Bittersweet - Para Iara-chan escrita por Amigo Secreto, Ryoko_chan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Presente para: Iara-Chan
Classificação: NC-17



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Doce e amargo, ao mesmo tempo. Aquele fora o beijo que Shion lhe dera.

Era claro demais, óbvio demais. Shion era um mentiroso, mas um péssimo mentiroso.

Shion era transparente.

E talvez fosse esse um dos tantos motivos que haviam feito Nezumi se apaixonar.
“Apaixonado…” –O moreno pensou enquanto mantinha olhos ainda arregalados pela surpresa do doce ósculo e sorriu em seguida de maneira quase que sarcástica.

-Esse não foi um beijo de gratidão, foi? –Perguntou de maneira cínica, o sorriso fingido ainda em seus lábios e os olhos ocultos pela franja.

-Foi um beijo de boa noite. –O menor respondeu sorrindo também, a expressão meiga tentando a todo custo encobrir a tristeza que carregava.

-De boa noite?

“Mentiroso…”

E mesmo sentindo raiva, ainda lhe imperava a vontade ter mais uma vez aqueles lábios junto aos seus.

-Ah! Preciso levantar cedo amanhã! Preciso aparar os pelos dos cães! –O menor exclamou em uma patética tentativa de quebrar o momento e se afastou da respiração levemente pesada de Nezumi. Virou em direção a porta, prestes a recolher e lavar a louça do jantar.

“Beijo de boa noite…?” –Nezumi ainda sorria, um sorriso mordaz que lhe provocava dor. Levantou-se e apenas ergueu sua mão, pondo-a sobre o ombro de Shion, paralisando-o ante o simples toque que emanava acusação.

Sentindo um frio percorrer sua espinha e não conseguindo saber se havia de fato falhando em sua atuação, Shion virou-se vagarosamente para encarar o moreno e temeu ao notar o quão estranhos estavam os olhos dele.

Sem brilho.

“Decepção..?” –Perguntou-se em pensamento antes de conseguir proferir qualquer palavra.
E antes que pudesse indagar o que Nezumi queria, sentiu seus lábios sendo fortemente pressionados pelos do maior.

O caneco que segurava caiu e se partiu graças à surpresa que foi sentir a língua quente e macia do moreno resvalando por sua boca, a qual se abriu quase que instantaneamente, praticamente alheia à sua vontade e sobretudo à sua racionalidade.

-Nezu… –O jovem de cabelos alvos tentou perguntar alguma coisa, afastando sua boca da dele, mas não teve tempo sequer de tomar um pouco de ar, pois o maior agarrara sua nuca e o trouxera de volta àquele beijo intenso, passional e asfixiante.

Shion tentou se afastar novamente, mas logo se deu conta que estava preso pelo braço de Nezumi ao redor de sua cintura, e aquilo de alguma maneira estranha o acalmou. O abraço de Nezumi lhe transmitia uma intrigante sensação de segurança, independente de qualquer fator, como, por exemplo, o susto, a incerteza ou a curiosa falta de forças que repentinamente assolou suas pernas, levando-o a buscar apoio no corpo do maior.

E foi ao sentir os braços de Shion enroscando-se por cima de seus ombros, foi ao notar que o menor se entregava por completo e retribuía aquele beijo, que Nezumi resolveu parti-lo, mais uma vez deixando Shion sem compreender coisa alguma.

Os dois se encararam por dois segundos, ofegantes e com as faces vermelhas – a de Shion bem mais que a de Nezumi. Mas logo o contato visual foi quebrado, assim como o contato corporal entre ambos. Nezumi desfez seu abraço empurrou o menor para longe com uma delicadeza um tanto duvidosa. Suspirou e deu as costas, jogando-se em seguida na sua cama.

Shion demorou um pouco para se recuperar da situação e só então esboçou alguma reação: piscar várias vezes a fim de ter certeza de que aquilo que acabara de vivenciar fora de fato real e não apenas um daqueles sonhos estranhos que começara a ter desde que deixara a No.6. Tendo se convencido, o garoto de cabelos brancos ainda levou mais algum tempo para recuperar sua irritante capacidade de proferir perguntas:

-O que foi isso, Nezumi?

O moreno, que se encontrava virado para a parede, respondeu com um simples resmungo irritado, o que deixou o menor ainda mais curioso, levando-o a se aproximar da cama.

-Nezumi..? –Perguntou baixinho, sua mão estendendo-se a fim de tocar os cabelos negros, mas, antes de conseguir, foi agarrada fortemente pela do maior, o qual havia se virado repentinamente e agora praticamente rosnava palavras com a voz raivosa e impaciente:

-O que foi? Não foi suficiente para um beijo de despedida?

-…Despedida? –O menor quase gaguejou, ainda tentando se fazer de desentendido. A mão de Nezumi apertando seu pulso o machucava e o deixava confuso.

-VOCÊ ACHA QUE EU SOU IDIOTA, SHION? ACHA QUE É ASSIM? ACHA QUE PODE ENTRAR NA MINHA VIDA, BAGUNÇAR TUDO, E AÍ ME DAR UM BEIJO E SAIR COMO SE NUNCA TIVESSE ENTRADO? É ASSIM QUE VOCÊ ACHA QUE FUNCIONA? –Perguntou gritando de maneira furiosa, para então soltar o braço de Shion e mais uma vez se deitar virado para a parede.

-Nezumi… Eu… –Parou. Não sabia o que dizer, e não era bom em mentir, por isso escolheu o silêncio.
O ar tornou-se denso e pesado à medida que o silêncio crescia, e suportar aquilo se tornava uma tarefa mais difícil a cada segundo. Shion respirou fundo, e tomou coragem.

-Eu tenho que salvar a Safu, ela foi… –Sua justificativa proferida em voz baixa foi interrompida pela voz grave e quase desprovida de emoção que Nezumi detinha.

-Levada para o Instituto Correcional, eu sei.

Os olhos de Shion se arregalaram ante aquela declaração, e alguma espécie desconhecida de fúria tomou conta de seu corpo. Suas mãos não precisaram de qualquer pensamento ou ordem para se moverem, e foram sozinhas até a camisa de Nezumi, o qual mais uma vez se surpreendeu por se deixar pegar com a guarda baixa.

-VOCÊ SABIA! -O menor gritou em tom de acusação enquanto apertava a gola da camisa do moreno, claramente visando sufocá-lo. –VOCÊ SABIA E NÃO ME DISSE NADA! –Cuspiu aquelas palavras, soltando a gola de uma das mãos e desferindo um forte soco sobre a face de Nezumi, o qual ficou por um momento apenas absorto na dor que sentiu. Não sabia que aquele fracote acima de si poderia ser tão forte às vezes.

Mas tão logo passou seu susto, o moreno, com um rápido movimento, saiu debaixo do jovem de cabelos alvos e inverteu suas posições, retribuindo a agressão com dois socos, um em cada lado da face.

-PRA QUE EU IA TE FALAR, HEIM? PARA VOCÊ SAIR QUE NEM UM RETARDADO ATRÁS DA SUA NAMORADINHA, É? –Gritou, como se o ódio em estado puro pudesse ser transmitido por sua garganta e pelo novo punho que encontrou a face delicada do amigo. –VOCÊ QUER TANTO ASSIM MORRER NA SUA AMADA NO.6 COM AQUELA PIRRALHA, É?

-E SE EU QUISER? –O menor gritou, deixando Nezumi em um estado de choque que permitiu que o menor saísse debaixo de si. –É a minha vida! Eu decido o que fazer com ela!

-É! É sua! Essa merda de vida é sua! Toda sua, essa vida de ignorância! Fica com ela, ou melhor, joga ela fora! Vai lá servir de alvo dos soldados da Cidade Gloriosa! Você não conseguirá nem encostar no muro deles sem minha ajuda! –Falou se levantando, afastando-se da cama, querendo ficar tão longe do menor quanto possível.

-E o que você tem a ver com isso, heim?

-O que eu tenho a ver? PORRA NENHUMA! –Gritou mais uma vez enquanto arrancava uma das gavetas do principal cômodo do quarto, deixando-a cair longe, espalhando pelo chão seu conteúdo.-Tenho tão pouco a ver que gastei toda a merda do dinheiro que eu tinha por esse lixo! -Gritava ainda, apontando para os papéis no chão.

A indicação de seu dedo foi seguida pelas orbes vermelhas de Shion, o qual logo se surpreendeu e abaixou-se para pegar as folhas, os quais se resumiam a mapas e planos para pontos secretos de acesso do instituto correcional.

-Você…

-Sim, eu ia resgatar a sua namoradinha… -Falou com escárnio, ainda limpando o canto da boca por onde escorria sangue.

-Você é um idiota, Nezumi, se acha que eu ia ficar feliz de saber que você foi pra lá morrer sozinho…!

-Falou um pouco mais baixo, com os olhos lacrimejantes. Seus passos lentos o levavam à porta.

-Não, Shion! Você é que é um idiota! -Falou ainda mais grave do que de costume, alcançando o ombro do menor com uma das mãos, apertando mais do que o necessário. -Você é um idiota morto! Eu ia fazer tudo por você, mas você preferiu não confiar em mim, e por isso VOCÊ VAI MORRER SHION! -Gritou, ainda tentando dissuadir o outro de ir.

Ainda assim, a porta se abriu com leveza, mas foi fechada logo em seguida, abruptamente, com um baque furioso. O corpo maior de Nezumi envolvia por trás o de Shion, e como uma jaula impedia-o de fugir.
–VOCÊ VAI MORRER SOZINHO SEM SABER DE NADA DA VIDA! -O moreno vociferou bem rente à orelha do menor, causando neste aterrorizantes arrepios. -Você vai morrer porque não sabe nada de lutas, de livros e de sexo…

-Eu aprendi a me defender, eu saio sozinho por essas ruas a qualquer hora da noite… Eu li todos os livros do Shakespeare, do Poe, do Maupassant, do Bram Stoker e do Oscar Wilde… Eu aprendi mais coisas do que você imagina, Nezumi. Eu não sou mais o pirralho que você resgatou na No. 6! Eu aprendi o bastante para me virar! -Falou com raiva, virando seu rosto por cima do ombro, tentando encarar o moreno.

-Mas ainda não aprendeu nada sobre sexo… -Constatou maldoso ao sentir contra seu corpo o tremor involuntário do menor quando este foi mais fortemente prensado contra a porta, sua genitália esfregando-se contra as nádegas do menor.

Mas desse movimento adveio surpresa, não apenas nos olhos arregalados de Shion, mas também nos de Nezumi, quando o garoto mais magro virou-se envolto em seus braços e ficou de frente para si; face corada, respiração acelerada, corpo trêmulo e uma coxa mais do que atrevida no meio de suas pernas.

-Você realmente acha que eu não aprendi nada de sexo? -O menor perguntou, pressionando ainda mais sua perna contra o membro do outro, fazendo-o gemer com um pouco de dor. -Esqueceu de todas as noites que eu fui atrás de ti pelas ruas, debaixo de chuva? Acha que em nenhuma dessas vezes eu te vi pegando uma ou duas putas pelos becos? –Indagou com a voz baixa de irritação, suas duas mãos segurando fortemente os ombros de Nezumi.

-Queria ser uma delas, Shion? -Perguntou ainda mais sarcástico do que antes, com mais sarcasmo do que deveria, na verdade. Sua mão direcionou-se ao queixo delicado do menor, como se fosse puxá-lo para um novo beijo. Arrependeu-se da provocação quando de repente teve a mão afastada e os lábios tomados com voracidade, violência de fato. Sentiu o gosto de sangue na sua boca se intensificar à medida que o garoto de cabelos platinados sugava seus lábios energeticamente, mordendo com mais força do que seria aprazível ao moreno. Novamente o beijo era doce e amargo, e agora tinha gosto de sangue, de lábios frágeis se partindo ante uma violência desnecessária, ou que ao menos parecia desnecessária.

Nezumi tentou se afastar, mas antes que as bocas perdessem o contato por mais do que dois segundos, as mãos de Shion agarraram-se à nunca do maior com uma força até então desconhecida, compelindo os lábios machucados mais uma vez a fundirem seus sabores e fluídos de maneira dolorosa e selvagem.

“Mas tão doce…”

Doce porque Shion segurava seu pescoço, suas mãos eram pequenas e macias, e seus dedos eram quentes.
E Nezumi amava aquelas mãos.

Por mais que não quisesse admitir, por mais que procurasse no corpo de prostitutas a paz para seu espírito, não tinha como negar.

“Eu te amo.”

Mas as palavras não foram ditas, por nenhuma das partes. Apenas os lábios machucados retribuíram o beijo, e as mãos pequenas agiram, descendo pelo pescoço, adentrando a jaqueta surrada, despindo o maior.
Nezumi não fez nada, apenas se deixou levar, apenas beijou Shion, sentindo seu gosto enquanto cada uma de suas peças de roupa era tirada com cuidado, e seu corpo era direcionado em passos lentos à pequena cama de solteiro coberta por lençóis velhos.

Sonhara com aquela situação já algumas vezes. Mais vezes do que gostaria, na verdade. Ele e Shion ali, compartilhando aquela cama, unindo seus corpos e trocando juras.

Mas só havia silêncio, além do som de ambas respirações pesadas.

Os dois corpos se jogaram sobre o colchão fino, o menor sob o maior. O beijo deles interrompido por meros instantes, apenas para que as duas camisetas fossem retiradas e jogadas longe. Os dois troncos nus finalmente em contato direto, arrepiando ambas as peles e chamando novamente as bocas para um beijo passional.

As mãos de Shion percorriam o corpo de Nezumi ávidas, mas leves. Cheias de curiosidade, mas também de cuidado, exatamente como Nezumi sonhara, desejara tantas vezes.

Exatamente como não deveria ser.

O moreno afastou-se um pouco, ergueu o tronco e sorriu de canto, forçado, cínico, sexy. Deixou seu dedo indicador percorrer as marcas avermelhadas presentes no corpo do menor, da bochecha ao pescoço, descendo pelo tronco, chegando ao cós das calças. Ah, aquelas marcas…! Achava-as realmente encantadoras, por que não dizer, charmosas?

Desejava aquelas marcas como desejava o poder, como desejava a própria sobrevivência. Vitória, vida; era isso que aquelas marcas representavam para si, e por isso ele gostaria de tê-las em seu próprio corpo, nem que fosse através de Shion. Beijou a marca da bochecha, lambeu a do pescoço, mordeu a do tórax, assim como mordeu um dos mamilos pálidos, pouco acostumados ao toque úmido e levemente áspero de uma língua.

Shion gemeu de imediato ao sentir aquilo.

Gemeu belamente.

Deliciosamente.

Inocentemente.

Nezumi riu perverso contra aquele mamilo, lambeu-o mais, mordeu-o com um pouco mais de força. O jovem de cabelos platinado gemeu novamente e envergonhado pediu:

-Pare de brincar comigo, Nezumi!

Seu olhar era sério, irritado, e encontrou o olhar do moreno igualmente sério, mas talvez mais irritado.
Cortante.

Nezumi mordeu a cintura do menor com alguma força, num claro intento de marcar a pele alva enquanto desabotoava o cinto de Shion com velocidade e alguma rispidez, baixando-lhe as calças e a roupa de baixo, despindo o menor por completo e apertando com força as duas coxas, ignorando o membro já semi-ereto.

-Agora está sério o suficiente para você? –Perguntou, seu tom chegando a ser ameaçador de tão grave enquanto sua língua apenas passava pela glande do rapaz.

Mas se seu intento era assustar Shion, falhara. Shion não procurou cobrir sua nudez, não tentou virar a cara e esconder o rubor de sua face. Pelo contrário, apenas encarou Nazumi, ali, com a boca prestes a alcançar seu membro. Encarou-o tão seriamente quanto alguém poderia encarar aquele que amava.

Amava Nezumi.

E por amar Nezumi, estava pronto para aquilo, queria aquilo, sonhara com aquilo. Talvez não daquela maneira, mas não seria este fato que faria o fogo e o desejo sumirem de suas íris avermelhadas.
Passou sua mão pela face de Nezumi, bem ao lado do sorriso sarcástico que ele ostentava. Foi carinhoso, talvez mais do que deveria. Saiu debaixo do moreno e debruçou-se sobre ele, forçando-o a deitar-se com as costas no colchão. Beijou-lhe mais uma vez.

“Doce.”

Doce em cada um dos seus toques, doce em suas mãos quentes que percorriam com atenção cada um dos músculos bem trabalhados do abdômen do moreno. Doce nos toque suaves, que timidamente desfaziam as calças de Nezumi, adentravam sua roupa íntima, acariciavam seu sexo.

“Não pode ser doce… Precisa ser…”

-Quer me foder, é? Quer me foder e imaginar que tá fodendo a Safu, é? -Perguntou o que não devia, exatamente aquilo que Shion não queria ouvir. Ciúmes ou desapontamento? Nada disso faria com que Shion fosse apenas seu. Sabia disso, e ainda assim disse no pior dos seus tons, com o maior de seus cinismos.

Era um ator.

Um ator quebrado.

Um ator que queria quebrar.

-Ela não ia gostar de todo esse lenga-lenga. Ela ia querer ser comida na mesma hora. -Disse porque queria que Shion sentisse ódio de si. –Se quer me comer, me come direito.

Na verdade, disse porque queria morrer.

E se sentiu morrer a ver toda aquela raiva e aquela decepção nos olhos do seu amado.

Sentiu-se morrer quando as mãos de Shion perderam a leveza e apertavam seu membro sem delicadeza, fazendo-o gritar. Sentiu que o menor o mataria com a simples maneira que ele arrancou o que restava se suas roupas, quase rasgando suas calças e cueca. Estava quase morto quando sentiu as unhas de Shion adentrando suas nádegas ferozmente, as mãos dele separando suas pernas, erguendo seus quadris, trazendo-o para si.

Dois dedos, com muita raiva e sem lubrificante, e Nezumi gritou de dor. Alguns movimentos com a mão direita, bruscos, quase instintivos, que visavam não o alívio ou o prazer de seu parceiro, mas apenas fazer-se caber naquele espaço apertado.

“Eu te odeio…” –Shion pensou ao tirar seus dedos e encaixar-se na entrada de Nezumi.

Apenas pensou. Por um mero segundo, não mais do que isso.

Uma lágrima escorreu por um de seus olhos tão logo ele se forçou a entrar no moreno.

“Eu te amo….”

A dor da penetração sem o devido preparo, uma conhecida antiga e angustiante, algo que Nezumi gostaria de esquecer, de expurgar de suas lembranças. A sensação contra a qual ele lutara pela vida toda, agora, novamente em si, necessária, quase desejada. Ele queria o ódio que advinha dela, precisava daquele ódio, ou não conseguiria matar Shion.

Mataria Shion.

Mataria qualquer um que se colocasse entre si e a No.6.

Mataria Shion, ao menos em seu coração.

Envolveu o corpo do menor com suas pernas e o puxou para si. Precisava sentir mais fundo, mais forte.
Mais dor.

Gritou em consequência, um grito que fez Shion cessar seus movimentos e um gemido de alívio escapar rapidamente por seus lábios. O garoto sem noção ficou apenas lá parando, a preocupação e o arrependimento mais do que claros em suas orbes vermelhas e lacrimejantes.

“Fraco. Você é fraco, Shion. Isso aqui é guerra, Shion… Isso aqui é ódio…” –Pensou enquanto fechava fortemente os olhos, não querendo ver as lágrimas do menor, não querendo que as próprias lágrimas saíssem dos seus olhos. Não queria ver a preocupação estampada na face do outro enquanto mexia os próprios quadris, machucando-se e se jogando contra o corpo daquele que amava.

“Apenas ódio…”

Mas se aquilo era para ser apenas raiva, por que as lágrimas de Shion banhavam seus olhos? Por que ele se recusava a seguir a cadência dos movimentos? Por que os lábios dele se aproximavam tão lentamente dos seus e os tocava agora com com suavidade e doçura, lambendo os cortes e sorvendo o sangue adocicado?

“Por que não é mais amargo?”

“Por que eu não posso te odiar, Shion?” –Perguntou-se enquanto abria os olhos e passava raivosamente a mão por esses, enxugando-os das lágrimas indesejadas.

Pois não eram apenas as lágrimas de Shion que banhavam o rosto de Nezumi, e tendo essa certeza, o menor apenas continuou parado, permaneceu lá, quieto, observando a imagem de dor e decadência daquele que mais amava. Recusou-se a observar o medo e o sofrimento nos olhos prateados, abandonados, magoados. Aqueles olhos que por mais que quisessem, não odiavam.

Shion beijou aqueles olhos.

Novamente doce e amargo.

Saiu de dentro de Nezumi, fazendo o moreno soltar um suspiro de alívio, mas ao mesmo tempo, de reprovação. Odiava-se por isso, por sentir isso, por se sentir fraco. Queria Shion para si, dentro de si, para sempre.

Segurou o pulso do menor e o mirou profundamente nos olhos. Mudamente pediu para que ele não fosse, para que continuasse, para que o amasse. Não teve coragem de externar suas palavras, assim como não teve coragem de encarar aqueles olhos por muito tempo mais. Não teve coragem de manter aquele pulso seguro por suas mãos.

Soltou-o.

Não deixou mais lágrimas caírem de seus olhos, não olhou enquanto Shion buscava por suas roupas e vestia-se lentamente.

Não entendeu que Shion, também mudamente, pedia para ser impedido.

Os passos leves, a expressão de pesar. O menor alcançando a porta com suas mãos pequenas e agora frias. Nezumi apenas sentado na cama, um lençol envolvido em sua cintura, parcialmente cobrindo sua nudez enquanto seu olhar se mantinha fixo em uma mancha recém-descoberta na parede.

Estava tudo acabado, fosse nos olhos que não se encontravam, nas palavras que se engatavam nas gargantas ou nas lágrimas que tinham vergonha de cair. No sexo sem clímax e na cama de solteiro, com apenas um rapaz.

Na despedida muda, sem adeus, mas também sem fim.

O barulho da porta se fechando foi baixo, o som dos passos a seguir se tornou inaudível em poucos instantes. Mas Nezumi ainda escutava o som da própria respiração alterada e do coração acelerado. Ainda sentia o cheiro de Shion em seus lençóis, o sabor dele em sua boca, a sensação dele dentro de si.

Aquele não era o fim.

Não permitiria que aquele fosse o fim.

Seu corpo nu e dolorido se levantou vagarosamente, sentindo os efeitos daquela madrugada chuvosa e tão fria. Os pés descalços sobre o chão de pedra fizeram com que sua mente despertasse mais rapidamente, e os olhos apagados vagaram sem destino pelo quarto, até pousarem sobre os mapas e planos que seu quase-amante nem havia se dado ao trabalho de pegar.

“Ainda não acabou…”

-Shion…


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Notas finais do capítulo

Observação: Agradecimentos eternos a Mel Keigo, que fez uma betagem urgente nesta fanfic!



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