Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 4
Orfanato


Notas iniciais do capítulo

Hum, me desculpem. Eu deveria ter postado esse capítulo ontem, mas minha internet caiu e só voltou hoje. Mas obrigaada por lerem!!!



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Já havia passado cerca de uma semana desde o incidente com os delinquentes drogados do Chuushin Gakuen. Akita não soube dizer quando começou, mas Hayato começou a seguí-lo por todo canto. Ambos matavam aula praticamente no mesmo lugar, quando Hayato estava de saco cheio de assistir aula.

Era só Akita sair para o corredor que logo vinha Hayato, cumprimentando alegremente. O albino deu a impressão de ser um cara-de-pau bem animado. Nenhum dos dois sabia, mas nos momentos em que Akita queria fugir o mais depressa possível, estava tendo reunião do fã-clube de Hayato. E, isso era segredo para muita gente, mas havia também um fã-clube secreto de Akita.

Os dois eram populares sem querer. E Akita de uma forma geralmente ruim.

Mas uma coisa o pequeno não podia negar: estar na companhia de Hayato lhe conferia certa imunidade. Nessa semana que se passou, ele não foi importunado nem uma única vez, e recebeu três cartas de amor (as quais ele não levou nenhuma a sério, já caíra em um truque semelhante uma vez).

Francamente falando, de um dia para o outro Hayato virou quase um amigo de Akita. Um amigo que o pequeno desconfiava até mesmo do "bom dia". Mas isso não foi surpresa para ninguém, e Hayato até ficou feliz do outro não confiar plenamente ainda.

Nunca pensei que fosse ser esperado na escola por alguém que não quisesse me dar uma surra — comentou Akita em uma quinta-feira.

Hayato riu e disse:

— Já não lhe avisei? Não tenho motivos para fazer esse tipo de coisa com você.

Akita virou a cabeça para o lado, escondendo o tom rosado que suas bochechas tinham assumido. "Sorte minha que não sou uma garota, senão já teria me juntado ao fã-clube idiota dele", pensou Akita. "Não, o que é isso? Estou ficando louco? Que droga, ficar pensando uma coisa absurda dessas..."

— Você está estranho hoje — falou Hayato, em um tom preocupado. — Está doente?

Hayato se adiantou e encostou a testa dele com a de Akita. O menor afastou-o bruscamente.

— Não me toque! — exclamou de repente. Suas mãos recomeçaram a tremer, fruto do acontecimento com os delinquentes.

Ao contrário do que se espera, Hayato não ficou ofendido, ele apenas deu um sorrisinho de compreensão e se afastou novamente.

— Ei, estava pensando... — começou ele.

— Então continue apenas pensando, não me conte nada. — cortou Akita.

— Fique quieto e me deixe terminar. Estava pensando se queria ir lá em casa um dia desses.

— Não — Akita respondeu sem pestanejar.

Hayato não ficou desapontado, apenas juntou as mãos como se tivesse tido uma ideia genial e sugeriu, animado:

— Então eu vou na sua casa!

Os olhos de Akita se arregalaram ligeiramente, antes de ele responder, meio urgente.

— Não vai não!

— Ah, é! Você mora em um orfanato, certo? — Hayato ignorou completamente a negação enérgica do outro. — Então terei que ir em um dia que não dará muitos problemas. Hum, deixe-me ver... Que tal no sábado? Vai ter bastante gente lá nesse dia, certo? Então não vou atrapalhar!

— Quer calar a boca e me ouvir? — disse Akita sem paciência.

— Agora sabe como me sinto? Então diga o que lhe aflinge, pequeno Aki-chan.

— Nunca mais me chame assim se não quer acordar sem os cabelos. E, sim, vou falar. Eu não quero que você vá até lá.

Hayato ficou francamente confuso.

— Por que não? — perguntou ele em um tom magoado.

— Porque eu não quero.

— Isso não é resposta para mim, sabe? Agora me diga o motivo. Não sou fofoqueiro, não vou espalhar.

Akita estreitou os olhos e se levantou, com uma expressão dura.

— Já ouvi isso antes — disse, com a voz repentinamente fria. — E dessa vez eu te garanto, não quero acreditar em verdades falsas.

Sem adicionar mais nada, Akita jogou a mochila no ombro e foi embora, sumindo entre os densos arbustos do pátio.

— Parece então que vou ter de aparecer de surpresa? — falou Hayato consigo mesmo, para logo então sar um sorrisinho sapeca. — Genial!

Depois disso Akita aparentemente arranjou mais um esconderijo, e esse Hayato não encontrou. Estava ficando mais e mais frustrado. Ficou o dia inteiro na escola e nada.

— Como pode um colégio ser assim tão grande? — perguntou ele quando já estava anoitecendo, no dia seguinte. — Aposto que nem percorri metade desse lugar.

Hayato sentou-se no banco, apoiando a cabeça na parede.

— De qualquer forma, tenho de ver o que vou fazer amanhã. Será que arrumo uma desculpa para aparecer lá? Hum... acho que não preciso disso.

Ele ficou mais um tempinho falando sozinho, até que se espreguiçou e se levantou, olhando para o céu. Era noite de lua nova, então não havia aquela bola cintilante. Um sorriso se espalhou pelo rosto de Hayato, mas não era o mesmo de sempre. Podia chegar a ser doentio. Ele colocou as mãos nos bolsos e se dirigiu para a parede ao canto, completamente escura pelas sombras noturnas. Não houve baque, nem ruído. Em um piscar de olhos Hayato sumiu, seus cabelos prateados como a lua que não estava ali davam a impressão de brilharem, e seus olhos safira deixaram uma última faiscada antes de desaparecerem na penumbra.



O dia seguinte amanheceu nublado, com um tom melancolicamente cinzento. Isso não foi suficiente para abalar o bom humor de Hayato. Ele acordou com uma animação quase intrigante, e levantou tarde (era sábado, ele tinha que aproveitar, certo?). Hayato não era de se arrumar muito, pegou as roupas que gostava e pronto. Engraçado como mesmo com cabelos compridos eles não embaraçavam de noite. E não se esqueça de que Hayato é um garoto.

Seu visual tendia muito para o Visual Kei, mas nunca deixando de ser casual. Naquele dia ele sentiu vontade de colocar algo não muito trabalhoso, como um jeans, uma blusa branca com estampas pretas alternativas e uma jaqueta preta de tecido. Embora certamente simples, tudo parecia deslumbrante nele, mesmo se fosse uma sacola de supermercado. É, algumas pessoas bonitas podem fazer qualquer coisa parecer boa.

Sem pressa, ele decidiu almoçar fora. Estava sem disposição para cozinhar algo.

Escolheu um restaurante qualquer e entrou, sentando-se ao lado da janela. Nem é preciso mencionar que houve uma pequena discussão entre as garçonetes para ver quem o atendia. Uma senhorita ruiva, com um rosto que facilmente poderia ir para a capa de uma revista ganhou a briga. Ela ajeitou o cabelo e alisou a saia, aproximando-se nervosa do albino com um bloquinho e caneta.

— O que vai querer? — perguntou ela, lutando para não gaguejar.

— Ah, esse aqui — disse Hayato apontando no cardápio. Odiava falar o nome das coisas que pedia, achava que tirava metade do gosto da comida.

— E para beber?

— Nada, obrigado.

Era quase automático o sorriso cintilante dele, e como sempre o dava nem percebia o quão encabuladas as garotas ficavam. Hayato não se demorou muito ali, indo embora vinte minutos mais tarde.

Não estava quente nem frio, estava agradável. O sol de primavera era gostoso, embora estivesse ausente. Mas Hayato preferia o outono, adorava as folhas secas no chão e a brisa fria. Mas, voltando ao assunto principal, ele achou que era uma boa hora para ir ao orfanato. Não daria desculpas, diria apenas que era amigo de Akita e que queria visitar o lugar onde ele morava. Hayato julgava ser tudo verdade, até mesmo a parte do 'amigo'.

O lugar não era muito longe, apenas dois quarteirões dali, dava para ir à pé, tranquilamente. O orfanato não era chique, mas dava a sensação de aconchego logo que o via. A porta dupla de entrada era de madeira escura, mas não muito grande, o que já era um ótimo convite. As paredes eram de tijolos expostos, as janelas eram grandes e da mesma cor que a porta principal, os vidros limpos e brilhantes. Havia um jardim bem-cuidado, de grama verdinha e arbustos, alguns com flores coloridas. Árvores repolhudas aqui e ali praticamente chamavam quem passava para subir nelas. Tudo era cercado por uma grade larga e escura, o portão sempre aberto. Tinha quatro andares, sem contar o térreo.

Hayato logo se sentiu bem, dando passos confiantes para dentro do lugar, a porta de entrada nunca era fechada durante o dia. Por dentro era ainda melhor. As paredes tinham um tom de verde claro, quase verde-bebê. Poltronas e sofás fofos e tapetes felpudos estavam espalhados confortavelmente, as janelas escancaradas deixando o ar circular. Aquele era o salão de entrada. Não estava entupido de gente, mas não estava vazio. Alguns casais sorridentes e simpáticos estavam sentados nos sofás, conversando sobre qual tipo de criança gostariam de adotar. Havia também solteiros, homens e mulheres, além dos senhores e senhoras de idade, todos com um rosto bondoso.

As pessoas do orfanato andavam para lá e para cá, mas Hayato só viu direito duas. Uma delas era uma mulher meio gorda, mas com uma expressão tão amena que era possível nem notar que ela estava acima do peso. A outra foi uma jovem, de avental rosa e um sorriso que parecia eterno. Hayato passou ao próximo cômodo. Era um corredor largo, com carpete bege e as paredes pintadas de turquesa. As portas abertas davam para vários lugares, como uma enfermaria, uma sala de estar, o escritório do dono do orfanato, salas de brincar, essas coisas. No fim do corredor havia uma escada que levava aos andares superiores.

Antes que chegasse perto delas, uma senhora de aspecto risonho o abordou, dizendo com doçura:

— Precisa de algo, meu jovem?

A simpatia por ela foi quase automática.

— É que sou amigo de alguém daqui — respondeu Hayato distraidamente —, decidi vir fazer uma surpresa para ele.

— Quem é?

— O nome dele é Akita, mas o sobrenome eu não sei. Ele nunca me contou.

A senhora se surpreendeu ao ouvir o nome. Mas foi uma surpresa boa, porque ela abriu um largo sorriso e disse com mais alegria que antes:

— Você é amigo dele? Ah, finalmente ele achou um amigo! Estava tão preocupada...

— Como assim "finalmente"?

Ela apressou-se a explicar.

— Ele nunca conversa com ninguém — disse ela. — Embora muitas pessoas já tenham tentado conversar ou brincar com ele, Akita simplesmente se afasta. Já faz tanto tempo que não ouço ele dizer algo, sequer um "bom-dia" sai da boca dele. Sabe, cada criança daqui tem um orientador, ou supervisor diferente. Irmãos geralmente têm o mesmo. Tem um moço que cuida de Akita, mas nem ele sabe mais o que fazer. Seu nome é Jin. Akita o ignora completamente, mas de vez em quando está disposto a conversar.

A senhora deu um pesado suspiro e continuou:

— Tem uma garota aqui, o nome dela é Leeta. Ela foi abandonada pelos pais aos cinco anos, imagine só. A garota fica no quarto à frente do de Akita, se quiser ir falar com ela...

— Seria ótimo — respondeu Hayato, curioso com a situação de Akita.

— É no terceiro andar, o penúltino, no quarto número trinta e sete.

— Obrigado.

Hayato subiu as escadas com certa pressa, contando silenciosamente: "Primeiro andar... segundo... aqui! Terceiro andar!"

As portas dos quartos eram claras, e aquele corredor tinha as paredes brancas. Os corredores dos quartos eram mais largos que os do primeiro andar, chegando a nem parecerem um corredor direito. Cada porta tinha um número de latão. Hayato rapidamente achou o de número trinta e sete, primeiro verificando se tinha alguém lá dentro. Sim, tinha. Ele ouvia uma música tocando e uma vozinha fina acompanhando a letra. Sem fazer muita força, bateu três vezes e esperou. A música foi desligada e segundos depois a porta se abriu.

Era uma garota de chiquinhas compridas e escuras, os olhos de mesma cor. As pontas de seus cabelos eram loiras, a franja comprida presa em cima com grampos. Ela estava com um short jeans e um grande moletom azul por cima da blusa do pijama, a garota ainda estava de meias.

Leeta se surpreendeu ao ver quem era, perguntando com a mesma a voz fina que Hayato ouvira cantando:

— Quem é você?

— Gostaria de conversar com você sobre o tampinha que fica aqui na frente. Sabe, o Akita.

Ela estranhou um pouco, mas disse:

— Quer entrar? É chato conversar no corredor onde todo mundo escuta.

Hayato aceitou e adentrou o quarto. Era agradavelmente espaçoso, com uma cama com uma colcha vermelha e rosa iogurte, com cadernos por cima e um aparelho de som cinza. Um guarda-roupa estava ao lado, com blusas coloridas presas na maçaneta de abrir, sapatos e botinhas estavam no chão à frente. Tinha também uma escrivaninha com livros e revistas, além do laptop dourado. Pendurado na cadeira estava um casaco jeans. Nas paredes tinham cartazes feitos por ela mesma com fotos de cantores que Leeta gostava. No canto tinha uma poltrona bege cheia de roupas por cima.

Leeta tirou-as e apontou para que o rapaz se sentasse, ele assim fez e ela se sentou na cama, empurrando para o lado os cadernos.

— Então... — falou Leeta. — Você é o quê dele?

— Poderia dizer que sou amigo daquele esquentadinho.

Os olhos de Leeta se arregalaram por alguns instantes, mas ela logo se recompôs.

— Estuda na escola dele? — perguntou ela, repentinamente ansiosa.

— É.

— Que horas ele sai de lá?

— Nunca prestei muita atenção, mas acho que por volta das seis horas.

Ela ficou pensativa por um tempo.

— Por quê? — disse Hayato.

Leeta deu o mesmo suspiro pesado da senhora antes de responder.

— Ninguém nunca vê ele chegando aqui ou saindo. Ele sai de manhãzinha, antes mesmo do orfanato abrir e volta de madrugada, lá pelas duas ou três da manhã. Sempre acordo de noite quando ele chega.

Hayato arqueou a sobrancelha.

— Por que isso?

— Sei lá, ele é bem distante e eu nunca o vi sorrindo. Akita nunca sai do quarto dele, e eu não faço a mínima ideia de que horas ele come algo. Já faz um tempo que estou preocupada.

— Peraí — disse Hayato. — Ele nunca sorriu?

— É. Akita chegou aqui três anos atrás. Jin, o cara que cuida dele, nunca disse onde que o achou. Nunca disse como o encontrou. Muito de vez em quando Akita fala comigo, mas só quando está tão entediado que poderia se matar, sabe?

O albino a escutava com atenção, não perdendo uma só palavra.

— Se você é mesmo amigo dele, dê um jeito nisso! — pediu Leeta. — Ele nunca avisa se está com fome, ou doente, ou se precisa de algo. Não é possível que ele seja que nem um robô! E esses dias ele chegou aqui mancando um pouco e cheio de curativos! O que houve com ele?

Hayato hesitou em responder, mas decidiu dizer a verdade.

— Alguns covardes estúpidos do primeiro ano bateram nele.

Os olhos de Leeta se arregalaram mais do que antes e ela tapou a boca com as mãos.

— Por que... ele não disse nada? — falou ela, com um misto de susto e horror. — Akita... Akita nunca mostra o boletim, ou avisa quando tem reunião de responsáveis, nem nunca fala o que aconteceu na escola.

Hayato não pensou muito, contando tudo o que acontecia com o pequeno na escola, evitando alguns pontos que com certeza a fariam ficar morrendo de medo, e talvez até impedí-lo de ir ao colégio. A medida que ele falava Leeta ficava cada vez mais aterrorizada.

— Ele... como ele esconde tudo?! — exclamou ela, segurando a cabeça com as mãos. — Será que ele não entende que só queremos ajudar?!

Não houve resposta, e Leeta começou a chorar. Hayato não tentou fazê-la parar, sabia que o melhor remédio para parar de chorar era chorar tudo de uma vez.

— Por favor... — disse Leeta com a voz falha e embargada. — Por favor, cuide dele.

Foi um pedido simples, mas importante. Hayato deu o primeiro sorriso de toda a conversa, respondendo com sinceridade e firmeza:

— Prometo.

A garota deu um sorrisinho fraco, só para desabar mais ainda em lágrimas. Hayato esperou com toda a paciência ela se acalmar. Leeta respirou fundo algumas vezes, soluçou um pouco, os olhos estavam bem vermelhos, mas ela estava melhor.

— Onde posso encontrar esse tal de Jin? — indagou Hayato.

— A essa hora ele deve estar na cozinha — respondeu Leeta, a voz ainda um pouco fraca.

Hayato agradeceu por tudo, deu a ela um lenço, despediu-se e desceu as escadas. Como não fazia a mínima ideia de onde ficava a cozinha, perguntou à primeira pessoa que encontrou. A mulher apontou uma porta dupla de aço ao canto.

A cozinha tinha um delicioso cheiro de bolos e tortas, os balcões sujos de farinha e doces, os fornos cheios de quitutes de aparência explêndida. Haviam cinco pessoas ali, os que haviam acabado de fazer os doces. Três eram homens e duas eram mulheres. Hayato se aproximou.

— Por favor, algum de vocês se chama Jin? — perguntou ele.

— Sim, sou eu — respondeu um dos homens. — Por quê? Aconteceu alguma coisa?

— Nós vamos esperar lá fora — disse uma das mulheres, limpando as mãos no avental.

Quando não tinha mais ninguém na cozinha foi que Hayato prestou atenção em Jin. Era um rapaz ainda, cerca de dezoito ou dezenove anos, os cabelos castanhos repicados e curtos. Parecia muito amigável, mas também um tanto rebelde.

— Aconteceu alguma coisa? — Jin repetiu a pergunta.

— É — respondeu Hayato. — Mais especificamente com o Akita.

Jin ficou mais atento às palavras do outro.

— Quer me contar?

— Ahn, não exatamente — disse Hayato. — Na verdade eu já contei tudo àquela garota, Leeta. Acho melhor você pegar a história com ela, porque eu não me sinto muito animado a repetir tudo de novo.

Jin ainda não entendera o ponto da conversa, então Hayato decidiu retomar a fala:

— Queria que me dissesse onde e como encontrou Akita.

Os olhos de Jin se estreitaram desconfiadamente.

— Por que quer saber? — perguntou.

— Sou um amigo recente dele e para mim é importante que me diga isso.

Jin hesitou em contar, então resolveu fazer outra pergunta.

— Sabe que sua razão não me convenceu, certo?

Hayato se surpreendeu um pouco, mas deu um sorrisinho de lado.


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Leeta estava sentada no mesmo lugar onde Hayato a deixara, abraçando com força os joelhos, o lenço apertado na mão.

— Aquele... idiota... Akita...

A garota não quis se levantar e atravessar o corredor para conversar com Akita. Não estava com o humor ou com a cara certa para isso. Seu cérebro trabalhava preguiçosamente, porém o máximo que podia, para achar um motivo convincente para Akita manter segredo. Mas nada parecia cooperar. Seus olhos ameaçavam fechar, enquanto o delicioso cheiro de rosas que emanava do lenço invadia sua mente e a entorpecia agradavelmente. Em poucos segundos Leeta despencou para o lado por cima dos cadernos, dormindo profundamente, mas sem largar o lenço.


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Quando Hayato terminou de falar, Jin se viu absorto em pensamentos.

— Entendo... — disse, encarando o chão. — Então você descobriu o segredo que eu tive tantos problemas para guardar? Assim, com apenas uma frase de Leeta?

— Acho que sim, sei lá. Mas me diga o que o fez trazer Akita para cá.

Jin viu que não tinha escolha.

— Eu tinha saído para comprar doces para as crianças — disse ele. — Naquele ano eu tinha acabado de entrar aqui, faziam uns dois meses. Eu senti um cheiro forte de sangue vindo de dentro de uma casa, no caminho de volta. Entrei e, bom, devo admitir que levei um susto. O chão estava cheio de sangue espirrado, eu vi três corpos mutilados, mas sei que tinham mais no andar de cima. Sentado na escada estava Akita. Ele tinha um olhar que pendia entre o frio e o doentio, sabe? Ele estava com uma faca toda ensanguentada na mão. Na hora em que entrei ele estava passando a língua por ela, como se amasse o gosto de sangue. Mas quando ele me viu, parou imediatamente.

Jin parou um pouco, como se parasse para respirar.

— Quando ele me viu, soltou a faca como se ela queimasse sua mão — continuou ele naturalmente, dando a impressão de que meramente comentava o tempo. — Seus olhos se arregalaram de medo. Akita olhou para as mãos manchadas de sangue, como se fosse um monstro. Ele me olhou, dizendo quase suplicando: "Me mate." Óbvio que eu não fiz isso. Não costumo matar quem me pede. Mas ele perdeu a consciência depois disso e eu o trouxe para cá. Sorte que choveu naquela hora, aí todo o sangue saiu de suas roupas e cabelo. Por isso não pude contar para ninguém como o achei.

Hayato não estranhou a história, manteu um ar sério, dizendo:

— Algo como dupla personalidade?

— É... por aí — falou Jin.

— Entendo muito bem como é.

— Nunca o deixo tocar em lâminas quando tem alguém além de mim em volta — comentou Jin. — Já sabe o desastre que seria se ele saísse mutilando gente do orfanato, não é?

Hayato assentiu.

— Vou falar com ele — disse repentinamente.

Jin não fez objeções, respondendo apenas:

— Já sabe onde é.


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Notas finais do capítulo

É isso! Nossa, ficou meio comprido, né? Bom, a história está começando a se desenrolar, então espero que tenha ficado bom. Mais tarde, em um outro capítulo, eu vou explicar tudo, aos poucos. Se der hoje mesmo posto mais um, senão amanhã. Desculpe-me por quaisquer erros ortográficos.
Para os que não sabem, Visual Kei (ou Visual Rock) é um movimento musical que surgiu no Japão na década de 1980. A música consiste na mistura de estilos como rock, metal, e muitas vezes algo relacionado à musica clássica (como violino, violoncelo, órgão, piano, etc.). Nesse caso eu quis dizer que Hayato se veste baseado nesse estilo.



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