– Até que foi uma ronda tranquila, hein? – disse Malfoy, recostando-se em uma das poltronas.

– Foi sim. Acho que os alunos finalmente entenderam. – nessa noite, somente dois alunos foram encontrados fora da cama. Uma garota lufana e um sonserino, aos beijos em uma sala vazia. De longe a parte mais divertida da noite. Sério mesmo, ver a expressão dos dois alunos quando entrou naquela sala, fez Hermione querer rir. Mas aguentou. Depois daquilo, ela e Malfoy ficaram perambulando pelos corredores, trocando algumas palavras, com um silêncio constrangido na maior parte do tempo.

– Quer se sentar, Granger? – perguntou Malfoy, quando Hermione continuou em pé.

– Bem, eu... Claro.

Hermione não conseguia evitar a hesitação que acompanhava qualquer conversa com Malfoy. Apesar de tudo, era uma situação estranha, depois de anos de ódio e desprezo.

– E então, as coisas melhoraram com o Weasley? – Malfoy viu a expressão de Hermione e corou levemente. – Quer dizer... Sem brigas, certo?

– Claro, estamos bem. Ron acabou sendo compreensivo, afinal. Ele sempre é. – Hermione deu um sorriso tímido. O que é que estou fazendo aqui? Sentanda junto ao Malfoy e conversando com ele sobre coisas intimas? Os pensamentos de Hermione ricocheteavam descontroladamente dentro de sua própria mente, desacostumados àquele contexto.

– Sempre? Desculpe Granger, mas Weasley não me parece sempre compreensivo.

– Bem, ele é! Quer dizer... Às vezes ele confunde as coisas, e fica nervoso. Mas quem nunca é assim?

– É. Tem razão. Eu... sinto muito pela Pansy hoje, ok? - a última parte foi falado tão rápido, que Hermione levou alguns segundos para processá-la. Esboçou um sorriso.

– Ahh, Malfoy, qual é? Não é da minha conta com quantas garotas você fica. E nem se elas não prestam. – Malfoy soltou um risinho abafado e olhou para Hermione.

– Com quantas garotas você achava que eu fico?! Do jeito que você fala, parece que são cinquenta por dia!

Hermione revirou os olhos, pois era mais ou menos aquilo que ela pensava, de fato. Tentou evitar encarar o loiro nos olhos.

– Bom, isso também não é da minha conta, mas...

– Tá. - interrompeu o loiro. - Eu até que admito que já fui bem er-

– Galinha? - Hermione se apressou em dizer, rindo de leve, para que ficasse claro que ela não estava realmente julgando.

– Não era isso que eu ia dizer!

– Sinto muito.

– Deixa pra lá. – Malfoy acabou por rir também, se afundando mais em sua poltrona, descompromissadamente, parecendo solto. – Mas e você? Até parece que depois do Krum, só teve o Weasley. - Draco disparou aquela sem nem piscar, passando as mãos pelos cabelos, sem perceber.

Hermione corou loucamente. É claro que ela sabia que todos ficaram sabendo de seu pequeno casinho com Victor, mas ainda assim, jamais se acostumaria às pessoas falando abertamente daquela maneira. A grifinória desviou o olhar para o teto, não querendo responder; o olhar persistente de Malfoy, entretanto, queimou em seu rosto, e ela começou a falar:

– Na verdade, foi sim. - começou ela. - Quer dizer, é claro que não podemos contar o...

– Potter? – se adiantou Malfoy, com um sorrisinho malicioso.

– O que?! Você acha que Harry e eu...? Não, é claro que não! Ele é só meu amigo! Meu melhor amigo. Por Merlin, Malfoy.

– Uh, ficou nervosa, é? Eu dúvido muito que vocês nunca tenham dado uns beijos ou coisa do tipo. Mas vou fingir que acredito. De quem era o nome que você ia dizer antes de eu te cortar?

Malfoy a fitava intensamente, com um interesse ávido, como se a garota fosse um artefato extremamente raro que ele precisava compreender.

– McLaggen. – Falou a castanha finalmente, meio a contra-gosto. Por que estou dizendo essas coisas a ele? O que você está fazendo Hermione?

– O QUE? É sério isso!? Achava que você tinha dispensado aquele trasgo! - Malfoy estava mais do que absolutamente pasmo, indignado, abismado. Ele parecia estar esperando que Hermione dissesse "Aha! Brincadeira!"

– E dispensei, sim, mas antes eu...

– Beijou ele? - Malfoy perguntou como se os dois fossem melhores amigos confidentes, compartilhando histórias de verão. Hermione, mais uma vez, se perguntou porquê estava ali, tendo aquela conversa. A expressão interessada de Malfoy, entretanto, a fez continuar.

– Sim, mas foi...

– Eca! Que nojo Hermione, como teve coragem? - Malfoy mal dava tempo para a garota responder, e ela não sabia se devia rir ou chorar. Ou, respondê-lo.

– Eu só queria enciumar o Ronald... Eu nem sabia o que estava fazendo. E, há meio ano se ouvisse isso diria que tinha nojo de mim, certo? Então, relaxe. - Hermione não sabia ao certo porquê sempre voltava para esse lado, atacando. Talvez, a garota só não estivesse acostumada com a presença de Malfoy. Fosse o que fosse, se arrependeu assim que falou.

– Você não me desculpou, não é? Escute, eu sei que te fiz muito mal... Mas mudei, ok? E já te expliquei essa historia de nojo. Não me obrigue a dizer de novo... – Malfoy corou.

Hermione encarou as palmas das mãos, envergonhada por sua infantilidade. Ela era uma pessoa amadurecida, segura de si, qual a necessidade de ficar revivendo aquilo tudo com comentários ressentidos? Como se ainda se importasse muito. Droga, Hermione.

– Me desculpe... Eu me descontrolei. - começou. - É sua culpa! Fica me fazendo perguntas constrangedoras, eu não sei o que dizer! - Hermione cuspiu as palavras sem querer, e quando se deu conta do que tinha dito, se repreendeu mentalmente outra vez. Que merda estava acontecendo com ela?

– É, eu faço isso com as garotas. - rebateu Malfoy.

– Faz o que?

– Deixo elas sem saber o que dizer. – o sonserino deu um sorrisinho "sedutor".

– Ugh! Pare de ser tão convencido! E faça-me um favor: nunca mais tenha essa expressão de sedução no rosto. Isso é horrivel. – Tem certeza, Hermione? Uma vozinha no fundo da cabeça da garota a desafiava. Ela chacoalhou a cabeça, exasperada.

– Horrivel? Com a Pansy funciona bastante bem.

– É, mas isso é porque ela é uma idiota com uma azeitona no lugar do cérebro. Isso se chegar a ter algo assim tão grande naquela cabeça...

– Você realmente a odeia, não é Granger? - disparou Malfoy, depois de um momento de silêncio intenso.

– E você realmente gosta dela, não? - Hermione continuava desviando suas perguntas, desconfortável. Aquilo não fazia realmente seu feitio, mas não conseguia evitar.

– Gostar dela? Não. Ela era a minha diversão... Mas isso é errado. Eu mudei e agora ela não é, bem, nada pra mim.

Hermione encarou o garoto pálido, os cabelos prateados faziam sombras no nariz fino, os olhos tempestuosos a observavam.

– Como você pode ser tão frio assim? - a grifinória não tivera a intensão de sussurrar, mas foi o que fez, como se não quisesse evidenciar quão degradante Malfoy podia ser.

– Não sou frio. É uma questão de filtrar as relações, tão necessário quanto cortar as unhas. Mas.. estou com sono. Vamos subir?

Hermione o olhou, não querendo parecer admirada, mas se sentindo. Piscou, quando percebeu que o garoto esperava uma resposta, e se apressou:

– Claro.

Já no quarto, a garota não conseguiu adormecer imediatamente, como queria. Ficou pensando em tudo o que acontecera nas duas últimas semanas. Como era possível? Se há um tempo atrás lhe falassem que chegaria a ter uma conversa daquelas com Malfoy, Hermione teria começado a rir descontroladamente. Tenho que dar uma chance a ele, pensou Hermione, Vai que ele realmente mudou... se for o caso, mais um amigo não me faria mal algum. Ainda assim, era difícil de visualizar tal quadro. O jeito seria esperar, ver o que os próximos dias trariam, se mover conforme a corrente. Duas horas mais tarde, a castanha adormeceu. E naquela noite, Draco Malfoy estava em seus sonhos.