Sakura narrando ON

Virei as costas para o Uchiha para não ouvir mais nenhuma palavra sequer. Eu não podia permitir que ele visse as lágrimas que agora molhavam meu rosto. Minha vontade era de sair correndo dali, mas eu não podia fazer isto, pois sabia que seria seguida, e forçada a falar o porquê disto. Então eu comecei a dar passos firmes.

Não senti a presença de Sasuke atrás de mim, então ao invés de ir para a sala, eu me dirigi até o banheiro. Já estava acostumada com isto, sempre que tinha problemas na escola eu ia chorar no banheiro. Mas dessa vez era diferente. Não era exatamente um problema, era a minha falta de coragem.

Eu era covarde demais para admitir que no fundo eu nunca esqueci o Sasuke. Covarde demais para admitir para mim mesma, que só estava com o Sai devido a semelhança que eles tinham. Se eu não tivesse bebido ontem, talvez esse beijo nunca tivesse acontecido, eu não seria capaz de roubar um beijo de Sasuke estando consciente disto. Ou seria, afinal já fiz isto uma vez. Mas ontem, quando eu pedi um beijo seu, eu sabia o que estava fazendo... Sabia que eu o queria do fundo do meu coração, sabia que eu queria um beijo seu, sabia que poderia ser o nosso único beijo de verdade. As lágrimas escorriam pelo meu rosto com mais frequência agora.

Ouvi o som de passos vindos de fora em direção ao banheiro, esfreguei os olhos rapidamente secando minhas lágrimas, mas não dava para disfarçar totalmente, meu rosto estava vermelho entregando a dor que eu sentia. Uma menina branca de cabelos preto azulado e olhos perolados entrou no banheiro.

– Você estava chorando? – me perguntou a menina com uma voz doce.

– ... – não consegui responder de imediato, e novamente as lágrimas vieram, então eu respondi – não adianta mentir, não é? – disse tentando sorrir.

– Acho que não é uma boa ideia quando seus olhos entregam tudo – ela disse olhando em meus olhos.

– Pois é, eles sempre foram assim – tentei sorrir novamente.

– Qual é o seu nome? – me perguntou a menina.

– Meu nome é Sakura, e o seu? – as lágrimas pararam de insistir em escorrer pela minha face.

– Me chamo Hinata, Hyuuga Hinata – respondeu ela gentilmente – Quer falar sobre isso? – ela disse me fitando.

– Sobre o que?

– Sobre o porquê de você estar chorando – me disse ela meio indiferente.

– Talvez não seja uma boa ideia – respondi tentando esquecer um pouco aquele sentimento que me atormentava.

– Tudo bem, mas caso queira falar sobre isto, saiba que estarei aqui – ela sorriu.

– Obrigada – respondi sentindo meus olhos marejarem novamente e uma lágrima teimosa escorrer por minha face, sequei-a.

– Já que você não quer falar sobre isto, sobre o que quer falar então? – disse ela sentando-se ao meu lado no chão do banheiro.

– Aaaai, tá legal. Eu quero falar sobre isto – eu disse e logo depois hesitei. E se ela conhecesse o Sasuke? E se ela contasse para ele? – Mas me promete uma coisa, não vai contar para NINGUÉM – eu disse.

– Fala – parecia que nos conhecíamos há anos, e estávamos confidenciando algo pela milionésima vez.

– Eu amo o mesmo garoto há onze anos – eu disse olhando minhas mãos.

– E...? – ela me incentivou a falar gesticulando com a mão.

– Eu não aguento mais, sabe? Eu passei onze anos longe dele, e ele permaneceu em minha memória, no meu coração. Eu tentei esquecê-lo, embarcando em outros relacionamentos, eu tentei tapar o Sol com a peneira, mas foi totalmente inútil. Ele continuou fazendo parte de mim. Nos afastamos por anos, e agora, quando volto para Konoha ele está aqui, no mesmo lugar que eu. Mas eu.. Eu não posso. Não posso me envolver! – desabafei com ela, disse tudo aquilo que me atormentava há anos.

– Eu sei como é – ela me respondeu, e não posso negar que fiquei surpresa – eu gosto do mesmo garoto há 9 anos, desde que ele veio para Konoha. E o pior é que eu tenho que conviver com ele todos os dias sem poder demonstrar o que eu sinto. Talvez eu seja uma inútil, porque mesmo se pudesse eu não faria isso, não sou forte o bastante para contar ao Naruto-kun que eu gosto dele... – sua expressão era de pesar, e a minha, bem, vocês já devem imaginar, era de choque.

– O Naruto!? – perguntei e por um momento esqueci de todos os meus problemas com o Sasuke. Ela ficou vermelha, tão vermelha que eu fiquei com medo de que ela estivesse passando mal. Depois de um tempo sua cor foi voltando, e eu me acalmando.

– S-sim – respondeu ela por fim. Não pude deixar de sorrir. Eles eram tão diferentes! Aí eu pensei em como eu e o Sasuke éramos diferentes também, e senti meu coração gelar. Sasuke era tão quieto e fechado, eu por outro lado adorava falar e me comunicar com as pessoas. Ele era totalmente o meu oposto, principalmente na aparência. Eu possuía os cabelos rosa e olhos verdes, enquanto seus cabelos eram negros assim como os olhos. Mas não era só isto. O Sasuke era na maioria das vezes frio com as pessoas, menos comigo, porque eu o conheço há onze anos, pensei.

– Sabe Hina, posso lhe chamar assim, não é? – ela acenou que sim com a cabeça – O que você acha de irmos almoçar no Ichiraku hoje? Eu, você, Naruto e Sasuke, o que você me diz? – ela ficou meio espantada a princípio, mas depois colocou um sorriso em seu rosto.

– Eu aceito –disse ela por fim – você gosta do Sasuke né? – me surpreendi com a pergunta.

– E-eu? Imagina, claro que não – sorri inutilmente.

– Já esqueceu que seus olhos lhe entregam? – droga, malditos olhos verdes. Sorri amarelo em resposta.

– Fazer o que.. – murmurei mais para mim mesma.

Sasuke narrando ON

A Sakura virou as costas para mim e eu decidi permanecer no mesmo lugar para que ela não pensasse que eu estava a seguindo. Vê-la daquele jeito, tão decidida me fez pensar que aquela não era a minha Sakura, aquela menina meiga que dependia de mim para tudo e que vivia chorando por qualquer coisa. Que sorria com a alma para mim e me fitava nos olhos. Que me abraçava e não sentia vergonha de dizer o quanto gostava de mim.

Eu nunca havia me sentido daquela maneira antes. Que sentimento era aquele que me consumia e fazia com que eu sentisse vontade de beijá-la e tê-la por perto a cada segundo da minha existência? Que fazia com que eu a desejasse apenas para mim? Que eu sentisse falta da sua simples presença, mesmo que fosse para que eu simplesmente pudesse admirá-la? Eu só tinha uma resposta para isso, uma resposta que eu não queria dar a mim mesmo.

Depois de muito pensar, ainda parado no mesmo lugar decidi andar um pouco pela escola, já que havia perdido a quarta aula. Tive uma surpresa quando cheguei à frente do banheiro feminino, Naruto estava na porta, quieto o que era um milagre.

– O que você está fazendo aqui? – perguntei para ele.

– Shhhhh, cala a boca Sasuke – disse Naruto baixo, decidi saber o que ele tanto queria ouvir, e fiquei ali com ele.

– ...ele veio para Konoha. E o pior é que eu tenho que conviver com ele todos os dias sem poder demonstrar o que eu sinto. Talvez eu seja uma inútil, porque mesmo se pudesse eu não faria isso, não sou forte o bastante para contar ao Naruto-kun que eu gosto dele... – eu não tinha certeza, mas parecia ser a voz da Hinata. Naruto fez uma cara de bobo ao ouvir isto, que só faltou babar. Eu, por outro lado, queria sair dali, já estava mal o suficiente para ter de ouvir uma pessoa falando que gostava de outra, eu estava prestes a fazer isto quando ouvi...

– O Naruto!? – era a voz da Sakura, eu tinha certeza. Foi aí que eu comecei a me interessar um pouco mais pelo assunto.

– S-sim – pude ouvir a voz baixa de Hinata confirmando tudo, e pude ver os olhos do Naruto brilharem. Quisera eu ter a mesma sorte do Dobe, eu desejava mais que tudo que a Sakura gostasse de mim.

– Sabe Hina, posso lhe chamar assim, não é? – Sakura parecia empolgada – O que você acha de irmos almoçar no Ichiraku hoje? Eu, você, Naruto e Sasuke, o que você me diz? – Bom, pelo menos ela não esqueceu que eu vou, pensei.

– Eu aceito – disse Hinata – você gosta do Sasuke né? – Meu coração disparou, peguei na gola de minha camisa como tentativa de deixá-la mais frouxa. Engoli em seco esperando pela resposta dela.

– E-eu? Imagina, claro que não – ela gaguejou, está mentindo. Não sei se era possível, mas meu coração acelerou ainda mais depois daquela resposta.

– Já esqueceu que seus olhos lhe entregam? – pude ouvir a Hinata dizendo. Eu conhecia aqueles olhos, e se a Hina viu que ela estava mentindo, é porque ela realmente estava.