Eu, shishou, a senhorita Lewinsk e seu assistente, nos dirigimos ao campo de treinamento da área nove, pois teríamos que começar o mais rápido possível a nossa fortificação. A loura se pronunciou:

 - Sou a General responsável pela área nove, Lewinsk. Já vou avisando Alexis, se tentar alguma gracinha comigo ou com qualquer mulher do meu esquadrão, você será um homem morto! Entendido?

   Shishou fez uma cara de desapontado e concordou. Durante o caminho, pude perceber que a área nove era muito organizada parecia ser composta somente por homens, todos babando pela general. Não consigo ver as chances que o shishou teria em cantar alguma mulher daquele esquadrão, se é que elas existiam. O assistente dela falou comigo, como se estivesse adivinhando o que eu estava pensando:

 - Acredito que já tenha percebido não é, Shion-san? A nossa querida general é conhecida por ser a única mulher num esquadrão inteiro! E cá entre nós, todos querem ter pelo menos uma chancezinha com ela. Lewinsk-sama é uma pessoa muito difícil e há boatos de que nunca foi vista com um homem. Acho que me entendeu, não é? Hahahahaha! Já vi que vamos nos tornar grandes amigos! Hahahaha! – Ele ria histericamente.

   Ele era do tipo de pessoa que falava tudo muito rápido e sonhava acordado. Eu queria saber se havia alguém normal naquele lugar...

   Ao chegarmos no campo, pude ver vários alvos e em diversos lugares. O lugar era uma espécie de piscina gigante repleto de torres de ferro de vários tamanhos. No topo de cada torre havia uma grade, onde era possível abrir e entrar nelas. Me pareceu que aquelas torres eram conectadas. Qual o sentido delas serem somente um tubo sem saída? Você ficaria vulnerável ali! A senhorita Lewinsk começou nos explicando como funcionaria nosso treino:

 - Primeiro iremos começar com algo simples: vocês terão que tirar as nossas armas de nós para que não possamos atacar. Comecem a correr!

   A loura tirou um chicote da cintura e bateu-o no chão para sinalizar o início da primeira fase. Shishou e eu nos entreolhamos e começamos a correr. Eu estava preocupado com Alexis por ele ainda estar machucado desde a luta contra Hidelgarde. Parei repentinamente e puxei uma carta para jogar contra a general, mas ela já não estava mais no portão do campo.

   Duas bolas de pedras surgiram voando na minha frente, uma delas investiu na minha barriga, e com isso, eu quase vomitei. A carta puxada era um Nove de Espadas. Usei-a para atacar a segunda bola, que tentou um ataque pelas minhas costas. A bola foi partida ao meio logo depois de passar pela carta, enquanto a outra passava por mim dando pequenos golpes. O assistente apareceu na minha frente e começou falando:

 - Não pensei que o assistente do Alexis fosse tão fraco. Ainda estou pegando leve e você já está caído? – Ele falou enquanto andava em minha direção.

 - N-não consigo me mexer... Tudo dói no meu corpo... – Falei tentado me levantar.

   Ele se aproximou e me pegou pelo colarinho enquanto me provocava com palavras afiadas:

 - Se não consegue resistir á um ataque fraco desses, nem vale a pena ser um assistente. – Ele disse enquanto se preparava para me dar um soco.

   Com um sorriso malvado no rosto, puxei uma carta e encostei-a na barriga dele. Um Rei de Ouros! A carta começou sugando-o e com o susto, ele me jogou no chão enquanto chamava algo com a outra mão. A bola me acertou no rosto e com isso, o poder da carta foi desfeito, rasgando somente um pedaço da camisa do inimigo.

   Enquanto isso, em outro ponto do campo, estava shishou correndo da general, enquanto ela o seguia de perto, chicoteando por onde o general do esquadrão 5 passava. Os golpes dela eram precisos, mas por shishou ser feito de água, ele escapava com facilidade.

   Depois de um tempo, Alexis percebeu que não estava mais sendo seguido e presumiu que ela havia usado um dos tubos de ferro para pega-lo desprevenido. Presumindo isso, ele usou o poder Aqua (que transforma seu corpo em água) e começou a se mover em alta velocidade. Qualquer ataque físico seria partido ao meio se fosse acertado por uma de suas investidas. A alta pressão da água fazia com que ele não pudesse ser encostado.

   Lewinsk surgiu na frente dele com um imenso arco e, ainda no ar, disparou uma flecha em direção ao shishou.

 - Tiro de Zeus! – Ela gritou enquanto a flecha era envolta numa porção de raios.

   Ouve uma explosão e uma densa nuvem de fumaça cobriu grande parte da piscina.

   Enquanto eu me recuperava do golpe sofrido, o assistente começou se apresentando:

 - Sou Swan., o assistente. Desculpe me apresentar só agora, mas eu acabei me empolgando com a beleza da general, que esqueci até quem eu era... – O assistente falava enquanto seus olhos brilhavam.

 - Err... Estamos no meio de uma luta. Se ficar se distraindo, poderá ser atacado. – Falei hesitante.

 - É verdade! Tudo bem. Vamos voltar de onde paramos, certo? – Swan falou enquanto se colocava em guarda. – Minha habilidade me permite invocar e controlar essas duas criaturas: Dom e Nick. – Ele falou enquanto apontava para as bolas de pedra.

   Vendo com calma, elas não pereciam simples esferas de pedra. A que se chamava Dom era do tamanho de uma bola de basquete, tinha dentes aparentemente afiados e uma expressão triste. Também haviam pequenas mãos contendo três dedos em cada uma, mas não eram coladas ao corpo. Por outro lado, a que se chamava Nick era um pouco menor que uma bola de futebol e tinha uma expressão feliz. Essa ultima me lembrava feições de uma abobora de Halloween e também tinham mãos iguais aos do Dom. Swan continuou falando:

 - Dom é uma invocação com habilidades defensivas e de cura, enquanto Nick tem habilidades ofensivas. Com eles, é muito difícil que me vença!

 - Não me subestime! – Falei enquanto me levantava, recuperado da tontura que o ultimo golpe me causou.

 - Depois não diga que eu não te avisei... Nick: Chuva de destroços!

   A pequena esfera começou a cuspir um monte de pequenas pedras. A velocidade dos disparos era tão grande que causava pequenos buracos no chão de metal. Esquivei-me para trás enquanto lançava um Valete de Paus em frente. Nick desviou do ataque, deixando o caminho livre para que minha carta acertasse o Swan.

 - Dom: Parede de Pedras! – O assistente gritou para defender o ataque.

   A grande bola se colocou na frente do Swan e depois de desenhar um circulo com as pequenas mãos, uma barreira de pedras surgiu naquele meio, bloqueando a trajetória da carta. O escudo cristalizou-se e explodiu em vários fragmentos gelados.

   O que eles não esperavam é que eu jogasse uma segunda carta: Um Ás de Copas. Como o Dom era uma criatura feita somente de pedras, o Ás passou por ela e acertou o braço direito do assistente.

   Puxei duas cartas para fazer uma combinação e me livrar das duas criaturas de pedra. Desviei pelo meio da chuva de destroços do Nick e encostei-as no Dom, aprisionando dentro da carta e ainda o congelando, por se tratarem de um Dois de Paus e um Dez de Ouros.

   De volta à luta dos generais, quando a grande nuvem de fumaça se dispersou, shishou estava intacto e de pé sobre uma fonte de água que ele mesmo havia criado.

 - Essa foi por pouco, hein. – Falou shishou, num tom de provocação. – Se eu não tenho feito um escudo de água a tempo, nem sei o que poderia ter me acontecido...

 - Eu havia me esquecido que você tem a vantagem por estarmos num campo de água. Mas não se engane Alexis. Meu esquadrão é especializado em ataques de longa distância. Sem contar que me adapto rápido ao campo de batalha. Principalmente se for o meu campo. – Ela falou, revidando a provocação.

 - Você pode até ser boa em esquiva, mas será que consegue escapar disso? Invocação: Tentáculos do Polvo Gigante!

   Diversos tentáculos subiram da piscina e se agitaram em direção a Lewinsk. A general pulava pelas torres para fugir dos golpes daquele polvo gigante. Ela preparou um Tiro de Zeus e ao disparar, percebeu que algo estava errado.

 - Alexis... Você não achou que me pegaria com essa ilusão barata, não é? Além de eu já saber que isso é uma ilusão, sei também onde você está se escondendo. Segura essa Alexis, Tiro de Dionísio! – Ela mirou um pouco a direita de um dos tentáculos que estava vindo em sua direção e atirou.

   O tentáculo que estava indo atacá-la esmagou a torre em que a general estava num golpe violento.

 - Desculpe pela ignorância, minha querida Lewinsk... Acabei me empolgando um pouco. A propósito, este polvo não era uma ilusão. Posso usar a água da piscina para usar meus poderes sem ter que me desgastar e com isso, posso trazer coisas a realidade. – Shishou falou num tom de desdém.

 - Tiro de Zeus! – Grita a general atrás de Alexis.

 - Mas como...

   Ouve-se o som da flecha perfurando algo e eletrocutando toda a piscina e consequentemente, as torres de ferro que estavam em contato com a água.

   Depois do aprisionamento do Dom, puxei mais uma carta e somei com minha combinação. Com uma Rainha de Ouros, mesmo que ele desviasse do golpe, devido ao grande poder do naipe de Ouros, ele seria puxado para dentro da carta, encerrando a batalha. Mas não foi isso que aconteceu.

   Para proteger o Nick, Swan se jogou na frente do ataque e foi sugado e congelado pela carta. Sem ter o que fazer, acabei liberando o Dom e o assistente daquela combinação. Deitado no chão, Swan falou:

 - Obrigado Shion. Você venceu essa luta. Não por eu ter ficado incapacitado, mas por ter demonstrado generosidade com o inimigo. Esse é o seu Defeito-Qualidade. Nunca se sabe o que o inimigo fará se for poupado e cabe a você decidir quando poupá-lo.

 - O-obrigado! – Disse um pouco hesitante.

   Enquanto isso, a luta dos generais estava realmente difícil. Alexis tinha a vantagem do campo por poder usar a água enquanto Lewinsk tinha a vantagem por conhecer o campo e ser especializada em combate de longo alcance.

   A flecha atirada pela arqueira acertou o tentáculo do polvo gigante, controlado por Alexis. Por causa do contato do tentáculo com a água, toda a piscina foi eletrificada, fazendo com que os tubos de ferro também fossem eletrizados, impedindo que qualquer lugar pudesse ser pisado.

   Nessa situação, Lewinsk usou seu chicote para se pendurar numa das vigas do teto dali ficando indefesa. Alexis, que havia pulado antes do tiro atingir o tentáculo, investiu contra a mão em que o arco da general se encontrava, tirando-o dela.

   Shishou exibia um sorriso de satisfação levando o arco, enquanto Lewinsk subia pelo chicote para pular em um local seguro.

 - Parece que eu venci. - Disse shishou enquanto a arqueira se aproximava. – Você terá que jantar comigo.

 - Não me lembro de ter aceitado tal estupidez. – Ela falou desprezando-o e ainda com a feição tediosa.

 - O que custa minha querida Lewinsk? Nós só iríamos...

 - Você só cumpriu um teste! Pra conseguir jantar comigo vai ter que fazer muito mais do que essa sua ilusão sem nível.

 - Mas você caiu nessa ilusão sem nível...

 - Tiro de Zeus!

 - Aaaaaahhhhh...! M-mas quando foi que você pegou o arco da minha mão? – Shishou falou enquanto caia duro no chão.

 - Eu venci Alexis. Pelo visto você anda em uma maré de azar, não é? Já perdeu para duas generais...

 - Ahh minha deusa do olimpo, é que eu não consigo lutar contra mulheres bonitas! Vocês são meu ponto fraco!

 - Péssima desculpa! Desde quando Rhyca é bonita? - Lewinsk falou, consciente de seus encantos.

 - Bem, ela não é feia... E de qualquer forma, o problema com ela é outro...

 - HAHAHAHAHAHAHA... Todos já estão sabendo da sua exorbitante dívida, não precisa tentar esconder de mim.

   Shishou pareceu levemente envergonhado, e não falou mais. Nesse momento, Lewinsk chamou a mim e a Swan e disse:

 - Quando não estivermos em missão, esse treino será repetido todos os dias, fui clara?

 - Siiiim, Lewinsk-sama! Claríssima! Tão clara como essa sua pele de marfim e esses cabelos dourados como o sol e...

 - O que deu em você Swan? Está pegando a doença de Alexis?

 - Não senhora! Foi só uma pancada que eu levei na cabeça...

   Pobre Swan! Acho que ele não tinha a mínima chance com a general. De qualquer forma, depois daquele treino, eu tinha algo muito importante para resolver: eu estava faminto! Era hora de ir até o refeitório e comer tudo que existisse no cardápio!

   No caminho, passei perto do hospital. Decidi dar uma olhadinha em Pan antes do almoço, e surpresa: Ela já não estava mais ligada aos aparelhos. Ainda estava desacordada, mas o seu aspecto geral era muito melhor. Falei rapidamente com o médico de plantão, e ele disse que ela poderia acordar a qualquer momento. Aquilo sim era uma boa notícia!

   No entanto, eu meio que fiquei com pena da Pan. Tinha certeza que, assim que acordasse, Hidelgarde-sama iria obrigá-la a fazer treinamentos pesadíssimos, do tipo não recomendado para alguém que acabou de sair do coma. Pan tinha mesmo azar de ser assistente daquela criatura venenosa...

   Mas eu pensaria em tudo isso depois. Eu havia acabado de chegar ao refeitório, e já estava enchendo meu prato de comida. Estava até pensando em tirar uma sonequinha depois, mas a mensagem que eu recebi acabou com minhas esperanças:

   "Shion, espero você mais tarde para me ajudar a limpar meu escritório. Não aceito recusas.

Alexis"

   Limpar aquele pardieiro? Maldito seja o shishou! Eu devia estar pagando todos os meus pecados, e com juros ainda mais, só podia ser...

   Acabei indo ao “escritório” do shishou. No caminho, tive uma idéia malvada, mas que fazia muito sentido. Eu poderia chamar o Yan para limpar aquilo. Com a velocidade dele, tudo ficaria mais rápido. Hehehehe...