- Tudo que Nós Tivemos - escrita por MellRodriguez


Capítulo 1
Everything We Had




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     –  Sei que será difícil de você entender tudo que irei dizer, mas eu preciso falar. Até algum tempo, achava que as primeiras pessoas que deveriam saber disso eram pessoas próximas de mim, mas... estava enganada. De certa forma, acreditava que você poderia saber e quem sabe tomar uma atitude, porém... tudo que chegou aos seus ouvidos foram coisas horríveis, e que jamais iriam sair de minha boca. Mas... finalmente tomei coragem para te falar que gosto de você de verdade. Nunca pensei que teria capacidade para adorar uma pessoa deste jeito. Você pode até me dar um fora, dizer que nunca sentiu ao menos atração por mim, mas antes isso do que ir mais uma noite para meu travesseiro me lamentar por ter perdido essa chance e me iludindo com o seu amor surreal.

        Você vai ter coragem para falar tudo isso a ele, Cris?

        Claro que não, Bruck!  

     A Bruck era a única que sabia do meu "amor platônico" pelo William, um estudante americano do terceiro ano, que veio fazer intercambio. Minhas pernas ficam bambas, começo a respirar calculando para não demonstrar a minha falta de fôlego, mecho no cabelo para não repararem as minhas mãos tremulas, e olho para os cantos para ninguém perceber que tudo isto é por causa da presença dele. Não há  homem no mundo que me faça ficar tão inquieta.

     3 meses se passaram e só nesse chove não molha. Ao menos tenho conhecido outros garotos interessantes, me distraído mais. Os meus pensamentos a respeito do Will não me consomem tanto quanto antes. Claro que por mais que saia com outros meninos, ainda não consigo me envolver com eles. Mas vou levando a vida assim mesmo, quem sabe essa minha paranóia pára. Hoje é sexta-feira e é dia de barzinho com os amigos. Fui ligar logo para Bruck para marcarmos com a galera. Assim que terminei de me arrumar, ela me ligou, falando que os meninos passariam aqui para irmos na festa de aniversário de um dos amigos deles;

     Em menos de meia hora, os caras apareceram e me deram carona até a casa do aniversariante. De longe, dava-se para ver aquelas luzes coloridas e uma aglomeração de pessoas ao redor da casa, de onde vinha um barulho bem alto do som. Saltei do carro e fiquei meio perdida, apesar de haver diversos alunos da minha escola. Por sorte, encontrei a Bruck perto da piscina. Andei o mais rápido para não perdê-la de vista. 

        Oi, Bruck!

        Até que enfim você chegou. Faz muito tempo?

        Não, não... acabei de saltar do carro.

        Ah, que bom. Bem, estas são Alice e Mary.

        Ah, prazer!

        A Bruck estava falando agora de você, não foi Mary?

        Sim, é mesmo. Vocês são da mesma sala?

        Não, eu sou do 1º B e ela do 2º C. E vocês duas?

        Somos do 3º ano A.

     Assim que a Maria terminou de falar, a primeira imagem que me veio a cabeça, era do William. Talvez por ele ser do terceiro ano. Mas deixei para lá, estava determinada a esquecê-lo nesses momentos de distração. Uma enorme sede tomou conta de minha garganta, e fiquei à alerta caso algum garçom que estivesse servindo bebida passasse. Para meu azar, nenhum passou. Acabei tendo de ir no bar que havia dentro da própria casa. A Bruck estava tão empolgada que nem notou a minha saída, mas também não queria interromper aquele momento dela por um capricho meu. Tomei coragem para passar por aquele batalhão de gente. Tudo bem que nem de longe sou discreta por causa dos cabelos ruivos e cumpridos, mas não foi o fim do mundo. Sentei perto do bar e pedi uma bebida não muito forte. Enquanto esperava, ficava observando aquelas pessoas conversando, rindo, bebendo, comendo... quem sabe até não via algum conhecido, mas foi inútil.

    Quando o barman me chamou atenção, virei meu pescoço, até que vejo alguém muito parecido com o William saindo do banheiro. Eu não podia acreditar que ele estaria nesse tipo de festa! Mas tive a certeza, pela sua forma de andar. Aquele jeito único acanhado e suas mãos massageando a nuca debaixo de seus cabelos castanhos um pouco ondulados com uma leve bagunçada atrás. Sem dúvida era ele, e tomei de vez num gole o drink de tão nervosa que estava. E agora? Ele estava aqui, nesse mesmo lugar. Corri para o banheiro e me tranquei lá durante um tempo para me recuperar do susto. Aah, ele estava lindo, e como eu imaginava que fosse o estilo dele, camiseta manga longa cinza e listrada, calça jeans, casaco, e tênis branco. Pronto, tomei fôlego e aconteça o que acontecer, manteria a calma!

     Após a minha saída, senti alguém me puxando pelo braço, era a Bruck:

        Vem, quero te apresentar uma pessoa! – Nunca a vi tão empolgada em me apresentar alguém, achava que era o efeito do álcool.

        Mas quem?! E por que esta me puxando desta forma?! – No fundo, fiquei assustada.

        Will, está é a minha amiga Cristine, acho que vocês tem os mesmo gostos. Não podia deixar de apresentá-la a você.

     Eu não acreditei que ela havia feito isto de uma forma tão artificial, ele deve ter pensando que isso foi programado. Porém, no fundo, eu estava explodindo de felicidade.

        Ah, oi. – Fiz um leve sorriso depois da troca de beijinhos no rosto – E aí, beleza?

        Ah, comigo vai sim... e com você?

        Comigo também. Curtindo a festa?

        Ta legal. Mas acho que eles podiam parar de colocar só dance. – Ele riu.

        Ah é. Eu prefiro mais um som alternativo.

        Minha preferência é a mesma. –  Ele riu novamente. – Vamos para lá pra fora? Acho que faz menos zoada.

     –  É, também acho, aqui está quase um horror. – Eu ri.

     Só faltava eu ter um treco quando ele sugeriu isso. Fomos para a piscina e sentamos na borda, o que era um perigo. As vezes algum engraçadinho tentava jogar quem estivesse próximo da água. Mas eu nem ligaria muito, quem sabe até não rolava algo ali mesmo?

     Voltamos ao assunto de música, e ele disse que tinha uma banda. Pedi para que ele cantasse alguma coisa, meio que já fazendo cena. E ele disse que sentia muita vergonha, mas ainda continuei insistindo: 

        Por favor! Por favor! Por favor! –  Fazendo bico.

        Ta, tudo bem, você venceu! –  Ele deu um sorriso de leve – Mas só canto se tiver algum violão.

        O pessoal que está atrás de você, tem uns três violões sem usar.

        Que música quer que eu toque?

        Não sei, a que você achar melhor. - Sorri.

        Beleza.    

     Ele começou a tocar uma música que jamais tinha ouvido, nem a sua melodia chegara perto de algo que já tivesse escutado. O refrão era "everything we had", que significava "tudo que nós tivemos", com certeza isso não iria sair de minha cabeça tão cedo.

        Gostou?

        Eu amei! Sério, a sua voz, a letra, a melodia... encaixam-se perfeitamente. Você quem compôs?

        Fui eu sim. Bem, tomara que nossos futuros fãs pensem isso. – Ele riu.

        Com certeza vão! – Ri também, mas um pouco sem graça depois de ter dito aquilo antes. 

     Conversa vai, conversa vem... e já não estávamos dentro da casa, e sim passeando pela rua, conversando sobre várias coisas. Tudo aquilo parecia perfeito. Teve uma hora, que faltou assunto e acabei falando algo sem pensar: 

        Uuuh... essa noite tá é fria, hein! –  Ele olhou pra mim assim que parei de falar e tirou o casaco.

        Desculpa, é que... me empolguei tanto na conversa que nem reparei que você estava congelando. – Riu.

        Ahh, não! Não precisa se incomodar.

        Não, relaxa... eu também nem estou sentindo muito frio. Deixe-me colocar em você. 

     Como é que um simples ser consegue mexer tanto comigo? Mas... ele não é simples, é... não sei, algo nele é diferente dos outros que já conheci. Suas mãos estavam me tocando, só podia estar sonhando acordada. Enquanto ele passava o casaco por cima de mim, fiquei colada ao corpo dele, e senti uma sensação de proteção, me senti segura entre seus braços, mesmo ele não sendo forte e bem magro. Quando ele terminou de colocar o casaco, dei um passo pra trás, para não parecer que era oferecida ou algo do tipo, até que ele mesmo, me abraçou forte. Uma de suas mãos estava me segurando pela cintura e a outra acariciava minha cabeça e descendo pelo canto do rosto, ele sussurrou perto de meus lábios:

     –  Desculpe-me. – Encerrando com um beijo. 

     Eu não entendi o motivo dele se desculpar antes de me beijar, mas achei que era pelo fato dele ficar me evitando no colégio. Enquanto nos beijávamos, ele passava as mãos em meu cabelo, depois com uma delas, descendo para cintura, sem nenhum tipo de ousadia, o que me deixava tranqüila. Pude sentir de perto o seu perfume, me dava impressão de estar nas nuvens. Não parei de tocar no rosto e no cabelo dele também, era algo que tomava conta de meus sonhos quando finalmente chegava a parte em que ficávamos juntos.

     Passou-se 1 mês, nós estávamos namorando. Tudo parecia perfeito, só que por esses tempos, ele passou a faltar um pouco as aulas, perguntava o motivo, mas ele sempre jogava uma conversa por cima ou falava que viajava para os Estados Unidos ainda pra terminar de pegar as suas coisas, deixei pra lá, pensei que fosse paranóia minha.

     Ele sempre me dava presentes, me levava para sair, tanto para lugares luxuosos quanto para lugares simples, por mim tanto fazia, só de estar na companhia dele me sentia satisfeita. Um dia ele me ligou:

        Amor, o meu presente já chegou aí?

        Sim Will, e eu amei! É lindo o vestido, deu certinho em mim.  –   Eu ri.

        Ótimo! Vista ele, vamos num lugar especial.

        Nossa, fiquei agora mais ansiosa do que o normal, onde vamos?

        Surpresa. Te pego às 21:00, certo?

        Certíssimo, mas por que esse horário?

        É que tenho um compromisso. Por que? Está muito tarde para você?

        Não. Só estranhei pelo fato de você só marca nossos encontros às 19:00. Mas certo. Beijão.

        Até mais amor. 

    Às 20:30 eu já estava pronta. O vestido que ele havia comprado era lindo: vermelho, acima do joelho, porém não muito curto. Talvez não tenha sido por acaso que ele comprou um scarpin preto com sola vermelha na semana passada.

    Deu 21:30, e nada do Will chegar, comecei a ficar preocupada, ele não costumava se atrasar. Resolvi ligar, que foi na mesma hora que tocou a companhia. Abri a porta e era ele, me cumprimentando com um selinho.

        Oi meu amor. Desculpe-me pela demora.

        O que houve? Já estava ficando preocupada.

        Ah, meu cachorro estragou a minha blusa. Tive que achar uma no meio daquela confusão que é meu guarda-roupa. Então, vamos?

        Vamos, vamos! – Sorri.

     Ele tentou disfarçar, mas estava nervoso e um pouco pálido. Sua pele já era branca, ficou parecendo uma folha de papel. Perguntei a ele se estava tendo algo errado, mas ele dizia que era só ânsia para chegarmos ao lugar. Fomos conversando sobre a banda dele, e ele havia me dito que gravaram pela manhã, 6 faixas de músicas e me deu um CD, que continha elas. A última faixa era "Everything We Had". Na frente da mídia, tinha escrito por ele "Uma lembrança eterna de minha sempre e fiel esposa... Cris". Enchi-o de beijos na bochecha. Com certeza era um dos melhores presentes. Depois de algum tempo, chegamos ao destino. Saltei do carro, e levei um susto:

        WILLIAM! Este é o restaurante...

        Bonne Nuit Mon Amour.

        Mas é muito caro!

        Ah, pára. Tente não pensar nisso.

     A recepcionista nos atendeu, e o William deu nossos nomes. Eu não estava acreditando, era um dos restaurantes mais luxuosos da cidade! Acho que só para eu comer sozinha, teria de economizar o meu dinheiro durante uns dez anos. Me surpreende mais quando a mulher começou a falar com aquele sotaque um pouco francês: 

     –  Venham, me acompanhem. Sem dúvida não iram se decepcionar, o ambiente que o senhor reservou é a nossa melhor área. O lugar dos sonhos para se pedir uma moça bela em casamento. 

     Ela não estava errada, o lugar era lindo... aliás, era perfeito! Estávamos na cobertura e tínhamos uma vista linda do mar. Não havia barulho, a não ser o som das ondas batendo nas pedras intensas lá em baixo. Um jantar bastante romântico. Nos sentamos, e o garçom nos deu o cardápio. Will sugeriu o que pedisse, confiei no gosto dele. Quando o garçom saiu, começou a tocar músicas lentas. Ele, muito cavalheiro me tirou para dançar, justo na hora que começou a tocar "Unchained". Meu Deus, eu estava com o homem mais perfeito, num lugar maravilhoso.

     Naquele momento percebi, que o amava, e que jamais, em hipótese alguma suportaria perdê-lo. Ele era quem me enchia de esperança, e que em seus braços me sentia segura. Era com ele que conseguia desabafar minhas coisas. Cada beijo seu era como uma ida ao paraíso. Nenhum, mas tenho certeza de que nenhum outro homem, me faria tão feliz quanto ele. Os momentos com o William eram sempre especiais, não tinha uma vez que voltasse para casa com aquela sensação de tédio, só ele me satisfazia por inteira.

     Queria eu poder conseguir falar tudo isso, mas nunca fui boa com as palavras, minha única reação que consegui demonstrar foi chorar de felicidade. 

        William, eu te amo. – Falei tão baixo que ele não conseguiu ouvir.

        Não, não minha princesa... não chore.

        Eu, queria tanto expressar o que sinto, mas... a única coisa que consigo é chorar.

        Você não precisa disso, eu sei que você gosta de mim.

     –  Não William, eu não gosto de você. É mais do que isso, eu te amo de verdade. – Abracei-lo na hora.

     Nesse momento, ele ficou paralisado.

        Cris... Diz isso de novo.

        William, eu te amo. - Olhei diretamente nos olhos dele, sem chorar mais.

        Cris, você não sabe o quanto te amo. –  Ele me abraçou fortemente ainda olhando para mim  –  O quanto sonho com este momento, você dizendo que me ama.

        Não é de agora que quero te dizer isso, meu amor, meu William. – Sorri pra ele. 

     O garçom chegou com a nossa refeição, e fomos nos sentar. 

     Will é uma daquelas pessoas que levam um tempão para mastigar um hambúrguer, quem dirá uma comida refinada como a culinária francesa, mas mesmo assim estava comendo muito devagar. Enquanto eu já estava na metade.

        Amor, a sua comida não está boa?

        Ah, está sim, ótima por sinal. E a sua

        Também. Então por que está comendo tão devagar? Não está com fome? – Nessa hora, o celular dele tocou.

        Cristine, já volto meu amor.

        Certo, mas tem algum problema?

        N-não. 

     Ele nunca se importou de atender um telefonema na minha frente, nem quando sua mãe ligava para reclamar de alguma coisa que ele havia esquecido. Passou-se 10 minutos e nada do Will chegar, comecei a suspeitar daquela ligação. Quando ele apareceu, abracei-lo: 

        Por que demorou tanto?

        Era um problema de minha mãe. Desculpa pela demora, deixei você aqui sozinha.

        Não, isso não é nada. Quem era?

        Aonde?

        No celular.

        Ah, era minha mãe. – Ele estava mentindo.

        Mentira. Quem era?

        Ninguém de importante meu amor...

        Então você assume que mentiu. Certo, quero ir embora.

        Embora? Mas você nem terminou de comer.

        Então me fale quem era

        Cris, relaxa.

        Will, vamos embora. Eu sei que você está mentindo.

        Tudo bem, se você quer ir, nós vamos!

     Ele pagou a conta e fomos para o carro. A volta foi sem nenhuma conversa. Quando ele parou em frente a minha casa, eu o toquei-o no rosto e perguntei:

     –  William, o que está acontecendo? Eu preciso saber. Sei que não estamos juntos não fazem nem dois meses, mas eu não quero que você minta pra mim!

     Ele continuou olhando para o volante, e sem hesitar me disse:

        Você é a razão do meu bem estar.

        Will, pára de enrolar e me conta o que está acontecendo.

        Não é nada meu amor. Vai, entra na sua casa. Sua mãe já deve estar preocupada.

        Ahh, é mesmo! Eu esqueci completamente de ligar pra ela.

        Ta vendo? Pode ir, isto é paranóia sua.  

     Quando eu já estava saindo do carro, ele me puxou pelo braço, acariciou meu rosto e ficamos cara a cara:

        Cris, sempre... sempre acredite que meu amor por você é eterno. Jamais irá mudar, eu te amo de mais, muito além do que achava.

        Meu amor, fala pra mim o que está acontecem...

        Ele me interrompeu com um beijo demorado, daqueles de novela e me abraçando. Pena que meu pai abriu a porta de casa e me chamou para entrar.

        Vai lá, eu te amo. - Sussurrou em meu ouvido e abraçando-me bem forte.

        Eu também te amo de mais. Me ligue amanhã. - Fechei a porta do carro.

        Adeus.  

     Senti uma terrível sensação de perda quando ele se despediu. Dei um boa-noite ao meu pai e subi para meu quarto. Bateu de repente uma dor de cabeça horrível. Troquei de roupa, pus uma camisola e me joguei na cama.

    Acordei já era tarde, umas dez horas da manhã, o Will costumava me acordar ligando. Tomei banho e fui fazer um pão na chapa. Liguei para a casa dele, ninguém atendeu. Liguei para o seu celular, estava desligado. Pensei que alguma coisa tinha acontecido. Ligava mais de cinqüenta vezes e nada. Me arrumei e peguei um táxi até à casa dele. Batia tão forte na porta que quem passava pela rua começava a olhar, até que uma vizinha gritou pela janela:

        Não adianta minha jovem, os donos viajaram ontem a noite.

        Viajaram?! Está bem, muito obrigada.

     Eu não podia crer! Por que o Will não me avisou?! Fiquei pasma com aquilo. Voltei para a casa a pé para fazer uma reflexão. Entrei em casa e minha mãe veio perguntar:

        Que cara de abatida é essa minha filha?

        Depois conversamos mãe. Estou subindo.

        Onde está o William?

        Não sei. 

    Continuei a ligar para o celular dele, no fundo tinha esperanças de que a qualquer momento ele poderia atender, mas foi em vão.

     Várias semanas se passaram e William continuava sem dar noticias. Cheguei em casa pelas 14:30 e meu pai me disse que havia uma carta para mim. Peguei desesperadamente e subi para meu quarto. Era do Will, e fiquei tão feliz só de ver a letra dele! 

Cris,

     Dizer que te amo, que sinto vontade de lhe tocar e provar seus lábios ao escrever isso, aahhh.... são tantos desejos incontroláveis ao lembrar de seus cabelos em sintonia com a brisa, só me faz querer consumir seu corpo inteiro em mim. Não consigo encontrar paz sem a sua companhia. Nunca pensei que seria possível uma pessoa como você enxergar qualidades que nem eu mesmo sabia que tinha. Caras como eu não fazem parte do grande foco feminino. Só de pensar que alguém como você me faz ser desejado... nossa, chega passar longe da minha realidade. Abraça-la novamente, seria uma satisfação enorme. Caçaria o resto de seu perfume em minha roupa para alimentar meu sentimento.

     Cris, antes de contar o motivo do meu sumiço, eu quero lhe pedir desculpas por não ter sido franco. A minha falta de coragem nunca me trouxe coisas positivas. Me desculpe pelo tempo que fiz nós perdermos, mas a verdade de eu ter lhe evitado no inicio do ano, é por eu não querer que isso no final acontecesse, por causa da minha doença: meu câncer. E se você recebeu essa carta, é porque eu não agüentei.

     Talvez se eu tivesse encarado você muito tempo antes, pudéssemos aproveitar mais, apesar de ter agradecido a Deus todos os dias pelo melhor presente que ele me deu, o seu amor. Mas também sei que se eu não tivesse dado inicio ao nosso romance, você poderia estar sofrendo menos. Julgando por este lado, fui egoísta.

     Vim para o Brasil porque queria aproveitar os últimos dias de minha vida em um lugar diferente e livre. Só não sabia que iria namorar com a menina mais perfeita do mundo, e que agora, estaria machucando-a com o meu problema. Quando começamos a nos envolver, o câncer estava num caso um pouco avançado, mas nada tão sério. De uns tempos pra cá, o tumor começou a acelerar.

     Espero que você também tenha aprendido comigo, que se você estiver gostando de uma outra pessoa, mas não tiver coragem para demonstrar um sentimento tão lindo quanto o amor, faça de tudo para impedir que a nossa história se repita. Vá, lute e mesmo que volte para casa não vitoriosa, não desanime, haverá outros rapazes que dariam de tudo para só estarem ao seu lado, como eu sempre desejei a partir do momento que te vi.  

     Quero que você guarde minha imagem como a de um cara legal que você conheceu no colegial e que te amava, em vez de um doente com câncer de estômago.

     Te amo de mais Cristine, de mais. Onde quer que eu esteja, observarei seus passos.

Com muito amor,

seu eterno William Beckett

 


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