Fomos até a casa do Lucas pra ele pegar suas coisas, e Brandon entrou junto com ele na casa. Eu e David esperamos do lado de fora.
– A mãe dele vai ficar arrasada – Disse eu
– Como você sabe disso? - Disse David
– É que eu conheço ele, ele é tudo pra mãe, filho único e tal, não sei se ela vai entender, mas ela vai deixar, ela deve saber que é o melhor pra ele.
E não falhei, Lucas saiu de lá enxugando o rosto, eu consegui ver a mãe dele pela janela, chorando também. Me deu vontade de abraçá-lo, mas me controlei, dessa vez eu não ia dar mole. Ele olhou pra mim e eu desviei o olhar, não queria ver ele assim.
– Vamos? - Disse David

Quando chegamos ao aeroporto, David começou a falar com a mulher do check in, ela assentia com tudo o que David falasse, e ele saiu de lá com quatro passagens de avião pra Nova York.
– Como é que você fez isso? - Perguntei pra ele
– É uns truques com a Névoa... - Respondeu ele
– Névoa?
– Eu te explico depois, agora, essas passagens são para amanhã de manhã, hoje não tem mais voos Nova York
– E aonde nós vamos ficar? - Perguntou Lucas
– Tem um hotel aqui perto... a gente fica por lá hoje de noite.

Quando chegamos no hotel, de novo David fez uns truque com a “Névoa” e nós nem precisamos pagar a estadia, mesmo porque não tínhamos dinheiro. O quarto de hotel era bem simples, tinha quatro camas de solteiro (ainda bem, já pensou se tivesse uma de casal?)uma do lado da outra, todas com as cabeceiras encostadas na parede e, encostada na parede da frente, uma comoda com uma TV em cima. Do lado esquerdo tinha a porta e do outro lado, uma enorme janela com uma linda vista pra Dutra (se é que pode chamar uma vista pra Dutra linda) e do lado da janela, tinha um banheiro. Quando entramos no quarto, David e Brandon foram comprar algo pra gente comer, e deixou eu e Lucas sozinhos. Isso me apavorava. Eu meio que ignorei esse sensação, joguei minhas coisas em uma das camas, e me sentei nela. Lucas fez o mesmo na cama ao lado.
– Por que você tá com raiva de mim?- Perguntou ele
– Por que você acha que eu to com raiva de você? - Respondi
– Tudo bem que a gente só passou duas semanas juntos, mas é assim que você age quando está com raiva de alguma coisa, ou de alguém.
– Nossa, você ainda lembra disso? - Disse eu, com um meio sorriso.
– Lembro sim – Disse ele, sorrindo de volta
A gente ficou se olhando por quase um minuto, até que ele pergunta de novo
– Por que você tá com raiva de mim? O que foi que eu fiz pra você ir embora e nem se despedir?
– É que... é que não deu tempo, meu pai me acordou de manhã com as malas prontas e nós fomos embora... - Menti pra ele, eu não ia dizer que foi por causa de ciúmes. Ele me olhou com cara de desconfiado

– Pois é Alice, você não sabe mentir... Quando você quiser falar porque não foi falar comigo, me avisa. - Disse ele, com um enorme sorriso no rosto – Mas eu senti sua falta – Ele disse isso enquanto se sentava do meu lado.
– É, eu também – O que é que tava acontecendo comigo? Num minuto eu tento evitar esse garoto o máximo que posso, e no outro eu estou pensando qual seria gosto do seu beijo, e quão quente seria seu abraço e... Foi ai que David e Brandon chegaram.
– E ai, vocês estão com fome?
– Claro ! - Eu e Lucas respondemos juntos enquanto nos separávamos. Eu não tinha percebido, mas estávamos muito perto um do outro, mas David e Brandon pareceram não perceber.
– Nós trouxemos Big Mac's pra vocês – Disse Brandon
– Nossa, vocês leram minha mente – Disse Lucas, pegando um pacote, eu ri e peguei o outro e liguei a TV, estava passando “Alvin e os Esquilos”
– Lembra quando a gente viu esse filme ? - Perguntou Lucas
– Lembro sim, a gente alugou o filme, foi pra minha casa e fizermos um monte de pipoca – Disse eu, rindo
– Mas nenhuma ficou boa, e seu pai quase matou a gente quando viu o que a gente fez na cozinha – Ele deu uma mordida no seu sanduíche
– E ai você teve que fugir pela janela, se ele soubesse que eu tava com um menino em casa sozinha – a gente começou a rir e nossos olhos se encontraram. Queria saber o que ele estava pensando naquele momento.
– Mas de qualquer jeito, ele ficou sabendo depois, eu tive que contar depois que você deixou o seu boné lá – disse eu
– Nossa, eu nem lembrava, sabia que eu tinha perdido, mas não lembrava onde. Era o meu boné favorito.
– É, eu não consegui te devolver, fui embora antes, então eu trouxe ele, e ele acabou virando meu boné da sorte – Fui até minha mala e peguei o objeto que ficou na minha mochila por um ano. Ele era todo cinza, mas embaixo da aba era verde. Ele era fechado atrás e tinha o símbolo do NY na frente, também em verde. Ele era o único menino que realmente ficava bonito de boné, e aquele deixava ele mais bonito ainda. Eu guardava ele, mas não por causa da sorte, mas poque ele me lembrava um tempo bom da minha vida, o tempo em que eu realmente tinha um amigo. Peguei o boné e devolvi pra ele.
– Porque você guardo ele? - Perguntou ele
– Porque era uma lembrança boa. Aquelas férias foram as melhores da minha vida, foi um dos únicos momentos que eu não me senti sozinha e, quando acabou, queria que toda aquela sensação de ter um amigo de volta sabe, ter alguém esperando por você na praia ou na sorveteria, mesmo que estivesse frio. Então eu o guardei, e toda vez que via seu boné na escola, em casa ou em qualquer lugar, me lembrava daquela sensação. Mas ele é seu.
Ele pegou o boné e pôs ele na minha cabeça

– Ele te dá sorte, e pelo jeito vamos precisar de muita sorte daqui pra frente. - Ele sorriu de um jeito que... bom, vocês me entenderam.