Jogos Vorazes - Parte Dois escrita por Katniss e Peeta


Capítulo 7
O início do pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Vou caminhando até o meu quarto em silêncio, envergonhada, sabendo que amanhã mesmo eu poderia morrer sem nem mesmo antes ter saído da Cornucópia, que Dylan poderia morrer.

                Não falo nada com ele, apenas abro a porta do meu quarto e entro. Tomo um banho gelado e vou para baixo das cobertas, demoro umas duas horas para dormir, mas quando consigo, vejo que meu sonho não será tranquilo.

                Eu sonhei com a tão perigosa arena, floresta por todos os lados, a cornucópia dourada, todos os suprimentos, apenas três facas, algumas lanças e um arco negro com uma aljava cheia de flechas com pontas vermelhas. Apenas um local de onde podia se beber água, uma pequena fonte, no meio da mata fechada. Emboscadas em determinados pontos. Frio, muito frio. Chuva, tempestade. Frutas venenosas. Eu gostaria que ela fosse assim, eu saberia sobreviver em uma floresta, se não morresse logo no banho de sangue, afastei esses pensamentos quando, no sonho, sou morta pelo garoto do um, e nesse instante eu me acordo ofegante.

                Já são 6:30, eu me levanto e visto a roupa com a qual vou ir para a arena, são grossas e quentes, com o número doze bordado nas mangas e nas costas da jaqueta. Dou um último adeus ao meu quarto, prendo o broche na roupa e coloco a jaqueta de Dylan – que ainda estava na cadeira – por baixo de modo que não fique visível e sigo para a sala de jantar.

                Apenas Haymitch e eu estávamos lá.

                - Então, hoje pode ser o dia em que vou morrer. Acha que devo ficar para o banho de sangue? – peço com um suspiro sem conseguir comer nada além de um pedacinho de pão.

                - Ou pode ser o dia em que você mate alguém, não fique lá para o banho de sangue, você vai morrer. Pegue o necessário e saia correndo para onde tiver água. – diz ele bebendo aguardente.

                - Tenho dois aliados. – falo para ele.

                - Isso é bom, o garoto do seis tirou um oito, seu “amigo” tirou um doze com você. – fala ele.

                - Haymitch, por mais nojento que você seja, eu vou sentir saudades de você. – deixo escapar.

                - De qualquer forma, nos veremos de novo. – diz ele com um sorriso.

                - Nos veremos. – falo entendendo o que ele disse, se eu voltasse viva, bem, ele iria me ver de qualquer forma, eu me tornaria mentora, se eu voltasse morta, ele iria ver meu corpo dentro de uma caixa de madeira.

                Nesse momento Peter chega com a equipe de preparação – que me faz um rabo alto no cabelo – e se despedem.

                - Peter, eu estou com medo! – admito deixando as lágrimas caírem.

                - Seja forte! – ele me abraça e esse é o último ato que eu poderia aguentar, começo a chorar como uma criança, encharcando a sua jaqueta.

                - Peter, antes que eu morra, quero lhe agradecer, obrigada por me deixar fantástica. – falo aos soluços.

                - Você vai ter tempo para agradecer, nos veremos depois dos jogos, garota com as facas. – diz ele sorrindo e secando minhas lágrimas com um lenço.

                Ele sai da mesa com a equipe de preparação que antes me abraçam forte, me fazendo molhar mais uns dois lenços com as lágrimas.

                Depois que me acalmo, já são 9:00 horas, então Haymitch me leva até a placa que irá me levar para cima.

                - Fique viva. – diz ele indo embora enquanto um tubo me leva para cima.

                Em segundos, eu e todos os outros vinte e três tributos estamos na arena, a cima da superfície, cada um em cima de sua placa de metal, vejo Leo e Dylan e faço um movimento mudo com a boca que significa um “fugir”, que eles parecem entender com um balanço de cabeça em concordância.

                A arena! A floresta! É tudo como meu sonho, ao menos até agora, as três facas, o arco com as flechas – que não eram pretas e vermelhas, mas de madeira -! Eu não conseguia acreditar, isso será mais fácil, é uma vantagem para mim!

                De relance, vejo a garota do um desmaiando e caindo da sua placa antes do soar do gongo, e seu corpo vai para os ares, sendo detonado pelas minas terrestres, decidi que não poderia fazer isso.

                Fico montando minha estratégia, pegar as facas e fugir, para a floresta, o mais longe que conseguir. O gongo soa e saio em disparada. Agarro um saco, que parecia estar cheio de coisas e consigo pegar apenas uma faca, mas decido que é melhor que nada.

                Leo e Dylan estão correndo para a floresta logo atrás de mim, Leo com uma lança e Dylan apenas com uma mochila preta. Uma garota nos vê e pega a sua lança, atirando em minha direção, vejo que Leo se joga na frente e só tenho tempo de gritar “NÃO”, quando a lança perfura seu coração. Começo a chorar, o garoto que me ajudara, o que se tornara meu amigo e aliado estava morto, então vejo a garota do sete cair e a companheira de Leo, a do seis, aparece atrás dela me mandando correr antes que ela mude de ideia, mas eu me ajoelhei do lado de Leo, não queria deixa-lo. Aí ouço Dylan gritando e me puxando pelo braço.

                - Não faça a morte dele ser desvalorizada, vamos Gabriela, ele iria mandar você correr, vamos. – diz ele me levantando.

                Começos a correr do seu lado, as lágrimas já secaram, mas cada passo que dou, me viro e vejo sangue por todos os lados, até que a floresta esconda os terríveis sinais das mortes.

                Corremos sem parar um minuto se quer, até acharmos um pequeno riacho perto de enormes árvores.

                - Vamos ficar aqui, tem água e temos que ver o que conseguimos pegar. – diz Dylan esbaforido.

                Abro o saco e encontro um pacote de frutas secas, um pequeno odre vazio, um saco de dormir e aquele purificador de água que nunca lembro o nome. Na mochila de Dylan tem um par de óculos para a noite, kit de primeiros socorros, tirinhas de bife, uma garrafa de água – também vazia – e um par de luvas.

                - Suba ali, eu vou pegar água. – diz ele enchendo meu odre e sua garrafa e as purificando, depois sobe e se senta do meu lado em um galho alto.

                - Amanhã teremos que nos afastar daqui, é muito perto da Cornucópia, os Carreiristas irão nos encontrar, se não o fizerem hoje mesmo. – falo fitando o barulho do riacho.

                - ok, amanhã faremos isso, hoje precisamos de comida. Não consegui pegar o arco, mas você tem uma faca. – diz ele.

                Depois ficamos em silêncio por um longo tempo. Começo a tirar lascas da árvore com a faca e me deito no galho.

                - Pegue meu saco de dormir, está ali dentro. – sussurro apontando para o saco/mochila.

                - E você? Nem pensar, é seu. – sussurra ele de volta.

                - Não entende que somos uma equipe? E eu tenho sua jaqueta. – removo as grossas camadas de roupa que a Capital nos deu e tiro a sua jaqueta, depois coloco tudo e a ponho por cima. – Descanse um pouco, eu monto a primeira vigília, qualquer coisa eu te chamo. Iremos caçar à noite.

                - Tudo bem, mas tem certeza que não está com frio? – pede ele antes de entrar no saco de dormir.

                - Tenho. – falo e pego o saco de dormir para ele.

                Logo ele dorme. Tiro os cachos dos seus olhos e recomeço a lascar a árvore.

                Vejo uma lebre passando por ali e atiro a faca no meio de sua cabeça. Depois que a limpo e coloco tudo dentro do tronco oco de uma árvore, arrisco fazer uma pequena fogueira, ninguém aparece, então deixo a lebre assar despreocupada.

                Em meia hora, a tiro do fogo e subo novamente na árvore.

                - Dylan, tem comida. – falo bocejando de sono.

                - Foi caçar? – pede ele se levantando.

                - Não. Ela passou por aqui. – digo.

                Não falamos nada por um longo tempo enquanto comemos, mas daí ele quebra o silêncio.

                - O que você disse na entrevista e no telhado, é... verdade? – pede ele com os olhos castanhos enormes.

                - Não teria porque mentir. – falo.

                - Então estava prestes a me salvar mesmo que custasse a sua vida? – Dylan pergunta.

                - Estou. – o corrijo.

                - Ah, ok, quero que saiba que vou fazer o mesmo. – ele diz.

                - Se proteger? – pergunto sorrindo, o que eu não fazia tinham horas.

                - Não, te proteger. – diz Dylan com um enorme sorriso.

                Me encolho ao seu lado na árvore, com os dentes batendo e ele me abraça. Deito a cabeça no seu ombro, sabendo que isso seria transmitido em toda Panem, mas eu estava mal, o primeiro dia já foi bastante doloroso com a morte de Leo. Tento ser forte, não mostrar lágrimas, minha família estará me assistindo, não posso ser fraca.

                - Por favor, não me deixe aqui sozinha. – falo para Dylan quase chorando de novo.

                - Eu não vou, acredite em mim. – diz ele escondendo o rosto nos meus cabelos soltos, já que o rabo de cavalo estava arruinado. – Nunca irei te deixar.

                E assim eu adormeço no seu ombro, até que ele me chame logo que estava anoitecendo.

                - Eu ouvi passos, não estão perto, mas temos que continuar andando. – fala ele ajeitando meus cabelos e pegando os suprimentos.

                Eu não queria sair dali, se meu sonho tivesse correto, essa seria nossa única fonte de água na arena, mas mesmo assim, tiro a cabeça do seu ombro e me levanto. Descemos da árvore com passos de veludo, sem um único barulho, corremos em diagonal para cima até chegarmos a um local onde a mata era mais fechada ainda e o local proporcionava mais esconderijos.

                Escolhemos uma árvore com cuidado e nos esgueiramos nos galhos mais altos, Dylan era ótimo nisso. Como já havíamos comido e tomado água, decidimos que seria a hora de descansar, nem ficamos montando vigília, simplesmente deitamos juntos dentro do saco e dormimos.

Era ótimo sentir o seu calor e a sua respiração regular ao meu lado, ele era tão calmo e sereno, enquanto eu era selvagem e rebelde. Fico alguns minutos o observando dormir e em seguida aparece o símbolo da Capital no céu e os rostos dos tributos mortos começam a aparecer. São doze no total: a garota do um que desmaiou e foi explodida pelas minas terrestres, ambos do três, a garota do quatro, Leo e sua companheira, a garota do oito, a garota do nove e ambos do onze, o símbolo reaparece e a noite se torna silenciosa novamente.

Álex estava vivo, eu tinha certeza de que ele iria me matar cedo ou tarde, e com esse pensamento eu adormeço.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? beijos.



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