O Cristal escrita por azul


Capítulo 2
Cena 2 – Segredos da memória


Notas iniciais do capítulo

A Damasco devolve os dados que foram roubados e um pouco da história dessa cabala é contada numa rápida reunião entre ela, os adeptos e uma hermética.
O passado de Silvia começa a clarear.



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      No dia seguinte, em um velho escritório do centro da cidade...

      Fernando Ramela, nickname Razor, tamborilava os dedos sobre a mesa enquanto esperava impaciente. Seu discípulo Pedro Guedes parecia bastante nervoso. Os dois adeptos da virtualidade haviam passado por maus bocados na noite anterior quando sua base de dados foi invadida. Fernando temia pelos dados roubados, se teriam sido recuperados ou não pelos agentes da Damasco. Pedro temia pelos dados, mas em disparada o que mais o assustava era encontrar assassinos. Em sua mente imagens dignas de nefandis circulavam ao tentar imaginar os agentes da Damasco que iriam aparecer a qualquer segundo.

      Margarida, pelo contrário, transparecia calma, no papel que desempenhava dentro das tradições, esses encontros eram bastante comuns. Sendo uma hermética especializada em mente orgulhava-se do seu auto-controle. As luzes de néon deram a costumeira piscada quando alguém desconhecido entrava naquele prédio.

      Dentro de poucos minutos Rogério, Beatriz, Gustavo, Silvia, ainda desconhecida e algemada, Nelson e Gabriel saiam do elevador. Havia apenas duas cadeiras vazias para os que chegaram.

      - Não esperava tantas pessoas.

      Falou Fernando enquanto cumprimentava Gabriel Mattos o braço direito do desconhecido Diácono da Damasco.(Diácono é o título que se dá ao líder de uma cabala) Gabriel foi o único a se sentar, os outros permaneceram de pé.

      Pedro olhou com certo receio para o grupo de assassinos profissionais que estavam ali bem na sua frente. Nunca tinha visto tão variadas tradições em uma sala só. Se dependesse somente de sua imaginação diria que todos eram eutanatos, pássaros da morte, mas seu mentor avisara-o que a Damasco gostava de misturar as tradições em seus “grupos de ação”.

      Reparou em um homem de cabelos grisalhos, um rosto austero, olhar frio, apesar de tudo foi o sobretudo que o fez concluir: eutanatos. Uma mulata de saia longa, um jeito de indiana, era a única que fumava, tinha o olhar firme ao mesmo tempo em que parecia descontraída. Difícil dizer, seria Oradora, Verbena ou Irmandade de Akasha? Talvez fosse uma cultista, afinal estava fumando. O negro alto e forte com roupas simples também era um tanto difícil de definir levava uma mochila devia ser algum tipo de ajudante. Seria muita especulação dizer Orador?

Silvia estava algemada e não emitia um ruído. Como era feia, pensou Fernando, e ainda tinha o cabelo curto, em pensar que quase se apaixonara pela tecnocrata quando soube que ela driblou todas as barreiras de proteção tão sofisticadas que sua tradição criara, uma gênia sem dúvidas. Gabriel o branco de cabelo escorrido tão famoso pela importante posição que tinha na Damasco era, acredite quem quiser, um vazio. Como um filho das modernas noites desesperançadas alcançou um lugar de respeito numa das mais atuantes Cabalas do Brasil?

 

Gabriel Mattos despertou entre Vazios rebeldes em algum bairro sujo da cidade. Seu grupo pouco ligava para as tradições ou para as guerras que se passavam. Seus amigos se auto denominavam “Os filhos da noite”. Talvez tivessem levado uma vida de vandalismo até suas ultimas noites se não tivessem encontrado um Nodo, local onde o fluido de energia primordial aflora e pode ser usado para realizações mágicas, numa velha casa abandonada do centro. Por algumas noites aquele lugar foi à glória para suas vidas sem rumo. Andar como um bando de loucos pelas noites da cidade pode até passar desapercebido pelos vigilantes olhos da tecnocracia, manter um nodo era outra história.

A casa foi invadida por uma equipe de forças especiais da N.O.M. (Nova Ordem Mundial). Não houve tempo de reação, foi um massacre.

 Gabriel foi o único sobrevivente. Poderia ter sido um eterno órfão se Kin Yamoto o Diácono da Damasco não tivesse percebido seus pensamentos. Yamoto tinha acabado de se mudar para o Brasil era um experiente Akashiano e se aproximou do desamparado Gabriel.

A recém fundada Damasco acabava de encontrar o seu quinto e ultimo integrante antes do primeiro e mais famoso ataque do grupo. O arriscado plano foi sedimentado na sede de vingança do vazio e consistia em invadir o nodo tomado. A casa abandonada já havia sido revitalizada pelos agentes da tecnocracia e sob a fachada de um escritório aparentemente normal funcionava mais um dos estáticos laboratórios tecnomantes.

Numa quarta-feira, a noite ia alta quando, furtivamente, o grupo invadiu o local. Dentro da instalação conseguiram invocar um Lorde Umbral. Reza a lenda que o espírito destruiu dois Hit (Hight Inteligence tecnolodge) Marks V antes de pintar as paredes com o sangue não apenas dos agentes como também dos civis que ainda trabalhavam naquela hora.

 

- Capturamos este computador com a mulher. Espero que seja o que tinha perdido.

Disse Gabriel enquanto Rogério, o eutanato, botava um pequeno laptop sobre a mesa. Fernando o abriu cuidadosamente e perguntou:

- Vocês não o analisaram?

- Você é o único que conheço capaz de invadir um destes.

Fernando disfarçou um sorriso de satisfação e conectou Roger, seu computador, em forma de cubo com o laptop. Depois de digitar algumas teclas concluiu com satisfação:

- É um sistema simples. Só preciso de alguns minutos.

- Ótimo. Enquanto isso quero lhe falar da prisioneira.

- O que tirou dela?

- Nada.

- Nada?

- Ela tem algum tipo de vazio mental.

Margarida, uma hermética convencida, entrou na conversa com um ar de que entende do assunto.

- O processamento tecnocrático faz isso com qualquer um. Já vi casos em que... - Calou-se com o olhar irritado de Gabriel. Nelson, o negro, acrescentou:

- Já exploramos a cabeça de mais de um deles. Não nos confunda com leigos.

O ambiente ficou um pouco tenso com o silêncio que se seguiu até que Fernando Ramela indicou que Roger havia acabado de dissecar o sistema do laptop. Pedro se aproximou curioso.

- Vamos ver o que temos aqui... Silvia Neta, Sindicato, 30 anos, grupo dos impositores, o que temos aqui... Uma superficial descrição dos integrantes do seu amálgama... acredito que todos eles já estão muito bem protegidos essa hora, mas vou imprimir isso de qualquer maneira. Parece que tinha alguns dados aqui que você não tinha acesso. Deixe-me ver...reformada! Isso explica o vazio.

Silvia ficou hirta, se sua boca não estivesse tampada, ela teria gritado, mas não deixou de se expressar com os olhos e com o corpo.

- Então a invasora é...

- Sim Pedro. Uma maga reformada.

 

Algum tempo depois, em uma capela hermética...

- Vou destampar sua boca. Sugiro que não grite. Primeiro porque ninguém vai ouvir e segundo porque vai ficar cansada.

- Vocês são loucos seus terroristas!

Silvia gritou assim que Margarida tirou a fita adesiva. Sua expressão assustada dizia tudo.

- Fique calma, nós só vamos conversar.

- É mentira. Eu nunca fiz parte da sua corja, não vão me enganar.

- Calma. Poupe suas forças Silvia. Respire fundo... Isso. Agora vamos somente conversar um pouco.

- Não vou cooperar com vocês, conheço seus truques! Vão botar idéias na minha cabeça.

- Ei! Só porque o seu lado faz isso não quer dizer que fazemos também.

- Não vou assistir seus rituais loucos...

- Calma... Você teve o azar de cair nas mãos de um homem primitivo eu sou uma psicóloga não uma xamã.

- Uma psicóloga com esses crentes?

- A magia tem várias formas de se manifestar. Agora me diga o que você gosta de fazer...

Algumas horas depois...

- Agora Silvia. Eu quero que olhe para essa pedra, vê como ela reflete as cores? É muito bonita não é? Diga-me simplesmente o que você esta vendo.

- Luz refletida...Estranho, parece ter a forma de alguma coisa...Uma caixa...Não, um rosto...ou um pássaro...uma porta...um caminho com uma pessoa...sou eu e agora eu vejo um rosto jovem esta segurando uma arma... um painel grande está escuro, mas eu estou viva!

E nisso começou a chorar. Tinha lembrado um pouco de sua vida anterior ao processamento. Somente algumas imagens, mas o suficiente para saber que tudo era uma mentira. Sua vida, suas crenças, amigos,...

 


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Notas finais do capítulo

Lista de personagens:

Silvia - Sindicato - Maga reformada
Margarida - Ordem de Hermes - especialista em mente

Cabala dos "Busters"
Fernando Ramela (Razor) - Adepto - Mentor de Pedro
Pedro Guedes - Adepto

Damasco
Kin Yamoto - Akasha - Deácono da Damasco
Gabriel Mattos - Vazio - braço direito de Kin
Gustavo Guedes- Eutanato - novato
Beatriz (Bete) - Cultista - Mulata
Rogério Colker - Eutanatos - Cabelo Grisalho
Nelson - Orador - Negro alto e forte



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