Eu lembro, lembro-me da hora que a policia bateu em casa, quando abri a porta para receber a noticia, um policial dizendo que John havia sofrido um acidente na estrada, que o ônibus havia derrapado na chuva e que dentre todos os feridos ele fora o único a não resistir, que a única forma pra avisar foi achando minha foto em sua carteira, ninguém havia avisado a família ainda, e seus amigos acharam melhor deixar que eu desse a noticia, foi erro meu, ao descobrir desabei no chão chorando, soluçando, não querendo acreditar. Chorei sobre seu corpo naquela noite, velando seu rosto sereno com poucos arranhões, ele estava gelado como estou agora, e então quando seu caixão sumiu ao chão minha lembrança se foi como um clarão.

– Eva, você esta bem? – chamou mamãe desesperada a minha frente.

– Eu lembrei. – disse sentindo minhas lagrimas – Lembrei-me do dia que recebi a noticia, do velório, do enterro... E só.

– Ó minha filha. – sussurrou abraçando-me – Sinto muito, muito mesmo, não queria que sofresse novamente, que passasse por isso de novo.

– A senhora não pode aliviar a minha dor. – esforcei-me a dizer.

– Disse-me a mesma coisa quando se recuperou, tentou ser forte e deu no que deu, transformou-se em uma garota fechada pro mundo, que mudou drasticamente por causa dessas perdas. – afirmou deixando-me no vácuo sem lembranças.

– A que se refere? – perguntei afastando-a para observa-lá – Por que eu mudei? Em que ano estamos?

– O acidente com John aconteceu a cerca de quatro anos. – sussurrou pegando algo – Estamos em 2013.

– Quem são esses? – perguntei olhando o aparelho que me entregou.

– Seus amigos, sua família, e seu namorado. – apontou mostrando rostos desconhecidos.

Não entendo que aparelho é esse e como posso ter namorado se acabei de enterrar o amor da minha vida? – disse afastando aquilo de mim.

– Isto é um tablet, uma versão mais avançada de computador, é seu. – afirmou virando o aparelho para mostrar as minhas iniciais – Estes são seus amigos, Daniel, Sarah noiva de Daniel, Clara com o namorado Jullian, Richard seu amigo, Harry seu namorado, sua avó paterna Charlotte, Rainha de Gales, e você é uma princesa.

– Eu... Preciso de ar. – disse tendo uma crise sem fôlego – Minhas pílulas... Preciso da minha bombinha.

– Eva, Eva. – chamou quando coloquei a mão na garganta em desespero – Fique calma, respire fundo, tente se acalmar, vai passar.

– A senhora me diz... Que eu não tenho mais John... Não tenho mais memória... E quer calma? – suspirava tentando buscar ar – Sinto-me perdida, sem memória, sem vida!

– Você tem uma vida minha querida, tem a todos nós aqui.

– Mas como? – sussurrei sentindo o calmante no soro o medico colocar – Não sei quem são, não reconheço esses rostos, só lembro de Clara, Dark e... John.

– Eva. – chamou alguém, olhei à senhora com atenção.

Sua idade aparentava em media sessenta anos, cabelos brancos, mas bem cuidados em um charme que meus fios nunca conseguiriam estar, olhos claros como de papai, sorriso alegre, roupas caras e uma voz que me lembrava de alguém, antes, muito antes, canções de ninar, sussurrar das melodias, eu conhecia essa mulher, essa senhora talvez seja da minha família, mas quem? Quem? Que não consigo me lembrar.

– Ela não lembra. – mamãe afirmou quando o sono voltou – Nada dos últimos quatro anos, pra ela estamos em Los Angeles.

- Mas então onde estamos? – perguntei acomodando-me.

– Londres. – disse a senhora aproximando-se – Esta em Londres, onde agora é sua nova casa.

– Por quê?

– Porque você decidiu e assumiu a realeza.

– Mas e se não quiser ser... Da realeza. – sussurrei fechando os olhos – Eu só quero ser uma... Garota normal.

Disse deixando o sono me tomar.