Sonhos vívidos eram uma constante. O Sol estava se pondo e Soujirou observava a luz amarela do dia se esbranquiçar enquanto o astro tocava o mar, mas antes de mergulhar definitivamente o tempo parava em um eterno crepúsculo. Da montanha saia um dragão luminoso, da floresta saia um leão de fogo e os dois se enroscavam numa luta que fazia a própria Terra reverberar. Seus irmãos assistiam a tudo ensanguentados. Eles riam e debochavam ou choravam e se lamentavam pela batalha. Tudo começava a ficar confuso até uma voz sussurrar: “O dragão venceu” e outra responder “Mas que fim teve o leão?”

            Então Soujirou abria os olhos mais uma vez. Chuviscava do lado de fora e o dia tinha o aspecto nublado. Estava um pouco frio e parecia o momento perfeito para se dormir, só que não tinha mais sono. Ficava olhando para a chuva e pensando em tudo o que tinha acontecido. Já fazia seis meses que Shishio havia perecido na batalha do monte Hiei. Com o seu antigo mestre morreram todas as suas certezas. Mesmo derrotado por Kenshin Soujirou tinha esperança que Shishio vencesse e salvasse suas antigas crenças.

“Para os fortes a vida para os fracos a morte.”

No entanto, Shishio está morto. Kenshin tinha vencido, seria de se esperar que a verdade que ele carregava fosse a correta, mas o próprio Kenshin refutou esta hipótese.

“Dizer que o vencedor está certo é dizer que Shishio está certo. Ninguém levaria um modo de viver tão errado se uma resposta pudesse ser obtida com apenas uma luta ou duas. A resposta será um fruto de seus esforços para viver a vida de acordo com seus ideais e não o resultado de uma batalha.”

O espírito de Himura era tão intenso, tão puro... Alguém com esse dom não podia estar falando tolice. Ou podia? O mais estranho é que durante a luta Kenshin tinha se oferecido para entrar no seu passado. E de alguma maneira realmente entrou. Quando o espírito de Himura atingiu o seu passado tudo virou de cabeça para baixo. O sorriso era um choro a vontade de matar era repugnância. Como? Por que?

10 anos... Era o tempo que achara necessário para descobrir a resposta. Meses se passaram e não havia aprendido nada, nem pista. No começo 10 anos não pareciam muito, agora que a duvida se aprofundava um mês, uma semana pareciam uma eternidade. Quando sorria pensava se estaria se enganando. Talvez o sorriso fosse só um disfarce e outro passado monstro fosse lhe atropelar. Esticou as pernas, pegou suas coisas, pagou a conta e saiu na chuva de chapéu. Foi na chuva que tudo começou. Quem sabe debaixo dela pudesse tudo acabar ou pelo menos evoluir.