Deal escrita por Dama do Crime


Capítulo 1
OneShot


Notas iniciais do capítulo

Algumas pessoas tem me dito que essa fic pode ser considerada shonen-ai se você olhar do ângulo certo, mas essa não era minha intenção.
Por favor me avisem se encontrarem algum erro e se acharem a fic digna do seu tempo, perca mais alguns minutos lendo ela no FF.net e/ou deixando reviews onde preferirem ^^
Enfim, divirtam-se ;)



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Respeito nunca foi parte do acordo. Ambos sabi

Respeito nunca foi parte do acordo. Ambos sabiam disso desde o início. Se quisessem lealdade um do outro, teriam que obtê-la à força. O garoto teria que aprender a jogar esse misterioso xadrez sem regras. O homem teria que aprender a mover-se pelo tabuleiro sem perder o jogador.

O mordomo perfeito para o mestre perfeito... Isso só poderia implicar que ambos deveriam ser igualmente impressionantes. De fato, eles o eram. Um demônio que não pode enganar aquele a quem ele mais deseja iludir servindo uma criança tão inocente quanto qualquer vingador que perdeu sua alma pode ser. Muito amável para um mordomo, muito frio para um humano, ambos permanecendo trancados eternamente do lado de fora, vagando em todas as direções buscando pela solidão completa.

É claro, um caminho difícil é aquele que nos guia para o que mais tememos e o que mais desejamos. Se você andar por tal caminho, não perca de vista quem você é. E acima de tudo, acredite apenas em si mesmo. Faça com que sua sombra esteja orgulhosamente ao seu lado. Permita apenas ao seu reflexo que conheça sua alma. Mas ai deles! Como um espelho de prata polida, Rei e Cavalo viram um ao outro em imagens embaçadas. E nisso eles podiam confiar. Nisso está o perigo dessa estrada.

O que os impele a dançar essa melodia mortal? Nunca escorregando, nunca perdendo o ritmo, nunca se cansando. Caso os sempre vigilantes olhos enevoados de um deles falhassem em notar um passo sutil, a direção seria completamente perdida. Ainda sim, isso nunca acontecerá e ambos percebem essa verdade através da neblina. Eles irão certamente alcançar o giro final em um movimento perfeito. Mesmo que peões e bispos e torres e rainha caiam todos ao chão, o baile de máscaras continuará. Contanto que o jogador não desista. Contanto que ainda haja uma peça poderosa no jogo. O que quer que os compele a dançar também faz com que o baile continue até que apenas uma figura permaneça.

E a medida que o respeito floresce, eles decidem impedir que um vínculo cresça.

Com um destino que murcha a cada segundo, o garoto está certo de que não precisa que ninguém cuide dele. Não é necessário. Ele estaria perfeitamente bem vestindo roupas finas demais, ou grossas demais, ou formais demais, ou infantis demais. Ele também estaria bem sem tortas e chás doces ou mesmo sem um jantar cuidadosamente planejado. Também não seria de grande importância se o inverno tivesse subitamente chegado e onde ele deixou seu sobretudo? – esqueça, ele irá simplesmente sair. E se ele ficasse doente, não é como se qualquer pessoa pudesse fazer qualquer coisa sobre isso, certo? Não, ele não precisa de cuidados, porque ele não é uma criança.

Da mesma forma, com uma honra que murcha cada vez mais rapidamente, o demônio sabe que não está se afeiçoando ao seu senhor. Ele não é nada além de uma alma deliciosa. Ele não está preocupado se terá ou não tempo de polir a prataria antes de colocar o garoto na cama porque ele poderia facilmente usar outros utensílios que não o conjunto preferido do jovem mestre. E é claro que ele não está orgulhoso quando a criança se sai melhor do que o esperado na arte de ser sutilmente cruel. Além disso, ele apenas arrisca sua vida por essa refeição porque ela é realmente incomparável – ele não está levemente irritado. Porque medo e dor são apenas um ornamento para o prato, não algo que ele deveria ressentir apenas porque por um breve momento o garoto tremeu e segurou seu terno um pouco mais forte do que o necessário. Não, ele não gosta dessa criatura perversa porque ele é humano. E todos os humanos são fracos.

Então não é nada além de uma encenação quando eles sorriem com entendimento mútuo quando uma nova carta da Rainha chega. E nada além de um jogo quando eles testam os limites e habilidades um do outro. E só porque eles estão se divertindo com isso, eles fingem esquecer que estão focando em qualquer coisa menos vingança e decidem se entreterem por apenas mais um dia. E mais uma semana. E por mais outro inverno gelado.

Mas eles nunca param realmente. A criança não chora silenciosamente em seu sono. O mordomo não está disposto a transformar uma criança em um demônio.

Apesar do ódio do demônio pela raça humana, quando seu jovem mestre afirma que não tem medo do inferno, ele está consideravelmente feliz em contá-lo como o submundo é realmente. E ele parece gostar do Reino das Trevas depois de algumas perguntas. Transformar uma alma pura em um demônio colocaria uma enorme sombra no esplendor de Deus. Talvez esse seja um fim melhor do que simplesmente ser devorado. Poderia ele transformar essa alma em algo tão mau que seu destino seria óbvio? Sim, se ele assim desejasse. Mas criar uma alma simultaneamente pura e manchada é algo que ele gostaria mais. Se essa fosse sua escolha. Mas ele não é nada além de um mordomo.

E apesar das regras desse jogo, sempre que um pesadelo persegue o mestre, ele acorda e encontra seu servo próximo à cama, com uma xícara de chá de baunilha com leite. Ele recusa as palavras reconfortantes – ele não é um bebê – mas as mãos do mordomo acidentalmente tocam as sua quando ambos puxam o cobertor sobre ele e ele percebe nesse instante que assassinos logo podem surgir novamente nos arredores da mansão. Ele pede que o demônio fique ali. Apenas para o caso da arma sob seu travesseiro estar sem balas. Ou ele estar sonolento demais para lutar apropriadamente. O chá deve funcionar bem e seu último pensamento antes de entregar-se ao sono é que a segunda hipótese é mais provável.

E assim ambos são conduzidos à Valsa dos Mortos mais uma vez, dançando no caminho que eles vêem tão claramente e nunca perdendo a direção. Porque peças de xadrez não fazem isso. Elas continuam avançando até a vitória, deixando para trás peões quebrados e possibilidades perdidas a cada movimento. Mas tudo bem.

Felicidade nunca foi parte do acordo. E ambos sabiam disso desde o início.


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Notas finais do capítulo

Só uma: quando digo "O mordomo não está disposto a transformar uma criança em um demônio." não quero dizer literalmente. Mas sinta-se livre pra interpretar como quiser. Só resolvi esclarecer porque me perguntaram - e sim, a ambiguidade foi intencional.
E então? O que deixaria essa pequena fic melhor? =3