais rejeitada do mundo. Ok, Raymond, não exagere, eles pelo menos deixaram um bilhete e tentaram me acordar também... Mesmo assim.

Tomei banho, me vesti e desci para tomar café no restaurante do Hotel. Na verdade, só peguei o café e o bolinho e subi para o quarto de novo. Fiquei olhando o bilhete e as coisas no meu bolso. Eu não arrumo aqueles papéis há séculos! Carteira de motorista, identidade, cartão de Natal do meu irmão, o bilhete do Frank e finalmente o cartão rosa da psicóloga.

Eu já tinha descartado a possibilidade de ir lá, era simplesmente desnecessário. Por um momento, me veio à cabeça que seria uma boa ideia, pelo menos eu teria alguém para conversar. Talvez se eu dramatizasse um pouco mais as coisas na minha cabeça, eu começaria a pensar que aquele era um motivo bom.

Então tá, dramatizar... Vejamos. Toco em uma banda relativamente famosa e sinto falta de mais atenção dos fãs. Meus amigos e colegas de banda às vezes também me esquecem, como da vez que me deixaram no posto de gasolina e só deram falta quando eu liguei. Eu não queria que soasse falso e o pior é que... Não soava. No fundo, eu sabia que aquilo tudo era verdade, só que eu nunca me importei com essas coisas.

Em cerca de 10 minutos, algo que eu achava totalmente desnecessário acabou se tornando quase que essencial. Peguei o telefone e o cartão. Era hora de ligar pra Christa.