Me virei lentamente, e podia sentir o ódio queimar dentro de mim. Eu havia aguentado coisas demais, choros sem necessidades, gritos e diversas outras coisas, mas um tapa era o nível máximo que eu podia chegar.

Respirei fundo diversas vezes, e podia sentir meu rosto queimar e latejar. Eu queria chorar, mas não faria isso, aquilo a deixaria feliz, ela sentiria a sensação de missão cumprida, e eu nunca deixaria que isso acontecesse.

Ela não disse nada, estava com os olhos esbugalhados olhando para mim, talvez esperando que eu dissesse alguma coisa ou melhor, fizesse. Eu queria fazer, mas se eu fosse cumprir a minha vontade acabaria agindo como um verdadeiro monstro.

- Eu odeio você. - cuspi todas essas palavras lentamente para ela.

Me virei e fui para o meu quarto. Eu precisava fazer alguma coisa, precisa sair daquele lugar. Olhei pela janela. Alta demais para pular, e se eu tentasse acabaria quebrando ou deslocando alguma coisa, o que faria ela me acalçar a me prender. Peguei algumas roupas e algumas coisas e coloquei dentro da mochila da escola. Eu poderia até não fazer nada, mas ia embora, disso eu tinha certeza. Aquela casa havia se tornado um inferno para mim.

Enquanto me arrumava ouvi algumas coisas sendo quebradas no cômodo de baixo. "Louca" , pensei. Depois de ter certeza de ter pegado algumas coisas importantes desci as escadas. Ela não me impediria de sair. Não mesmo !

- Onde você pensa que vai ?! - porque ela não podia falar baixo ?

Não respondi, continuei andando, e pela primeira vez notei como aquela porta ficava longe. Mas antes que eu pudesse alcançá-la minha mãe se pôs a minha frente e me segurou.

- Você não vai sair ! - berrou ela, enquanto me balançava freneticamente.

- Eu vou ! - gritei de volta.

Antes que eu pudesse me desviar ela me deu outro tapa. Chega ! Aquilo era demais, quando joguei minhas coisas no chão pra resolver aquilo de uma vez por todas vi o Enzo parado no meio da sala. Eu não sabia como ele havia conseguido entrar, mas estava lá, e observava a tudo muito chocado. Corri até ele e o abraçei. Não importava mais o que minha mãe iria achar, ela ja não me importava mais.

- Enzo, eu preciso sair daqui.

- Eu sei, - ele passou a mão no meu rosto que queimava ainda mais.

Me virei para tentar sair mais uma vez quando minha mãe me deu um empurrão. Cai no chão e o Enzo me ajudou a se levantar.

- Ela não vai deixar você sair. - ele estava desesperado, parecia querer chorar.

- Você esta louca, - minha mãe começou a gritar mais ainda. - sua vadia ! Você não vai sair daqui e sabe porque ? Por que eu vou internar você !!!

Não, ela não podia fazer aquilo. Teria coragem para isto ? Aquele ponto eu ja não sabia mais, tinham sido dois tapas e um emburrão. "Concerteza", pensei.