A Infância de Inu Yasha escrita por Kaoru Higurashi


Capítulo 10
Capítulo 10: Lua Nova


Notas iniciais do capítulo

Enfim a continuação do capítulo: Meio-irmão Agora é o primeiro dia de Lua nova de Inu Yasha sozinho, o que acontecerá? Inu Yasha não me pertence.



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Naquele dia que se iniciava, um hanyou em especial acordava muito ansioso,na verdade mal dormira durante a noite. Motivo: a noite que se seguiria seria lua nova, sua primeira lua nova sozinho. O pior de tudo é que o dia prometia ser muito ruim, pois já amanhecia frio e chuvoso.

Inu Yasha então resolveu ficar um pouco mais no abrigo, esperando até a tempestade passar, o que era incrivelmente entediante para alguém que não gostava de ficar parado muito tempo no mesmo lugar. Assim que a chuva se acalmou, saiu atrás de alimento e água, o que foi, segundo a opinião do hanyou, um pouco mais difícil do que esperava.

Enquanto ainda caminhava deparou-se com um ‘objeto’ à sua frente, no qual esbarrou com tamanha força que caiu pra trás. Ainda no chão, olhou pra cima, tentando focalizar no que batera, somente para avistar um youkai enorme – calculava uns quatros metros – olhando raivosamente para ele. O bicho era verde, com dois chifres pequenos na cabeça, seu corpo era ereto e tinha quatros membros como os de um humano, mas com garras no lugar de unhas, tinha também duas presas que saíam de sua boca, como se fosse um javali; era sem sombra de dúvidas um Oni.

Inu Yasha se maldisse mentalmente por estar tão distraído, que se quer percebeu a presença do youkai, nem sequer sentiu seu cheiro – se bem que um youkai desse tamanho pode ser visto por qualquer um...  Mas o hanyou foi tirado de seus pensamentos pelo próprio youkai em quem esbarrou.

- Ora! O que temos aqui....- o youkai o analisou – Um hanyou?

Inu Yasha não respondeu, apenas fitava o oni com apreensão, sem sequer levantar-se do chão. Este por sua vez, olhava com muito interesse o hanyou, parecia analisar cada parte para, talvez..... decidir qual seria a mais saborosa? Ou, por qual começar a esquartejar primeiro? O hanyou balançou a cabeça, afastando esses pensamentos, mas não precisou muito, pois uma gargalhada repentina do oni quase o fez ter um ataque cardíaco, tamanho o susto.

- Isso é ótimo! Um hanyou... – dizia o youkai entre risos – Eu estava entediado, mas agora vou poder me divertir um pouco – terminou, gargalhando sinistramente.

A menção daquelas palavras fez o hanyou arregalar os olhos, ele sentiu suas pernas ficarem momentaneamente bambas....., o único jeito seria fugir, pois com certeza não seria páreo para o oni. Mas, mal pôde levantar pra começar a correr, o oni o segurou pelo pé o levantando do chão.

- Onde você pensa que vai? – dizia o oni com um sorriso malicioso.

- Me larga! – gritava Inu Yasha, enquanto se debatia, tentando inutilmente fugir das garras do youkai.

- Mas você não quer brincar? – o youkai tinha um tom cínico em sua voz.

- Vai se danar!!

E então, em outra tentativa de fugir do youkai, Inu Yasha juntou toda sua raiva e....cravou os dentes no braço do youkai com todas as forças. O oni soltou um grito e furioso, atirou o pequeno hanyou para longe, que, para seu azar, bateu violentamente contra uma árvore.

O hanyou cai em seguida no chão, ao tentar levantar sente uma enorme dor e cospe um pouco de sangue. Ainda meio zonzo e dolorido, ele tenta ficar de pé, se apoiando na árvore... olha em volta procurando por seu ‘rival’, e o encontra, não muito longe dele; o oni tinha uma expressão assassina.... de seu braço escorria sangue, obviamente resultante do ‘ataque’ de Inu Yasha.

- Eu vou te matar agora mesmo seu hanyou! – gritava furioso o youkai, indo novamente em sua direção.

O oni avança em direção a Inu Yasha com a mão levantada em frente ao corpo e as garras preparadas para dilacerar o oponente. Com muita dificuldade o hanyou consegue se jogar para o lado, desviando do ataque do youkai bem em tempo. O ataque do oni acertou a arvore mais próxima, e suas garras ficaram presas na mesma. Era uma árvore resistente e alta, e o youkai encontrou uma certa dificuldade para se libertar dela.

Aproveitando a distração, Inu Yasha corre para longe de seu perseguidor. Porém, não pôde ir muito rápido ou muito longe já que estava ferido, e a dor lhe impedia de ir mais depressa... Foi o mais longe que agüentou, até sentir que não tinha mais forças pra fugir. Parou ofegante, se apoiando em uma árvore, a dor agora mais forte... um som não muito distante indica que o youkai ainda está à procura dele... O hanyou olha para o céu... ia escurecendo rapidamente, a medida que as primeiras estrelas apareciam, mas a lua não apareceria aquela noite...

Sentia seu poder deixando seu corpo pouco a pouco....estava se tornando humano...

- “É assim que eu termino...? Esse é meu fim..?” – o hanyou achava que esses seriam seus últimos pensamentos.

Sua visão foi escurecendo gradualmente....e sentiu como se o chão sumisse de seus pés...

Antes que acertasse o solo, sentiu alguma coisa erguendo-o.... na certa o oni teria encontrado o que procurava e estava agora levando o pequeno hanyou para sua toca... Ao menos era isso que ele pensou antes de apagar completamente....

OoOoOoOoOoOoO

Começou a despertar aos poucos...sentiu que estava deitado em um lugar confortável... abriu lentamente os olhos, que outrora foram dourados, agora castanho-acinzentados. A primeira coisa que viu foi um teto de madeira, ao olhar mais viu uma parede também de madeira no qual havia uma pequena janela, e por ela pôde perceber que ainda estava de noite... a noite de lua nova...

Começou a se lembrar dos eventos daquele dia, e da perseguição do youkai... Ao se lembrar disso, arregalou os olhos e se levantou bruscamente do futon em que estava, a dor o fez se encolher e por a mão na altura do estômago, onde pode sentir alguns curativos...

- Ah, que bom que acordou. – disse uma voz feminina num canto da pequena cabana – Não tente se levantar, você está muito ferido – ela possuía uma voz muito gentil e meiga.

Inu Yasha rapidamente se virou na direção da voz tentando localizar a dona dela, viu uma mulher humana, usava roupas simples de aldeã e seus longos cabelos negros eram presos em um rabo-de-cavalo baixo, seus olhos expressavam ternura e docilidade.

O hanyou então olhou para as próprias mãos, onde antes existiam garras, agora somente unhas humanas normais. Seus longos cabelos, outrora prateados, agora negros com o céu daquela noite. Suas orelhas caninas também haviam sumido, e já não tinha mais presas. Aquela era a tão temida noite de lua nova, onde ficava mais vulnerável a ataques de inimigos, e se tornava nada menos que um simples humano...

- Q-quem é você? Onde eu estou? – foi a primeira coisa que o garoto ‘humano’ perguntou.

- Você foi encontrado pelo meu marido enquanto ele estava na floresta caçando. Ele disse que você estava ferido e parecia fugir de alguma coisa. – explicou a mulher – Se ele não tivesse te trazido pra cá, poderia não estar vivo agora – ela dizia com um sorriso doce nos lábios.

O hanyou não sabia o que fazer, não podia confiar plenamente nos humanos, mas também não podia sair por aí ferido e no primeiro dia do mês: o de lua nova. Pensativo ficou a olhar o chão, mas a voz da aldeã, mais uma vez lhe tira de seus pensamentos:

- Eu imagino o que uma criança estava fazendo sozinha na floresta a essa hora.... Onde estão seus pais?

- “É mesmo! Ela não sabe que eu sou um hanyou, ela pensa que sou humano...” – pensou por um instante antes de responder a pergunta – Eles morreram... – fez um olhar triste em direção ao solo.

- Ah, que terrível! Então está sozinho no mundo...? – penalizou-se a jovem mulher

- .......

- Pode ficar aqui o tempo que desejar, eu sei que o chefe da aldeia não vai se importar – ela disse agora sorrindo.

È claro que aquilo não era uma opção, assim que soubessem o que ele é um hanyou, o expulsariam...ou fariam coisa pior. Mas, Inu Yasha pensou na possibilidade de ficar ali pelo menos por essa noite, poderia ir embora assim que amanhecesse, antes que alguém acordasse, e ninguém daria por sua falta.

- Ah, que educação a minha! Me chamo Akiko. – disse sorrindo

-.........

- Você tem nome? – pergunta curiosa

- ....Inu Yasha.

A mulher estranhou um pouco o nome, mas resolveu deixar pra lá. Mexeu então em um caldeirão no meio da cabana, que jazia em cima de uma fogueira. Saía um cheiro muito bom dali, segundo o hanyou.

- Você deve estar com fome. – ela pegou então um pouco do ensopado e pôs num recipiente, lhe entregando logo em seguida. – Toma!

O ‘humano’ pegou a tigela  e olhou pra ela por um instante, sentindo aquele aroma.... lembrou-se da sua mãe, de quando comia junto com ela.... de quando ela o dizia para não comer tão depressa - coisas de mãe.

- Pode comer! Eu juro que não tem veneno! – disse Akiko brincalhona.

Ele apenas a fitou por um instante um pouco envergonhado e então começou a comer. Aquilo era muito bom, a muito tempo não provava comida humana, e esta lembrava muito a que comia antes. Comeu mais depressa – era seu jeito, não podia evitar; ainda mais sendo uma coisa tão boa quando estava com tanta fome. A mulher apenas o fitava sorrindo docemente.

- Você estava mesmo com fome! – disse ainda sorrindo. Vendo que ele havia terminado, resolveu descobrir mais sobre aquele garoto – Você ainda não me disse por que estava sozinho naquela floresta.

O hanyou apenas baixou seu olhar para o chão, sem responder à pergunta. Realmente não queria falar de sua vida com ninguém, principalmente por que ninguém poderia entendê-lo, por ser um hanyou; ninguém sabia como era se sentir rejeitado em todo o lugar que fosse, só hanyous sabiam como era isso.

- Você estava fugindo de alguma coisa? – insistiu Akiko, agora mudando a pergunta.

-...Um youkai...estava sendo atacado por um youkai. – respondeu enfim.

- Puxa! Você realmente tem sorte de estar vivo! – espantou-se a mulher.

Subitamente, um homem adentra o aposento sem qualquer explicação ou aviso. Aparentava ter trinta e poucos anos, mas sua expressão sofrida o fazia parecer ter muito mais. O estranho também usava roupas comuns de aldeão e carregava uma lança em uma das mãos, parecia um tanto apressado e preocupado. Ele entrou rapidamente na cabana e dirigiu-se diretamente a mulher:

- E então, Akiko. Como o garoto está? – perguntou sem ter sequer olhado na direção onde encontrava-se Inu Yasha.

- Ele já acordou, pergunte a ele. – ela respondeu apontando o ‘garoto’.

O homem, finalmente olhou para o ‘hóspede’ em sua casa. Inu Yasha apenas fitava a cena, ainda estava um pouco surpreso pela aparição repentina do estranho; na certa se estivesse em sua forma normal, estaria agora em posição de defesa, com as garras preparadas para qualquer ataque; porém essas não mais existiam....pelo menos essa noite.

O homem o olhava igualmente, analisando-o. Akiko enfim tomou a palavra:

- Ah, sim...., este é meu marido, Takeda. Foi ele quem salvou você. – ela dizia com o mesmo sorriso de sempre.

- Como se sente? Está melhor? – perguntou o homem, praticamente ignorando a apresentação feita por sua esposa.

O hanyou novamente nada respondeu, não gostava muito da idéia de ser salvo por humanos, e ainda pensava se seria mesmo seguro confiar neles. Apenas fitava o homem, sério. Akiko, percebendo a situação, resolveu novamente interceder:

- Ele está melhor, sim. Já comeu e tudo, até conversamos um pouco.

- De quem estava fugindo? De um youkai? – Takeda pergunta inquisidoramente ao hanyou, ignorando Akiko.

- Sim, foi o que ele disse – a mulher responde no lugar.

- Akiko, não estou falando com você! – esbraveja o homem sem olhar no rosto da mulher.

Esta, então, cala-se meio acuada, e estranhamente triste. Inu Yasha já não agüentava mais aquele interrogatório, afinal, fora o homem que escolhera salvá-lo, e agora o tratava como se tivesse cometido um crime. Olhava-o com cara de poucos amigos.

Então, uma voz vinda de fora chama pelo nome de Takeda, e este vira-se para sair da cabana. Antes de sair porém, ele ainda de costas, explica:

- Nós vamos caçar esse youkai! Não vamos deixar que se aproxime da aldeia. Amanhã de manhã estarei de volta! – e logo após deixa a habitação.

Akiko ainda meio sem graça, fita o chão por um instante antes de se desculpar:

- Desculpe por ele. Ele nem sempre foi assim. – disse, tristemente ao hanyou – Antes ele era alegre e gostava de brincar com as crianças... – ela faz uma pequena pausa, pensativa, e fita Inu Yasha – Sabe...você me lembra muito meu filho...Ele tinha quase a mesma idade que você.... – seu olhar e voz são tristes agora – Takeda gostava muito de brincar com ele e com as outras crianças do vilarejo...mas, então... – fez uma pausa um pouco maior – Um dia um youkai atacou a vila. Ele destruiu tudo o que viu pela frente, a plantação, as casas....Nosso filho brincava do lado de fora....quando o youkai... – ela não pode impedir que algumas lágrimas saíssem – Nosso filho foi brutalmente morto pelo youkai. Desde então, Takeda odeia youkais, mais do que nunca antes; ele diz que vai matar todos os youkais que se aproximem do vilarejo...

Inu Yasha a fitava tristemente, agora entendia o por quê daquele homem falar em matar o youkai com tanto ódio na voz. Akiko seca algumas lágrimas e tenta sorrir novamente, mas sua expressão triste não abandona seu rosto...

– Ele estava preocupado com você.... Por que não fica aqui? – ela diz mais animada – Você disse que seus pais morreram. Não posso deixar uma criança sozinha por aí, acho que Takeda também gostaria da idéia.

- Eu....não posso... – Inu Yasha não sabia como explicar a ela que ela não poderia ficar ali por ser um hanyou. Mesmo que ela o aceitasse, como reagiria seu marido que odiava youkais? E ainda mais, por mais que o povoado o deixasse viver ali, o tratariam como em seu antigo vilarejo, e isso ele não queria nunca mais; não conseguia esquecer como aquelas pessoas o olhavam com ódio e desprezo.

- Ah, claro que você não precisa decidir isso hoje. E falando nisso, já está tarde, melhor ir dormir, você precisa descansar e se recuperar.

Inu Yasha, meio relutante voltou a se deitar no futon. Akiko ajeitava outro futon à um canto, depois se virou para apagar a fogueira, parou antes de fazê-lo, e fitou o hanyou:

- Durma bem – disse com um sorriso.

Ele nada respondeu, naquele momento estava se lembrando de sua mãe...

--------------------Flashback------------------------

Era uma noite escura e chuvosa. A lua em sua fase nova, não podia ser visível naquela noite. A chuva se transformava em tempestade, e os fortes ventos faziam as gotas de água desviarem de sua rota, indo pra uma só direção ao invés de diretamente para o chão. De tempos em tempos, o céu era iluminado por fortes raios, o qual provocavam um som bastante alto e assustador.

Dentro de um castelo, um pequeno hanyou se encolhia debaixo das cobertas, tremendo a cada relâmpago e trovejo. O hanyou agora estava sem seus poderes, ficando completamente humano. Neste dia – ou noite – se sentia mais desprotegido do que nunca.

Normalmente enfrentava a situação, tendo em mente que poderia se defender com suas garras, apesar de não saber usá-las direito. Achava que era forte e poderia enfrentar tudo. Mas quando se tratava de raios na noite de lua nova, a situação mudava.

Continuou ali, se escondendo, quando ouve a porta e o som de passos. Tremeu mais ainda, poderia ser um monstro... Fechou os olhos e torceu para que a ‘criatura’ fosse embora logo. Sentiu alguma coisa tocando suas costas, gelou na hora, paralisou de medo...’O monstro’ o tinha pego....

- Inu Yasha! – chamou uma voz doce que ele reconheceu imediatamente.

- Mãe! – gritou ele, pulando nos braços de Izayoi.

- O que foi? – perguntou um pouco preocupada – São os trovões?

O garoto de longos cabelos negros, apenas concorda com a cabeça, enquanto abraça a mãe com força, sem querer largá-la.

- Não precisa ter medo, nada de ruim vai te acontecer. – ela dizia docemente, enquanto o pegava no colo – Essa é a natureza, não tenha medo dela, não vai te fazer mal.

Apenas ouvir a voz dela o deixava mais calmo, já não tremia mais, nem sentia mais medo, apenas ela tinha esse poder... Agora a chuva já estava diminuindo. Ela o colocou de volta no futon, o cobrindo em seguida.

- Durma bem, meu filho – disse com suavidade, acariciando sua cabeça.

O pequeno dormiu tranqüilamente, seguro de que sua mãe estaria ali, caso algum ‘monstro’ resolvesse aparecer....

------------------- Flashback------------------

O hanyou tentou então afastar esses pensamentos, já que em nada ajudariam neste momento.Akiko apagou a chama e deitou-se em seu respectivo futon. Inu Yasha virou para o outro lado, ainda acordado...

- “Vou ficar acordado, quando o sol começar a nascer eu vou embora sem que ninguém perceba.” – o hanyou arma assim seu ‘plano’.

[...]

Já haviam se passado duas, três horas? Inu Yasha não sabia dizer, mas parecia terem se passado séculos desde de que estivera ali naquele futon, acordado. Akiko ressonava tranqüilamente em outro canto da pequena cabana, o silêncio predominava...

O cansaço começou a tomar conta de seu ser, suas pálpebras começavam a pesar, o sono o estava vencendo, por mais que tentasse não conseguia manter seus olhos abertos. Não conseguindo mais lutar contra o sono, acabou cedendo a ele....

OoOoOoOoO

O astro rei agraciava todas as criaturas vivas com seus brilhantes raios solares, pássaros cantavam o começo de um novo dia, youkais caçavam seu alimento, enquanto vários seres humanos já começavam seus afazeres diários.

O hanyou abriu lentamente seus olhos dourados...notando que já era dia. Se esticou preguiçosamente, enquanto tentava lembrar de alguma coisa.... Tinha a estranha sensação de ter se esquecido de algo...

- “Já é dia....Mas por que sinto que deveria estar em outro lugar...?” – ele forçava sua mente a lembrar – “É dia!! Eu acabei dormindo e esqueci de ir embora!!” – parecia que ele tinha lembrado...

Ele se levanta no mesmo instante, não sentindo mais a dor que sentia na noite anterior. Olhou em volta. Para sua sorte, Akiko ainda dormia. Olhou para suas mãos... suas garras estavam de volta; seus cabelos haviam voltado a habitual cor prateada; tinha de volta suas presas e orelhas caninas, o q era bom, mas também era um problema, pois isso denunciava sua condição de hanyou.

Tentou então levantar sem fazer nenhum som, caminhou silenciosamente até a porta. Ao olhar por ela, viu vários humanos passando de um lado para outro, todos parecendo bastante atarefados. Se saísse assim, todos o veriam e certamente fariam um escândalo, e talvez até tentassem exterminá-lo (ou pelo menos era isso que o tal de Takeda faria). Voltou então sua atenção para o interior da cabana, ao ouvir um ruído. Akiko se mexia bastante e parecia estar acordando.

- “Ai, o que eu faço?!” – desesperou-se o hanyou. Se ela começasse a gritar estaria tudo acabado.

A mulher se sentou ainda sonolenta e olhou em volta, procurando Inu Yasha, que não estava mais em seu futon. O hanyou nem teve tempo de fazer nada. Akiko logo olhou em sua direção. Ela não reagiu na hora, ficou um tempo fitando-o, parecia ainda não ter se dado conta da situação. Mas em minutos ela pareceu ‘acordar’ de vez, olhou novamente para o hanyou, não acreditando, os olhos arregalados e uma expressão espantada. Inu Yasha pensou que ela fosse gritar, pessoas começariam a entrar pra ver o que estava acontecendo, aí seria o fim.

- Cadê o Inu Yasha? O que você fez com ele seu youkai? – ela perguntou nervosa.

O hanyou ficou atônito, ela não o havia reconhecido. Ele apenas continuou parado no mesmo lugar enquanto ela olhava mais atentamente.

- É você? – ela parecia mais espantada ainda – Você é um hanyou?

- Sou... – respondeu vacilante.

- Eu nem imaginava. – ela falava enquanto o analisava com os olhos – Então ontem....foi o dia em que perde seus poderes..? Eu já tinha ouvido falar sobre isso...– disse mais pra si mesma – Mas não se preocupe. Não vou contar pra ninguém – disse essa última frase baixinho como se estivesse contando um segredo (e realmente estava guardando um).

O hanyou continuava sem reação... Aquela humana realmente não se importava dele ser um hanyou? Mas, afinal, todas as pessoas que ele conheceu até agora (salvas as raras exceções), pareciam não suportar sua presença, e não faziam nenhuma questão de esconder tal sentimento. Achou melhor perguntar à ficar na dúvida:

- Então....não se importa de eu ser um hanyou?

- As pessoas dizem coisas horríveis sobre hanyous e youkais, mas olhando pra você...Não consigo ver mais que uma criança que perdeu os pais, e que com certeza deve ter sofrido muito nessa vida – ela responde num tom de voz doce e compreensivo.

Era bom demais pra ser verdade, então ela realmente o aceitava do jeito que era? Não havia problema no fato dele ser meio youkai (criatura essa que o marido da mesma odiava)? A voz de Akiko interrompeu seus pensamentos:

- Agora, é melhor você ficar aqui dentro, não deixe que ninguém te veja – ela lhe disse. Compreendia muito bem todo o preconceito daquelas pessoas e sabia qual seria sua reação.

- Tá – apenas concordou.

- Eu preciso sair um pouco, já volto. Não saia daí! – lhe falou, como se estivesse falando com o próprio filho.

Assim ela alinhou os cabelos e saiu da pequena cabana, enquanto o hanyou ficava ali como lhe fora pedido. Mas por que diabos estava obedecendo a uma pessoa que conhecera no dia anterior? Ah, sim...pra não ser visto e talvez até atacado pelos aldeões. Não fosse isso, já teria ido embora dali à tempos. Embora aquela tal de Akiko lhe parecera ser uma boa pessoa, não planejava ficar ali por mais muito tempo.

Do lado de fora duas mulheres conversavam enquanto pegavam mantimentos, no que parecia ser uma atividade bem corriqueira:

- Ohayou, Akiko-san!

- Ah,  ohayou, Tazuna-san! – cumprimentou de volta.

- Soube que seu marido salvou um garoto ontem na floresta – comentou interessada.

- Ah sim, é verdade – não havia como esconder esse fato, todos no vilarejo já sabiam.

- E então...como ele está?

- Está bem melhor. A propósito... Takeda e os outros já voltaram da caçada ao youkai? – ela tenta mudar de assunto.

- Não, ainda não voltaram.

- Estou ficando preocupada. Terá acontecido alguma coisa com eles?

- Provavelmente devem ter levantado acampamento na floresta. Não se preocupe, logo estarão de volta – a amiga tentava tranqüilizá-la.

Dentro da pequena habitação, o hanyou apenas tentava pensar em uma hora oportuna de ir embora dali. Até se imaginava saindo sem se importar com nada, enfrentando, sem medo, todos aqueles humanos. Depois imaginava que eles ganhavam dele em número, e talvez o melhor seria fugir, mas aí se lembrava que o tal de Takeda, que odiava youkais, perseguia onde quer que fosse qualquer youkai que se aproximasse do vilarejo. Pensava tanto que já começava a sentir dor de cabeça, não gostava muito de pensar, normalmente só agia.

Uma barulho irrompe do lado de fora da modesta cabana de madeira, e uma figura masculina entra sem cerimônias. Tinha algumas escoriações pelo corpo e segurava uma lança que logo depositou num canto qualquer, parecia um pouco cansado. Sem reparar em nada a sua frente, talvez distração...talvez fosse cansaço; falou aos quatro ventos:

- Tadaima! – disse Takeda, com voz cansada.

Vendo que não recebeu resposta, olhou para o canto oposto em que estava, para averiguar se sua mulher não estava mesmo ali, pois apesar de parecer estar sozinho, sentia uma presença lá dentro. O que viu, com certeza não era o que esperava, na verdade, não poderia ser pior.

Um pequeno ser de cabelos prateados, olhos dourados e pequenas orelhas brancas de cão no topo da cabeça, vestindo um haori todo vermelho o olhava surpreso e com um tanto de apreensão. Takeda não precisou de muito mais para concluir que era um youkai, mas o que o deixou atônito, foi reconhecer naquela criatura, o garoto ‘humano’ que ele próprio tinha salvo na noite anterior. Neste momento ele saiu de si:

- Você...O garoto que eu salvei ontem!! – gritou com ele – Você é um hanyou!

Inu Yasha não teve uma reação imediata, estava mais ou menos como quando o viu pela primeira vez: sem saber o que fazer. Em instantes um intenso temor o invadiu, o que iria acontecer agora ele só imaginava....e não eram coisas muito agradáveis.

- Você me enganou, seu maldito!! Se fez passar por humano para nos fazer de bobos, não é!? – ele dizia num tom perigosamente mais alto que o normal.

Ele se pôs a frente do hanyou, sua face exibia uma expressão de raiva e repulsa. Takeda sentia um imenso ódio tomando de seu ser, ele via naquele hanyou um monstro que era, ou se tornaria tão ou mais perigoso que um youkai completo. Afinal ele possuía sangue youkai em suas veias, e o sangue humano que também possuía, o tornava um ser imprevisível.

O hanyou deu uns passos vacilantes para trás, sua expressão era de desespero completo. Precisava arrumar um jeito de fugir dessa situação e depressa...

- Se tem uma coisa pior que um youkai, é um hanyou! – acrescentou ainda cheio de asco – Eu te abriguei em minha casa, te salvei da morte... Como fui burro em não perceber... Mas seu truque não vai dar certo, você não vai fazer mal a nenhuma pessoa neste vilarejo!! – a essa altura tudo o que ele dizia parecia irracional, havia perdido totalmente o controle de si mesmo.

Se naquele momento Inu Yasha não estivesse tão temeroso por sua vida, teria dito: “Eu não pedi pra você me salvar!”. Mas tudo o que passava pela sua mente naquele instante era como tentar sobreviver a fúria de um humano, que em toda sua ignorância, estava decido a matar outro ser que possuía sentimentos como ele,  pelo mero e insignificante motivo deste ser diferente do mesmo.

O humano aproximou-se, o punho erguido no ar, prestes a golpear a temerosa criatura à sua frente. Um sorriso maldoso se formou em seu rosto....

O hanyou nada mais fez a não ser se encolher, para sua proteção, contra o golpe que o atingiria em seguida...

O punho do humano descia vertiginosamente em sua direção, indo em direção ao alvo encurralado ao canto....


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Notas finais do capítulo

Eu particularmente gostei muito de escrever esse capítulo ^^ Espero que gostem tanto quanto eu xD E se gostarem (ou não) podem dizer nas reviews, certo? ^.~v



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