As Nove Esferas escrita por azul


Capítulo 1
O irmão mais velho




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Eu vi o primeiro pranto do filho de deus. Vi a pedra virar pó, a água congelar e degelar até vagar no espaço. Vi as estrelas respirando e o leve vôo de uma borboleta azul. Observei em todos os detalhes a lenta marcha dos heróis rumo ao destino. Sorri todas as vezes que um tolo pronunciou em voz alta: “Meu destino!” para em seguida cair em trevas, em desilusão.

      Minha eternidade, dividida pelos homens, recebeu muitos nomes: dias, luas, meses, anos, estações... Em números fui chamado para impressionar: 100 anos! 500 anos! Mil anos! Um milhão, bilhão...

      Meu nome é Tempo. Alguns sábios aprenderam a andar na minha extensão e brincar comigo, outros se digladiaram para me controlar. Invariavelmente continuei minha passagem dando voltas, atrasando, avançando...

      Muitos foram meus discípulos, mas poucos entenderam minha voz. Alguns humanos se dedicaram especialmente a minha arte e desses conto uma de suas histórias.

      Miller nasceu numa tribo de ciganos no norte da Inglaterra. Com o passar dos séculos esta tribo foi extinta como todos os reinos dos mortais, mas para a criança ela foi uma família. O pequeno homem chorou e aprendeu a andar como tantos outros. Naquele tempo de espíritos ninguém estranhou quando String Miller segurou o meu manto pela primeira vez e brincou com ele. Uma antiga dança que aquele povo realizava em minha homenagem lhe foi ensinada e com ela Miller aprendeu a conversar comigo.

      Com a mudança das estações um homem sábio se encontrou com Miller. Galan Aion seu nome era e instruído na minha natureza ele foi. Miller escolheu Aion como mentor e juntos estudaram meus segredos.

      Durante muitos anos peregrinaram pela Inglaterra aprendendo com tudo e todos que encontravam. Sua viagem teria continuado indefinidamente se o destino não tivesse impedido. Neste tempo a fatídica declaração da torre branca já tinha sido assinada e seus desígnios começavam a pesar pelo Ocidente.

      Influenciado pela idéia de exterminar as “criaturas da noite” Wyndgarn um homem de iniciativa, poderoso e perspicaz reuniu um grande exército e marchou contra tudo que temia. Miller e seu mentor se viram obrigados a participar da guerra para não perder tudo em que acreditavam.

      Foram muitos anos de guerra com vitórias e derrotas até que encurralados numa armadilha mágica Wyndgarn viu seus homens congelarem e teve sua garganta cortada por uma memorável mulher que não é de quem nossa história conta.

      Nesta mesma época houve o grande encontro em que os magi pronunciaram pela primeira vez sobre o futuro conselho dos nove. Em alguns anos todas as tradições deveriam se reunir. Miller se empolgou pela idéia depois de ter engolido a morte de muitos amigos, mas Galan não se simpatizou desta maneira.

      Vamos levar a palavra do conselho aos ventos! Falou o discípulo. A guerra acabou nós vencemos e nos sacrificamos para isso se quisermos entender realmente o tempo que leva nossas vidas precisamos trilhar um caminho diverso. Replicou o mestre.

      Conflitantes demais eram as duas opiniões logo Miller deixou Aion e começou seu próprio caminho. Numa visão soube que deveria guiar jovens magos em suas próprias trilhas e que desta maneira iria receber uma revelação sobre a minha natureza. Através de suas artes eu lhe disse onde e em que dia iria encontrar os magos.

      Lentamente Miller se guiou até o porto de Wintlin onde, numa noite em um bar sujo, encontrou Dymmas um mago da morte que havia perdido seu mentor e estava sem rumo. Juntos esperaram o terceiro que eu tinha indicado.

      Adam chegou de maneira explosiva para os meus dois escolhidos. Um velho corsário que com dificuldade me escutava teve seu irmão assassinado e buscava vingança. Pedi para meu irmão Espírito para indicar-lhes em sonhos os meus desígnios, mesmo sendo jovens magos eles entenderam.

      O assassino tinha sido um tolo vampiro que mesmo protegido por uma poderosa senhora teve sua garganta cortada por Miller, meu escolhido. Meu Pai o Primórdio ofereceu grandes aventuras para meus pequenos estudantes e eles cresceram juntos até o momento da minha maior intromissão naquele grupo.

      Perseguidos por soldados sem contas Adam recebeu um golpe mortal. Miller há muito havia assumido os dois como discípulos e filhos. Assim gritou ele pelos meus cuidados, ofereceu seu sangue e seu espírito para ajudá-lo eu aceitei e dei um passo para trás. O momento se repetiu e Adam foi salvo. Miller virou meu mensageiro.

      Sem poder andar com seus amigos por conta de meus desígnios Miller os deixou com pesar no coração. Por desertos, anos, florestas e eras ele andou abençoado por alguns de meus irmãos, amaldiçoado por outros.

      Chamado de louco e perigoso Miller finalmente sentou na montanha e fechou os olhos assim viu meu rosto e agora caminha nas minhas mãos perdido-achado nos caminhos sem fim do meu corpo.


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