Utopia escrita por tsubasataty
Senti uma dor terrível quando abri os olhos. Olhando em volta, vi que eu me encontrava num lugar que nunca estivera antes. Envolta com lençóis e com um pano molhado em minha testa, tentei entender o que estava acontecendo.
Pisquei algumas vezes e só então reparei que havia alguém me encarando. Aqueles olhos castanhos claros, da mesma cor de seu cabelo e o mesmo olhar com um medo angustiante...
-Hiago?
-Sim, sou eu. Camila, como tá se sentindo?
-Quantos quilos de concreto você jogou em mim? - perguntei meio zonza.
Ele riu aliviado.
-Se está conseguindo fazer piada, já deve estar melhor.
Eu o encarei e depois desviei o olhar, a fim de me levantar.
-Espere - ele falou, me impedindo - É melhor não se mexer muito ainda.
Por que será que todos sempre diziam isso?
Me deitei novamente e ele tirou o pano molhado de minha testa. Em seguida, pôs a mão no meu rosto para conferir a temperatura.
-Você ainda está com febre.
Não respondi nada, apenas fiquei analisando seu rosto e cada expressão sua escondida ali. Quando ele notou que eu o encarava, percebi que se sentiu sem graça e suas bochechas coraram levemente.
Ele revirou os olhos sorrindo e me perguntou:
-Está com fome?
-Não... acho que não. Bom, mas estou morrendo de sede.
Ele levantou-se e voltou um minuto depois com um copo d'água na mão. Lentamente, me endireitei e sentei na cama. Bebi a água avidamente. Não sabia que estava com tanta sede assim.
Hiago me fitava silenciosamente e, para parecer descontraída achei melhor falar alguma coisa - qualquer coisa.
-Ei, Hiago, onde nós estamos agora?
-Essa é minha casa. Eu sei que é simples, mas é aqui que moro.
-E seus pais te deixaram trazer uma estranha pra casa!?
-Na verdade, eu moro sozinho.
Olhei em dúvida para ele. Seus olhos calmos e sinceros retribuíram meu olhar.
Hum... eu e ele sozinhos ali... tenho certeza que corei assim que pensei nisso.
Parando meus pensamentos, Hiago jogou a bomba sobre mim:
-Camila... me diga, o que você estava fazendo no meio da praça, e desmaiada ainda?!
-Ah... - não tinha porque mentir - eu estava fugindo de casa.
Ele me fitou surpreso.
-É sério! Eu não podia continuar naquele lugar, ontem mesmo meus pais, eles... - minha voz se prolongou até se tornar um vazio mudo.
Senti meus olhos úmidos. Tudo voltou à tona e o abismo tentava me destruir mais uma vez. Tampei o rosto com as mãos. Não queria que ele me visse assim.
De repente, ele agachou-se e sentou ao meu lado.
-Ei... o que foi? - sua voz soou aveludada e cheia de receio.
Me virei para olhá-lo e, como se buscasse um refúgio, o abracei.
-Obrigada por me tirar de lá. Eu não sei o que faria se ainda estivesse perdida.
Ele pareceu surpreender-se, entretanto, retribuiu o abraço carinhosamente.
Pela primeira vez em muito tempo, senti que alguma coisa mudou dentro de mim.
Eu não estava mais sozinha.
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