Utopia escrita por tsubasataty


Capítulo 8
Capítulo 7




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Ninguém me viu acordar. E pela porta do quarto, eu os vi. Minha mãe chorando e meu pai fitando o vazio, atormentado. Algo de muito ruim só podia ter acontecido.

O pneumologista que eu conhecia desde os meus cinco anos se esforçava para tentar acalmar os dois, mas ele próprio tinha um olhar de desesperança que eu jamais vira antes.

Eu precisava descobrir o que tinha acontecido comigo.

Chamei por um residente que passava no corredor e ele pediu que uma enfermeira fosse até onde eu estava. Quem apareceu foi a mesma que me aplicara a injeção antes da cirurgia, assim, perguntei logo a ela o que eu tinha.

-O Dr.Antônio ainda não lhe contou? - ela pegou uma ficha ao lado da minha cama e abriu em uma página que não vi - Pelo histórico, aqui diz que a última ressecção (tirar uma pequena parte do pulmão) que você fez foi ano passado, certo?

-Sim...

Ela fez uma expressão de pena quando continuou a ler.

-Seu câncer avançou para o estágio 2. Ele ultrapassou os três centímetros, mas ainda não está comprometendo outros órgãos.

Uma pontada de dor e medo me varreu por dentro.

Estágio 2.

O bipe da enfermeira começou a soar descontroladamente e ela se retirou às pressas. Nem consegui ouvir direito o que ela dissera por último. Talvez tenha sido um sinto muito, talvez...

Dr. Antônio falara que eu precisava fazer uma nova cirurgia para tentar tirar desta vez todo o tumor. O problema era o preço, e o plano de saúde só cobria uma parte dele. Meus pais argumentaram que iriam tentar arrumar mais dinheiro antes de confirmarem o resto. Me deram um novo remédio para tomar duas vezes ao dia e me liberaram para ir embora.

Não falei com meus pais durante o resto do dia. Eu não conseguia.

Em casa, sem ter o que fazer, só me restava meu quarto, o único lugar em que eu podia pensar sobre tudo que aconteceu naqueles dias. Só ali, sozinha naquele lugar que eu chamava de meu, eu encontrei um pouco de paz.

O tempo foi passando e quando percebi que era quase uma da manhã, finalmente ouvi eles conversando sobre o que eu mais temia: minha vida.

-Vamos ter que vender o carro, não tem outro jeito.

-Ana, mas sem ele não tem como irmos trabalhar à tempo. Vai ser impossível usar o ônibus.

-O que você sugere então?

Ouvi um resmungo baixo.

-Não sei. Não tenho ideia!

Minha mãe bufou.

-Agora você diz isso?!

-Pare de reclamar, se não fosse por nós, ela nem estaria assim. Eu sei que estávamos cheio de problemas e casados

há menos de um ano quando ela nasceu.

Ouvi o barulho de algo sendo derrubado no chão.

-E daí!?

Meu pai suspirou, as palavras seguintes saindo com fúria de sua boca:

-Seria melhor se ela não estivesse nascido.


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