Jennifer

Mais uma manhã fria de dezembro. Acordei assustada com o meu despertador, fiquei enrolando um pouco na cama até ouvir minha avó gritar.

- Jena! Andiamo! Vai chegar atrasada na escola!

Sim, minha avó é italiana e meu avô também. Meus pais morreram em uma queda de um avião na Austrália, quando eu tinha seis anos, e desde aquela época até hoje moro com meus nonos.

Levantei com muito custo, tomei um banho rápido para esquentar e escolhi uma roupa (Roupa: http://4.bp.blogspot.com/_Qp6wCYPTHSQ/TBwFTutHtiI/AAAAAAAAAaY/Rfpi_6uyBOI/s1600/uk.jpg). Em poucos minutos estava na cozinha.

- Bom dia, nona.

- Buon giorno, ragazza mia!*

- Cadê o nono?

- Dormindo de novo. Não sei como eu aguento esse seu nono, não sei mesmo!

Outra vez, nona Laura me empanturrou de comida, mas como sempre, não estava com fome. Comi um waffle com mel e tomei um copo de suco de laranja.

- Vai comer só isso, Jena? Precisa comida pra ficar forte que nem nona! - perguntou mostrando os muques gordos.

- Desculpa, nona. Tô sem fome.

Mesmo morando esses dez anos em Londres, tendo que cuidar de mim, nona e nono não deixaram de lado o sotaque do sul da Itália.

Subi para o meu quarto, escovei os dentes, joguei meus materiais dentro da mochila, coloquei o celular no bolso, liguei o IPOD e pus na música Na Na Na - My Chemical Romance (Youtube www.youtube.com/watch?v=egG7fiE89IU).

Desci, dei tchau para a nona e antes de sair ela me deu um aviso.

- Cuidado com esse mundo aí fora, Jena. Tem pessoas muito más, capicce?

- Sim, nona.

Eu sei que em Londres, todos pensam em calor e diversão no London Eye**, mas desde o começo do mês todos os dias estavam frios e nublados.

Eu estava quase chegando à escola, quando tive uma sensação esquisita, como se estivesse sendo seguida.

Olhei para trás. Nada. Continuei andando um pouco mais rápido. Paranóica? Eu? Imagine! Olhei para o chão e vi uma sombra muito perto de mim, olhei de novo para trás. Nada de novo. Comecei a correr e virei a esquina. Olhei para o caminho percorrido. Deserto. No chão não havia mais a sombra.

Então reparei que estava na frente da escola. Ufa! Desliguei o IPOD e entrei pelo portão. Já estava atrasada, então sentei na grama, embaixo de duas árvores, protegida daquele céu nublado.

Peguei meu caderno e fiz uns rabiscos da cena vista um pouco mais cedo. O chão da calçada iluminado pelo resquício dos raios de sol, a minha sombra com a mochila e a de mais alguém, provavelmente um homem, pelo menos uma cabeça maior que eu.

O sinal bateu e eu entrei na sala. A professora que já estava de saída, me olhou com a cara feia de sempre e o outro professor entrou dando prova surpresa. Eu com certeza fui mal, odeio física.

Nas outras aulas, eu e Karin conversamos e rimos de besteiras. De resto, foi um tédio. Pedi para ela ir para casa comigo (confesso, estava cagando de medo da sombra esquisita), mas ela disse que tinha aula de baixo e não poderia.

Mas nem foi preciso, porque não vi mais sombras e muito menos tive a sensação de alguém estar me seguindo no trajeto. Cheguei em casa sã e salva, e não tinha ninguém. Provavelmente a nona estaria na casa de uma das vizinhas jogando pôquer (jogo de família) e nono deveria estar na fábrica. Meu nono era dono de uma empresa de massas, bem italianão mesmo, não é?

Tomei um banho quente, pus um moletom e esquentei minha comida (lasanha: também tomei os hábitos culinários da família, massa é a minha vida). Passei a tarde inteira assistindo shows do Pink Floyd e do Beatles, até a nona chegar, me servir o jantar e me mandar para a cama. Demorei muito a dormir, pensando na sombra, mas em algum momento da noite caí no sono.