Era mais um dia como outro qualquer no Royal Garden. Ou melhor, era uma quarta-feira como outra qualquer. Não que o dia da semana fosse tão importante, mas quarta-feira era um dia especial para dois Guardiões em particular, nesse caso, os ocupantes do trono de Rei e de Valete. Quarta-feira era o dia da semana em que o Valete precisava cumprir suas "tarefas extras", das quais mais ninguém sabia. Então, naquela tarde, depois da reunião diária dos Guardiões...

– Vamos, vamos, ande logo com isso, vassalo! - ordenava o Rei Hotori Tadase em seu tom de voz autoritário por causa do Chara Change
– Só uma massagem, certo? - falou o atual Valete Fujisaki Nagihiko - Certo, posso fazer isso, mas...
– Espere! - interrompeu Tadase - Não faça tão forte quanto à da semana passada! Faça uma massagem normal dessa vez, ou então cabeças vão rolar!

Para quem não entendeu esta cena, aí vai uma breve explicação: Uma vez por semana, Tadase acaba entrando no Chara Change, ele querendo ou não, e força o ocupante do trono do Valete a realizar tarefas absurdas para ele, sem que mais ninguém saiba. Outros Valetes anteriores já passaram pela mesma situação, como o primeiro Valete Souma Kukai, e seu sucessor, Sanjou Kairi, e agora era a vez de Nagihiko. Esse era o segredo que unia o Rei e o Valete. Era o destino inevitável que eles compartilhavam. Se bem que o laço entre eles era bem maior do que apenas isso.

Nagihiko ajoelhou-se diante do Rei, tirou um de seus sapatos e começou a massagear o pé do garoto, conforme lhe foi ordenado. Massageou com menos força dessa vez, pois na semana passada ele usou tanta força que Tadase ficou um dia inteiro sem conseguir andar depois disso.

Nagihiko se inclinou para poder fazer uma massagem melhor, atingindo todas as áreas doloridas do corpo do outro garoto. A tarefa estava um tanto mais difícil hoje, pois de vez em quando Tadase deixava escapar uns gemidos estranhos, causando uma sensação de desconforto em Nagihiko. Estava tão distraído por causa dos sons emitidos pelo Rei que não percebeu que acabou subindo demais, e agora suas mãos não tocavam mais apenas os pés, e sim a coxa direita do Rei.

– Ei, até onde pretende massagear, hein? - Tadase perguntou, fazendo Nagi despertar de seus devaneios. Quando viu o que estava fazendo, o Valete imediatamente afastou suas mãos de Tadase, recuando alguns passos
– D-Desculpe! - ele gaguejou - Eu não... não vi o que estava fazendo... a-acabei me distraindo, então... err...
– Ajoelhe-se - Tadase interrompeu o colega
– O que?!
– Você foi longe demais plebeu, mais um pouco e você iria me molestar! Ajoelhe-se e peça perdão, agora!

Ajoelhar-se diante de um garoto da sua idade que não era rico nem nada era no mínimo humilhante, mas Nagi sabia que realmente tinha passado dos limites dessa vez. Sem outra opção e ainda à contragosto, ele se ajoelhou diante de Tadase, até que sua testa tocasse o chão.

– Mil perdões, Majestade. Peço desculpas pela minha insolência - ele murmurou com os dentes cerrados
– Pff... haha... ahahahahahbahaha!! - Tadase começou a gargalhar do nada, fazendo Nagi levantar a cabeça pra saber qual era a graça
– Mas hein?! Do que está rindo agora??
– Hahahahaha... é que... hahahaha... esse seu cabelo está me fazendo cócegas! - respondeu Tadase, tentando conter a risada, enquanto afastava os longos cabelos do Valete de suas pernas
– Ahh... certo, desculpe - falou Nagihiko, jogando os cabelos para trás
– Faça isso de novo - ordenou Tadase
– Humm? Isso o que?

Sem nem ao menos responder a pergunta do garoto, Tadase se aproximou dele e segurou seus longos cabelos em suas mãos, erguendo-os para o alto, e segurando o cabelo na ponta, como se fosse fazer um rabo-de-cavalo.

– E então, pra que isso agora? - perguntou Nagihiko, percebendo o que o outro havia feito. De repente deu-se conta de que estavam próximos demais, a ponto de poder sentir a respiração do Rei
– Sabe, eu gostava quando você era a Nadeshiko - falou o Rei, como se isso respondesse à pergunta
– Ah, sério? Bom, eu não... a única coisa que gostava quando era ela é que eu não precisava fazer todas essas tarefas malucas pra você - respondeu Nagi, fingindo irritação para disfarçar o embaraço que ele nem sabia porque estava sentindo
– Volte a ser a Nadeshiko pra mim - mandou Tadase sério
– Hein?! Mas pra que isso agora??
– Não interessa, apenas obedeça
– Aff... se eu voltar a ser a Nadeshiko, deixarei de ser o Valete e me tornarei a Ex-Rainha, e não vou mais obedecer suas ordens sem cabimento. Sabe disso, não sabe? - perguntou Nagi erguendo uma sombrancelha
– Não importa. Posso fazer o que eu quero mesmo sem você me obedecer - respondeu o Rei, ainda fitando-o. Ter Tadase lhe observando de tão perto, olhando diretamente em seus olhos, estava começando a lhe incomodar. Mas não era um incômodo que o aborrecia, era algo diferente... quase como se... o deixasse envergonhado.

Nagihiko deu-se por vencido e prendeu seus cabelos em um alto rabo-de-cavalo, tornando-se Nadeshiko depois de muito tempo sem precisar atuar.

– Prontinho... está feliz agora, Hotori-kun? - perguntou Nagihiko, que agora era Nadeshiko, com aquela voz doce e melodiosa que não usava a muito tempo
– Quase. Só falta... uma coisa.

Antes que Nadeshiko pudesse perguntar o que estava faltando, Tadase a envolveu em seus braços e tomou seus lábios para si. A Ex-Rainha ficou tão estupefata que não conseguiu ter qualquer tipo de reação, e apenas deixou que seu primeiro beijo fosse arrebatado por Tadase. Não sabia bem se era porque agora ele era Nadeshiko, o que provavelmente o tornava mais vulnerável e frágil, ou por algum outro motivo desconhecido e/ou não-assumido, mas Nagihiko, ou melhor, Nadeshiko, não fizera um único esforço para escapar dessa situação. Enquanto tomava cada vez mais coinciência dos lábios doces e macios que pressionavam os seus, ela inconscientemente começou a erguer as mãos, até que abraçou Tadase, segurando-o pela nuca. Tadase aprofundou o beijo sem pedir permissão, invadindo os lábios da "garota", e tocando sua língua com a dele. Suas línguas começaram a se tocar e a se misturar, primeiro devagar, depois cada vez mais rápido, tão rápido que "Nadeshiko" temeu que elas acabassem dando um nó.

Depois de vários segundos, ambos começaram a sentir falta de ar e Tadase a soltou. "Nadeshiko" limpou um filete de saliva que saía de sua boca e observou que, para sua surpresa, a coroa dourada sob a cabeça do Rei havia desaparecido, indicando que o Chara Change dele terminara. Ambos se encaravam ofegantes e pasmos com o que haviam feito, principalmente Tadase.

– Fujisaki... san - murmurou o Rei, também com um fino fio de saliva no canto dos lábios - N-Não, quero dizer, Fujisaki-kun... err... e-eu... o que eu... err... d-desculpe!! - falou Tadase por fim, fazendo uma longa reverência - N-Não sei o que deu em mim, eu... i-isso nunca aconteceu antes... err... e-eu... eu sinto muito mesmo!!
– Nunca aconteceu antes? Verdade?
– S-Sim, é verdade!
– Então eu sou... a primeira pessoa que você beijou, não é? - perguntou Nadeshiko sem encarar o garoto, soltando seus cabelos e voltando a ser Nagihiko
– Ahh... b-bem... pode-se dizer que sim - murmurou o Rei embaraçado
– Que bom. Porque eu ia odiar se você tivesse roubado o meu primeiro beijo, mas eu não tivesse roubado o seu - falou Nagi também um tanto embaraçado - Mas, me diz uma coisa: Por que fez isso?

Tadase parou para refletir sobre a pergunta do garoto. Por que ele havia feito isso afinal?! Nem mesmo Tadase sabia. Verdade que ele sentia certa falta de quando o amigo era a Rainha Fujisaki Nadeshiko, mas ele sempre soube que ela não passava de um garoto disfarçado. Sim, ela sempre fora um garoto, desde o começo... isso lhe foi dito no dia em que se conheceram:

*** Início do Flash-back ***

Cinco anos atrás, no escritório do Diretor da Academia Seiyo.

– Me chamou Diretor? - perguntou Tadase, entrando no escritório
– Ah, olá Tadase. Quero lhe apresentar a nova estudante, ela se chama Fujisaki Nadeshiko, e também ocupará o cargo de Rainha dentre os Guardiões - explicou Tsukasa - Nadeshiko-san, esse é meu sobrinho e atual ocupante do trono de Rei, Hotori Tadase
– Prazer em conhecê-lo, Hotori-kun - disse Nadeshiko com aquela voz melodiosa, dando um sorriso cortês
– Hai! É uma prazer conhecer uma dama como você, Fujisaki-san.

Tadase segurou a mão da garota recém-apresentada e curvou-se para beijá-la, mas Nadeshiko recuou alguns passos, afastando sua mão dele, com uma expressão entre envergonhada e assustada.

– Ah sim, Tadase... há outra coisa que você precisa saber - falou Tsukasa, tentando conter uma risada - A Nadeshiko-san aqui é uma estudante muito especial. Isso porque ela tem uma identidade secreta que precisa ser mantida em segredo à qualquer custo
– Identidade secreta? Como um super-herói? - perguntou Tadase inocentemente
– Bem, digamos que é mais ou menos isso - respondeu Tsukasa, com cada vez mais dificuldade para segurar o riso - Acontece que, por motivos familiares, Nadeshiko-san precisa frequentar essa escola vestida e agindo como uma dama refinada... mas a sua real identidade é a de um menino
– Um... menino?! - repetiu Tadase custando a absorver a informação - Quer dizer que... Fujisaki-san, você é um garoto??
– Bem, sim... meu nome verdadeiro é Fujisaki Nagihiko, e não Nadeshiko. Mas preciso manter isso em segredo, então agirei como uma garota o tempo todo na escola. Espero que você possa guardar meu segredo, Hotori-kun - falou "Nadeshiko", dessa vez com uma voz masculina, piscando para ele
– Ah... c-claro! Não vou contar pra ninguém, pode deixar - apressou-se a dizer Tadase - Ahh e a propósito... d-deculpe por agora a pouco, eu não...
– Tudo bem, sem problemas. Apenas não faça isso de novo, por favor - sorriu Nadeshiko, sua voz tornando a ficar feminina, escondendo as mãos nas costas
– Bem, então é só isso. Tadase, por favor ajude-a se ela tiver problemas em se adaptar na escola, sim? - pediu Tsukasa - E lembre-se, não importa o que aconteça, trate-a como uma menina
– Hai... pode deixar Diretor.

*** Fim do Flash-back ***

Sim, desde aquele dia que Tadase sentia uma afeição muito grande por Nadeshiko. Mesmo sabendo o que ela era de verdade, não podia deixar de sentir aquilo... o que raios quer que fosse "aquilo". Mas o que ele sentia afinal? Não era como a afeição e simpatia que ele tinha por seus outros amigos garotos, e nem como o carinho que sentia pelas amigas garotas. Era algo diferente... único... e inevitável.

– E então, vai me responder ainda hoje?? - Nagihiko interrompeu a divagação de Tadase, assustando-o - Como é que é, desembucha de uma vez!! Já teve tempo até pra um flash-back aqui, eu tô esperando a sua resposta, caramba!!
– Ahh... h-hai, gomen! - exclamou Tadase um tanto desnorteado - Bom... a verdade é que... que eu não sei bem porque fiz isso...
– Ahh não! - interrompeu Nagi impaciente - Eu não esperei esse tempo todo só pra você me dizer que "não sabe", desembucha logo, anda!

Tadase não sabia o que dizer, nada do que ele falasse satisfaria o garoto, e ele ainda nem sabia porque havia feito o que fez. Não, não é que ele não soubesse... no fundo, bem lá no fundo, ele sabia sim, só não entendia como aquilo era possível.

– Se lembra do dia em que nos conhecemos Fujisaki-kun? - perguntou Tadase sem encará-lo nos olhos - Eu... bem... desde aquela época, que sinto uma afeição muito grande por você. Mas é algo estranho, que não sei explicar... muito diferente do que eu já senti por qualquer um dos outros Guardiões. No primeiro instante em que te vi na sala do Diretor, eu pensei "Nossa, como essa garota é bela! Parece ser uma dama tão refinada e bem-educada... eu preciso cuidar muito bem dela". Mas logo depois, quando descobri sua real identidade... eu não me decepcionei, nem me arrependi nem um pouco por ter tais pensamentos. Me senti meio envergonhado, é claro... mas meus sentimentos não mudaram, nem um pouco. Mesmo sempre sabendo o que você era de verdade, eu sempre me senti atraído por você, como se eu necessitasse estar sempre ao seu lado. Mas não ligava muito pra isso porque, naquela época, você atuava como uma garota. Depois que você voltou de viagem sob a sua verdadeira forma, foi um choque pra mim. Eu não sabia o que fazer nem como agir então tentei enterrar tudo o que sentia no fundo do meu coração... mas era impossível. Não me importo se você é uma garota, um garoto, ou um travesti... a verdade é que... e-eu fiz aquilo porque... porque eu gosto de você.

Nagihiko piscou várias vezes e ficou vários segundos sem conseguir dizer nada. Aquilo não podia ser possível, eles dois eram garotos e Tadase sabia muito bem disso! Ele sempre soube! Não, tinha alguma coisa errada ali, ele devia ter entendido mal ou coisa assim.

– Err... com "gostar", você quer dizer... que gosta de mim como um amigo, não é? - sugeriu Nagihiko ainda meio incrédulo
– Não, não quero dizer como um amigo
– Então... você gosta de mim como um irmão?
– Também não. Eu quero dizer que amo você. Desse jeito.

Antes que Nagi se desse conta do que estava acontecendo, Tadase segurou seu rosto pelos dois lados e roubou-lhe outro beijo, dessa vez mais suave e doce do que o anterior. Alguns segundo depois, Tadase o soltou.

– Você... v-você disse que... q-que me ama?! – gaguejou o Valete enrubescido, tocando os lábios com os dedos - No sentido de estar apaixonado?! Mas... mas como?! Ambos somos garotos e você sabe disso! Você sempre soube que eu era um garoto, mesmo quando eu era a Nadeshiko, então... como???
– Mesmo sabendo disso, eu não resisti à você - falou Tadase com simplicidade, um sorriso tímido em seus lábios - Quando você era a Fujisaki-san... sempre admirei sua delicadeza e refinamento, sempre adorei a melodia da sua voz, e me perguntava se tudo isso fazia parte da sua atuação ou se realmente fazia parte de você. Quando o conheci como realmente é... me apaixonei mais ainda pelo som da sua voz. Da sua verdadeira voz. E pude descobrir que tudo o que eu amava na Fujisaki-san, o refinamento, a gentileza, cada um de seus gestos delicados... tudo isso fazia parte do Fujisaki-kun também. Não me importa o que você é ou deixa de ser, eu... simplesmente te amo.

Nagihiko não podia acreditar no que ouvira. Ele estava em sua forma masculina, diante de um garoto, e mesmo assim recebera uma declaração de amor. Como isso era possível?! Isso já aconteceu algumas vezes quando ele era Nadeshiko, mas ele era um garoto agora!! Ele estava confuso, sem saber o que fazer ou o que pensar, sem saber nem mesmo o que ele estava sentindo. Parou pra pensar melhor sobre isso: Sentia seu coração palpitar mais forte e seu rosto queimar como se estivesse com mais de 40 graus de febre. Sentia suas pernas bambearem e suas mãos suarem frio. Dizem que é isso que se sente quando está apaixonado, certo? Mas então isso queria dizer... que ele também estava apaixonado por Tadase?!

"- Não pode ser... não posso estar apaixonado só por causa disso, deve ser só coincidência".

Então, Nagihiko lembrou de repente de uma frase que ouvira em um anime uma vez: "Não existe coincidência, só o destino. Tudo o que acontece é inevitável".

Geralmente Nagihiko não é daqueles que acreditam em cada palavra dita nos animes, mas essa frase até que se encaixava muito bem à situação. E Nagihiko sabia que lá no fundo sentia algo bem mais forte do que apenas amizade pelo Rei, só que nunca dera importância à isso, ou evitava pensar no assunto por acreditar que não seria correspondido.

"- Espere aí, correspondido? Como assim correspondido?! Não tem nada pra ele corresponder!!" – pensou o Valete assustado - "Ou será que tem? Sei muito bem que o sentimento que tenho pelo Hotori-kun é diferente do que eu sinto pelos meus outros amigos, então deve ser algo que vai além de amizade. Se não é amizade... então o que é?! Eu nunca senti isso pelo Souma-kun ou qualquer outro garoto... também nunca senti isso por nenhuma menina... também, pudera, do jeito que eu vivia, fingindo ser uma delas, não tinha nem como. Não, não é isso que importa agora... droga o que raios é isso afinal?!"

– Humm... Fujisaki-kun? - chamou Tadase, fazendo-o despertar de seus devaneios - Err... desculpe interromper, mas... é você quem está demorando pra responder agora...

Nagihiko interrompeu seu divagar e reparou melhor em Tadase. Notou que ele também estava tremendo e balançava-se nas pontas dos pés pra frente e pra trás, provavelmente numa tentativa inútil de diminuir a ansiedade. Seu rosto também estava muito corado, quase tanto quanto seus olhos escarlate, parecia até uma garotinha apaixonada, esperando a resposta de sua confissão. Como era possível não gostar daquele menino? Aquele rostinho angelical, aqueles olhos que transbordavam inocência... não havia como não se encantar com ele. O Valete não queria reconhecer isso, não queria mesmo... mas pela primeira vez na vida, sentiu vontade de jogar tudo pro alto e fazer aquilo que ele realmente queria. Pela primeira vez em toda a sua existência, ele desejou não se importar com as aparências ou com o que os outros iriam pensar, e fazer apenas aquilo que ele tinha vontade.

"- Ah, quer saber, não importa" – ele pensou - "O mundo vai acabar em 2012 mesmo, é melhor eu pensar no agora. Sim, é melhor esquecer do futuro por enquanto e viver apenas o presente. E com força total!"

"- Ahh, o que é isso? É essa a desculpa esfarrapada que você vai usar como justificativa? Quer dizer então que o 'Rei do Terror' não pôde vir te buscar em 1999 e resolveu adiar pra 2012, é?" – disse uma vozinha irônica em sua cabeça. Provavelmente era sua coinsciência falando, ou o que restava de sua sanidade mental, mas Nagihiko resolveu ignorá-la. Mesmo que quisesse, não conseguiria dar ouvidos à ela agora mesmo. Até mesmo porque, o único "Rei" que realmente lhe interessava estava bem ali diante dele nesse exato momento. Sim, isso mesmo... Nagihiko odiava admitir isso, mas já tinha sua resposta.

– Sabe, eu... jamais pensei que fosse possível você sentir isso por mim - Nagi murmurou encabulado - Já aconteceram algumas vezes de uns garotos desavisados se declararem pra mim quando eu era a Nadeshiko, mas... eu sempre pensei que seria impossível isso acontecer com você. Porque você sempre soube o meu segredo, desde o começo. Você sempre foi o único... que sempre soube de tudo sobre mim. Por você saber a minha real identidade, eu sempre disse à mim mesmo que era impossível você sentir isso por mim, e tentei matar esse sentimento dentro de mim, que só fazia crescer mais e mais, tentei fingir que não sentia nada, que era só a minha imaginação, mas.. no fim das contas, isso era impossível. Não sei se é porque eu vivi boa parte da minha vida como uma garota, ou se é por causa dessa sua aura angelical que atrai até os homens, mas... mas eu... acabei me apaixonando por você... Hotori Tadase-kun.

Foi a vez de Nagihiko roubar um beijo de Tadase. Sem esperar por uma resposta, ele agarrou o loiro e tomou seus lábios para si, provando o gosto de seu amado. Tadase só fez corar no início, mas logo retribuiu o beijo, no começo lento e suave, mas logo tornando mais ardente e sensual.

Antes que se desse conta, o Valete já havia desabotoado a camisa e tirado a capa de Guardião do Rei com apenas uma das mãos, enquanto que a outra se ocupava de acariciar suas costas, subindo e descendo pelo corpo do garoto, ora pousando em seus ombros, ora mexendo em seus cabelos dourados, ora abraçando-o pela cintura. Ele retirou o próprio uniforme em seguida, um tanto desajeitado por causa da pressa, jogando sua camisa e sua capa ao lado das de Tadase, que agora jaziam aos seus pés. Ele podia sentir seu peito nu contra o de Tadase, sua pele quente roçando contra a dele, seus corpos suados se tocando enquanto trocavam beijos apaixonados. Cada vez que Nagi o tocava em áreas aparentemente mais sensíveis, arrancava suspiros cada vez mais altos de Tadase, fazendo o garoto gemer cada vez mais. Ele estava realmente se divertindo com isso, e fez uma nota mental, para sempre tocá-lo naqueles lugares específicos, só para provocar Tadase.

Enquanto acariciava o corpo de seu novo amante, Tadase percebeu de repente que a calça do Valete estava desabotoada, deixando boa parte da cueca à mostra e corou furiosamente ao constatar esse fato. Corou mais ainda ao notar que Nagi também tentava abrir a calça dele. E depois de vários minutos, Tadase começou a sentir falta de ar e tentou mais de uma vez se afastar do Valete para poder recuperar o fôlego, mas o garoto não parecia querer soltá-lo de jeito nenhum. O Rei começara a sentir tonteira por causa da falta de oxigênio em seu corpo, e deu um empurrão particularmente forte em Nagi, finalmente conseguindo se afastar dele.

– Hotori... kun? - chamou Nagihiko, assustado com a repentina ação do Rei - O que... o que houve? E-Eu fiz alguma coisa errada? Desculpe se eu exagerei, eu... err... e-eu pensei que você também queria...
– Não... não é isso - falou Tadase com dificuldade, ainda recuperando o fôlego - É só que você... demorou demais... eu não conseguia... respirar
– Ahh era isso, que susto - Nagihiko suspirou aliviado - Desculpe, é que... eu esperei tantos anos pra poder fazer isso que acabei me empolgando...
– Não se preocupe, eu estou bem - respondeu Tadase, agora mais calmo - E não precisa ter pressa. Temos a tarde toda só pra nós. Temos o resto de nossas vidas para compartilharmos juntos, muitos dias, meses e anos ainda virão, então... não precisa ficar tão afobado.

Tadase lhe deu um sorriso tão meigo e radiante que Nagi podia jurar que seria capaz de derreter até o iceberg no qual o Titanic batera. Ele segurou a mão de seu novo parceiro, ainda meio encabulado por não ter interrompido o beijo quando Tadase pedira, e retribuiu o sorriso.

No fim, não importava o quanto eles tentassem resistir um ao outro, ou o quanto negassem os sentimentos dentro de si, o laço que os unia era mais forte do que qualquer barreira que tentasse separá-los. A ligação entre eles era tão poderosa que nem mesmo eles querendo, poderiam rompê-la. Era simplesmente um destino inevitável.

~*~THE END ~*~