Clube Do Imaginário escrita por ShoutOut


Capítulo 5
5 – Barris de pólvora imaginários.1 sexta-feira 13




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5 – Barris de pólvora imaginários. Uma sexta-feira 13. E primeiro dia do clube.

1ª relato de Hansel Dedrick

E cá aqui estamos criaturinhas do mal, bem-vindos ao começo da história mais maluca de sete esquisitos da história.

Sério, acho que vamos entrar no Guiness qualquer dia desses, fiquem de olho!

[Eu não tenho risada de cientista do mal, quem tem é você, Gar!]

Oi! Querem um pouco de estranheza, loucura, drogas, bebida, beijos loucos e gente maluca? Pode se juntar a nós no que parece mais um manicômio do que um clube inocente de adolescentes.

Ah, fala sério, desde quando adolescentes são inocentes?

Sou um dos maiores exemplos disso, sem querer me gabar.

Assim que nos tornamos jovens nesse mundo idiota, quando a infância desaparece por completo, a inocência pega o barco da infância e diz “Tchau babaca!” para nós.

Você ai, deve ser mais um esquisitão de primeira linha preso nessa sala para ver o que mais esquisitões podem lhe dizer não?

Beleza, só pra começar, todo mundo é doido.  Não importa do que você diga. Nenhum ser humano é 100% normal, isso é perfeição demais e ninguém é perfeito.

Bem, o comandante da frota estrelas e o astro branquelo do basquete tão me enchendo o saco para começar a falar logo a história, porque eu to embromando.

Ninguém pode filosofar um pouco aqui, saco!

[Não, nadinha, eu juro Mone! Tá, só um pouquinho!]

Oh povinho chato não?

Continuando, só pra simplificar, porque eu to ficando com raiva de tanto falarem do Rudy já.

Olhei pra cara dele e pensei em Behind The Blues Eyes, do Limp Bizkit foi automático.

Nem sei por que, o garoto parecia uma pedra psicopata querendo atacar quem passasse na frente dele, mas a música, mesmo sendo uma música mega sentimental, veio na minha cabeça, fazer o que né?

Naquele dia, pensei em fugir da porcaria do clube e ver se era logo expulso daquela droga de escola de uma vez.

Minha mãe diria que eu pareço daquele filho da puta que eu infelizmente tenho o sangue, falando que eu ajo como ele e penso como ele, e no final das contas eu sairia batendo a porta de casa, descontaria a raiva na primeira garrafa de bebida que conseguisse comprar e entraria de madrugada em casa, a tempo de escutar minha mãe chorando no quarto dela abraçada as roupas que o merda deixou para trás.

Amor é uma merda! Minha mãe perdeu parte da vida por causa dessa porra!

Resumindo tudo que eu sei que você está curioso: Eu tinha dez anos, meu pai era uma espécie de herói pra mim, e adorava a minha mãe, mas, como todo encanto tem seu fim, ele se apaixonou por uma vagabunda que conheceu por ai e deixou eu e minha mãe sozinhos nessa droga de mundo. Nem meu avô paterno, que eu idolatrava na época ajudou em alguma coisa. Minha mãe passou meses ruim, com raiva gritando sempre que podia e quem era a principal vítima? Euzinho. Ela entrou em depressão, começou uma terapia e melhorou. Mas acabou esquecendo que tinha um filho que supostamente deveria amar mais do que tudo no mundo.

Ela me dava uns instrumentos musicais quando eu pedia, mais nada. Nunca mais me abraço. Nunca mais perguntou se eu estava bem. Nunca mais perguntou como eu ia na escola. Nunca mais perguntou se eu gostava de alguma menina. Nunca mais falou nada além de me dar bronca de vez com uma voz ríspida altamente controlada e sem emoções , algumas coisas sem importância como “Vou pro fórum, se quiser te levo pra escola”(isso é meio inevitável quando duas pessoas moram no mesmo teto né?) e dizer que o instrumento que ela tinha comprado tinha chegado.

Mas quem disse que ela era a única que precisava terapia? Resumindo, bebi uma vez aos treze, tinha tanta raiva e tantas lembranças ruins na época que parecia está além da minha capacidade de amadurecimento. Roubei uma garrafa da minha mãe e bebi escondido. Era bom, fazia me esquecer da raiva que sentia de tudo no mundo, relaxava.

Fui querendo mais, mais, mais... Principalmente quando minha mãe piorava e acabávamos brigando. A escola se tornou um saco maior ainda, então entrei nas drogas para achar algo que me relaxasse com mais força.

Então acabei virando quem vocês conhecem aqui, o super Hans.

Eu sei que tenho a Ramone, e meus instrumentos.

Ramone foi sorte.

Meus instrumentos? Uma forma que minha mãe tinha achado de dizer: “Te vira garoto, faça sua vida, seja feliz por mérito, não to nem ai pra você”

No começo aprendi a tocar para tentar alegrá-la, fazer com que eu e ela tivéssemos diversão novamente juntos, só que ela continuou a me ignorar. O primeiro eu tinha onze anos, e foi exatamente nesse ano que eu descobri que os filmes eram uma grande mentira, que o mundo lá fora, não era como num filme hollywoodiano estava mais para um pesadelo-sonho maluco.

Depois, aprendi a tocas para me ajudar, não era bom em expressar os sentimentos com o corpo, então... A música ajudaria como se fosse: “Ei mundo, destino, karma ou sei lá que porra comanda o universo, eu to aqui, eu ainda vivo nessa merda por mais que não goste!”

Eu acabei descobrindo que realmente tinha talento para aquilo.

Tá, tá, Harley está gritando no meu ouvido que eu deveria mostrar um pouco de modéstia. Mas, se você é um esquisitão, todo mundo te olha estranho, você tem que ter algo de que se orgulhar não achas?

No dia da primeira reunião do clube, acho que por causa da Ramone, resolvi ir para aquela sala abandonada e ver no que aquela loucura iria dar. Levei minha gaita (presente de um avô que eu não via há seis anos) no bolso.

A aula naquele dia foi um saco, então não vou nem comentar.

Eu morava um pouco longe da escola, tive que sair de casa às pressas.

- Vai aonde? –perguntou minha mãe tão séria como uma advogada que por acaso era.

Irônico não? Eu quase pulando a lei todo santo dia e minha mãe era advogada.

Não discutimos muito por causa da briga, ela só disse que escola era um lugar cheio de regras, mas era mais fácil que a vida adulta, muito mais fácil.

Regras mais maleáveis, ou seja, mais fáceis de serem quebradas, punições mais leves. Só os potencialmente retardados fazem isso. O mundo era algo maior do que eles.

Cheguei a pensar no absurdo de minha mãe ter sido uma rebelde na adolescência.  Ai lembrei que ela chamou os rebeldes da escola de retardados e não.

Minha mãe tinha sido só uma nerd assustada, certeza!

- Desde quando você se importa? –perguntei com certa raiva, ela me olhou um pouco surpresa. – Lembra o clube que eu vou ter que participar? Reunião agora.

- Eu te levo, é no caminho do fórum. –falou ela sem emoções como sempre.

- Não precisa. –sai de casa com passos longos e rápidos com as mãos sobre o cantil com cerveja que carregava na jaqueta.

“Você não precisa dela, Hansel!” – gritei na minha cabeça “Nem agora, nem nunca”

Peguei o ônibus que pegava todo dia para ir a escola, me sentei o mais afastado que pude de qualquer ser humano e bebi um pouco pensando em relação a tudo, vida, clube idiota que eu teria que participar, a bebida, as drogas.

Senti-me numa espécie de sala escura onde a única luz presente no local era uma vela em minhas mãos. Na minha frente se encontravam vários barris e na frente deles tinha um pequeno caminho de algo preto que eu sabia que era pólvora só pelo cheiro.

A vela estava em minhas mãos a ponto de acabar e eu tinha que queimar um dos barris, mas não fazia ideia qual era o certo. Andava de um lado para o outro sem saber o que fazer, completamente perdido.

A escolha mais sensata foi apagar a vela e ficar olhando para os barris. Não sabia que conseguiria o fogo novamente, mas pelo menos, queria a escuridão naquele momento.

Foi como se senti assim que pisei na minha escola. Senti-me como se tivesse que aguardar para dar o próximo passo, que algo me ajudaria se alguma forma a fazer a escolha certa.

Eu sei, estranho né?

Era como se eu estivesse esperando, alguma hora teria uma importante decisão da tomar, quando barril seria o explodido? Eu não sabia.

Peguei minha gaita no caminho da sala 13, comecei a tocar Dust In The Wind do Scorpions uma musica que me relaxava muito, e eu nem sabia o porquê.

“Sala 13, terceiro andar” Fiquei repetindo na minha cabeça.

Parecia trava-língua. Lembrava-me do dia que conheci Ramone.

Sexta-feira 13 realmente era meu dia de sorte.

Eu sei que não faz muito sentido eu ligar os dois fatos, mas minha cabeça não fazia sentido e estava com álcool nas veias, então, minha sanidade não era a melhor coisa do mundo.

Engraçado né? Um dia que é de azar, eu tenho essa sorte.

Sim, Ramone foi uma sorte.

Eu tinha começado a estudar no Neil Armstrong, tinha quatorze anos (sacou que eu entrei rápido na sala-reformatório né?), estava no começo da bebida só, e tinha conseguido comprar uns cigarros numa mercearia dizendo que eram pro meu pai (tá vendo o que eu sou mentiroso né?), ainda não tinha experimentado.  Era janeiro, a aulas tinha começado há poucos dias.

Estava concentrado no violão em minhas mãos. Estava com mania de só querer aprender música difícil e Bother do Stone Sour não era a coisa mais simples do mundo para ficar boa, principalmente só com o violão acústico, na original tem até violino cara.

E outra, quando eu achei essa música, na boa, parece muito comigo. Gostei dela de primeira, até hoje tenho ela na cabeça.

- Que droga. –falei para mim mesmo. – Para de ser idiota e confundir as notas.

Concentrei-me no violão e comecei a tocar de novo. No meu cérebro só as notas apareciam. Eu tinha que seguir o ritmo.

Era mais fácil não se atrapalhar cantando, mas eu ainda era meio inseguro com isso. Sei lá.

Fiquei observando a arquitetura da escola. Até gosto disso, construir coisas e como elas eram construídas. Minha escola me lembrava um pouco castelos que aparecem em filmes e tudo mais, mesmo sendo só uma casa enorme, castelos tinham outra fisionomia. Talvez quando a casa foi construída o antigo dono queria algo tão majestoso quando um castelo. Quase conseguiu, tirando umas partes e o fato de ser bem menor.

 Era algo que, pelo o que eu sabia, eu e o idiota do meu pai não tínhamos em comum, já que ele, pelo o que eu lembrava, administrava alguma coisa.

- Stone Sour! –uma garota gritou alegre. – It’s so cool.

Ainda bem que eu sabia umas coisas de inglês, porque Cool pra mim pareceu outra coisa.

- Garota. –falei meio entediado. – Dá pra falar a minha língua?

- Ah, você é o Hansel, da minha sala, o novato. –ela falou sorridente. –Sou a Ramone Brücke.

Ramone Brücke... Ah, a garota que adorava inglês. A professora de inglês praticamente idolatrava a garota. Tentei ignorá-la, tudo que eu menos precisava era de uma garota doida do meu lado.

- Você tá confundindo as notas e até mesmo parte do ritmo, tá fazendo lento demais. –ela falou um pouco séria. – Tem algum jeito de eu te ajudar?

BUM! Como se fosse uma bomba nos meus pés, a pergunta explodiu em mim.

Aquela pergunta ecoou na minha cabeça por alguns segundos em dando um soco na minha alma. Seria aquela pergunta que há anos eu queria escutar de alguém? Eu não sabia... Minha cabeça ficou confusa. Balancei-a de leve afastando meus pensamentos.

O que eu estava virando? Um garotinho assustado que precisava da ajuda de uma garota doida?

Eu nem sei por que me afetou tanto essa pergunta, ela só estava falando da música, mas... Sei lá!

“Não, um garoto doido, uma garota louca, boa combinação. Só!” –foi o que eu pensei na hora.

- Sabe a letra? –ela fez de sim com a cabeça. – Cante.

- Eu canto mal. –ela disse meio envergonhada.

- I don’t care. –falei em inglês soltando um sorriso de leve.

Pelo menos, não era mais um doido sozinho contra o mundo. Tinha alguém com quem contar. Soube disso naquele dia. Sei que é burrice confiar em alguém de primeira, mas Ramone emanava algo que me relaxava. Ela tentava me entender, tentava me reconfortar quando a bebida e as drogas não conseguiam.

Era o pedaço de conforto que eu tinha perdido quando era pequeno.

Cheguei à sala 13. Meu plano era sentar no canto, cruzar os braços e calar a boca. Só responder quando falassem comigo.

Assim que pisei no local sabia que não iria dar certo.

Harley, Tessa e Max estavam lá conversando normalmente sobre um anime chamado Black Rock Shooter e nem prestaram atenção quando me pus num dos sofás da sala.

 O lugar era um pouco menos do que as nossas salas, talvez uns 4m², tinha dois sofás de um cinza-escuro de três lugares formando uma espécie de L e uma mesa no centro. Em cima o lugar tinha algumas prateleiras de madeira negra com algumas fotos de ex-alunos.

As paredes deveriam ter sido brancas há alguns anos porque estavam descascando e com uma coloração meio acinzentada.

- A música é legal. – Max falou com a cabeça sobre o peito da irmã que mexia no cabelo dele. – Demorei um pouco pra pegar no teclado, mas ainda é legal.

- Só a voz da Hatsune Miku que estraga, por mais que eu goste da Miku é verdade. – Tessa falou fazendo biquinho. Dei um sorriso involuntário. – Black Rock Shooter era pra ser cantada por um homem, não por uma garota com voz fina feita no computador.  Sei lá, acho que se fossem mais grave e cantada por um homem ficava melhor.

- Não acho. –é claro que conhecia a música, Ramone tinha feito eu aprender ela na guitarra. – Fica estranho. – Sim, eu sabia a letra daquilo. – Pode confiar em mim.

            Foi ai que as suposições começaram. Tessa olhou para mim de um jeito que eu sabia que não acreditava que eu realmente entendesse de música.

            - Se canta e toca tão bem quanto dizem por ai, porque nunca entrou no concurso de talentos do colégio? –perguntou a ruiva com cara que queria me desafiar.

            - Antes de tudo isso não é da sua conta. –falei azedo com um sorriso desafiador nos lábios. – Mas eu vou dizer, foi falta de vontade. Esse pessoal é ruim, não quis humilhá-los.

            Ela cruzou os braços e soltou:

             - Duvido que seja tão bom quanto dizem.

            Dei um riso baixo e peguei minha gaita, me sentei mais confortavelmente e toquei logo tema do super Mario.

            Só crianças sem infância não conheciam aquela música. Deu para ver pelos olhos da ruiva que eu estava acertando tudo.

            - Ai, depois de você ficar me admirando ruivinha. –falei apontando para Tessa que ficou tão vermelha quantos seus cabelos de raiva, meu sarcasmo detonava. – O que vamos fazer aqui mesmo?

            - Deixe os outros chegarem. – Harley falou séria. – Temos que começar a pensar juntos, sem brigas ou suposições, se não isso só vai complicar as nossas vidas. E isso é a última coisa que eu quero.

            Harley tinha razão, éramos sete desconhecidos que tinham sido obrigados a conviver sobre o monitoramente da diretora carrasca. Tínhamos que pensar juntos.

            - Desde quando você virou tão feroz garota? –perguntou Max confuso.

            - É a vida mano, ou você pisa nela, ou ela pisa em você. –ela falou normalmente ainda com a mesma cara séria.

            Comecei a tocar de novo e de vez em quando massageando o canivete sob a jaqueta que levava para todo canto (eu tenho algo errado com facas, gosto de carregá-las, mas raramente as uso). Tessa foi escrever algo no caderno que provavelmente ela levaria até par ao inferno e Harley e Max ficaram conversando baixinho.

            Que clube mais movimentado!

            Garrett chegou sozinho, com a cabeça abaixada murmurando alguma coisa com um papel nas mãos, provavelmente eram algumas questões que ele tinha que fazer já que estava a um passo do vestibular.

            - Larga isso garoto! –Harley gritou. – Sei que já sabe resolver isso tudo de cabeça.

            - Mas eu...

            - Se quer virar um cientista maluco. – Max falou sorridente. – Saia do terceiro ano e vá servir a NASA, eles precisam de caras como você.

            - Tá. –Ele jogou o papel de qualquer jeito num dos bolsos com um sorriso nos lábios. – Era física mesmo.

            Como se física do terceiro ano fosse a coisa mais simples do universo.

            Ramone chegou cantarolando algo e com seus fones de ouvido. Era The Ballad of Mona Lisa do Panic! At the Disco, conhecia bem a música.

- Vem cá. –falei a chamando com a mão desocupada.  Ela se sentou do meu lado sorridente

Pronto, só faltava o psicopata.

Ele chegou de maneira tão silenciosa que até me assustou. Behind The Blues Eyes começou a tocar na minha cabeça e fiquei com raiva por não ter levado meu violão naquele dia.

- Já que estamos todos aqui, vou dizer o que aquela... Coisa me disse. – Harley cerrou os punhos só de lembrar da diretora. – Temos uma semana para decidir que droga esse clube vai fazer e então, cada semana temos que entregar uma droga de relatório dizendo o que fizemos, com que finalidade e tudo mais, se ela aprovar, continuamos, se não, temos que fazer outra droga.

Todos ficaram calados por um tempo, aquilo literalmente era um programa de reabilitação. Viraríamos cachorrinhos dela.

- Desviem os rostos da câmera. –Rudy falou apontando para a câmera logo em cima da nossa cabeça. – Ela não capita som, se ela não ver nossos lábios estamos bem.

O garoto era esperto mesmo.

- Isso é um saco. –falei bufando de raiva. – Ficar sendo controlado por aquela mulher até sei lá quando. Acho que deveria cair fora desse clube e acabar sendo expulso logo de uma vez.

- E você não gosta de ser controlado não é? – Harley soltou sarcástica. – Por isso é um drogado.

- Desculpa celebridade, mas pelo que eu saiba você sai com mais garotos do que eu já fiz aniversário ao quadrado, acho que até drogados estão no meio então, que eu saiba isso não deve te encomodar. – soltei bufando de raiva.

- Olha como fala com a minha irmã Dedrick. –ele sabia sobre o meu pai, por isso usou aquela droga que eu carregava nas costas, cerrei os punhos.

- Max, cala a boca. –Ramone falou antes de eu soltar poucas e boas para o Rue.

- Você não pode falar nada garota. – Garrett falou. – A briga não é sua.

- E você também não nerd! – Ramone gritou com raiva.                

Tessa mandou todos pararem de serem infantis e calarem a boca antes que o negócio ficasse feio, mas começamos a especular sobre um e outro.

Éramos desconhecidos juntos.

Harley subiu na mesa.

- Parem! –gritou séria. – Não percebem? Temos que ficar juntos por mais que tenhamos especulações sobre uns e outros. Por mais que não quisermos fazer uma confiança crescer entre nós. Ela nos colocou juntos, não temos escolha.

- Você fala como se mandasse na gente. – Rudy se expressou pela primeira vez.

- Se quiser virar cachorrinho da diretora vá sozinho, eu só não quero ser controlada por aquela mulher sabendo que posso fazer diferente. – Harley soltou olhando bem no fundo dos olhos azuis do garoto, o clima ficou pesado na hora.

- E o que propõe rainha Elizabeth? – Garrett perguntou se sentando com cara de expectativa. – Um acordo de paz mundial?

Harley pareceu pensar por alguns minutos e quase pude ver uma lâmpada se acendendo em cima da cabeça dela, como nos desenhos.

- Um jogo. –ela disse. – Temos que confiar uns nos outros, por mais estranho que isso possa ser, se não isso tudo vai acabar só nos prejudicando. Cada um vai ter que responder uma afirmação dos outros, verdadeiro ou falso, e se a pessoa quiser acrescentar algo, fica a cargo dela, e temos que prometer sinceridade.

- Me tira dessa garota. – Rudy falou rispidamente. – Não vou confiar em um monte de desconhecidos do nada.

- Então fique ai. – Harley falou mal olhando para o rosto dele. – Só olhando, tentando não ferrar seu histórico escolar enquanto o resto pode fazer isso dar certo.

- Você fala como se fosse dona da razão. – Disse com raiva. – Concordo com o Rudy, isso é idiotice. Mal nos conhecemos.

- Engraçado. – Tessa se manifestou. – Vocês três estão brigando sobre confiança e há mais ou menos vinte quatro horas confiamos uns nos outros para não levar uma surra em poucos segundos.

Queria gritar: “Momentos desesperadores, medidas desesperadoras foguinho! Vamos pelo óbvio!”, mas ela estava certa. Meu Santo Kurt Corbain, por mais que eu não queria admitir, ela estava certa. Em menos de três segundos confiamos um no outro para nos salvar. E agora não conseguíamos fazer isso num lugar completamente calmo e passivo?

É, adolescentes desconfiados são coisas bem estranhas.

Mas era puro extinto de sobrevivência. Ninguém sabia se podia confiar em ninguém. Que artimanhas eles podiam esconder? Era um número absurdo que vinha a minha cabeça.

Eu e Rudy acabamos calados enquanto eles se faziam perguntas. As respostas de Harley e Max foram as que mais surpreenderam.

Ela não era a garota que passava na televisão.

- Você sai com todos aqueles caras por que quer. Verdadeiro ou falso? –perguntei por fim depois de ter passado um bom tempo com essa pergunta querendo sair da minha boca.

- Falso. –ela disse olhando para mim, dava para ver a verdade em seus olhos. – Só que tem horas que eu não tenho escolha.

Uma garota sem escolha, como um passarinho cego, ou uma estrela apagada. Sem utilidade para ela própria.

Fechei a cara e cruzei os braços. Não compartilharia nada com ninguém ali, Max sabia demais, em consequência Harley também e Ramone era alguém que eu confiava. Tessa, Rudy e Garrett eram as pessoas que eu não sabia se confiava ou não.

- Você queria ser famosa. –Rudy começou olhando para a Harley sério, mas parecia querer muito saber aquilo, era algo que realmente o incomodava, dava para ver em suas orbes azuladas. – Queria a fama toda no Kart. Verdadeiro ou falso?

Harley calou a boca e fechou os olhos para não demonstrar a confusão que consegui captar nos últimos segundos que seus olhos estavam abertos.

Ela não tinha a resposta para aquilo. Dava para ver, o garoto tinha forçado a barra.  Era uma pergunta que vagaria pelo cérebro dela por muito tempo e não acharia a resposta.

O celular do Garrett começou a tocar.

Aquilo era música de Star Wars? Aquele cara realmente era um nerd de primeira que lembrava até os sem estilo de filme americano.

- Acabou o tempo. – Garrett falou. – Podemos ir.

            O tempo passou rápido.  Três horas pareceram nem uma.

            Rudy caiu fora com as mãos na jaqueta que usava e cabeça baixa. Ramone resolveu ficar, garotas fazem amizade com rapidez, ela parecia está animada com Tessa e Harley.

Garrett ficou com elas e Max disse que tinha que ir para casa. Resolvi ir embora também, já bastava por um dia.

            Enquanto voltava para casa eu pensava coçando meus brincos (é uma mania que eu tenho quando realmente queria me concentrar).

Talvez, só talvez, não dava para saber ao certo. Harley estivesse certa. Tínhamos que confiar uns nos outros. Afinal, éramos os renegados da escola, Miranda nos atingiria separados, mas não juntos.

            Decidi continuar na neutralidade como Rudy para ver onde isso iria dar.Não sabia se esse era o mesmo plano do psicopata, mas acabei o usando para mim e pensando que era a mesma coisa para os dois.

            Seria mesmo que valia mesmo apena, me arriscar por seis malucos?

            “Será que esse clube maluco irá significar ou minha queda ou algo mais, algo que cheirasse a esperança, um lugar a salvo, para mim, para todos com que eu me importava?” –eu me perguntava confuso.

            Aquela diretora de uma merda só servia pra complicar a minha vida.

Últimas palavras deste relato:

Eu sei que é estranho, mas a confiança é como uma bomba. Você não sabe se ela te tornará mais poderoso e perigoso, ou te destruirá de uma maneira tão rápida que você nem vai perceber te transformando em cacos que nunca poderão ser juntados novamente. Por isso tenha cuidado com quem você confia.



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