Utopia escrita por tsubasataty


Capítulo 13
Capítulo 12




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Estendi a mão para alcançar o remédio, mas ele foi mais rápido e o pegou, levantando-o para o alto.

-Me devolva, por favor!

-Me diga primeiro o que é.

Agora ele me pegou. Eu não havia nem sequer falado do câncer a ele. Com medo de ser rejeitada e mandada embora dali, não consegui falar a verdade. Só  que eu queria era mudar de assunto.

E consegui pensar em uma única coisa.

-Se é assim, Hiago, então primeiro me explique você por que tinha um envelope de maconha no seu quarto. E não adianta mentir.

Ele me olhou boquiaberto.

-Você encontrou?!

Fiz uma cara de sarcasmo. Óbvio que eu havia achado. Mesmo sem querer, levantei um pouco e tom de voz e lancei a ele a pergunta que estava presa em minha garganta:

- Por que aquilo estava aqui? Me diz!

Ele respirou fundo e me encarou.

-Olha, eu preciso de dinheiro para viver, sabia? E só com o trabalho que tenho não consigo quase nada, por isso vendo drogas toda noite pra ganhar alguma coisa a mais. Não é algo que escolhi, mas é a única coisa com que consigo dinheiro rápido. Tá satisfeita agora?!

Pelo modo como ele me encarava, aflito e com raiva, me arrependi de ter tocado naquele assunto.

-Desculpa Hiago... eu não devia ter perguntando isso pra você desse jeito.

-Ah, deixa pra lá. É melhor deixar tudo em pratos limpos mesmo. Agora é sua vez de me explicar sobre esse remédio.

Droga. Não adiantava mais esconder. Desviei os olhos para a mesa com medo do olhar dele.

-Eu... - porque eu estava com medo de dizer aquelas palavras? Prendi a respiração. Não podia doer tanto assim - Tenho câncer de pulmão.

Foi como se o tempo tivesse parado e deixado minhas palavras ecoarem sozinhas pelo vazio.

Nenhum de nós se mexeu ou disse alguma coisa. Não sei quanto tempo aquilo durou.

Para mim, foi uma eternidade.

-É verdade? - Hiago perguntou, quebrando o silêncio.

Vendo minha expressão, ele levantou-se e veio até o meu lado.

Eu não consegui responder nada. Ele agachou-se e secou uma única lágrima teimosa que fugia de meus olhos.

-Você vai querer que eu vá embora?

-Não - ele me fitou confuso - Por que eu iria querer isso?

-Porque eu estou doente. Só fui um estorvo para meus pais. Eles disseram que eu nem deveria ter nascido. Nem sei por que continuo viva...

Dizer aquelas palavras foi como me perfurar cada parte do meu corpo com uma adaga em brasa.

É por isso não quero que toquem no meu coração. Não percebam a dor que ele esconde. E não o machuquem ainda mais, porque ele não suporta ainda mais dor.

Ao ouvir aquelas palavras, Hiago me abraçou, como se tentasse impedir que eu me desfizesse em pedaços.

-Você não está viva à toa, Camila. Não desista de tudo, por favor. Eu estou com você agora.


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